Expedição Campo de Hielo Patagônico Sur: Uma aventura BRUTAL – Dia 1

4

Dia 1 (de Puente del Rio Eléctrico hasta Laguna de Los Catorze)

Distância percorrida: 19,21km

Tempo em movimento: 7h56

Acumulado de subidas: 705m

Chegou o grande dia!

Acordamos cedo, tomamos aquele café da manhã, nos despedimos dos colegas do Hostel, que também estavam se preparando para suas empreitadas na rocha (alguns deles com desafios bem audaciosos como a escalada do Fitz Roy), e fomos tentar uma carona (algo comum nesse trajeto e nessa região) na estradinha que que leva a Ponte do Rio Elétrico, onde se inicia nossa Expedição.

Conseguimos a carona em menos de 20min, um casal, ela argentina e ele suíço, nadadores de águas geladas. O dia estava super frio e eles estavam indo nadar em algum dos lagos gelados da região (cada louco com sua loucura).

 

Fui curtindo o trajeto de rípio, de 17 km, margeando o Rio de Las Vueltas, com friozinho na barriga, imaginando tudo que iria viver nos próximos dias.

Iniciamos nossa caminhada por volta das 10h. Caminho inicialmente fácil, mesmo assim acabamos nos perdendo um pouco ao tentarmos seguir por trilhas menos marcadas ao invés de seguirmos pela trilha larga, utilizada pelos quadriciclos (acredito que oficial). Confesso que, sendo eu uma estudiosa de mapas, acostumada a me autoguiar, na hora fiquei um pouco desconfortável com a situação … mas bora lá.

Essa primeira parte, que vai até o Refúgio Piedra del Fraile, é bem tranquila, seguimos percorrendo uma florestinha, margeando o rio Eléctrico, sem muita altimetria.

 

A partir do Refúgio, seguimos caminhando um pouco mais pela margem do Rio Eléctrico, até nos depararmos com o primeiro desafio do dia: a travessia do rio Pollone. O rio não é muito largo nem muito profundo, mas não tem ponte e a água é de degelo, ou seja, congelante. O Rafael tentou (muito) encontrar um ponto onde fosse possível cruzar pelas pedras, mas não rolou. Por fim, tiramos os sapatos, levantamos as calças e enfrentamos a água gélida. “Foi de chorar”, no meu caso gritar.

Logo na sequência paramos para “almoçar” nosso sanduiche na beira do Lago Eléctrico, já eram quase 15h e eu estava verde de fome (quem me conhece deve imaginar). Rafael não me deu arrego, acabei de mastigar e já fui instigada a continuar a empreitada. Lembro que na hora pensei: meu Deus, o ritmo vai ser esse mesmo? Não teremos descansos maiores?

Seguimos, agora subindo por entre rochas. Obviamente as subidas nos exigiram mais fisicamente, era o primeiro dia e o corpo ainda estava se adaptando ao peso da mochila que estava em seu máximo, com a comida de 5 dias. Em contrapartida, começamos a avistar a face noroeste do Monte Fitz Roy, difícil não se distrair com tanta beleza (tinha vontade de tirar fotos o tempo todo, mas me segurei, não estava me sentindo a vontade de pedir ao Rafael, afinal não via ele tirar uma fotinha sequer, mas claro que em alguns momentos não aguentei e parei tudo pedindo por fotos).

 

Logo passamos por um lugarzinho superespecial, La Playita. O lugar é bem protegido do vento e é o ponto escolhido como primeiro acampamento de alguns exploradores da Volta ao Gelo Sul.

Não cogitamos acampar ali, Rafael tinha expectativa de ingressarmos no gelo nesse primeiro dia. Seguimos subindo entre rochas até nos deparamos com nosso segundo desafio do dia: uma tirolesa para cruzar o rio. Essa seria a primeira vez que atravessaria um rio dessa forma (pendurada por cabo), obviamente fiquei nervosa. Lembro que quando o Rafael me apresentou o projeto, lá no Parque 3 Picos, falei para ele que não sabia se daria conta dessa travessia (na ocasião ele garantiu que seria fácil).

Nos equipamos com cadeirinha, capacete, corda, montamos o esquema de segurança, Rafael me explicou o que Eu teria que fazer, já que ele seria o primeiro a passar no cabo de aço. Se tive medo? Claro que sim, mas prestei muita atenção em todos os detalhes e segui. O esquema é: montar o esquema de segurança adequadamente, abraçar a mochila com as pernas e ir se puxando com os braços. No início foi tranquilo, mas logo depois da metade os bracinhos cansaram e a partir dali foi um mix de trabalho físico e mental com alguma ajuda do Rafael, que primeiro incentivou com palavras e depois, quando eu já estava bem próxima, ajudando com a corda. Lembro de pensei: meu Deus, e eu achava que estava malhando forte os bracinhos (preciso rever esses treinos).

Seguimos nossa subida pelas rochas até chegarmos a mais um lugarzinho incrível, com uma vista deslumbrante do Monte Fitz Roy, a Laguna de Los Catorze. Paramos para respirar um pouco e avaliamos a situação, eram 17h50, decidimos acampar por ali (depois do que vivi no dia 2 o que posso dizer é que a decisão foi mais do que acertada). Confesso que fiquei bem feliz, já estava bem cansada depois de quase 8h de caminhada. Sem contar que o lugar era super convidativo, com aquela vista incrível do Fitz Roy, o céu estava superaberto.

Montamos nossa barraca. Tomei meu “banho de gato”, colocando uma roupa bem quentinha. As 20h ligamos o rádio para ouvir a previsão do tempo informada pelo parque. Preparamos nosso jantar: que começou com sopa instantânea de cebola com miojo (para acalmar a fome de leão) e seguiu com miojo com atum (que a propósito estava delicioso). Assistimos o pôr do sol (por volta das 21h30) e formos dormir (assim que o sol se põe a temperatura cai muito, difícil ficar na rua).

Expedição ao Campo de Gelo Patagônico Sul. Uma aventura brutal!

Expedição Campo de Hielo Patagônico Sur: Uma aventura BRUTAL – Dia 2

Expedição Campo de Hielo Patagônico Sur: Uma aventura BRUTAL – Dia 3

Compartilhar

Sobre o autor

Aline Souza, mais conhecida como Aline Elétrica por ser engenheira elétrica é uma multi atleta de Florianópolis - SC. Ela pratica corridas de aventura, trekking, ciclo turismo e escalada em rocha. Siga ela no Instagram @alineeletrica

4 Comentários

  1. Estou impressionada com o relato! E esse é só o começo! Que mulher guerreira! Imagino as paisagens que você viu!
    E a travessia pela corda de aço? Que difícil deve ter sido! Eu ia tremer inteira de medo!
    Aguardando o relato dos outros dias!

    • Oi Camila, fico feliz que tenhas gostado do relato. Tentei ser o mais autentica possível. As paisagens foram realmente incríveis (dia 2 já está disponível). Quando a travessia no cabo de aço, foi dificil porque tem que fazer força, mas não tive medo. Confiei no equipamento .. e bora la.
      Ahhh, se quiser ver mais fotos, videos, segue meu instagram: @alineeletrica
      Bjinho

  2. Marcílio Lourenço em

    Cara, que maravilha! Eu vivo caçando matérias assim, desse tipo, na internet, para consumir.. Obrigado, Google, pela dica de pesquisa na 1a. página.
    Parabéns Aline Elétrica, por compartilhar suas aventuras incríveis (quero uma barraca igualzinha a sua). E meus cumprimentos a Alta Montanha, por nós proporcionar “viajar” junto.

    • Oi Marcilio, tudo bom?
      Fico muito feliz que tenhas encontrado meu relato e que tenhas curtido (e comentado).
      Essa barraca é ótima. Vendi a minha para um colega do Hostel em El Chalten (rsss), fiz tantaaaaas aventuras com ela. Vou comprar uma nova, provavelmente igual.
      Ahh, se quiser saber mais sobre minhas aventuras me procura no Instagram: @alineeletrica.
      Grande Abraço!

Deixe seu comentário