O Baú

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Na coluna anterior, comentei sobre a Ana Chata, a humilde companheira da Pedra do Baú, ela que foi tão importante na minha vida. Então me veio a ideia de também escrever sobre o Baú, uma de nossas mais emblemáticas montanhas.

O Baú 

O Baú é uma formação notável, devido à grande exposição de seu corpo rochoso, alto e estreito. Assim, pode tanto ser avistado como uma parede ou um pontão. No primeiro caso, por exemplo, visto de Campos do Jordão ou Pouso Alegre e, no segundo, de Sapucaí Mirim ou Monte Verde.

O Vale de S. Bento do Sapucaí com o Baú ao Fundo, SP (Fonte -to Divulgação).

As escadas de ferro que existem nas suas duas faces, norte e sul, foram colocadas pelos irmãos Antonio e João Cortez por volta de 1942. Antonio passou onze anos buscando subir ao topo e parece ter tido um sonho iluminador que afinal lhe indicou o caminho. Eles eram artesãos moradores de São Bento do Sapucaí.

Luiz Villares, empresário com terras na região (inclusive o acampamento Paiol Grande de minha coluna anterior), financiou a construção não só dos degraus, mas também de um abrigo lá em cima.

Croquis do Abrigo do Baú, São Bento Sapucaí,SP (Fonte – Divulgação).

Era de alvenaria, com telhado de cobre e caixa d´água. Neste país de vândalos, restam dele apenas os alicerces. Aliás, à semelhança dos refúgios depredados do Pico da Bandeira (MG), do Massena em Itatiaia (RJ) e da Pedra do Sino (RJ).

Na realidade, o Baú (1.950m) é a principal formação de uma serrinha que inclui duas outras: a leste o chifre afilado do Bauzinho e a oeste a parede compacta da Ana Chata, uns 200m abaixo.

Bauzinho em Frente ao Baú, São Bento Sapucaí, SP (Fonte – Divulgação).

Com sua parede de 400m, o Baú é considerado uma big wall. A face norte (de São Bento) contém uma subida exposta pela escada e a sul (de Campos do Jordão) é mais longa e protegida.  Depois de ter conhecido a Ana Chata, claro fiz estas duas vias, e com recordações muito felizes.

Parede Sul do Baú pelo Lado de Campos do Jordão, SP.

Diz uma lenda indígena que as duas pedras menores eram irmãs – claro que a robusta Ana Chata era a feia e o elegante Bauzinho, a bonita. A pedra maior era naturalmente o irmão, que se apaixonou pela bela irmã. Este delito foi punido e todos foram então transformados em pedra. Porém o amor do irmão fez com que ficasse para sempre unido à sua irmã, como acontece com o Baú e o Bauzinho.

Via da Pedra do Baú, Face Norte.

Evidentemente, o Baú atrai toda uma galera de escaladores, desde a Via Normal com apenas duas cordadas e grau 4+, até rotas mais complexas de grau 7°. Os nomes são deliciosos: Anjos Covardes (5+), Homem Pássaro (5+), Sombra e Escuridão (7°), Fissura Nuclear (6°) e Pimenta Honesta (6+). Contei 25 vias num levantamento recente, porém deve haver mais.

Escalando o Teto da Pedra do Baú, SP (Fonte – Elliseu Frechou).

Claro que passei por alguns apertos naquelas paredes. Mas talvez a experiência mais emocionante tenha sido assistir, quando estava lá em cima, a queda do escalador Luiz Makoto, na parede norte. Não se lesionou, pois estava encordado. Era um dos grandes nomes de nossa escalada e, que eu saiba, continua até hoje ativo.

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Sobre o autor

Nasci no Rio, vivo em São Paulo, mas meu lugar é em Minas. Fui casado algumas vezes e quase nunca fiquei solteiro. Meus três filhos vieram do primeiro casamento. Estudei engenharia e depois administração, e percebi que nenhuma delas seria o meu destino. Mas esta segunda carreira trouxe boa recompensa, então não a abandonei. Até que um dia, resultado do acaso e da curiosidade, encontrei na natureza a minha vocação. E, nela, de início principalmente as montanhas. Hoje, elas são acompanhadas por um grande interesse pelos ambientes naturais. Então, acho que me transformei naquela figura antiga e genérica do naturalista.

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