Escaladores paranaenses em El Chaltén (atualizado)

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Escalar nas agulhas do conjunto do Fitz Roy em El Chatén é sempre um desafio e requer experiência e cautela. Ainda assim, os três amigos e escaladores paranaenses viajaram para essa pacata vila patagônica em busca de algumas escaladas.

O site AltaMontanha.com está acompanhando essa aventura dos paranaenses de perto e compartilhando as informações com nossos leitores.

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Quarta ventana – Cume no El Mochito e El Mocho

Com a previsão de uma pequena janela de tempo bom, os três amigos paranaenses, Ed, Val e William se equiparam e partiram para mais uma escalada. Após 17 km em seis horas de aproximação por uma trilha cheia de blocos soltos eles chegaram ao Acampamento Avançado Niponino. A primeira parte da caminhada foi tranquila, porém a após passar a Laguna Torre ” a trilha fica bem difícil, sobre um mar de blocos de pedra e gelo, do Glaciar Torre”, descreveu Padilha.

Os três amigos comemorando o primeiro cume, após várias tentativas.

Caminho percorrido até Niponino.

Padilha contou também que estava com o coração aflito por fazer uma caminhada tão exaustiva sem nem ao menos saber se conseguiriam escalar. “Mas no fim a gente sempre acha uma ‘razão’ para fazer o que fazemos, que passa pela ideia que nos desafiarmos e atingirmos objetivos, que só se alcançam com muita dedicação e disciplina. A satisfação é tão grande que esquecemos todo o esforço e sofrimento que empregamos para atingi-los”, contou o escalador.

Para essa ventana, os escaladores escolheram fazer um link entre o Mochito e o Mocho. Eles acreditavam que essa seria uma agulha mais protegida dos fortes ventos que estavam se aproximando. Mas ao chegarem na base perceberam que o frio patagônico também imperava por ali. Assim, montaram a barraca o mais rápido possível e entraram para se refugiar do frio.

A escalada no El Mochito e El Mocho

Após um jantar preparado no jetcook (um equipamento compacto e leve para cozinhar) e uma noite agradável de sono os escaladores partiram para a parede. Porém, ao chegar na base das vias do Mochito, eles perceberam que elas estavam molhadas. Entretanto, para não perder mais uma pernada, eles decidiram escalar pelo próprio caminho deles. Assim, Machado iniciou as guiadas por “fissuras à vezes boas, às vezes nem tanto, e pelo blocos soltos”, contou Padilha.

Barraca protegida do vento por mureta de pedras.

Valdesir Machado e Willian Lacerda escalando.

Foram quatro esticões de 60 metros até o topo dessa agulha e mais uma meia hora entre blocos para chegar a base da via Espolón Este no El Mocho. Essa via foi conquistada pelo lendário Jim Bridwell, em 1978. Então, Padilha pegou a ponta da corda e esticou pela primeira parte da via. “Rocha decomposta, proteções duvidosas e blocos soltos fizeram parte do meu caminho, e isso se seguiria por muitos metros” relatou.

Fissuras

Durante a escalada eles encontraram sinais de outras equipes que precisaram abandonar a via. Um friend e algumas cordas cortadas. Padilha relatou que imaginou em quais condições esses equipamentos foram deixados para trás e que isso mexeu com o psicológico dele. Ainda assim, ele continuou a escalada.

“Foi no estilo Sid, da Era do Gelo: ‘nóis vamo vivê, nóis vamo mórrê!’ A todo momento parecia que não conseguiria achar nenhum ponto para colocar uma proteção, pois a fissura era aberta. Mas sempre surgia algum buraco e conseguia colocar algo”, contou Padilha. Ele terminou mais esse esticão lacando blocos para montar a parada. Ao finalizar esse trecho foi a vez de Machado guiar os próximos dois esticões, seguido por uma guiada feita pelo Willian e finalmente cume no El Mocho.

A volta para El Chaltén

Ao chegar no cume do El Mocho o tempo já estava virando e o vento forte e gelado tomando conta. Como essa montanha teve poucas escaladas essa temporada, os paranaenses precisaram reforçar as estações de rapel. Na Patagônia é comum rapelar de cordeletes laçados em blocos e bicos de pedras. Isso por si só já é um desafio psicológico, logo enfrentar isso com vento forte aliado ao perigo de enroscar a corda torna-se ainda mais exaustivo .

Para evitar mais transtornos, a equipe decidiu usar algumas técnicas. “Primeiramente, passamos as duas cordas dentro de uma bolsa de nylon e a carregamos pendurada na cadeirinha. Porque se jogamos a corda pra baixo, ela não vai pra baixo e sim para o lado, por causa do vento, e acaba se enroscando em tudo” explicou Padilha. Na hora de puxar a corda a equipe utilizou uma linha de nylon para evitar que uma das pontas ficasse solta.

“Quando chegamos ao esticão da corda que havia sido cortada, achamos mais 2 friends e um pé de sapatilha abandonados”, relatou Padilha que ficou ainda mais curioso sobre o perrengue que outros escaladores passaram ali. Mesmo com as surpresas e vento forte e frio, o rapel ocorreu sem nenhum imprevisto e a corda não enroscou nem uma vez. Após quatro horas rapelando, eles chegaram a base do el Mochito.

Linha escalada pelos paranaenses.

Então correram para o acampamento, pegaram a barraca e o restante do equipamento e iniciaram a caminhada de volta, lutando para chegar o mais longe possível antes de escurecer. Na volta, eles ainda precisaram enfrentar o frio e a exaustão até chegar em El Chatén. “Às 3 da madrugada desmaiamos, com nossos espíritos renovados e muito contentes por termos conseguido fazer uma escalada tão bacana em uma temporada tão dura”, concluiu Padilha

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Terceira janela de tempo bom e mais um perrengue

No último sábado os amigos Ed, Val e Willian saíram de El Chaltén para mais uma tentativa de escalada na região do Fitz Roy. O projeto deles era aproveitar a janela de tempo bom prevista para domingo para tentar fazer um link entre as Agulhas Rafael Juarez, Saint Exupery e Aguja de La S.

Caminhada na chuva com blocos soltos.

A caminho do glaciar, próximo a Laguna Torre houve uma avalanche na encosta do Techado Negro interrompendo a trilha. Assim os escaladores paranaenses precisaram passar por cerca de 25 metros sobre blocos soltos e neve revirada.

Porém, não foi só essa adversidade que eles encontraram. Ao chegar no glaciar os amigos pegaram uma chuva forte que encharcou as roupas e equipamentos. Eles só puderam se proteger do frio e chuva quando chegaram ao local de acampamento e montaram a barraca.

Willian preparando uma refeição e se aquecendo dentro da barraca.

Edemilson Padilha tentando se secar após a noite molhada

Após uma noite fria, porém agradável eles colocaram as roupas e equipamentos para secar e começaram a se preparar para escalar. Porém, mesmo com o sol da manhã as vias de escalada estavam todas congeladas por causa da chuva e neve da noite anterior.

Assim, só restou aos três amigos retornar ao acampamento desmontar tudo e caminhar novamente os 25 km de volta até El Chaltén.

Padilha relatou que a caminhada pelo glaciar possuí muitos sobes e desces por um terreno instável. Isso aliado ao frio e chuva torna o caminho muito mais cansativo fisicamente e psicologicamente.

 

 

Blocos de pedras congelados.

O clima ainda fechado nas agulhas.

Segurança em primeiro lugar

Para escalar nas grandes montanhas como Fitz Roy, Cerro Torre ou suas vizinhas é necessário um currículo com boa experiência em escalada e também saber acompanhar a previsão do tempo.  Da mesma forma, os escaladores e trekker da região devem saber reconhecer qualquer mudança climática que ocorrem repentinamente, para evitar serem pegos por uma tempestade em áreas de difícil acesso.

Além disso, El Chaltén possui algumas regras para segurança dos montanhistas e escaladores que frequentam o local. A primeira delas é que todos os escaladores devem fazer um registro junto com os guarda-parques. E em cada saída que as equipes fazem, é necessário mandar um e-mail com o destino e o itinerário planejado. O mesmo deve ser feito no retorno, avisando que estão todos bem e dando baixa no aviso.

Padilha conta que os guarda-parques disponibilizam algumas frequências de rádio para se comunicar com os escaladores. Eles também informam todos os dias no final da tarde a previsão do tempo e quando ocorrerão as próximas ventanas.

Segunda ventana – 21/01/2020 a 22/01/2020

Com a previsão de uma ventana (janela de tempo bom) para o final de semana, os três amigos decidiram sair de El Chatén na sexta-feira rumo a face oeste do conjunto de montanhas Fitz Roy. A princípio, a ideia era tentar algumas vias clássicas nas Agulhas Rafael Juarez, Saint Exupery e Aguja de La S.

Paranaenses no bivaque dos Polacos.

Aproximação feita pelo Glaciar.

Padilha conta que a aproximação até o bivaque dos Polacos pelo glaciar foi tranquila, como já conheciam o caminho e as dificuldades puderam completar o percurso em seis horas. Logo após uma noite na barraca que haviam levado, partiram para a aproximação a base das vias. “Durante essa aproximação já começou a ventar muito forte e encher de nuvens no Cerro Torre. Antes as nuvens param no Torre e depois vem para o Fitz. No momento quando estávamos quase na base de uma das vias da agulha Rafael Juarez começou a chover”, relatou Padilha.

Entretanto, devido as condições climáticas os paranaenses decidiram abortar essa escalada e retornaram para a cidade ainda no dia 21/01. Agora eles devem repousar e esperar pela próxima ventana.

Tempo fechado e chuva se aproximando.

Primeira janela de bom tempo para os paranaenses – 17/01/2020 a 18/01/2020

A equipe de paranaenses saiu de El Chalten na última sexta-feira em direção ao bivaque dos Polacos no Vale do Cerro Torre. Foram pouco mais de seis horas de caminhada, porém com a falta gelo e neve no glaciar a trilha ficou bem mais pesada e cansativa do que o habitual. Ao chegar à montanha, por volta das 22 horas, eles montaram a barraca em um local protegido para se abrigar dos fortes ventos, cozinhar e dormir.

Acampamento na região do bivaque dos Polacos.

Os blocos soltos tornam a caminhada mais difícil e perigosa.

Edemilson Padilha puxando um dos esticões na Aguja de La S.

A primeira aventura nas terras Patagônicas dos três amigos foi a tentativa de conquistar uma nova via na face oeste da Aguja de La S. Ed, Val e Willian como são conhecidos, subiram por uma canaleta de rocha por três esticões. Após esse trecho inicial a equipe chegou a “um mar de blocos, onde subimos uns 300 metros para tentar achar uma sessão mais acima”, contou Padilha.  Infelizmente, ao chegar nessa segunda parede, os escaladores perceberam que a rocha era de péssima qualidade.

“Após uns 600 metros, muitos blocos soltos e com o vento já muito forte descemos, valeu a aventura parceiros, motores aquecidos”, escreveu Lacerda em suas redes sociais.

Como não há via no local, os diversos rapeis foram realizados laçando bicos de pedra e abandonando alguns excentrics antigos na rocha. Após chegar o acampamento base que eles haviam montando na noite anterior, a equipe guardou tudo novamente em suas mochilas e partiu de volta a El Chaltén. Eles chegaram à pequena vila às 23 horas.

“Foi um dia longo, no final já estávamos nos arrastando. Mas foi muito interessante, porque a gente conseguiu esticar as pernas um pouco e fazer um pequeno “pegue” nas montanhas, que é muito para gente entrar em forma. E para que a gente esteja já a mil para a próxima ventana” contou Padilha.

[Escaladores paranaenses chegam em El Chaltén para escalada desafiadora]

Os escaladores paranaenses Edemilson Padilha, Valdesir Machado e Willian Lacerda chegaram à pacata cidade de El Chatén na Patagônia Argentina. Além de abrigar o icônico Fitz Roy e Cerro Torre a região também possui inúmeras outras montanhas e paredes de escalada. E é esse o local escolhido pelos amigos escaladores para a sua próxima aventura.

Aproximação das vias de escalada.

Assim como todas as outras atividades na Patagônia, os planos da equipe também dependem de uma boa janela de tempo, visto que no local o clima é soberano. Por isso, os três escaladores paranaenses se mantêm cautelosos na escolha do desafio, mas estão preparados para enfrentar atividades de vários dias na inóspita região.

“Não temos um plano fixo, pois dependemos muito do tamanho da janela de bom tempo. As ventanas, como são chamadas aqui, podem ser de um dia, dois ou três. Então, dependendo disso elegemos nosso objetivo.” contou Padilha.

Edemilson Padilha treinando nas vias do outro lado do Rio de Las Vueltas

A equipe conta com apoio das marcas Edelweiss e a loja Alta Montanha. A expectativa deles é realizar uma travessia por três das principais agulhas do conjunto de montanhas. “Temos uma lista de opções, que vai desde a repetição de alguma via até o link de mais de um cume. Se houver uma janela maior queremos tentar alguma travessia, como a que une os cumes Guillaumet, Mermoz e Fitz Roy”, revelou Padilha. Mas enquanto a janela certa não aparece, eles permanecem treinando e “aclimatando” em paredes menores da região, contou o escalador.

As lendárias travessias


O Fitz Roy por si só já esta entre as montanhas mais desafiadoras e perigosas do mundo. A proximidade com o oceano Pacífico traz muita instabilidade climática que já resultou em tragédias nessa montanha.

Entre os projetos mais famosos esta a travessia de Tommy Caldwell e Alex Honnold que escalou uma linha pela crista do famoso Pico Fitz Roy e seus picos satélites. Um caminho com mais de quatro mil metros de escalada mais os rapeis e lances de escalada em gelo e misto.

:: Veja matéria completa Tommy Caldwell e Alex Honnold completam a travessia do Fitz Roy

 

 

 

 

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Sobre o autor

Maruza Silvério é jornalista formada na PUCPR de Curitiba. Apaixonada pela natureza, principalmente pela fauna e pelas montanhas. Montanhista e escaladora desde 2013, fez do morro do Anhangava seu principal local de constantes treinos e contato intenso com a natureza. Acumula experiências como o curso básico de escalada e curso de auto resgate e técnicas verticais, além de estar em constante aperfeiçoamento. Gosta principalmente de escaladas tradicionais e grandes paredes. Mantém o montanhismo e a escalada como processo terapêutico para a vida e sonha em continuar escalando pelo Brasil e mundo a fora até ficar velhinha.

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