Ordenei os três parques desta coluna a partir do sul, à medida que o Espinhaço se aproxima, contorna e se afasta da capital mineira, na sua travessia rumo ao norte. São parques pequenos, sem grande beleza, mas um deles tem uma história muito especial.
Serra do Rola-Moça: Este nome diferente veio de um poema de Mário de Andrade. Ele conta a história de um casal que, após seu casamento, atravessou esta serra voltando para casa. O cavalo da moça tropeçou no cascalho e a dupla despencou ladeira abaixo, daí o nome curioso.
O PE da Serra do Rola Moça é urbano, seus 3.940 ha localizando-se entre os municípios de Belo Horizonte, Brumadinho e Nova Lima. Limita-se com as Serras do Curral e do Ouro Branco a N-S e do Caraça e da Moeda a E-W. O Parque é atravessado pelo asfalto de Brumadinho.
Situado numa zona intermediária entre cerrado e mata atlântica, é rico em campos ferruginosos e de altitude, cujo aspecto é bastante desolado. A posição urbana do Parque não impede que possua uma fauna variada, com mamíferos médios e pequenos.
Os mananciais pertencem às bacias do Paraopeba e do Rio das Velhas, afluentes do São Francisco. O primeiro atravessa o centro do Estado, até alcançar o São Francisco na Represa de Três Marias. No seu percurso de 500 km, aproxima-se de Belo Horizonte, onde suas águas contaminadas o tornam um rio morto.
O segundo é um curso enorme, com 800 km rumo norte, de grande importância no ciclo do ouro. Existe a suspeita de que os primeiros mineradores não vieram de São Paulo, através do caminho curto e difícil que atravessava serras e matas. Teriam vindo do NE, rio acima desde a foz do São Francisco até a confluência com o Rio das Velhas, que teriam subido até Ouro Preto. Assim como o Rio Doce, ele é terrivelmente poluído no trecho urbano em Belo Horizonte.
O Parque é atravessado por serras, sendo o seu relevo bem acidentado. Isto permite a existência de alguns mirantes, na altitude de 1.400m, bem como algumas trilhas íngremes, sem serem interessantes. É comum os ciclistas pedalarem os 6 km entre suas duas portarias.
Mas o principal visual é o da cidade de Belo Horizonte, sua imensa mancha brilhante ocupando todo o horizonte. A cidade e a rodovia infelizmente descaracterizam o Parque, tornando seu aspecto pobre e estranho. Para isto também contribuem os campos áridos e o relevo abrupto.
Mata do Limoeiro: Foi nas terras da fazenda de mesmo nome que se formou um pequeno PE, com apenas 2.060 ha. Fica num distrito de Ipatinga chamado Ipoema.
Suas terras foram transferidas pela Vale como compensação ambiental. Pertenciam à Fazenda Limoeiro, resultado de terras compradas por um antigo arrematador de glebas para a produção de carvão. Mas, ao longo dos anos, a mata cresceu de volta. No final dos anos de 1980 foi proposto o seu corte, mas a população entrou à frente das motosserras, impediu a destruição e, desde então, a área permaneceu razoavelmente preservada.
Na realidade, o Parque está bem próximo da borda sul da Serra do Cipó. Por isso, tem uma topografia elevada, com cristas a 1.300m de altitude – mas sua trilha principal está a 650m. Cerca de 2/3 de sua área é florestada. Por isto, seus funcionários têm orgulho em chamá-lo de Gigante Verde.
Podem lá ser observados fragmentos de cerrado e de mata atlântica, dois dos biomas bem comuns no Espinhaço. Seus atrativos são as cachoeiras – como a do Derrubado e do Limoeiro – dispostas ao longo da trilha de 5½ km que acompanha o Ribeirão do Limoeiro. Já a Gruta de mesmo nome, por ser arenítica, não me pareceu interessante. Você pode percorrer o Parque numa manhã, num agradável percurso amenizado pelos banhos.
Apesar de modesto, o Limoeiro é uma operação que me pareceu bem-sucedida, devido ao empenho e à criatividade de seus funcionários. Nas proximidades, você pode conhecer belas quedas d´água (em especial a Cachoeira Alta), o pitoresco Morro Redondo e a esplêndida Serra dos Alves, que um dia conhecerei melhor.
Sumidouro: O PE do Sumidouro fica em Lagoa Santa, ao norte da capital mineira. O primeiro tropeiro que explorou a região teve suas feridas rapidamente cicatrizadas após banhar-se numa das suas lagoas. A cidade recebeu então este nome sugestivo. Mais tarde, pesquisas confirmaram que havia uma espécie de alga que acelerava a cicatrização.
Este Parque tem um forte conteúdo histórico, dados os seus registros arqueológicos, indicando uma ocupação humana desde 12 mil anos atrás, junto com a megafauna pleistocênica. São sítios em cavernas e abrigos rochosos com ossadas, artefatos e pinturas rupestres.
A região onde ele está é rica em calcário oriundo do fundo do mar, quando toda a bacia do Rio das Velhas encontrava-se inundada – ele foi depois compactado e soerguido, quando as águas recuaram e o solo secou. Por ser solúvel em águas ácidas, o calcário assume formas como dolinas, que podem ser inundadas por lagoas ou enchidas por sedimentos, bem como sumidouros, ressurgências e cavernas.
A presença de centenas de cavernas fez a região ser considerada o berço da nossa espeleologia. O dinamarquês Peter Lund realizou por dez anos pesquisas pioneiras na região. Encontrou dezenas de ossadas humanas junto a fósseis da fauna do Pleistoceno – como mastodonte e preguiça gigante. O Homem da Lagoa Santa, como foi chamado, foi contemporâneo destes animais. Essas descobertas foram fundamentais para a teoria evolutiva de Darwin.
Apesar de antigo, o Parque foi bastante degradado, até que fosse assumido pelo IEF. Remanescem antigas áreas de pastagem e de mineração. Este PE tão precioso é muito pequeno, pouco mais de 2.000 ha. É envolvido pelos 40 mil ha da APA da Lagoa Santa. Possui duas portarias – Gruta da Lapinha em Lagoa Santa e Casa Fernão Dias em Pedro Leopoldo, distantes 7 km entre si.
Da primeira parte a Trilha da Travessia (5½ km) e, da segunda, a Trilha do Sumidouro (2½ km), passando ambas pela lapa, pelo mirante e pela lagoa do Sumidouro, ao atravessar transversalmente o Parque. Você encontrará pinturas rupestres da tradição planalto nos seus paredões. É também possível escalar suas paredes, logo à entrada do Parque.
Mas não espere caminhos visualmente bonitos, pois são sombreados por matos secos, típicos da presença do calcário, e por capoeiras, resultantes dos desmatamentos passados. Existem também vegetações rupestres, sejam herbáceas ou arbustivas. A famosa Lagoa do Sumidouro estava seca quando a visitei – só seu sumidouro era visível. A fauna do Parque é apenas de médio porte, dado seu habitat pouco propício. Em resumo, não me pareceu uma natureza sugestiva.
A primeira portaria também acessa a Gruta da Lapinha e o Museu Peter Lund – são estes realmente os maiores atrativos deste Parque tão diferente. É uma gruta linda, alternando paredes de elegante granulação com grandes decorações calcárias de delicadas cortinas.
Em compensação a reservas tão pequenas, conheça a continuação do Espinhaço nos grandes espaços da Serra do Cipó.