O Rio Mogizinho

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“Mogizinho” é o nome informal q recebe um dos muitos tributários do majestuoso Rio Mogi, situado no vale homônimo ao sopé da pitoresca vila de Paranapiacaba. Quem palmilhou a tradicional picada “Raiz da Serra” rumo Cubatão já passou por esse belo ribeirão, que corresponde ao último gde curso dágua q esta centenária vereda cruza antes de interceptar a bucólica “Prainha” do Mogi. Pois bem, como a supracitada trilha basicamente tangencia e acompanha o trecho final do Mogizinho até sua foz, sempre pairou a curiosidade em explorar o dito ribeirão no sentido contrario: isto é, subi-lo por inteiro até alcançar suas nascentes, já no planalto. E essa desfeita foi realizada neste ultimo fds, numa prosaica aventurinha q envolveu muitas doses de perrengue, traduzido em muitas água na cachola, escalaminhada quase vertical e vara-mato nervoso.

 

“Mogizinho” é o nome informal q recebe um dos muitos tributários do majestuoso Rio Mogi, situado no vale homônimo ao sopé da pitoresca vila de Paranapiacaba. Quem palmilhou a tradicional picada “Raiz da Serra” rumo Cubatão já passou por esse belo ribeirão, que corresponde ao último gde curso dágua q esta centenária vereda cruza antes de interceptar a bucólica “Prainha” do Mogi. Pois bem, como a supracitada trilha basicamente tangencia e acompanha o trecho final do Mogizinho até sua foz, sempre pairou a curiosidade em explorar o dito ribeirão no sentido contrario: isto é, subi-lo por inteiro até alcançar suas nascentes, já no planalto. E essa desfeita foi realizada neste ultimo fds, numa prosaica aventurinha q envolveu muitas doses de perrengue, traduzido em muitas água na cachola, escalaminhada quase vertical e vara-mato nervoso.

Saltamos do latão eu e o Ricardo na conhecida vila inglesa por volta das 7:45hrs, envoltos por brumas espessas e uma fina garoa fustigando o rosto. Aquele comecinho de manhã desmotivava td e qq incursão serrana q se preze, assim como qq visitação da vila inglesa, fato q se refletia igualmente na qtidade quase nula de passageiros do coletivo. Mas pra qq trilheiro determinado q se preze, o mau tempo pode ser convite a um desafio aventureiro. Era o nosso caso. Mal sabíamos q quem procura acha, e o perrengue pra gente seria algo garantido.
No entanto, o motivo pra gente madrugar até ali era mais q óbvio: adentrar na atualmente proibida “Trilha do Rio Mogi”, conhecida por tantos outros nomes, como “Raiz da Serra”, “Tupinambás”, etc. Não q seja “proibida”, mas sim seu acesso é mesmo “restrito”, como uma lacônica placa em sua entrada informa. Pelo visto, seu acesso deve ser permitido desde q se esteja acompanhado de guia ou monitor ambiental, numa atitude de enfiar no trilheiro mais uma obrigatoriedade goela abaixo. Conheço aquela trilha (q não visitava já a algum tempo) como a palma da minha mão, tendo já palmilhado a dita cuja de tds as formas possíveis, inclusive já pernoitando nela numa pitoresca ocasião, e até agora as justificativas da “interdição” nunca me soaram totalmente claras ou convincentes.

Pois bem, o fato é q adentramos sem dificuldades na entrada da trilha e por ela nos pirulitamos serra abaixo. Já de cara nos deparamos com muito mato cobrindo a dita cuja. Lógico, se a vereda não for constantemente pisada a vegetação naturalmente reivindica sua posse. E la fomos nós, descendo a danada num ritmo compassado, porém ágil, ao mesmo tempo em q íamos enxugando o mato no caminho. Outra triste constatação foi a de q havia muitos deslizamentos de encosta obstruindo o caminho, assim como muitos trechos erodidos pelas enxurradas; o contorno destes obstáculos se dava por discretos desvios ou varando mato mesmo, não tem jeito, o q não deixa de ser uma pena tendo em vista das condições anteriores da vereda. Vale lembrar q uma das justificativas q me deram pra restrição eram as condições perigosas dela, e do plano de remanejamento pra melhorá-la, dar segurança aos caminhantes e por ai vai. So q isso data de ano atrás, e o q vimos foi um avanço nulo nesse sentido: a vereda ta fechando e sua condição ta pior q antes! Fato. Ainda bem q há trilheiros anônimos (como constatamos) q mantém ainda o rabicho q resta ainda ligeiramente visível e discreto, mas sabe-se lá qdo isso vai durar.

Independente da questão acima, nosso progresso foi satisfatório montanha abaixo. Sempre envoltos em nevoas, visibilidade do Vale do Mogi zero nas torres e com o som onipresente do trem da cremalheira soando nalgum canto oposto da serra, fomos perdendo altitude de forma imperceptível. Como já era previsto, no meio do caminho começou a chover e não tardou prum trecho da trilha tornar-se um verdadeiro rio, onde redobramos o cuidado pra não escorregar ou deslizar encosta abaixo. Trocentos córregos banhavam a trilha, descendo de tds os lados da montanha. O destaque curioso da descida foi o dum abrigo improvisado (!?), provavelmente fruto dum pernoite forçado, numa das torres. Vale destacar q no caminho há mais bifurcações q antes, sendo q boa parte delas vai dar nas redondezas torres de alta tensão, mas quem conhece bem a vereda não deve ter problemas de orientação.


Chegamos no Rio Mogizinho qdo a chuva resolveu dar uma trégua e um sol espiava timidamente por entre nuvens densas, por volta das 9:40hrs. O Vale do Mogi, no entanto, ainda estava imerso num brumado opaco sem visibilidade nenhuma. Dali ate a famosa “Prainha” do Mogi não daria nem coisa de meia hora (menos até!), mas aí eu e o Ricardo tocamos rio acima e ver onde iriamos dar, na ansiosos pelo q viria pela frente, o q pra nos era algo totalmente desconhecido. Avaliando a carta tropeçaríamos com vários pequenos tributários mas nossa rota sempre deveria tender pro norte, em tese. E assim foi.

Comecamos então nossa jornada pro desconhecido colocando em pratica logo de cara o know-how deste tipo de aventura: ora seguindo sempre pelo leito pedregoso do rio, saltando cuidadosamente as pedras escorregadias; ora desviando pela encosta dos obstáculos instransponíveis diretamente, como paredões, poções ou pequenas cachus. E assim foi. Logo de cara tropeçamos com uma bifurcação nos rios, mas o bom senso nos manteve no curso oriundo da esquerda, pois o volume dagua era maior e o sentido conferia com o q o ponteiro da bussola apontava, ou seja, norte!

Dessa forma fomos ganhando altitude num piscar de olhos. O primeiro trecho da ascensão foi bem tranqüilo, com pouca declividade e o ribeiurao bem mansinho até, com cachus modestas. Mas logo a seguir as pirambas tornaram-se mais acentuadas e o rio, mais caudaloso e fuirosamente encachoeirado. Curiosamente, em ambos os casos a subida transcorreu sem gdes dificuldades pois as pedras dominavam td trecho do rio, servindo de degraus durante td trajeto, com poucos e raros lances de escalaminhada nervosa de fato. Os desvios pela mata ou encosta igualmente foram raros, creio q apenas dois, e mesmo assim foi atraves pelo leito de braços dagua secos.

Mas td q é bom dura pouco pois o firmamento escureceu de tal forma q temi q tivesse anoitecido antes da hora, pra então desabar água sob nossas cabeças q nos ensopou por inteiro, embora já estivéssemos parcialmente úmidos ate chegar no rio. Não bastasse, os obstáculos e paredões começaram a mostrar sua cara com mais vigor, no trajeto, nos obrigando a escalaminhadas mais pauleiras, fosse pelo mato ou pelos paredões q cercavam o rio. Ainda assim, eram obstáculos passiveis de serem contornados na medida do possivel, com td cautela e cuidado necessários. Desnecessario mencionar q o pé e a bota já estavam a muito tempo molhados, pois havia trechos onde era necessário se enfiar no rio, com água ate a altura da coxa. Dessa forma, progredimos extraordinariamente bem naquela primeira hora, mesmo com chuva caindo sob nossas cacholas e as bifurcações no rio se sucedendo com mais freqüência. Em tds, claro, tomávamos sempre o ramo q fosse pro norte, sempre montanha acima.

Por volta das 11:30hrs abandonamos o rio q acompanhávamos, num trecho onde ele aparentou nivelar, e nos embrenhamos na encosta direita da floresta. Buscamos um trecho plano e ali fizemos nosso primeiro pit-stop pra descanso e lanche. A chuva continuava castigando a floresta e as lufadas de vento sacudiam a mata, q por sua vez despejava um toró sobre a gente. Ignorando este detalhe, nos acomodamos naquele lugar meio desconfortável pra descansar e mandamos ver nosso rango de trilha: um delicioso “baião-de-dois” providenciado pelo sogro do Ricardo, q nunca caiu bem no bucho como naquela hora.
Claro q naquelas condições o corpo esfriou rapidamente e o queixo não tardou a chacoalhar. Precisavamos voltar a subir a montanha. Voltanos a nos mexer assim q terminamos a suculenta iguaria nordestina e nos pusemos em marcha. Mas desta vez não voltamos pro rio abandonado, pois ele tendia pra oeste. Ao invés disso, começamos a subir a crista florestada da montanha, de modo a acompanhar ooutro tributário do rio principal, facilmente audível num pequeno vale a nossa direita, logo abaixo. E assim foi, escalaminhamos lentamente uma ardilosa piramba, nos firmando em qq coisa q estivesse a mão, com cuidado de não segurar mata espinhenta, presente aos montes. Mesmo assim a subida foi vagarosa por conta da declividade e do chão escorregadio, q fazia q com q a cada passo dado, retrocedêssemos três.

Uma vez do lado do rio, passamos a companha-lo e, qdo vimos q era passível de ir pelo dito cujo, abandonamos a encosta e pusemo-nos a andar pelas lajes e pedras do mesmo. Aqui o rio já não tinha tanto volume e resumia-se a apenas um fiapo dágua circulando montanha abaixo. Mas logo percebemos q andávamos no meio de um monte de entulho trazido por alguma enxurrada. O leito estava bem largo e repleto de terra e pedras roladas, sinal q ocorrera um mega-deslizamento ao largo do rio recentemente. No entanto, este fator nos ajudou na ascenção, pois havia mais apoios seguros pra ascenção, bastando apenas cautela em saber onde se firmar ou não. E assim prosseguimos nossa subida de serra inipterrupta. Um detalhe q igualmente me preocupava era meu tenis, q comecava a se esfarelar e abrir o bico. Tava com receio dele me deixar na mão e torcia pra guentar ate o final.

Mas foi ai q começaram a aparecer largos paredões levemente inclinados, q geraram algum temor de nossa parte. No entanto, ao constatar q não estavam escorregadios e ofereciam agarras seguras pra escalada lá fomos nós, ganhando altitude num piscar de olhos. Claro q evitávamos não olhar pra trás, pq ai as pernas certamente iam tremer nas bases ao ver a altura em q estavamos, Qq escoregao ou tombo era certo rolar montanha abaixo por tempo indeterminado. Assim, cada passo e agarra era checada e conferida duas vezes antes de se jogar o peso td sobre ela, ate pq andávamos visivelmente sobre o fruto de um deslizamento. 
A escalaminhada aprosseguiu no mesmo compasso e a chuva, por sorte, dava mais uma trégua. O firmamento ameaçava clarear mas a getne não se fiou nisso e deu continudiade a ascenção, na esperança de alcançar o topo da serra o qto antes. O receio de novo deslizmento ou de nova enxurrada, caso a chuva voltasse com força, era real. Foi ai q o terreno ficou mais barrento, com mais entulho nas escalaminhadas. Ai novamnte redobramos a cautela em saber onde pisar, pois haviam muitas pedras instáveis e pisar na terra era pedir pra rolar montanha abaixo. Mas ao constatar q os horizontes começaram a se ampliar, a vegetação diminuir sua altura e já não ter onde prosseguir, já era sinal q estavamos próximos da borda serrana.
Alcancamos o topo da serra antes das 14hrs, mas não sem um ultimo e penoso trecho de árdua escalaminhada pelo mato –  agarrados a raizes e pequenos caules – e nos arrastar vertivalmentee atraves de um emaranhado de trepadeiras. Uma vez no topo, a pernada aparentemente ficou sussa, mas não muito. Azimutamos por norte e la fomos nos, descendo um morro, onde varamos mais um mato ate cair num vale dominado por um riozinho de coloração avermelhada, fruto da matéria orgânica em suspensão. Avaliando a carta, resolvemos acompanha-lo um pouco pra depois abandona-lo, contornar um morro e assim seguir por norte, sem perder a rota. O lance era varar-mato nos mantendo em nível, evitando qq subida de nova montanha.

E começou assim um leve sobe e desce ate q finalmente caímos numa planície alagada. Saimos da mata fechada da floresta pra cair então nos descampados de banhados cercados de altos arbustos e voçorocas de samambaias, capim-navalha e bambuzinhos. Pode parecer estranho, mas faltava pouco pra chegar no asfalto, so q esse curto trecho foi o mais difícil por conta do mato baixo q se entrelaçava entre si, formando quase pequenas muralhas de vegecao agreste. Felizmente o bravo Ricardo estava em posse de sua possante facão e foi assim lentamente abrindo caminho na dianteira, enqto eu tomava posse da bussola e dava a direção a tomar. Mas isso não impediu q saíssemos incólumes, imundos e repletos de cortes e espinhos pelo corpo.

Mesmo assim, nosso progresso naquele matagal era lento, e tivemos q parar duas vezes pra repôr as energias, comendo o restante de lanche e guloseimas. Nossa esperança era a de cruzar com alguma trilha e por ela prosseguir onde desse. O importante era sair daquele matagal dos infernos, mas nada. Andavamos a paso de lesma com preguiça, e a tarde rolando. Foi ai q passou pela minha mente a possibilidade de ter de pernoitar ali. Comentei disso com o Ricardo e, embora nenhum de nos desejasse isso, ao menos estavamos levemente preparados com o mínimo necessário pra isso. E o cansaço pegando. Era aquela coisa: “Tão perto e tão longe ao mesmo tempo..”


Foi ai q as esperanças se renovaram ao ouvir o som de uma moto e um apito de trem, ao norte, relativamente próximos, sem falar q tivemos contato visual com as torres de energia de Campo Grande. Era sinal q estavamos pertinho do asfalto, embora esse “pertinho” demandasse horas de ser transposto naquele matagal infernal. Mas a Divina Providencia estava sim ao nosso lado qdo finalmente interceptamos uma trilha (precária) q literalmente nos livrou de ter de pernoitar ali. “Eu sabia q tinha uma trilha cruzando estas bandas!”, falei pro Ricardo. Uma vez nela, tocamos por ela tranquilamente indo no sentido q desejávamos, ou seja, por norte, embora alguns trechos dela estivessem totalmente tomados por brejos enormes, onde o Ricardo quase foi a pique num deles. Mas e daí? Andar naquela trilha era muito melhor e mais produtivo q continuar avançando lentamente, na unha, naquele mato maldito! Aos poucos, a picada foi contornando novo morrote e ficando mais batida, onde fomos ignorando as bifurcações q surgiram. Enfim, sem maiores dificuldades.

Como q ouvindo nossas preces, a exatas 17hrs a picada nos deixou no quintal duma simpática casinha (q depois revelou-se ser a “Reserva Biologica do Alto da Serra”), as margens do asfalto da SP-122, já em Campo Grande. Um tiozinho de nome Antonio saiu da casa esbravejando nossa intromissão e tivemos q explicar-lhe nossa delicada situação, etc e tal. Na sequencia nos prostramos no ponto de bus, onde não demorou a passar o latão q nos deixou novamente em Rio Gde da Serra, onde alem de bebemorarmos a brava e perrengueira empreitada de sucesso, avaliamos os estragos na gente. Com o corpo frio e a adrenalina voltando ao nível normal, a dor do tranco nos joelhos e o ardor dos vários cortes pelo corpo se faziam presentes, assim como o cansaço muscular geral e a sujeira do mato invadindo todos os orifícios do corpo imagináveis. Enfim, lembranças da guerra do fds, assim como os espinhos na falange dos dedos q continuo removendo ate hj. Ah, sim. O tenis. Bem, ele guentou. E creio q dá pro gasto mais uma pernada. Moderada, claro.

Resumindo, o Rio Mogizinho na verdade é um emaranhado de pequenos afluentes q se juntam na borda do planalto q despenca no setor ocidental da Serra do Mogi, sem haver necessariamente um rio principal. Contudo, ao lado do Rio da Onça (aquele do Vale da Morte) e o da Grota Funda, o Mogizinho integra sem sombra de duvidas o complexo de gdes e respeitáveis tributários do grandioso Rio Mogi. Subi-lo da foz até suas nascentes, no entanto, não é programa simples e prosaico pra qq um. Requer não somente determinação, condicionamento e farejo/senso de direção, mas demanda principalmente desprendimento total da chamada zona de conforto. Um perrengue “q não deve nada ao do Vale da Morte”, parafraseando as palavras do Ricardo. As agrugras e obstáculos estarão sempre presentes, a espreita do andarilho incauto, mas pra quem curte um perrenguinho este fator será apenas mais um tempero adicional de sua tradicional aventurinha de final-de-semana.

Jorge Soto
http://www.brasilvertical.com.br/antigo/l_trek.html
http://jorgebeer.multiply.com/photos

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Sobre o autor

Jorge Soto é mochileiro, trilheiro e montanhista desde 1993. Natural de Santiago, Chile, reside atualmente em São Paulo. Designer e ilustrador por profissão, ele adora trilhar por lugares inusitados bem próximos da urbe e disponibilizar as informações á comunidade outdoor.

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