Por que fazer avaliação médica antes da montanha?

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Os praticantes de montanhismo sabem que há inúmeros riscos nessa atividade. Acidentes de quedas, animais peçonhentos, raios ou chuvas e até mesmo problemas de saúde podem fazer uma aventura terminar mal. Em 2019, foram registrados alguns casos de morte na montanha causados após um mal súbito. Porém, esse problema pode ser evitado com o devido preparo e acompanhamento médico.

Resgate após queda.

No início da temporada de montanha no Brasil, em abril, um montanhista de 54 anos, com experiência e preparo físico faleceu ao fazer a trilha do Pico Caratuva próximo a Curitiba. Segundo notícias da época, ele teria sofrido um ataque cardíaco. Em julho, uma mulher de 52 anos que fazia trekking na Serra Fina também precisou ser resgatada após passar mal. Mesmo tendo sido socorrida, a montanhista foi a óbito no hospital.

O que é um mal súbito?

O mal súbito é um sintoma de diversos problemas de saúde que consiste na perda repentina da consciência. Normalmente não há nenhum sinal antes dele acontecer, mas algumas pessoas podem sentir: incômodo no peito, batimentos cardíacos acelerados, mal-estar, enjoo, dor de cabeça e falta de ar.

Ele nem sempre ocasiona o falecimento. Mas se perda da consciência com uma parada cardiorrespiratória não for tratada rapidamente, pode haver sequelas irreversíveis e mais comumente a morte.

Perigo silencioso

Infarto, AVC, arritmias cardíacas ou aneurismas são doenças silenciosas e podem causar um mal súbito na montanha ou durante a pratica de outros esportes de intensidade.  Por isso, além de ter um bom preparo físico também é extremamente importante o acompanhamento médico antes de partir para uma aventura maior e que demande esforço físico.

“A recomendação é que as pessoas acima de 35 anos antes de qualquer atividade física procure um cardiologista, para ter uma avaliação completa. Já abaixo dessa idade, pode procurar um clínico geral, e, em caso de alguma alteração, será encaminhado para um especialista”, recomenda a cardiologista e professora da Pontifícia Universidade de Campinas (PUC-Campinas), Flávia Mothe.

Resgate em montanha

As causas

Pessoas com maus hábitos alimentares, obesos, consumidores de álcool e tabaco estão mais propensos a sofrer com esse problema. Mas as chances também são grandes para quem usa substâncias para melhorar a performance ou estão passando por períodos de estresse. Outro fator causador desse mal são as alterações genéticas e congênitas. Essa ultima pode atingir qualquer pessoa que pareça saudável.

Por isso, ir ao médico e manter a saúde em dia, evitando e tratando doenças como diabetes, colesterol alto e hipertensão ajudam a diminuir os riscos de um mal súbito. Também é importante a prática de exercícios regulares e a hidratação do corpo para evitar esse problema.

O medo de não estar apto, a preguiça de ir ao médico ou a falta de dinheiro são os principais argumentos para não procurar um especialista. Entretanto, é preciso lembrar que ir ao médico não significa acabar com o sonho de escalar uma montanha. Mas sim a chance de identificar e tratar um possível problema de saúde antes que ele se torne mais grave e traga consequências irreversíveis.

A altitude pode piorar a situação

À medida que a altitude aumenta, a pressão atmosférica diminui e menos moléculas de oxigênio estão disponíveis. Isso faz com que o corpo comece a sofrer. A falta de ar,  o aumento da frequência cardíaca e cansaço fácil são uns dos primeiros sintomas sentidos mesmo para quem esta em perfeitas condições de saúde.  Outros quadros comuns são os edemas pulmonares e edemas cerebrais.

Medindo batimentos cardíacos e oxigênio no sangue em uma expedição de alta montanha.

Nesses casos é fundamental ter consciência da sua saúde, qual é o seu preparo físico e fazer uma aclimatação progressiva para que o corpo tenha tempo de se acostumar com as novas condições atmosféricas. Escaladores com doenças cardíacas devem consultar o médico para adaptar seus medicamentos antes da viagem.

:: Veja mais sobre aclimatação no artigo de Maximo Kausch

Além disso, os participantes de expedições em alta montanha precisam monitorar a frequência cardíaca e a oxigenação do sangue para evitar o mal de altitude.

:: Evitando o Mal de Altitude.

 

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Sobre o autor

Maruza Silvério é jornalista formada na PUCPR de Curitiba. Apaixonada pela natureza, principalmente pela fauna e pelas montanhas. Montanhista e escaladora desde 2013, fez do morro do Anhangava seu principal local de constantes treinos e contato intenso com a natureza. Acumula experiências como o curso básico de escalada e curso de auto resgate e técnicas verticais, além de estar em constante aperfeiçoamento. Gosta principalmente de escaladas tradicionais e grandes paredes. Mantém o montanhismo e a escalada como processo terapêutico para a vida e sonha em continuar escalando pelo Brasil e mundo a fora até ficar velhinha.

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