Em 1986, quando Messner se tornou o primeiro montanhista a escalar pela primeira vez todas as 14 montanhas com mais de 8 mil metros do mundo, muito se falava sobre o futuro do montanhismo. Messner, não apenas foi o primeiro a realizar o projeto, mas o fez em grande estilo, escalando todas sem oxigênio, de forma autônoma e independente, num estilo mais puro e ético.
Na sequencia, o polonês Jerzy Kukuzka, que rivalizava com Messner, além de terminar o projeto, o fez escalando montanhas no inverno, abrindo novas rotas mais difíceis e mais técnicas. Na década de 80 outros nomes como Krysztof Wielicki, Hans Karmmelander, Renato Casarotto e outros, deixaram suas marcas elevando o nível do montanhismo, seguindo os valores do ineditismo, da autonomia e independência. Após esta geração lendária, o montanhismo se perguntou: Com estas conquistas, como será o futuro de nosso esporte? Qual seria o limite?
Quarenta anos se passaram e hoje o feito mais comentado do montanhismo, a escalada de todos os 8 mil por Kristin Harila, é a repetição de um projeto. De inédito tem a rapidez com que foi realizado, porém com uso de helicópteros, cordas fixas, muitas garrafas de oxigênio e ajuda de fortíssimos sherpas, do qual se destaca Tenjen Lama. Ainda que seja algo incrível e muito difícil, é algo distante, ou senão oposto do que se imaginava há quarenta anos.
Os fatos, no entanto, falam muito mais do que só isso. Se não bastasse que os valores e ideais do montanhismo terem ficado para trás, o Guiness book, seguindo um revisionismo histórico, retirou o nome de Messner como sendo o primeiro a escalar todos os oitomil. Também desconsiderou as conquistas de diversos outros montanhistas lendários, como o próprio Kukuczka e até mesmo de Denis Urubko, que tem 28 cumes de oito mil sem nunca ter usado oxigênio.
Estes grandes montanhistas podem ter perdido seus nomes dentre o livro de Recordes, mas não terão seus nomes esquecidos. Eles foram e serão lembrados por suas escaladas avançadíssimas que até hoje desafiam quem quiser repeti-las.
Quem perde é o tal livro dos Recordes, que perde Messner, mas ainda terá em suas páginas feitos como o homem que mais comeu cachorros quentes, o encontro com maior número de pessoas vestidas de Peru no mundo, maior quantidade de palitos na barba, maior cabelo do mundo e por aí vai.
Quanto ao futuro do oitomilismo? É claro que quanto mais pura for a escalada numa montanha desta altitude, maior a dificuldade e o comprometimento. O montanhismo no entanto não se resumo a altitude de 8 mil metros e este montanhismo do futuro está por aí, só não é tão comentado.
1 comentário
Tenebrosos interesses estariam por trás desta exclusão?