Proibido proteger…

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Muito tem se debatido acerca das proibições ao montanhismo. Regularmente, ao falarmos desse tema, pensamos nas montanhas que têm seus acessos restritos por órgãos ambientais ou por proprietários de áreas que cercam e delimitam suas posses. Mas o que quero abordar nessa coluna é a proibição que nós mesmos causamos ao nosso esporte, sob a ótica dos mais diversos motivos.

Não faz muito, o AltaMontanha.com lançou o site www.rumos.net.br, onde naquela oportunidade, recebemos, além dos muitos elogios, também alguns telefonemas e emails menos gratos: "Vocês vão liberar as informações da montanha X? E da montanha Y??? Não passem as informações daquela região hein…"

É engraçado esse comportamento de alguns amigos montanhistas. Todos eles já foram iniciantes na escola do montanhismo e tiveram inúmeras dificuldades para acessar ou apenas conhecer o acesso a um determinado local para a prática do inestimável desporto. Muitos deles já foram adeptos de que tais informações não deveriam ficar exclusivamente guardadas a sete chaves, trancadas nas mentes dos mais audaciosos montanhista, que um dia se atreveram a cativar uma nova amizade com um guardião mais antigo deste mistério.

Não que não existam mais montanhistas audaciosos por novas e memoráveis conquistas pelas pequenas, porém desafiadoras montanhas brasileiras. Eu mesmo conheço alguns – apesar de não me encaixar nesse grupo – porém, estes, a despeito de sempre toparem descreverem suas novas rotas, vez ou outras são açoitados por aqueles que desejam que as montanhas sejam escondidas, talvez para uso apenas de si, ou ainda porque não possuem tamanha audácia daqueles. Os motivos dos achaques são muitos e bem diversificados: O local é proibido, eles utilizaram facão ou, ainda, eles fizeram uma travessia de cima para baixo, como se travessia por mata fechada, de um lado a outro de uma serra fosse apenas de subida…

Mas voltando ao assunto, o segredo dos acessos acaba passando de boca em boca, sempre entre amigos, conservado apenas num pequeno e restrito nicho. Alegam estes que assim a montanha estará intacta, o que não deixa de ser meia verdade, metade verdade por realmente dificultar o acesso dos menos simpáticos àqueles que detêm as chaves, e metade mentira, pelo motivo de que muitos acessos são conhecidos, e muitas vezes, trilhas e vias são perdidas para a intempestividade do esquecimento.

Em meu estado natal, o Paraná, por exemplo, existe diversas montanhas até certo ponto desconhecidas para muitos montanhistas, mas que possuem descrição de rotas extremamente facilitadas, sendo necessário perder poucos minutos no "google" ou no "orkut" para se saber com precisão como chegar, onde pegar água, onde deixar o carro, a extensão da caminha ou da escalada, pontos GPS e etc.

Enquanto isso, boa parte das montanhas "desconhecidas“ pelos montanhistas passam por processos de destruição, algumas já bem degradadas. São caçadores, palmiteiros, políticos corruptos que pensam apenas no próprio bolso, fazendeiros, madeireiros, extrativistas, enfim, inúmeras pessoas que querem mais é que estes segredos fiquem cada vez mais resguardados a sete chaves, para que mais pessoas não atravessem seus limites de destruição, atrapalhando seus "negócios".

Em minha opinião, o que devemos combater não é o acesso às informações, mas sim a educação dos freqüentadores das montanhas, principalmente dos mais novos. Mostrar que existem técnicas de mínimo impacto e que estas servem exatamente para garantirem a integridade desses locais sagrados, e cobrarmos das autoridades, assim que tivermos conhecimento de locais com práticas lesivas ao meio ambiente, fiscalização e soluções.

Escondendo nossas montanhas, ao contrário do que imaginamos, só as estaremos entregando de bandeja àqueles que pouco se importam com elas.
 


Aos amigos sumidos

Aproveito para lembrar de alguns amigos que estão sumidos… Aí vai um vídeo especial para vocês:

A letra, pra ajudar:

Nada a Declarar
Ultraje a Rigor

Eu tô sentindo que a galera anda entendiada
Não tô ouvindo nada, não tô dando risada
E aê, qual é? Vamô lá, moçada!
Vamô mexe, vamô dá uma agitada!

Esse nosso papo anda tão furado
É baixaria, dor de corno e bunda pra todo lado
Eu quero me esbaldar, quero lavar a alma
Quem sabe, sabe; quem não sabe bate palma
E pra celebrar a nossa falta de assunto
Vamô todo mundo cantá junto (Ueba!)

Eu não tenho nada pra dizer
Também não tenho mais o que fazer
Só pra garantir esse refrão
Eu vou enfiar um palavrão (Ah..Cu)
 

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Sobre o autor

Hilton Benke é um dos idealizadores do AltaMontanha.com. Dono de uma personalidade muito forte, é hoje praticante assíduo do voo livre, principalmente da modalidade "hike and fly", que une o voo com o montanhismo. Como montanhista e escalador, gastou seu tempo galgando montanhas brasileiras e andinas, além de ter prestado alguns serviços como instrutor de escalada junto ao CPM. Deixá-lo feliz é fácil: só marcar um bom pernoite em um cume da Serra do Mar Paranaense, com um bom menu para o jantar e uma condição de tempo boa para que possa decolar com seu parapente dia seguinte e realizar uma das muitas travessias sobre a Serra do Mar.

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