Dia da Consciência Negra, confira 3 projetos de empoderamento negro no montanhismo

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Hoje o Brasil celebra o Dia da Consciência Negra, uma data criada para lembrar a luta contra o racismo e pela igualdade racial e também a resistência, a cultura e a luta histórica da comunidade negra. Em alguns estados brasileiros também é comemorado o dia de Zumbi dos Palmares e faz referência ao assassinato do líder do Quilombo dos Palmares, que lutou contra a escravidão no Brasil.

De acordo com a  Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) realizado no 2º trimestre de 2022, mais da metade da população brasileira é negra, totalizando 55,8% dos habitantes do país. No entanto, mesmo estando em maior número, ainda há bastante desigualdade racial com problemas graves de falta de segurança, falta de acesso a educação de qualidade e até mesmo no mercado de trabalho para a população negra.

Isso se reflete em diversos esportes, como no montanhismo, em que apenas 3,23% dos praticantes se consideram negros, de acordo com o Censo de Montanhismo e Escalada de 2020. Já os que se auto declaram pretos ou pardos somaram apenas 22,09%.

O Alta Montanha é a favor da igualdade racial e por isso, nessa data separou 3 projetos que lutam pela presença de mais pessoas negras no montanhismo:

1 – Iluminando Sonhos

A primeira escaladora negra latino americana a chegar no topo do mundo, Aretha Duarte, levou em sua mochila não apenas os equipamentos de montanha mas também a bandeira e a luta pela igualdade racial. Segundo ela, o racismo estrutural sofrido por ela na periferia de Campinas foi uma motivação para chegar ao cume do Everest.

Após retornar do Everest, Aretha continuou lutando em prol transformações socioambientais. Atualmente, ela está desenvolvendo o projeto Iluminando Sonhos que irá realizar uma série de palestras e webinares. Durante os encontros, Aretha narra sua experiência antes, durante e após conquistar a maior montanha do mundo como forma de incentivar outros jovens negros a buscarem seus sonhos, inclusive praticando o montanhismo.

Palestra presencial do Projeto Iluminando Sonhos. Foto: Márcio Miranda m_mirandaphoto

2- Negritude Outdoor

Este é um coletivo criado em 2020 por Denilson Silva e Léo Ferreira após perceberem que havia pouquíssimas pessoas negras praticando esportes outdoor no Brasil. No entanto, o objetivo deles vai muito além da busca pela representação e visibilidade no esporte, eles também pretendem expandir a presença negros no  universo outdoor brasileiro. Seja no montanhismo, escalada, ciclismo e outras atividades ao ar livre.

Além de promover e empoderar aventureiros negros e compartilhar informações, o Negritude Outdoor também realiza encontros abertos para celebrar a negritude e o amor pelas atividades outdoor.

Encontro de trekking no Pico do Jaraguá promovido pelo coletivo Negritude Outdoor. Foto: @negritudeoutdoor

 

3 – Coletivo de Escalada de Lençóis – Escalalec

Também criado em 2020 por um grupo de amigos, o Escalalec tem o objetivo de incentivar jovens de uma comunidade majoritariamente negra da Bahia a terem contato com a prática de escalada em rocha. Eles também desejam criar oportunidades, ferramentas e gerar conhecimento para ajudar no desenvolvimento individual e coletivo. O coletivo é apoiado por voluntários que organizam saídas de escalada (indoor e outdoor) e conversas sobre questões sociais como racismo no esporte, descolonização, opressão sistêmica e ação comunitária cidadã.

Saída de escalada para mulheres e meninas negras na Chapada da Diamantina. Foto: @escalalec

Turma do Coletivo de Escalada de Lençois. Foto: @escalalec

Outras ações:

1º Curso de Introdução a Escalada em Rocha

No ínicio desse mês, o Portal Alta Montanha também publicou sobre o 1º Curso de Introdução a Escalada em Rocha do Vão do Moleque. Um projeto de um grupo de escaladores, que levou um curso de escalada para os moradores da comunidade quilombola Kalunga, na Chapada dos Veadeiros, em outubro desse ano. Este também é o maior terrtório quilombola do Brasil em extensão.

Na ocasião, oito Kalungas moradores do Vão do Moleque e Engenho II aprenderam sobre os principais procedimentos de segurança para a prática da escalada e algumas técnicas para que eles possam se desenvolver no esporte . Além do curso, a escalada também foi apresentada aos 25 alunos, de 6 a 12 anos, da Escola Municipal Capela do Moleque por meio de um muro de escalada indoor instalado nas dependências da instituição.

Januário, Danilvan, Maurício e Martinho, quatro amigos Kalungas reunidos no cume do Dedo do Moleque. Foto: Fábio Lima

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Sobre o autor

Maruza Silvério é jornalista formada na PUCPR de Curitiba. Apaixonada pela natureza, principalmente pela fauna e pelas montanhas. Montanhista e escaladora desde 2013, fez do morro do Anhangava seu principal local de constantes treinos e contato intenso com a natureza. Acumula experiências como o curso básico de escalada e curso de auto resgate e técnicas verticais, além de estar em constante aperfeiçoamento. Gosta principalmente de escaladas tradicionais e grandes paredes. Mantém o montanhismo e a escalada como processo terapêutico para a vida e sonha em continuar escalando pelo Brasil e mundo a fora até ficar velhinha.

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