O Vale do Paty é um delírio mascarado de travessia. Fica dentro do PN da Chapada Diamantina, nosso parque com maior diversidade visual: amplas cavernas, campos rupestres, morros tabulares, rios encachoeirados e quedas d´agua deslumbrantes.
Você atravessará os infinitos campos de altitude, aqui chamados de Gerais do Vieira, descerá vertiginosamente até o estreito vale, conhecerá a deslumbrante vista do alto do Morro do Castelo (1.500m), caminhará no interior do Paty até o Cachoeirão, subirá à noite pela parede que o confina e chegará cansado e feliz na sorveteria de Andaraí pela surpreendente e ensolarada Ladeira do Império, que foi calçada durante o garimpo.
A Bocaina é uma corcova de 100 km por cima da Serra do Mar, entre as vilas paulistas de São José do Barreiro e Bananal. O antigo caminho da Trilha do Ouro foi usado para escoar o minério mineiro e o café paulista até o porto de Parati. Devido ao tráfego intenso, ela foi calçada com pedras, cujos remanescentes ainda podem ser encontrados – na realidade, este era um longo caminho de 1.200 km, a partir de Diamantina.
Por favor, não arrisque esta trilha no verão, os resultados serão provavelmente neblina, barro e cansaço, além de muitas picadas de insetos. É uma jornada longa de 50 km, a ser percorrida em três dias, desde São José do Barreiro no Vale do Paraíba até Mambucaba no litoral fluminense. Você sempre estará em contato com a abundante vegetação, seja nos campos ou nas encostas da Bocaina. Assim, não será um caminho de grande alcance visual.
Se quiser, você pode conhecer o Morro do Tira Chapéu (2.000m), ponto culminante da Serra do Mar – se a Serra dos Órgãos for desconsiderada. A fácil trilha fica à direita antes da entrada do PN da Serra da Bocaina, mas irá acrescentar um dia a seu programa. Depois de visitá-lo, caminhe 18 km em trilha suave a partir da sede do Parque, para conhecer as Cachoeiras de Santo Izidro e das Posses e pousar na Fazenda Barreirinha. No dia seguinte, você visitará após 12 km a impressionante e perigosa queda de 200m da Cachoeira dos Veados, turbulento afluente do Mambucaba. Então, descerá no último dia pela calha sombreada do Rio Mambucaba por mais 18 km, até chegar à praia de mesmo nome. A natureza desta travessia me parece exuberante e acolhedora.
A terceira jornada percorre os Lençóis Maranhenses, uma enorme extensão de dunas, onde tudo é forte: a cor, o vento, a luz, o calor. As dunas são formadas a partir da força do vento, capaz de levantar e colidir os grãos de areia, formando cadeias de paredes. Dentro de seus arcos surgem as lagoas durante as chuvas, que suavizam e estabilizam as dunas. Você não imagina o delicado ajuste entre as forças da natureza necessário para a criação de tanta beleza – os matemáticos criaram até equações para explicá-lo.
Há inúmeras travessias possíveis nos Lençóis, variando talvez de 12 km até 95 km. A mais clássica delas parte de Santo Amaro, passa por cada um dos dois oásis (que distam 12 km entre si) e termina no Canto do Atins. Ela cruza o PN de oeste a leste e pode ser invertida. Prepare-se para acordar no escuro, caminhar descalço por longas horas, dosar seu ritmo nas águas das lagoas e percorrer duros 60 km em três dias de alienação, neste sonho pintado de branco, verde e azul.
Por fim, gostaria de mencionar brevemente a Serra do Cipó, uma região de suaves campos de altitude em Minas Gerais, um pouco ao norte de Belo Horizonte, onde você pode se perder por dias, a partir de vilas como Lapinha, Santana do Riacho, Tabuleiro ou Santa Cruz dos Alves. Você conhecerá as belas cachoeiras do Soberbo, Grande e Tabuleiro, e partirá ou chegará a rios discretos de águas rápidas como o Rio das Pedras, o Ribeirão Congonhas e o Parauninha. Serão travessias de 30 a 65 km, acampando durante 2 a 4 dias. E, na entrada do Cipó, não deixe de visitar o formidável Cânion das Jabuticatubas. Fui várias vezes ao Cipó, sempre cercado de boa amizade e bom clima – a melhor delas aconteceu quando lá ficamos do Natal ao Ano Novo, sem sequer um dia de chuva – quem sabe então o El Niño ainda não existisse.