Pedra Queimada :No topo proibido da Boracéia

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Quem trafega pela Rio-Santos não deixa de reparar num enorme domo granítico, cujo perfil arredondado sobressai elegantemente da escarpa serrana, entre Bertioga e Guaratuba. Este maciço, situado em propriedade da Sabesp, é 100m maior q o Corcovado de Ubatuba e atende pelo nome de Pedra da Boracéia, embora locais a apelidem de Pedra Queimada. Independente de nomemclatura, seu cume é acessível de duas formas, ambas por trilha tão tortuosa qto duvidosa: pelo litoral, dias a fio; ou abreviando trajeto do próprio planalto, partindo dum braço da Repr. Ribeirão do Campo e c/ permissão do proprietário. Bem, isso em tese. Este é o relato da (re)conquista dos 1270m do seu topo saindo de Salesópolis mediante 3 dias de intensa caminhada, cuja picada de aproximação e dificuldades não devem nada a expedições andinas experientes. Vara-mato, mosquitos, travessia de rio e escalaminhada selvagem pra ninguém botar defeito são alguns dos perrengues garantidos, porém recompensado com visus e emoções reservadas a aventureiros contados numa mão só.

 

Meu caso com a Pedra Queimada data de uns anos atrás, qdo tentei conquistá-la com tds as facilidades imagináveis. Permissão da Sabesp, barco à disposição e tempo de sobra eram, na época, itens nada desprezíveis pra aproximar a zona de conforto da tal perrengosa empreitada. Contudo, o fator meteorológico falou mais alto e a conquista foi abortada por tempo indeterminado. No meu caso, claro, apenas adiada. A Pedra Queimada ficou desde então entalada na garganta e falei a mim mesmo q voltaria lá noutra ocasião mais propicia, mas sem as facilidades daquela vez q – obtidas mediante muita espera, enrolação e burocracia – contribuíram pra amolecer o verdadeiro espírito aventureiro na hora “agá”. Pra mim, a conquista da Pedra Queimada seria por méritos próprios e sem necessidade de “puxação-de-saco” de engravatado algum da Sabesp. Pronto.
Me debrucei então sobre a carta de Salesópolis buscando alternativas de acesso à pedra, cruzando com infos (algumas desencontradas) coletadas aqui e ali.

E assim foi. O tempo passou e o projeto ficou engavetado, aguardando a oportunidade ideal pra ser posto à prova. E a mesma surgiu semanas atrás, qdo o Ricardo comentou dum “amigo” mogiano q tinha conhecimento duma rota – na verdade, emendas sucessivas de picadas de extrativistas ilegais – partindo do norte, mais precisamente dum bairro rural de Salesópolis. Pronto, era a peça q faltava! Esse amigo era o André Nascimento. Entramos tds em contato e marcamos a perrengosa e derradeira empreitada pro feriado de Pascoa, cientes das dificuldades e da vaga possibilidade de, quiçá, nem chegar no cume por qq motivo. Relatos desse naipe já não encontram nenhum na net, pois então este aqui registra nossa jornada pro pico. E vamo q vamo, né?

Encontramos então o Ricardo e o André em Mogi, eu e a Lau, por volta das 8:15hrs da manhã daquela sexta-feira de Páscoa. A promessa da nebulosidade clara pairando naquele momento era de q se dispersasse no decorrer do dia, com o aumento de temperatura. Cruzamos as beiradas da UMC e tomamos o buso perto dali, rumo a Salesópolis. Durante a viagem tds aquelas promessas de melhora climática se diluíram qdo as janelas do coletivo começaram a receber os primeiros respingos de chuva, tornando opacos os vislumbres da paisagem q então passou a se descortinar diante nós. Mares de morros forrados de pasto elevavam-se suavemente da horizontalidade da paisagem, em torno do enorme espelho dágua da Represa de Paraitinga.

Chegamos em Salesópolis sob chuva fraca, em torno das 10hrs, e nos prostamos na padoca local enqto aguardámos um tal de “Funéreo”, nosso frete ao inicio da trilha. Eu e a Lau dividíamos o peso nas cargueiras enqto Ricardo e André tomavam seu desjejum atrasado, até q finalmente nosso frete chegou, previamente agendado pelo Ricardo. Particularmente achei o valor bem salgado mas não questionei nada, desde q o fulano nos deixasse (e buscasse) no local combinado. Ou seja, desde q facilitasse nossa vida. E olha q sobrou espaço na van escolar do “Funéreo”, dando espaço ate pra cada um ir jogado numa fileira de bancos pra si.
Tomamos então rumo sul, deixando pra trás a pequena cidadezinha em favor duma precária estrada de terra chamada de Estrada dos Mirandas. Nosso destino era um tal de Barro Amarelo, situado a 15km dali, nos cafundós rurais de Salésopolis. E tome chão e muito sacolejo na van! Qdo demos por nós estavamos rodando pela Estrada Sta Cruz das Palmeiras, no meio dum emaranhado de vias secundárias de reflorestamentos de eucaliptos, com trocentas bifurcações e saídas por td lado. A estrada, por sua vez, embora molhada e precária não estava tão difícil de transitar, alegação principal do “Funéreo” pro valor elevado do frete.

Mas td q é bom dura pouco pq não tardou pra chegar num local realmente intransitável pra van. Não sem q ela ficasse atolada num “chocolate de lama”, claro, onde os pneus patinaram mais duma vez ameaçando empacar definitivamente o veiculo. E assim, fomos forçados prematuramente a jogar a cargueira nas costas e a andar rumo inicio da trilha, distante ainda mais de hora de onde estavamos. Logico q pressumi do “Funéreo” dar desconto por não cumprir o trato já logo de cara, qdo fosse nos buscar ao final da trip. Ledo engano, pois aqui vale a lei do “jeitinho tupiniquim”.

Pusemos então pé-na-estrada algo em torno das 11hrs, com respingos fustigando o rosto boa parte do trajeto. E lá fomos nós, serpenteando a morraria numa sucessão de sobes-e-desces q parecia não ter fim, qdo finalmente a chuva resolveu dar uma trégua. Tivemos nossa primeira parada numa simpática capelinha azul, uma tal Igreja das Palmeiras, um pouco antes do meio-dia. Era ali onde o “Funéreo” deveria ter nos deixado e onde, em tese, deveria nos buscar ao cabo daquele feriadão prolongado.

Prosseguimos então pela direita, na gde bifurcação sgte, cortando um bucólico bosque de eucaliptos enqto conversávamos sobre amenidades, geralmente coisas referentes à travessias e caminhadas pelo pais. Foi ai q desviamos de mais algumas bifurcações e, sempre nos mantendo na principal, começamos a subir uma piramba pisando fundações de concreto q restaram do q outrora foi uma estrada, evitando o chão de terra, liso feito sabão. O GPS do Ricardo assinalava exatos 1007m de altitude qdo passamos pelo “Bar do Portuga”, onde aparentemente não havia ninguém. Desativado como tal faz tempo, o lugar é inconfundível devido a um emblema do Timão desenhado na parede, cujo artista anônimo quiçá devia ser portador da mal de Parkinsson dadas as deformidades evidentes na obra. Esse bar já sinaliza estramos nas dependências do tal bairro rural do Barro Amarelo, q por sinal havia aos montes espalhado pela estrada de terra.

Dali em diante abandonamos a principal em favor dum portão amarelo pela esquerda, q mergulha na mata e emerge noutra estrada, logo mais adiante. Na verdade este atalho evita q tenhamos q passar pelo interior dum sitio, onde andarilhos com “bolsas nas costas” podem não ser muito bem vistos. Tocando então sempre por ela em suave ascenção, após um tempo a tal estrada aparentemente termina numa decrépita casinha de adobe e sapé, ornada dum jardim de vistosas hortênsias. Mas contornando a casinha encontramos uma picada q, sempre sentido sul, atravessa o interior doutro bosque de eucaliptos ate finalmente desembocar nos limites do reflorestamento e da mata fechada da Serra do Mar.

Nesta evidente borda de propriedade, cortada por um largo aceiro em formato de “ferradura” indo de leste a oeste, nos deparamos com uma placa anunciando o q já era previsto: “Propriedade da Sabesp”, e letras garrafais emendavam o aviso derradeiro “PROIBIDA A ENTRADA”!!  Ao invés de tomar qq direção no aceiro, tocamos por uma discreta vereda q desce o vale bem do lado da placa supracitada, e la começamos oficialmente nossa jornada rumos os cafundós do sertão de Salesópolis, a exatas 12:30hrs. 

Inicialmente a rota nos levou pro fundo dum vale atraves duma picada q parecia não ter fim, tão escorregadia qto íngreme, onde tivemos q nos segurar na vegetação em volta embora isso não nos livrasse de carimbar o “quinto apoio”. Apesar disso, este inicio de pernada é bem batido e obvio, onde os poucos obstáculos no trajeto consistem em arvores tombadas de facil transposição. Na sequencia passamos a bordejar a encosta dos morros sgtes, onde a caminhada aparentou nivelar e ficou mais agradável.

Por volta das 13:45hrs cruzamos o primeiro dos muitos cursos dágua q trombaríamos na trip, marcado laconicamente numa arvore como “água da chaleira”. Em tempo, nossa jornada dispunha de fartura de água durante td trajeto e so levávamos nos cantis o suficiente pra nossas necessidades imediatas. A pernada então manteve-se alternando as encostas da morraria sgte, sempre sentido sul/sudoeste. Numa delas, o chão estava coberto de formigas por um bom trecho, nos obrigando a correr até finalmente sair daquela encosta tomada pelos insetos. Ainda assim, tomei picadas na perna por conta duma ou outra q conseguiu “escalar” meu tênis.

Mais adiante cruzamos as lajotas dum córrego q despejava suas águas sobre pedras sobrepostas formando uma pequena cachoeira, cujo bucólico contexto era seu maior charme. Começou então uma descidão interminável q finalmetne desembocou nas margens do imponente e manso Rio Claro, cujas águas transparentes reluziam variados tons dourados, oriundos da mistura de matéria orgânica sobreposta ao fundo arenoso. Aqui a trilha passa a acompanhar o rio, ora próximo ora longe dele, ate q surge uma bifurcação onde tomamos o ramo da direita, q após passar um acampamento desativado (Palmiteiro? Caçador?) afastou-se definitivamente do rio. Contudo, durante os 15min sgte o André percebeu q havíamos fugido da rota e íamos sentido oeste. “Erramos a trilha! Se continuarmos por esta aqui vamos dar em Casa Grande!”, retificou ele.

Voltamos à bifurcação e tomamos a picada da esquerda, q novamente nos levou as margens do Rio Claro e na direção correta, ou seja, sul. Acompanhamos o mesmo um tanto até q chegou um pto onde buscamos continuidade da picada, e nada. Mas a continuidade dela tava na outra margem. Era quase 15hrs qdo um sonoro “Fudeu!” ecoou pela floresta. “Havia uma ponte de madeira aqui.. q não ta mais! Deve ter sido carregada pela enxurrada das ultimas chuvas!”, concluiu o André, com certo ar de preocupação. Claro q “ponte” era modo singelo de se referir a um punhado de troncos emparelhados q possibilitavam cruzar o rio. No caso, eles já não tavam mais ali e precisávamos cruzar pro outro lado de algum jeito, pois o rio alem de largo nalguns trechos tb era fundo! Imediatamente eu, André e o Ricardo nos separamos, vasculhando nas margens algum trecho mais estreito e raso q possibilitasse travessia segura. E nesse trecho descobri bem próximo de onde a picada havia sumido, num pequeno barranco de areia q inclusive dava acesso a uma pequena praia fluvial. De fato, observava-se q picada do outro lado e marcas de pisadas, sinal q mais alguém cruzara o rio naquele trecho.

Sem cargueira, me ofereci como cobaia pra testar a profundidade e a fui eu. De inicio foi de boa, andei sem dificuldade pelo banco de areia com água ate a coxa ate próximo da metade da largura do Rio Claro, onde a coisa complicou. Um punhado de troncos obstruía a passagem, e havia necessidade de se firmar num p/ pisar nos restantes, geralmente sob a agua, dando a impressão q se andava num chão “movediço”. E havia q se segurar em algo de qq jeito mesmo qdo nada obstruía a passagem, pq naquele trecho a profundidade era maior e a correnteza tendia a desequilibrar quem não se firmasse em nada. Em tempo, desequilibrar era sinônimo de se molhar td, e consequentemente de ensopar a cargueira com tds pertences, roupa seca e saco-de-mimir junto!  Bem, atravessar o Rio Claro seria nosso primeiro desafio, alem do “momento adrenalina” da trip.

Bem, como não víamos outra opção mesmo. Eu e o André empurramos um tronco atravessado na margem e o colocamos no trecho fundo, ancorado pelas demais toras amontoadas, improvisando assim um “corrimão” pra não sermos arrastados pela correnteza. Imediatamente o André e o Ricardo atravessaram, enqto eu peguei as coisas da Lau pra cruzar ou entregar pra eles. Isto pq a Lau não conseguiria atravessar o rio sem molhar metade da cargueira dada suas perninhas curtas e estatura pouco avantajada. E la fui eu, me firmando feito símio em galhos e tocos aflorados a superfície, enqto equilibrava o peso nas costas e meus pés buscavam apoio seguro pra dar o passo sgte. No trecho mais fundo, pra mim, a água fria atingiu quase a cintura o q fez as partes baixas recolherem-se por completo, não arredando pé nem mesmo por ordens expressas do alto comando. Ate q finalmente consegui chegar á outra margem, onde bastava apenas escalaminhar a encosta e ganhar terra firme! Enqto isso, a Lau atravessava o rio com a destreza duma gata escaldada profissa e o Ricardo passava minha mochila pro André no trecho critico da travessia, pra depois a mesma repousar tranquilamente nas mãos deste q vos escreve agora. Ufaa!

Continuamos então a pernada na outra margem, onde nos deparamos quase q de cara com outra travessia de rio. Na verdade era um braço deste primeiro mas cuja travessia não chegava nem aos pés da primeira. Estreito, sem correnteza e com toras esparsas (porém lisas) servindo de duvidosa “ponte”, bastava equilíbrio e algum domínio básico de ginástica olímpica (nas barras paralelas, claro) pra cruzar com segurança. Do outro lado veio uma piramba íngreme ascendente q nos manteve quase o tempo todo bordejando a encosta direita da morraria sgte.

Foi neste trecho q numa descidinha escorreguei e torci o pé direito, sentindo uma fisgadinha de leve no tornozelo. Ate ali beleza, dava pra prosseguir a caminhada numa boa, com devido cuidado, claro. So não contava com nova torção quase q na sequencia, num pequeno buraco escondido pela folhagem, bem no meio da trilha. “Cuidado com o buraco ai!”, me alerta o Ricardo, q na dianteira deu o aviso com ligeiro atraso, enqto eu buscava engolir um grito seco duma dor licitante no calcanhar q literalmente me fez ver estrelas. Já nem ligava pros pernilongos e mutucas me devorando, agora td atenção foi voltada pro tornozelo, onde temi realmente q minha trip estivesse comprometida ali. Improvisei um cajado e prossegui a pernada, depositando td peso no outro pé, evitando ao máximo forçar o pé lesado. Claro q isto me atrasou pq passei a ter cautela maior onde pisava, alem de q td subida ou descida era feita em marcha reduzida. Nem preciso comentar q foi o trecho mais longo e interminável q já percorri em pernadas, pois o terreno já era inclinado e o simples pisar voltado pra fora já me dava pontadas no pé. “Só preciso dum Dorflex, compressa e uma noite de descanso q amanha to novo em folha!”, falei comigo mesmo.

As 16:15hrs fizemos uma parada p/ descanso e lanche nas margens lajotadas dum rio q já vínhamos acompanhando a um tempo, tributário decerto do Rio Claro. Aproveitei pra enfiar o pé na água gelada enqto engolia um comprimido de Dorflex pra aliviar a dor. “Toma dois logo duma vez q é melhor!”, frisou o Ricardo, com a sabedoria de professor de Ed. Física q já presenciou lesões assim trocentas ocasiões no oficio. E não é q funcionou mesmo? Pois é, ao findarem os dez minutos de descanso meu pé era outro, mas claro q não forcei a barra de modo a ferrá-lo mais. No entanto a dor já não me agoniava qto antes, se bem q outro fator importante q aliviou o tornozelo foi a troca de calçado. O tênis q estava usando tava com solado td gasto numa das laterais, o q já inclinava naturalmente meu pé pro lado, onde a torção so foi potencializada pelo terreno íngreme. Por sorte tava com tênis extra e me desfiz do anterior, mas não sem antes uma salva de tiros pra honrá-lo pelos bons serviços prestados anos a fio. Adeus, meu fiel Timberland 4×4..

Mas a caminhada não durou muito e, no mesmo compasso anterior rente o rio, as 16:50hrs chegamos ao nosso local de primeiro pernoite previsto, a Cachu da Igreja. Esta consiste numa bela queda onde as águas desse manso afluente do Rio Claro se derramam furiosamente por uma sequencia de duas altas lajotas pra culminarem num sumidouro de pura rocha. E a semelhança da Cachu da Pedra Furada, suas águas ressurgem logo adiante, sob pedras mais rebaixadas pra prosseguirem seu sinuoso trajeto em direção ao imponente Rio Claro. Ricardo armou sua rede de bivake, André abria uma pequena clareira pra comportar sua iglu e eu acomodei nossa barraca no meio da trilha mesmo, num trecho largo e espaçoso.

Acomodados nalgum vale perdido no meio daquela floresta a 860m de altitude, perto de nada e lugar nenhum, o manto negro da noite não tardou a nos abraçar antes mesmo das 18hrs. Panelas e fogareiros foram postos a ronronar antes mesmo do Astro-Rei se debruçar por detrás das montanhas, e fachos de headlamps passaram a cortar a escuridão q tomou conta daquele lugar ermo e selvagem. Nossa mistura de feijão (pré)cozido e macarrão instantâneo, salpicado com fatias de lingüiça, saiu num piscar de olhos não apenas pela fome q pegava àquela altura, mas sim pela presença de nuvens de pernilongos ávidos por qq espaço desprotegido do corpo. Nunca vi tanto pernilongo no meio do mato como naquele lugar! E ainda por cima de noite, qdo é costume não haver nenhum.
Após degustar nossa deliciosa janta ás pressas, rebater com vinho e mastigar nacos de chocolate q nos lembraram q aquela sexta-feira Santa findava. Mas não o feriado prolongado. Imediatamente nos pirulitamos pra dentro da barraca, longe dos maleditos sanguessugas q não arredavam pé nem com repelente, e desfalecemos em nossos sacos-de-dormir sem fazer muito esforço. A noite mal-dormida e o dia puxado se encarregou de fazer o resto. Havia q repôr as energias pois no dia sgte seria o “Dia D”, ou seja, o ataque derradeiro à Pedra Queimada. E essa já era questão de honra, ao menos pra mim. A noite fora fresca e ligeiramente nublada, transcorreu tb sem nenhuma intercedencia, fora uma rápida chuva passageira q não causou maiores estragos e nem mto menos prejudicou nosso descanso. Fora isso, a madrugada foi td embalada pelos sons típicos da mata e o marulhar hipnótico e relaxante do rio bem ao nosso lado.
 
A manha sgte irrompeu esplendida e promissora no “Dia D”. A atmosfera límpida do firmamento era garantia q teríamos uma ascenção á pedra em condições perfeitas! Levantamos muito mais bem-dispostos e meu pé estava refeito, novo em folha, conforme havia previsto. Fatias de salame e queijo no meio de bisnagas eram engolidas enqto bebericávamos um delicioso café-com-leite, servindo como desjejum ideal praquele dia q se iniciava. O tempo fresco não intimidou as maleditas muriçocas, q pareceu despertarem juntamente conosco, nos obrigando a trajar td vestimenta larga possível de modo a não deixar nenhum vestígio de pele exposta pros desgraçados.

Após o bem-vindo café-da-manhã foi a vez das cargueiras engolirem td equipamento, e assim zarpamos por volta das 7:45hrs daquela manhã, cruzando o manso rio na parte alta da Cachu da Igreja. Na outra margem, a trilha nos convidava a galgar a encosta e atravessar touceiras de bambu crocante, pra finalmente ganhar terreno nivelado em meio à exuberante Mata Atlantica cercado de imponentes gigantes da floresta. A vereda novamente subiu e desceu varias vezes, serpenteando a morraria sgte sempre sentido sudoeste, ate q finalmente abandonamos a proximidade com o rio no qual pernoitáramos. Vale salientar q o chão úmido, forrado de folhas formando uma camada tão compacta qto fofa, foi nossa cia constante. Assim como os onipresentes pernilongos e mutucas, claro.

Após andar um tantão, numa subida onde ganhamos uma espécie de selado entre morros, pudemos avistar em meio a frestas da densa vegetação um detalhe do espelho dágua da Represa Borda do Campo. Inclusive próximo dali havia uma bifurcação importante; enqto o ramo da direita tocava pra represa a gente tomou o da esquerda, q a contornava na direção da almejada pedra. A pernada então se manteve nesse compasso o tempo td, sempre cruzando algum correguinho q molhava nossa goela vez ou outra. So teve uma ocasião em q tivemos q nos separar pra buscar a continuidade da picada por conta de mata tombada. É, basta cair uma árvore (carregando meia-floresta junto) q a trilha já fica descaracterizada. Mas por sorte nosso eficiente pente-fino surte efeito, mas ainda assim nestes trechos mais críticos e confusos o “bom senso trilheiro” sugere deixar marcações no arvoredo de modo á facilitar nossa volta, q em tese será pelo mesmo caminho.
E assim, após andar mais um tanto sem gdes dificuldades, percebemos a mata baixando de tamanho cada vez q nos aproximamos da margem da represa.

Costurando entao o leito arenoso dum correguinho aqui e ali, e andarilhar por um mar de raizes britando do chão, logo nossos ouvidos captam o som do rugido duma cahcu aumentando gradativamente. E é em direção dele q nossa rota vai de encontro, qdo as 9:50hrs desembocamos nas margens do belo piscinão ao sopé da Cachu Ribeirão do Campo, onde o rio homônimo despeja diretamente suas águas na represa sob a forma duma bela queda. Um pequeno píer de concreto marca tb o lugar, antigamente utilizado pra trazer turistas de barco à cachoeira, realmente situada longe de td e lugar nenhum. Com permissão da Sabesp, claro!

Após descansar e dar um tchibum revigorante na cachu, preparamos as coisas pro ataque derradeiro. Escondemos as cargueiras num canto do píer e levamos conosco apenas o necessário pro cume, assim ganharíamos agilidade e velocidade na empreitada, cientes q a partir dali não há trilha definida e q a maior parte do trajeto seria varando-mato, de preferência onde tivesse menos dele. E assim, partimos da Cachu por volta das 10:40hrs, inicialmente bordejando o Ribeirão do Campo, em meio a pequeno arvoredo e um chão forrado de pequenas bromélias, desviando dos onipresentes cipozinhos unha-de-gato, claro. Numa das poucas prainhas fluviais acessiveis do mesmo, temos enfim nosso primeiro contato visual com a Pedra Queimada, um majestuoso domo abaulado separando o horizonte azul do firmamento das escarpas verdejantes da serra.

Após um tanto, emergimos no aberto e tocamos pro alto dum morrote, abandonando o rio em definitivo, tocando pra sudeste. As 11:30hrs e do alto do morro, tomado por capim e arbustos ressequidos, pudemos apreciar melhor a pedra e avaliar melhor qual seria a melhor estratégia de acesso ao cume. Visivelmente constatamos q haviam dois fundos vales q nos separavam do sopé da cobiçada montanha, so havia q estudar ali qual melhor pto de cruza-los. No meio dos vales, é possível avistar uma linha de torres de alta tensão cortando o alto do espigão serrano de leste a oeste q dá a dica: negocio é tocar sempre sentido sudeste, onde os selados e cristas não são tão abruptos! Olhando bem a leste, é possivel tb observar o pequeno véu alvo duma cachu despencando das lajotas, próximo duma das torres de alta tensão, se destacando do mar verdejante ao redor!

E assim buscamos a melhor maneira de descer pro primeiro vale, de preferência num lugar menos íngreme e com menos vegetação espessa. Este lugar é encontrado facilmente, inclusive com vestígios de pisada e rastros evidentes de picada. Felicidade geral, claro! Uma vez no fundo do mesmo, enchemos nossos cantis por precaução no simpático correguinho q por ali singrava rumo a represa. A subida se dá por uma suave e estreita crista ascendente q separa nascentes, onde o mato ameaça ocultar o pouco de trilha q existe, mas cujo sentido é obvio e evidente. Bordejando então o morro em questão desembocamos na baixada das margens dum segundo rio, desta vez maior q o anterior, q corresponde ao segundo vale a atravessar. Não tem jeito, a única forma de passar pro outro lado é enfiando o pé na água ate a altura do joelho e assim foi.

Uma vez no outro lado é q começa mesmo a ralação, pois ela é garantida. Não espere trilha pq não há. O jeito é tocar pro sul/sudeste por onde der, subindo suavemente sempre e sem perder altitude. E lá vamos nós, caminhando inicialmente num mar de pequenas bromélias q insistem em cortar nossas pernas com suas folhas serrilhadas, desviando de voçorocas de bambus, cipozinhos espinhentos e árvores tombadas. Uma vez no alto, percebemos q estamos no alto do morro das torres, já q elas estão bem do nosso lado. Daí então temos q descemos sem gde dificuldade prum selado de ligação com o sopé da montanha, onde julguei equivocadamente haver agua. Não há, e fizemos bem em pegar td precioso liquido antes. Na verdade havia, mas era preciso ter a paciência de Jó pra encher um cantil com o pequeno filete q escorria das pedras, igualmente “batizado” com excremento de antas. É, outra constatação é q as bichinhas circulam por aqui aos montes.

Do selado é q começa a longa e penosa derradeira subida pro cume. Não bastasse as onipresentes e espinhosas bromélias, agora havia q desviar do espesso bambuzal se interpondo no caminho, q estourava crocantemente diante nossa passagem. E la fomos nós subindo forte aquela piramba íngreme, nos agarrando na vegetação a mão e tocando pra cima. Ricardo e André iam na dianteira abrindo caminho no facão, enqto eu ia atrás dando apoio pra Lau, removendo as revarbas de mato remanescente no peito, de modo à volta se dar pelo mesmo caminho e sem necessidade de ralação da subida.

Não tardou pra sair da mata fechada pra emergir nos descampados de capim q forram o resto da montanha. Contudo, ao inves da subida abrandar pela ausência de rasgação de mato no peito ela piorou com o aumento de declividade. Ali, naquela face exposta da montanha, estavamos quase escalaminhando beirando os 40 graus sem nada pra segurar a não ser capim ressequido! Não bastasse isso, os poucos trechos lajotados q, em tese ajudariam pela aderência, eram besuntados de limo liso feito sabão, e em mais duma ocasião damos um passo pra retroceder três! Isso tornava inviável (e perigoso) ir pelos mesmos havendo necessidade de contorna-los, aumentando assim o trajeto. Entretanto, a aumento do perrengue foi recompensado com o visu descortinado conforme ganhávamos altitude. Olhando por sobre o ombro víamos um mar de morros verdejantes de onde destoava o espelho dágua da represa. Dali era possivel refazer mentalmente td trajeto q havíamos tido ate chegar ali.

A subida pela face exposta da montanha pareceu então interminável e em mais duma ocasião parei pra retomar fôlego. Mas quem mais sentiu a piramba foi a Lau, q decidiu entregar os pontos. “Tô no meu limite! Vai vc com os meninos q eu espero vcs aqui!”, disse a Lau, enqto ofegava a cada passo dado. Logicamente q fui obrigado a apelar pra chantagem emocional, pois era inadmissível pra mim q ela entregasse os ptos bem na reta final! Logo ela q já encarou "perrengues" do naipe do Roraima, Quiriri, Carrasco e Itapanhaú, não iria morrer na praia. “Ok, se você não vai então eu tb não vou!”, falei pra ela. Pronto. Foi o suficiente pra ela parar, pensar, descansar um pouco e retomar a subida.

O André e o Ricardo se pirulitaram na dianteira, e claro q eu fiquei acompanhando o passo da Lau. Dali em diante não havia erro em relação á direção a tomar. E enqto eles ascenderam na diagonal, optei por subir reto ate a crista final ascendente e dali tocar pro cume mesmo. Dito e feito, após um tempão atingimos a tal crista onde encontrei vegetação familiar e típica da Mantiqueira e Ibitiraquire (“Pepê"!), as famosas caratuvas e tb conhecidas como rabo-de-gato, dançando ao vento! Alem de belas flores, plantinhas carnívoras e vistosas orquídeas endêmicas do pico. No entanto, como q pregando uma peça de mau gosto, São Pedro resolveu justamente encobrir o alto da montanha com brumas espessas, impedindo de enxergar um palmo a frente!

Independente de visibilidade, o sentido a seguir era sempre obvio..pra cima! E assim foi. Palmilhando sem dificuldade o dorso rochoso da montanha percorremos seu cume ascendente, desviando da mata arbustiva de altitude q pontilha o largo topo. Era palpável e obvio q ao nosso lado havia um gigantesco abismo vertical, mas felizmente a cerração nos poupou maiores vertigens. No caminho a Lau encontrou seu novo amuleto, uma moeda de R$ 1, q me fez baixar a cabeça em busca de mais valores por ali. Quem sabe não encontro uma nota de cinqüenta? Uma placa do governo federal tb desperta atenção, assim como dirime dúvidas de q a Pedra Queimada é divisa natural da propriedade da Sabesp com território indígena da aldeia Rio Silveiras, q domina a baixada. Qq semelhança com a aldeia Rio Branco, em Itanhaem, será mera coincidência.

E assim, finalmente encontramos o André e Ricardo, cujo GPS marcava exatos 1270m, descansando nas lajotas do cume da Pedra Queimada as 14hrs! O topo é largo, exposto e espichado, porem levemente inclinado. No entanto, dá pra acomodar 2 ou 3 barracas apertadas no meio dos arbustos, protegidos do vento. Ah, existe tb sinais de dejetos de antas, ou seja, as bichinhas tão mais pra cabrito montanhês do q mamíferos torpes e desajeitados de fundos vales. E onde há anta tem carrapato, e não tardou pra encontrar um ou outro na gente, aqui e ali. A vista pro litoral nos foi negada pelas brumas espessas, mas pelo q ouvi dizer dizem q é fabulastica, com panorâmica qvai desde a pta de Bertioga, Riviera de São Lourenço, Guaratuba, Boicucanga e Maresias, além das ilhas do Montão de Trigo e São Sebastião. Mas eu tava nem ai pra visu, pois minha alegria era mesmo finalmente estar no topo daquele pico q me fora negado a vez anterior. E com méritos próprios e não de terceiros, facilitando a jornada. A Lau estava esgotada, porém igualmente contente por ter ido alem dos próprios limites, e se não for a primeira mulher no cume decerto é a 1ª parananense a pisar ali! De resto, ficamos então jogados, descansando, trocando idéia e beliscando algo, claro! Logicamente q teve a foto histórica da trupe no cume, improvisada com um tripé montado com três cajados, cortesia do nosso “McIver” Ricardo. 

As 15hrs e já julgando meio tarde, resolvemos retomar o caminho de volta em meio ao nevoeiro. Felizmente o Ricardo havia plotado o caminho embora o mato pisado denunciasse nossa passagem. A piramba de pasto foi percorrida com td cautela possível, mas isso não impediu q saíssemos incólumes de tombos e escorregões, felizmente sem gdes conseqüências. Logico q eu redobrei o cuidado pq não queria torcer novamente o pé naquela declividade q facilitava isso, tanto q desci boa parte do trajeto feito caranguejo, ou seja, de lado! Ao mergulhar na mata a pernada arrefeceu e assim fomos voltando pelo mesmo caminho, eventualmente tomando atalhos q abreviassem o retorno. No caminho tropeçamos com duas cobras; uma marrom arisca e uma elegante jararaca, q provavelmente tava prostrada imóvel numa bromélia esperando alguma pererequinha surgir dela. Claro q redobramos a atenção no terreno pisado inclusive na travessia dois vales q se seguiram.

Pisavamos novamente na Cachu Ribeirão do Campo em torno das 17:45hrs, já com a luz natural lentamente indo embora. Ainda assim, nosso retorno foi bem mais ágil e rápido q a ida. Após um tchibum no poço pra remoção da sujeira, nhaca e mato depositado por td corpo, armamos as barracas numa clareira próxima ao rio, na cota dos 750m. Na sequencia veio o ritual sagrado de preparação da janta, q no nosso caso foi repeteco do anterior, enqto o André e o Ricardo mandaram ver arroz carreteiro e rango liofilizado, respectivamente. De banho tomado e bucho cheio, nos entocamos nas barracas não apenas pelo cansaço daquele dia mas emxotados pelas nuvens de pernilongos q endoideceram pela presença de sangue novo e fresco no pedaço. Era incrível como eles picavam onde menos se espera, razão pela qual ganhei dois pares de chifres e três “brincos”, mesmo estando td encapuzado. Ao contrario da noite anterior, mesmo estando ao lado duma cachoeira esta daqui foi presenteada com uma noite coalhada de estrelas, razão q tornava as idas ao “banheiro” bem inspiradoras. Isso sem contar no disco prateado duma “quase lua cheia” q iluminou  de forma especial aquele lugar ermo na madrugada.
 
O domingo amanheceu claro e ensolarado conforme previsto durante a noite. Levantamos e imediatamente nos pusemos a arrumar as coisas após um farto desjejum, de modo a aliviar o máximo o peso das cargueiras. Aquele dia tava definido de antemão q seria reservado pro retorno, de preferência pelo mesmo caminho com apenas um pequeno desvio no trajeto pra curtição doutra cachu, a do Rio Claro. Enqto desarmávamos acampamento o Ricardo reclamava q durante a noite um atrevido gambá vinha importuná-lo a td hora, alem de fuxicar algum resto de comida por ventura deixado por nós. De fato, logo reparei na ausência duma sacola, justamente a do lixo. Por sorte o larápio animal não levou mto longe, pois ela foi encontrada próximo dali.

Pusemos pé-na-trilha as 8:30hrs pontualmente, dando as costas á Pedra Queimada mas não sem antes reverencia-la da mesma forma q provavelmente os índios deviam fazer antes do homem branco. E assim demos inciio a nossa jornada de volta onde vale mencionar algumas particularidades, como a presença rente a trilha duma “tocaia de caçador” q passou desapercebida na ida, assim como finalmente a vsualização de animais silvestres no pedaço. Um elétrico esquilinho, uma minúscula perereca camuflada e um bizonho sapo chifrudo q mais parecia saido dum conto de Lovercraft, foram os destaques da volta.
Conforme combinado, antes de atingir o calmo Rio Claro tomamos uma imperceptível bifurcação q nos levou ao dito cujo, porem bem mais pra cima. A partir dali fomos acompanhando o rio pela margem direita, desviando das voçorocas e mato caído no caminho. Foi ai q nossos ouvidos captaram o rugido duma cachu próxima, q aumentava conforme nos aproximávamos. E assim, as 12:30hrs desembocamos numa enorme praia fluvial as margens das bucólicas corredeiras do Rio Claro, onde um enorme poço convidava prum banho refrescante naquele sol de meio-dia. O lugar é fantástico e merecedor duma longa parada, seja pra tchibum, lanche ou mera contemplação. Ou as três coisas juntas. Com espaço mais q suficiente pra acampar, esse lugar paradisíaco já ta marcado pra servir de base p/ futuras investidas na região. Um tronco ressequido jogado na margem serviu a contento de varal improvisado pra estender nossas veste úmidas, enqto cada um fazia o q bem entendia naquele bucólico recanto do qual éramos donos absolutos.

Retomamos a pernada de volta la pelas 14hrs procurando um lugar seguro pra atravessar o Rio Claro. Incrivelmente esse lugar era próximo do poço principal, onde o fundo arenoso do rio era mais raso. Por raso entenda-se água na altura da cintura, e como não queria molhar a bermuda cruzei o rio como vim ao mundo, mochilado! Imagine a cena bizonha. Só torci pra não ter nenhum peixinho assanhado disposto a abocanhar um modesto “minhocoçu importado”. Pois bem, a travessia desta vez foi bem mais tranqüila q na ida, sem problema, adrenalina ou emoção  alguma. Mas ainda assim, molhada. Duro apenas foi escalar o barranco da margem oposta, cujo solo esfarelava ao menor contato. Mas nada assim do outro mundo.

Do outro lado, havia uma discreta picada q ia na direção desejada e assim fomos indo atraves da sinuosa morraria sgte, abandonando em definitivo o Rio Claro, rumo norte. Mas foi ai q a trilha sumiu de vez, ou pelo menos a continuidade dela nos passou desapercebida. Como devíamos interceptar a mesma picada principal da ida, bastou simplesmente azimutar em direção dela e tocar ate la, varando mato e vencendo os morros q por ventura no caminho. E la fomos nos, cortando um espesso e crocante bambuzal e perdendo altitude (pra depois ganhar outra vez) num pequeno vale.

Interceptamos a dita cuja as 15:30hrs e a partir dela foi so acompanha-la ate o final, no automático. E tome chão q parecia não ter fim, quase uma linha reta. Pisamos finalmente na estrada, dando adeus a trilha e mata fechada, as 16hrs e meia hora depois desabávamos na mesma igrejinha azul do inicio da jornada. Pois bem,  aqui houve uma certa discrepância se havia q ficar ali ou não. O “Funéreo” deveria nos buscar ali em tese, conforme combinado, mas a possibilidade dele estar nos esperando próximo de onde nos deixou, alegando estrada ruim, era real. Como não havia sinal de celular não íamos arriscar ficar ali ate a noite, esperando ele. Foi ai q em comum acordo resolvemos andar ate encontra-lo, o q já me deixou puto por conta do valor por ele cobrado no frete q, em tese, era por ele ter de enfrentar estrada ruim, coisa q não tava encarando. Sem falar q não nos deixou e nem buscou no lugar combinado.

Voltamos pela estrada a paso-de-lesma-paraplégica, claro. E dito e feito, o dito cujo nos esperava um pouco depois de onde tinha nos deixado. Embarcamos na van depois das 17:30hrs, qdo começou a escurecer naqueles cafundós. O sacolejo terminou qdo chegamos a Salesópolis, onde saltamos já de noitinha. Logicamente q o “Funéreo” não deu desconto e cobrou integralmente o acordo. Um acordo q ele cumpriu parcialmente e bem meia-boca, diga-se de passagem! Por pouco não mandei ele à merda e chama-lo de ladrão, mas Lau teve o bom senso de me conter. Portanto fica a dica, evite o frete na van escolar dele, pois o cara mete a faca e ainda por cima não cumpre acordo na integra!
Na sequencia nos prostamos na padoca, onde bebemoramos o sucesso da empreitada e forramos estomago com algo q não fosse requentado por fogareiros, pra então depois vazar pra Mogi. A longa via-crucis da jornada rumo a Sampa já são outros quinhentos, porem preço mais q prazerosamente pago tendo em vista a fodástica trip do feriado.
 
Buscando posteriormente infos mais precisas referente do verdadeiro nome da montanha q tínhamos conquistado, cheguei a conclusão q Pedra da Boracéia é o nome de batismo da montanha por parte do pessoal da Sabesp, da Estacão de Tratamento de Agua Casagrande e do povo do Recursos Hidricos Leste. Isso por conta dela se situar nos limites da reserva indígena Rio Silveiras, na Boracéia, q por sua vez significa “reunião de gente”, em tupi-guarani. Contudo, fazendeiros de Salesópolis, locais de Guaratuba e caiçaras da região a chamam carinhosamente de Pedra Queimada pela semelhança q esta apresenta com qq dita cuja, q no meu entendimento é uma alcunha mais apropriada a este pico de muita relevância, q inclusive não consta por nome algum na carta correlata. Independente dessa discussão estéril, o fato é q alcançar o alto deste maciço é uma verdadeira aventura selvagem, com direito a picada de aproximação, planejamento e ataque a cume, estratégias similares a qq expedição andina, com a diferença q se troca o branco pelo verde. Pois é, e ainda dizem q o montanhismo no Brasil se limita à Mantiqueira e só se pratica no inverno.

Jorge Soto
http://www.brasilvertical.com.br/antigo/l_trek.html
http://jorgebeer.multiply.com/photos

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Sobre o autor

Jorge Soto é mochileiro, trilheiro e montanhista desde 1993. Natural de Santiago, Chile, reside atualmente em São Paulo. Designer e ilustrador por profissão, ele adora trilhar por lugares inusitados bem próximos da urbe e disponibilizar as informações á comunidade outdoor.

2 Comentários

  1. Eduardo Nagamatsu em

    Parabens pela aventura !!! Frequento o litoral norte e fiquei curioso em saber se alguém já havia desbravado essas montanhas !! Legal !! pena não ter fotos, apenas !! ☺️

  2. Getulio R. Vogetta em

    Belo e interessante relato, como sempre.
    Jorge Soto é uma das referências para lugares pouco conhecidos e não batidos nas nossas serras. Passei aqui procurando algo daquela região sobre a Pedra da Boracéia, e “voi lá”..

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