O PN da Chapada Diamantina é um cenário de variada beleza natural, com montanhas tabulares, vales profundos e surpreendentes cachoeiras, lagos e grutas. Muitas de suas travessias são trajetos clássicos, grandes e belos. Suas principais cachoeiras exigem caminhadas por cânions longos e penosos. Mas a Chapada vai muito além do Parque, incluindo muitas outras reservas e contendo as escarpas finais do Espinhaço, como você verá depois desta coluna.
O Parque Nacional da Chapada Diamantina apresenta panoramas de variada beleza. Foi criado aparentemente sem maiores estudos ou medições, é o único PN que conheço que contorna várias cidades, as antigas vilas de garimpo do século retrasado.
O Parque é grande e tem um desenho estreito, seus 152.130 ha correndo por talvez 90 km no sentido N-S e menos de 20 km no E-W. Como ele se alonga no sentido sul, Mucugê concentra mais da metade de sua extensão; Andaraí e Lençois contribuem com quase todo o restante (consulte o mapa anexo).
Existem duas grandes APAs nas suas proximidades: a da região alagada dos Marimbus (125 mil ha) e da formação serrana do Barbado (64 mil ha). O primeiro é conhecido como o pantanal baiano e o segundo abriga o ponto culminante do Nordeste. Outra reserva próxima é a ARIE das Nascentes do Rio de Contas, com 5 mil ha no fantástico território da Tromba, que merece um dia ser Parque, com área bem maior do que esta.
Próximo a Xique Xique ficam os 78 mil ha da APA da Lagoa de Itaparica, com matas de carnaúbas e lagoas marginais do São Francisco. Infelizmente, quando a conheci as lagoas estavam secas, parecendo meros açudes. Isto também ocorreu nos Marimbus do Rio Paraguaçu, que enxugam a cada vez que os visito.
Como comentei antes, o PNCD integra a Serra do Espinhaço, no extenso percurso desta, desde o sul de Minas até o centro da Bahia. Em termos gerais, ele é formado ao longo da Serra do Sincorá, que é sua espinha dorsal no limite oeste. A divisa oposta situa-se principalmente em leitos de rios como o São José e o Santo Antônio. Os limites norte e sul correspondem à rodovia BR 242 e às terras agrícolas.
Salvador é a porta de entrada para a Chapada, pois a BR-242 permite um acesso razoável. A BR-116 Rio-Bahia é a rota de acesso para quem vem pelo sul. Por avião, existem pousos no aeroporto agora reativado de Lençóis – mas no estilo integração nacional, com inúmeras escalas Brasil afora até lá.
A variedade do PNCD é muito interessante. Você pode visitar as belas decorações das grutas calcárias da Torrinha e da Lapa Doce ou as gigantescas cachoeiras da Fumaça, do Buracão, das Encantadas e da Fumacinha. Pode avistar os perfis sugestivos dos morros em arenito do Pai Inácio, do Camelo e do Castelo ou as águas mágicas do Poço Encantado e do Lago Azul.
Se preferir, pode navegar no pantanal dos Marimbus e atravessar os longos caminhos do Capão, do Pati e do Vieira. Ou então caminhar pelos íngremes espaços da Ladeira do Império até Andaraí e da Rampa do Caim em Igatu. E conhecer as humildes pinturas rupestres, nas tradições nordeste e agreste.
De fato, o PNCD é ideal para quem aprecia longas travessias. Você pode sair de Lençóis e chegar no pitoresco Capão, depois de quase 20 km. A caminhada da Guiné a Mucugê pelos altos dos Gerais do Rio Preto tem 40km, com direito à travessia a vau do Paraguaçu.
O trek clássico do Pati – saindo do Capão, percorrendo o vale e deixando-o pelo Império – é usualmente feito em 70 km, ou apenas 60 km, se ao invés você iniciá-la na Guiné. As grandes cachoeiras exigem entre 12 e 20 km, havendo trilhas pesadas, como as da Fumaça, Encantada e Fumacinha.
Embora não sejam belezas naturais, algumas vilas à volta do Parque são bem interessantes. A alegre agitação de Lençóis e o encanto alternativo do Capão são únicos – parecem-me os povos de maior curiosidade e opinião da Chapada. Lençóis é a capital turística e porta de entrada do Parque. É curioso como, entre ambas, está a pacata Palmeiras, que parece insensível ao movimento de suas vizinhas.
A pequena Mucugê é organizada e graciosa, com a beleza da igreja e do cemitério. Andaraí é hoje limpa e espaçosa, um eterno alívio para quem nela chega pela interminável Ladeira do Império. Entre elas está a minúscula Igatu, uma vila fantasma feita de ruínas de casas de pedra, penduradas no abandono do alto das escarpas de uma serra esquecida. São todos municípios pouco populosos, com não mais de 7 mil habitantes em suas sedes.
A história do Pati é interessante. Embora sem os cobiçados diamantes, era uma região produtiva nos tempos do garimpo, devido a seu solo fértil. Fornecia a alimentação básica para as vilas da região. Mesmo após o declínio da mineração, continuou habitado por causa das lavouras de café.
Entretanto, o programa de erradicação do Instituto Brasileiro do Café na década de 1960 levou o vale à ruína. Os moradores remanescentes são hoje bem velhos, mas o turismo melhorou suas vidas e permitiu que aumentassem suas casas. Hoje são 13 casas, a maior parte acolhendo os andarilhos.
O PN me parece simplesmente abandonado pelo Governo. No seu site, somos informados de que conta com uma equipe de 10 pessoas, fora 40 brigadistas. Nas minhas caminhadas, nunca encontrei sequer um guarda-parque, pela simples razão de que não existem mesmo.
Não há nem portaria nem sinalização – e, naturalmente, nenhum controle de visitação. Embora 45% da área do PN seja de terras devolutas, nenhuma sequer é registrada no IBAMA. É triste constatar que as práticas do garimpo, da caça, da coleta e da queimada continuam ainda hoje ocorrendo.
No último capítulo desta série, você conhecerá a Grande Chapada, uma região imensa onde enfim irá se encerrar (com muita tristeza minha) essa longa cadeia do Espinhaço.
2 Comentários
Prezado Alberto, o PN da Chapada Diamantina é um dos mais valorizados do Brasil, por uma razão muEu incluiria em sua lista o Parque Municipal do Pico das Almas, que protege a flora de campos de altitude presentes nas cota mais altas da Serra das Almas, próxima a cidade de Rio de Contas, ao sul- sudoeste da Chapada Diamantina.
por uma razão muito simples: ele é motivo de enorme admiração pelos nativos, moradores, visitantes de todos os cantos do mundo, que aos poucos vão dando sentido e forma a este imenso monumento natural.