Entraves políticos impede Kristin Harila de bater o recorde de Nirmal Purja

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A montanhista norueguesa Kristin Harila começou o ano de 2022 com uma meta ousada: bater o recorde de Nirmal Purja e escalar as 14 montanhas acima de 8 mil metros em menos de seis meses e seis dias. No entanto, os entraves políticos e burocráticos impostos pela China para a escalada do Cho Oyu e Shishapangma impediram a escaladora de terminar seu projeto.

Kristin Harila escalou 12 dos 14 oito mil metros.

Essas duas últimas montanhas estão localizadas na fronteira do Nepal com o Tibete e são consideradas as rotas normais mais tranquilas entre os 8 mil. No entanto, quem controla o acesso ao território Tibetano é a China e conseguir uma autorização para a escalada tem sido a maior dificuldade para os montanhistas concluírem as escaladas dos 14 x 8000 nos últimos anos.

O mesmo aconteceu com Nirmal Purja que deixou essas duas montanhas por último em 2019. “Com toda a honestidade, o momento mais emocionante foi quando conseguimos convencer os chineses a abrir Shishapangma apenas para nossa equipe”, disse ele ao  The Guardian.

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Como não conseguiu as permissões a tempo, Kristin anunciou visivelmente emocionada em suas redes sociais que estava encerrando as escaladas por enquanto. “Ficar aquém com apenas 2 picos restantes devido a fatores fora do meu controle é algo que estou lutando para processar agora”, escreveu a montanhista.

Kristin movimentou a comunidade de montanhistas mundial e apelou para o governo norueguês na tentativa de conseguir a licença de escalada, no entanto não obteve sucesso.  “Não deixamos pedra sobre pedra neste processo e esgotamos todos os caminhos possíveis para que isso acontecesse, mas infelizmente, devido a razões fora de nosso controle, não conseguimos obter as licenças a tempo”, acrescentou.

Todavia a escaladora garantiu que irá terminar o projeto no próximo ano. Assim, se tornará a segunda pessoa mais rápida a escalar as 14 montanhas de 8 mil. Os nepaleses Dawa Ongju Sherpa e Pasdawa Sherpa que a acompanharam nos 12 primeiros 8 mil devem acompanhar ela em 2023 e também entrarão para a história do montanhismo mundial.

Tetantiva no Cho Oyu e outra possibilidade

Antes de bater o martelo e encerrar as escaladas nas montanhas de 8 mil nesse ano, Kristin fez uma última tentativa de escalar o Cho Oyu por uma nova rota do lado nepalês. Para tanto, a norueguesa precisou abrir mão da companhia de seus parceiros Dawa Ongju Sherpa e Pasdawa Sherpa pois a rota nepalesa ainda é considerada “secreta”. No entanto, o frio intenso, o acumulo de neve e outros obstáculos impediram que as equipes continuassem a tentativa de escalada pela nova rota.

Kristin guarda ainda uma última carta na manga: a polêmica do cume verdadeiro do Manaslu. Quando Nirmal escalou o Manaslu em 2019 (época em que bateu o recorde, ele chegou apenas ao cume falso, pois ainda não era de conhecimento público a existencia de outro cume. Ele retornou ao Manaslu dois anos depois e escalou até o cume verdadeiro. No entanto, o Himalaia Database responsável por registrar os cumes de 8 mil considera todos os cumes falsos do Manaslu alcançados até 2021 como o topo da montanha.

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Sobre o autor

Maruza Silvério é jornalista formada na PUCPR de Curitiba. Apaixonada pela natureza, principalmente pela fauna e pelas montanhas. Montanhista e escaladora desde 2013, fez do morro do Anhangava seu principal local de constantes treinos e contato intenso com a natureza. Acumula experiências como o curso básico de escalada e curso de auto resgate e técnicas verticais, além de estar em constante aperfeiçoamento. Gosta principalmente de escaladas tradicionais e grandes paredes. Mantém o montanhismo e a escalada como processo terapêutico para a vida e sonha em continuar escalando pelo Brasil e mundo a fora até ficar velhinha.

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