O que fazer ao ser picado por uma cobra?

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Com a chegada da primavera e do verão os animais ficam mais ativos e é mais comum encontrar diversas espécies silvestres durante trilhas e outras atividades outdoor. Também é nessa época que os acidentes com cobras e outros animais peçonhentos aumentam.
No dia 29/10, a estudante de medicina veterinária e montanhista Nataly Haubricht da Cruz foi picada por uma cobra da espécie Jararaca. Ela estava iniciando a trilha que leva até o Salto dos Macacos, em Morretes, quando sentiu algo diferente. “Só a vi depois de ter sido mordida. Me mordeu e continuou no local parada. Quando a vi, já sabia que era uma jararaca, mas tirei foto para comprovar no hospital. Ela era filhote”, contou Nataly.

Nataly foi picada na região do tornozelo.

A montanhista foi socorrida rapidamente e levada para o hospital da cidade. “Tomei o soro antiofídico no Hospital de Morretes e logo depois fui transferida para o Hospital de Paranaguá, pois minha coagulação sanguínea e sinais de necrose estavam ficando ruins”, contou. “O médico disse que era grave, pois eu poderia ter um ataque cardíaco e problema nos rins, então fiquei sendo monitorada por 24h”, completou.
Nataly ficou quatro dias internada, mas felizmente não teve nenhuma sequela do acidente. Hoje ela passa bem e possui apenas uma marca roxa no local da picada e a lembrança do acidente.

A cobra que picou Nataly era pequena, cerca de 35cm apenas.

Acidentes com cobras

A médica e montanhista, Lenora Rodrigo, conta que essa época do ano é mais propícia ao encontro com serpentes, pois elas estão em época de reprodução e mais ativas. No entanto, cerca de 80% da fauna brasileira corresponde às serpentes não peçonhentas, que causam menos problemas em caso de acidentes. “As caninanas, as “cobras cipó”, as “cobras d’água”, as jiboias e sucuris são alguns exemplos de serpentes ditas não peçonhentas”, pontuou a médica.
Entre as cobras peçonhentas mais perigosas estão as do grupo Bothrops, as jararacas, “responsáveis pela maioria dos acidentes em território nacional”, de acordo com a médica. “A seguir vem o grupo das Crotalus, as cascavéis, depois as serpentes do gênero Lachesis, as surucucus, e por fim, com um pequeno número de acidentes, as serpentes do gênero Micrurus, as corais verdadeiras”.

De acordo com o instituto Butantan as jararacas orrem desde a Bahia até o Rio Grande do Sul e al´me da Argentina e Paraguai. Foto: instituto Butantan

Lenora explica ainda que nessa época é comum encontrar cobras filhotes que possuem um veneno com composição diferente dos indivíduos adultos. No entanto, elas podem ser tão perigosas quanto. E lembra ainda da existência de outros animais com peçonha como aranhas, lagartas, abelhas e vespas e escorpiões.

Como prevenir acidentes

De acordo com a médica, a melhor forma de prevenir acidentes com cobras é prestar muita atenção onde pisa e onde coloca a mão. Ela também ressalta a importância de usar equipamentos corretos, como botas, e olhar dentro dos sapatos antes de calçá-los. Outra dica é cuidar onde sentar, olhar dentro de barracas e vistoriar os equipamentos colocados no chão (mochila, jaquetas, etc).
“O uso que equipamentos de proteção individual como perneiras ou polainas e luvas é altamente recomendo para prevenir acidentes nos ambientes de montanha e trilha”, ressalta Lenora. Nataly também gravou um vídeo no hospital fazendo um apelo para que as pessoas usem polainas de proteção.
Lenora lembra ainda que ao encontrar qualquer espécie de cobra o recomendado deixá-la em paz, não se aproximar e deixar que ela siga seu caminho. Afinal, as áreas naturais é a casa delas. Além disso, cabe lembrar que os humanos não são presas para as cobras, ou seja, elas só atacam para se defenderem e quando se sente ameaçadas.

Existem diversos modelos de perneiras no mercado tanto utilizadas como Equipamento de Proteção Individual por trabalhadores como por montanhistas.

O que fazer ao ser picada por uma cobra?

Ao sofrer um acidente com qualquer espécie de cobra, a pessoa deve ser levada imediatamente para o hospital ou serviço de atendimento médico mais próximo. O tempo é precioso e não deve ser desperdiçado com tentativas de fotografar o animal e arriscar capturá-lo é totalmente desaconselhável, uma vez que pode causar mais acidentes.
“Ainda é um hábito bastante comum das pessoas matarem a serpente após o acidente. Elas não têm culpa! Se houver possibilidade de fotografar a serpente, ok, ajuda o serviço de saúde na identificação, mas isso é dispensável. Pela clínica do paciente e exames de laboratório se chega ao diagnóstico para aplicar o soro corretamente”, explica Lenora.
Assim, as receitas caseiras e o uso de torniquete não são recomendados e podem agravar ainda mais a situação. Também não se deve perfurar e cortar o ferimento ou tentar extrair o veneno.
“Recomenda-se lavar muito bem o local da picada (ideal água e sabão, mas pode ser só água mesmo) e imediatamente levar a pessoa para atendimento médico. Isso mesmo, acabou a aventura pra essa pessoa!”, explica Lenora.
A médica lembra ainda que a pessoa ferida deve se movimentar o mínimo possível, no entanto pode tomar pequenas doses de água. Em áreas remotas e de difícil acesso é bastante complicado remover a pessoa sem que ela se movimente muito e em tempo hábil. Assim, vale a pena contatar os Bombeiros e ver quais orientações eles darão.

O tratamento

Lenora destaca que o tratamento para acidentes com serpentes peçonhentas é o soro específico, que idealmente deve ser administrado dentro das primeiras seis horas. “A demora na administração do soro pode acarretar complicações e eventualmente risco de vida”, disse.
No Brasil, existe Centros de Informação e Assistência em Envenenamentos ou Intoxicações, que são serviços para orientar pacientes e equipes de saúde quanto à melhor conduta nos acidentes e quais serviços estão aptos ao atendimento. O serviço é 24h durante os sete dias da semana.

Existe um soro específico para cada espécie de cobra. Foto: instituto Butantan

Telefones uteis

Amazonas – CIT/AM – (92) 3305-4702 / 08007226001
Bahia– CIATox/BA – 0800 284 4343
Ceará – CIATox/CE – (85) 3255-5050
Brasília – CIATox/DF – 0800 644 6774
Espírito Santo – CIATox/ES – 0800 283 9904
Goiás – CIATOX GO: 0800 646 4350 / 0800 722 6001
Mato Grosso – CIAVE – 0800 722 6001
Mato Grosso do Sul – CIVITOX de Campo Grande – 0800 722 6001
Minas Gerais – CIATox/MG – (31) 3224-4000
Pará – CIT de Belém – 0800 722 6001 / (91) 3249-6370
Paraíba – CIATOX de João Pessoa – 0800 722 6001
Paraná – CIATox/Curitiba – 08000 410 148
Pernambuco – CIATOx – PE – 0800 722 6001
Piauí – CITOX do Piauí – 0800 280 3661
Rio de Janeiro – CCIn de Niterói – 0800 722 6001
No Rio Grande do Norte – CEATOX/RN – 0800 281 7005 / (84) 98803-4140 (whatsapp)
Rio Grande do Sul – CIT/RS – 0800 721 3000
Santa Catarina – CIATOX SC – 0800 643 5252
São Paulo – Ceatox SP – 08000 148 110. Ou CIATOX SP 3201-5000 – Ramal: 1560 | 3201-5175.
Sergipe – CIATox / SE – 0800 722 6001

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Sobre o autor

Maruza Silvério é jornalista formada na PUCPR de Curitiba. Apaixonada pela natureza, principalmente pela fauna e pelas montanhas. Montanhista e escaladora desde 2013, fez do morro do Anhangava seu principal local de constantes treinos e contato intenso com a natureza. Acumula experiências como o curso básico de escalada e curso de auto resgate e técnicas verticais, além de estar em constante aperfeiçoamento. Gosta principalmente de escaladas tradicionais e grandes paredes. Mantém o montanhismo e a escalada como processo terapêutico para a vida e sonha em continuar escalando pelo Brasil e mundo a fora até ficar velhinha.

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