Igatuland

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Era uma vez… Em um reino tão tão distante, pessoas que foram privilegiadas com lindas pedras. E por toda parte, o povo era feliz.

Mas essa história não é um conto de fadas, afinal não tem fada madrinha, feitiços e príncipes encantados, mas com certeza tem uma vibe mágica, o que faz Igatu ser muito mais que um pico irado de escalada, mas um lugar que encanta quem por lá passa.

Nascer do sol na estrada

No início do mês de janeiro, saímos (Babi e Cainã) de Curitiba para percorrer os cerca de 2.200 km que nos separam de Igatu. Claro que já sabíamos que valeria a pena, pois os relatos e indicações dos amigos que estiveram por lá só aumentavam a vontade de chegar. E mesmo assim Igatu conseguiu surpreender.
Até Belo Horizonte, a estrada já era bem conhecida. Quando entramos na rodovia que liga BH a Montes Claros, a emoção começou. Apesar de pista simples, a estrada não apresenta as piores condições do Brasil, porém apresenta os piores e mais loucos motoristas. Parece que nesse trecho a regra é fechar os olhos e ultrapassar na curva com subida, o que proporcionou uma adrenalina inesperada e nem um pouco divertida. Depois de Montes Claros, a estrada ficou mais tranquila, a paisagem foi mudando e secando cada vez mais, e após 25 horas de estrada, finalmente estávamos subindo a estrada de pedras, cercada por blocos de pedras rumo a cidade rodeada por incríveis pedras, com boulders muito clássicos, lindos, irados…

Assim que chegamos, fomos ao encontro do Paulo Souza, “curitibano praticamente local” de Igatu, que também foi passar as férias lá, no Hostel Igatu, onde fomos muito bem recebidos pelos “bahias”, Dilmola, LP, Rasta, Diego, Elder, Nicotina, enfim, gente boa e divertida é o que não falta por lá.

Depois de arrumar as coisas, tirar os crash pad e equipos do carro, hora de descansar da longa estrada…só que não… Paulinho logo nos levou conhecer um pouco dos setores de Igatu. Não dá para dizer que foram os mais clássicos, porque parece que todos os setores são clássicos em Igatuland!

Babi no boulder supplier – setor lagarto

Cainã no boulder sem beta setor lagarto

Igatu é uma cidade muito pequena, cerca de trezentos habitantes, conta com um pequeno mercado, alguns estabelecimentos para comer, como pizzaria e restaurante, pousadas, campings, o Hostel Igatu (bem organizado e com uma vibe incrível) e uma paisagem de tirar o fôlego, para onde quer que você olhe.

No dia seguinte ao que chegamos, fomos até a cidade de Andaraí, onde pudemos comprar frutas e legumes na feira semanal, que atrai moradores das cidades próximas, e organizamos a comida para o próximos dias.
No início da tarde já estávamos de novo em Igatu, com os crash pad nas costas, tentando ignorar o calor da Bahia, com muita vontade de escalar, deixando de lado o cansaço da estrada. Aliás, o cansaço foi muito ignorado nessa viagem, pois era muita coisa para conhecer, não dava tempo de fazer dia de descanso!
E assim os dias passaram em Igatu, ac

Não foram dias fáceis….hehehe…

Ainda mais quando acrescentamos as feijoadas feitas pela comunidade na praça, para as quais fomos convidados e participamos muito felizes e com muita fome. Simplesmente surreal: você voltando do climb, cansado, com fome, calor e chega alguém dizendo para você pegar um prato e ir comer a feijoada na praça, que já está pronta. Tipo miragem no deserto, sabe? Bom demais!

Entrada de Igatu

Sem falar nas noites na calçada, na frente do Hostel, jogando conversa fora e brincando com as crianças. Sem frescuras. Sem medo de ser feliz. No intervalo do climb, na hora do almoço, era com as crianças que que íamos para o rio, Poço da Madalena, e por mais que eu insistisse em não entrar na água, não tinha opção: elas me jogavam sem dó nem piedade na água, o jeito era dar risada e entrar nas brincadeiras…

E como uma boa trip de escalada, escalamos até não ter mais pele e mais força…todos os dias. Quer dizer, em um dos dias tive que parar: a unha do dedinho do meu pé infeccionou! Era o fim da viagem, o fim da escalada em Igatu. Desesperador. Mas tudo bem, tentei encarar como um desafio, e depois de ter ido até o Setor Labirinto e tentado colocar a sapatilha, percebi que não ia rolar. Desci até o Hostel, não muito conformada, mas buscando uma solução. Estava lá, sentada e um pouco desolada, quando o Dante (escalador do Espírito Santo, que havíamos conhecido na Serra do Cipó), disse que estava indo correr até a rampa do Caim.Opa! Uma corridinha! Isso me pé aguentava! Corri avisar o Cainã, que se “animou” e veio junto.

Como não sabíamos a distância exata até a rampa, pensamos em correr até 5 km e voltar, pois era meio dia e estava bem calor. Porém, quando fechamos os 5 km, o visual do Vale do Pati se abriu e esquecemos a distância, o calor, a sede e literalmente aceleramos para chegar até a rampa do Caim, que fechou 6 km. Lá encontramos o Dante com sua cachorrinha Cadena curtindo a pequena sombra frente ao Vale.

Visual da rampa do Caim

Apesar da corrida na volta ter sido cansativa e termos ficado sem água, valeu muito a pena! E deixou a vontade de conhecer o Vale do Pati uma próxima vez. Chegando em Igatu, fomos direto para o Poço do Madalena mergulhar para esfriar a cabeça.

E agora tinha que dar um jeito no meu pé!

Resolvemos que na manhã seguinte, iríamos procurar ajuda em Andaraí, no hospital da cidade. E assim fizemos. Bem no dia em que a Ana e Marcos (casal de Curitiba que também encontramos em Igatu), iriam embora.
Chegar no hospital de Andaraí não foi a coisa mais esperançosa do mundo. Esperamos bastante tempo até uma enfermeira fazer o primeiro atendimento, depois mais tempo até o médico me “atender”. Não sei se posso chamar de atendimento aquilo que aconteceu, ou de médico aquela pessoa que falou comigo, mas tive a sorte de que um bom enfermeiro, técnico de raio-x e tudo mais do hospital estava lá e salvar nossa trip, em menos de dez minutos e mais alguns dias de antibiótico. Gratidão!

No fim desse mesmo dia, voltei a escalar, e terminei o dia com o projetinho no bolso e outro aberto! Mais um menos um, isso sim é a escalada.

Voltamos para o escala, come, banho de rio, escala de novo, dorme, repete.

Ainda aproveitamos o Festival de escalada de Igatu, super bem organizado pelo Lp e escaladores locais!
E assim seguimos os dias em Igatu, longe da realidade urbana, política, virtual e real que nos cerca diariamente, seguimos em uma vida mais simples e sincera, olho no olho, como risada de criança e um felizes para sempre.

Ana no boulder do setor cemitério

Paulinho no boulder gameleira setor cemitério

Galera no climb no setor cemitério

Diego no boulder carnificina – seror laranjeiras

 

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Sobre o autor

Bárbara Elisa Pereira (Bábi), é formada em Pedagogia, com mestrado em Ciência Ambiental. Praticante de montanhismo e escalada, atualmente mora em Curitiba

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