Paulistas tem medo de competir?

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Às vésperas da primeira etapa do campeonato paulista de escalada esportiva volta o velho debate que sempre esbarro : porque competir na escalada?


Às vésperas da primeira etapa do campeonato paulista de escalada
esportiva volta o velho debate que sempre esbarro : porque competir na
escalada?

O esporte que é filosoficamente não competitivo,
acredita-se que é para entrar em harmonia com a natureza, reunir com
amigos mais fiéis que confiamos nossa segurança. escalar vias abertas
por visionários de linhas que antes eram apenas imaginárias.

Algumas
mensagens foram deixadas no blog, e devidamente apagadas por não seguir
um padrão de educação mínimo, sobre participar ou não da competição.
Muitos pensam somente na premiação em dinheiro “porque equipamento a
gente tem”.

Fiquei até curioso e andei perguntando a muitas pessoas sobre a participação do campeonato.

As respostas foram as mais obtusas : “não quero escalar em ginásio”(onde treina mesmo?), “não compensa viajar até a capital para somente ficar em um ginásio”(conhecer pessoas de outras cidades é ruim?),
“não gosto do clima de competição”(é arena de gladiadores ou
escalada?), “se não posso ganhar, não participo”(só tem graça escalar
se é para se dar bem?), e etc…

Em resumo, querem se dar bem, mas tem “preguiça” de ir lá competir.

Muito
me espanta que nas listas de discussões há todos se ofendendo, querendo
parecer mais macho que o outro. Que um escala melhor, mais forte, mais
leve, mais técnico, mais ecologicamente, mais naturalmente, mais
bravamente, mais historicamente, mais psicologicamente, mais solo, mais
isso e mais aquilo. Quando chega uma competição, ninguém se anima. Se
omitem.

Mesmo com toda a aura de competição, todo o evento é uma festa. Uma confraternização.

Em
uma competição conhecemos outros escaladores, aprendemos mais sobre nós
mesmos, aprendemos o quanto de pressão colocamos em nós mesmos,
descobrimos as nossas limitações, descobrimos em que precisamento
melhorar, descobrimos que aquela pessoa que parecia antipática no boca
a boca na verdade é gente boa(e vice-versa). Talvez seja dos poucos
eventos que você possa levar seus pais a assistir e eles verem que
existem outros competidores que partilham da sua paixão.

A lista de coisas é imensa.

Porém
estamos no país do futebol. Onde estamos acostumados a ficar curtindo
com a cara dos amigos do time adversário e consequentemente achamos que
irá acontecer o mesmo se perdermos na competição da escalada. Ninguém é
melhor ou pior escalador porque tirou último ou primeiro lugar em uma
competição de escalada. Ninguém pensa nisso ao competir por exemplo no
concurso de chopp de metro em Blumenau. Todos deveriam encarar da mesma
maniera quando for competir na escalada. O que vale é a diversão, é o
momento de confraternizar, e trocar idéias, dicas de treinamento e
assim por diante. Ganhar é consequëncia de seu treinamento.

Já escrevi isso, mas reafirmo : Competição de escalada não é uma arena em que você é jogado as leões, e vai ser devorado e morrer.

Também
ninguém irá ridicularizar você por não ter ganho, por ter errado ou por
ter ficado com medo. Provavelmente o cretino que tem uma atitude destas
nem está competindo, ou se está fica querendo suprir a sua carência de
atenção e afetiva(típico de pessoas que são mal amadas).

Não se deve ter medo delas, deve se ter pena. Porque quem se comporta assim, ninguém gosta delas, nem elas mesmas.

Competir
com certeza motiva as pessoas a treinar, e assim a ir aos ginásios de
escalada. Não pense de maneira hipócrita que ginásios de escalada devem
deixar de existir. São neles que muitas pessoas têm o primeiro contato,
que mantêm a forma, e que conhecem outros escaladores (e escaladoras)
para fazer outros programas que não seja escalar somente.

Moro
em uma cidade que tem a competitividade na flor da pele. Até mesmo para
entrar (ou sair) de um vagão de trem deve-se mostrar que tem espírito
de vencedor. Porém os escaladores da cidade se omitem no momento de
competir. E o estado mais populoso, com maior quantidade de
escaladores, com os melhores ginásios de escalada (90º e Casa de Pedra)
do Brasil, com os escaladores mais fortes da atualidade (Janine,
Cesinha, Felipinho, Belê, Ligeirinho, Dudu, Paulinha, Andreia, Thais,
Mariella) tem dificuldade de encontrar pessoas que queiram competir.

Em
uma iniciativa que abre a todos oportunidade de se alguém está em um
nível não tão profissional como os escaladores citados acima para
competir. Perder o medo de ser derrotado fragorosamente, de ter estes
mesmos atletas participando como voluntários, dispostos a até mesmo dar
dicas de técnicas de escalada e treinamento, fica quase que imperdível
a oportunidade.

Todos os estados, que teoricamente teriam menos
pessoas, menos ginásio tão bem equipados, menos espírito competitivo ao
redor, já tiveram várias etapas. É capaz até mesmo de Fernando de
Noronha ter uma etapa e aqui ainda não. Está na hora de prestigiar as
conpetições de escalada por aqui.

Sem mostrar a força que as
competições tem, não vai ter nenhum patrocinador aparecendo. Sem
patrocinador, sem surgimento de atletas de ponta. O importante agora é
competir, e não estraçalhar os competidores adversários.

Se quer
ganhar treine, e não espere as os campeonatos deixarem de existir.
Porque com as competições aqui no estado de São Paulo estão mostrando
que os paulistas tem medo de competir.

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