O Parque das Emas

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Um lugar muito especial, um amplo território plano recoberto pelo cerrado, onde é possível uma interessante observação da fauna silvestre. Lá os animais, pequenos e grandes, circulam livremente pela área. Possui duas entradas, separadas por uma longa estrada, a norte e a sul, onde é possível pousar.

O Parque das Emas fica num canto entre três Estados, GO e os dois MT. Porém está quase que totalmente contido no município de Mineiros (GO), com pequenas áreas em Chapadão do Céu (GO) e Costa Rica (MT).

Situado logo ao sul da Serra de Caiapó, ocupa um enorme chapadão a 800m de altitude. Os índios que deram o nome à serra aparentemente nunca viveram nela.

Mapa do PN das Emas, GO e MT

Ele pode ser acessado por duas portarias, os Portões Jacuba a N e Bandeira a S. Existem pousadas em cada extremidade, chamadas Emas e Glória, a do norte sendo precária. O portão norte dista 90 km por asfalto de Mineiros e o segundo, 30 km de terra desde Chapadão. Em Mineiros predomina a pecuária e em Chapadão, a soja, com extensões que lhe parecerão infinitas.

O Parque nasceu com um tamanho inviavelmente grande, pois havia na época uma intenção de valorizar o Brasil Central. Ele foi reduzido para quase um décimo, na sua atual área de 132 mil ha.

PN das Emas, Mineiros, GO (Fonte: lavdecor.com.br)

Possui a forma aproximada de um retângulo vertical, sendo atravessado por uma boa estrada em piçarra. Os rios desta região correm seja para o Araguaia, o Paranaíba ou o Paraguai, o que significa as três importantes bacias da Amazônia, do Prata e do Pantanal.

Apresenta a feliz e rara situação de estar completamente regularizado. A razão foi a doação de praticamente toda sua área pelo fazendeiro e caçador Filogônio Garcia. Diferentemente da maioria dos nossos parques, aqui o solo presta-se ao cultivo de grãos. Filogônio percebeu que este território seria invadido se não fosse conservado.

Vegetação do PN das Emas, Mineiros, GO (Fonte: wikimapia)

A paisagem abrange as mais variadas formas de cerrado: campo limpo (onde as gramíneas predominam), campo sujo (com maior presença de árvores), campo rupestre (altos e rochosos), cerrado e cerradão (dependendo da densidade arbórea), veredas (regiões úmidas povoadas por buritis) e mata ciliar (ao longo dos vales úmidos).

Esta vegetação tem o aspecto áspero e retorcido associado à secura do cerrado. Para evitar o risco de incêndio, são feitos aceros, quando faixas de 20-30 metros são previamente queimadas – além de impedir a passagem do fogo, facilitam a observação dos animais.

No verão as chuvas são frequentes e os dias são quentes, com média de 32°. Nos invernos secos, descem para talvez 25°. A melhor época para a visitação é outubro, com a floração que se segue às chuvas da primavera e com o aspecto já verde da vegetação. Esta é a época da procriação dos animais, à espera da fartura do verão.

E também da bioluminescência, quando luzes em tons verdes ou azuis emanam à noite dos cupinzeiros, tornando-os semelhantes a um campo de pouso.

Ela é produzida pelas larvas dos vaga-lumes, alojadas nos cupins. Produzem um químico que, ao ser oxidado, emite luz fria para atrair seus companheiros. As pirâmides dos cupins parecem então adquirir vida, num efeito misterioso.

Ema no PN das Emas, Mineiros, GO (Fonte: IcmBio)

O principal interesse da visitação ao parque é o avistamento da vida silvestre, em particular dos pássaros, que são mais variados que os mamíferos. E são também mais abundantes – como araras canindé, tucanos, seriemas, urubus-rei, águias e naturalmente emas.

Fora as emas, o parque é pródigo em tamanduás bandeira. É incrível avistar os filhotes alojados no dorso das mães, com suas listas coincidindo com as dos adultos, para enganar os predadores.

Os animais mais comuns são os vistosos cervos e os veados menores avistados nos campos, os macacos prego e os bugios nas matas, os lobos guará detectados por seu forte odor, os cachorros e os gatos do mato, as antas nas vizinhanças das áreas úmidas e os humildes tatus.

Veado Campeiro, PN das Emas, Mineiros, GO (Fonte: Cláudio Denis)

As onças também percorrem o local, embora escondidas. Os felinos costumam ocupar as matas da Jacuba, a leste do parque. Porém, a insuficiência de corredores com outras zonas florestadas no Araguaia as estão fazendo invadir as fazendas, quando atacam os animais e são abatidas pelos fazendeiros.

O Parque não se presta a caminhadas – a forma adequada de conhecê-lo é de veículo, com paradas em pontos de interesse. O percurso são os 50 km da estrada de ligação entre os dois portões, que devem ser percorridos lentamente, talvez por 3 a 4 horas.

Raríssimos Cachorros Vinagre no PN das Emas, Mineiros, GO (Fonte: ecoa)

A cerca de 4 km da entrada norte, existe a Mata da Jacuba – este nome significa uma mistura de rapadura, farinha e água. Lá foi um antigo local de parada dos tropeiros que iam de Mineiros (GO) até Coxim (MS). As nascentes do Araguaia estão bem próximas, porém fora do parque.

Se você seguir pela estrada principal, chegará 20 km depois ao Mirante do Avoador. É um lugar com uma vista panorâmica para um conjunto de furnas, o único local do parque onde ocorre um desnível acentuado.

Depois de mais 25 km pela estrada, você atingirá um local completamente diferente da planura conhecida até agora: o Rio Formoso, atravessado por uma ponte de madeira. Ele está próximo do Portão Sul, chamado de Bandeira.

Rio Formoso, PN das Emas, Chapadão do Céu, GO (Fonte: Zig Koch)

É uma linda vista, com as águas encachoeiradas do rio correndo entre suas margens povoadas por palmeiras. O Formoso e o Jacuba são os formadores – e, curiosamente, os únicos afluentes – do rio Corrente, de tamanho razoável.

Aqui você pode praticar atividades de flutuação e rafting. Pode também visitar a Lagoa da Capivara, um poço sereno circundado de verde, para onde correm as águas luminosas do rio. Se você dispuser de tempo e o solo estiver seco, dê a volta da Lagoa da Glória. É curioso como uma região tão seca se comunique com outra tão aquática.

Lagoa da Capivara, PN das Emas, Chapadão do Céu, GO (Fonte: Divulgação)

Os visitantes interessados na observação da natureza preferem chegar por Mineiros e atravessar a região. Já os adeptos das atividades aquáticas costumam vir pelo Chapadão do Céu e não ultrapassar o Formoso.

É um parque pouco visitado, exceto neste último trecho. Mas conhecê-lo é um exercício diferente, nos seus espaços abertos povoados pela exuberante, mas escondida vida do cerrado.

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Sobre o autor

Nasci no Rio, vivo em São Paulo, mas meu lugar é em Minas. Fui casado algumas vezes e quase nunca fiquei solteiro. Meus três filhos vieram do primeiro casamento. Estudei engenharia e depois administração, e percebi que nenhuma delas seria o meu destino. Mas esta segunda carreira trouxe boa recompensa, então não a abandonei. Até que um dia, resultado do acaso e da curiosidade, encontrei na natureza a minha vocação. E, nela, de início principalmente as montanhas. Hoje, elas são acompanhadas por um grande interesse pelos ambientes naturais. Então, acho que me transformei naquela figura antiga e genérica do naturalista.

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