Projeto 6×6

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O objetivo do Projeto 6×6 foi, como o próprio nome sugere, escalar seis montanhas com mais de seis mil metros de altitude em 11 dias, na região da Puna do Atacama, entre o nordeste do Chile e noroeste da Argentina.

Nos próximos parágrafos lhes conto como se desenrolou a expedição, dia a dia, algumas experiências vividas com os outros 4 companheiros ao longo do projeto, erros e acertos e porque uma das montanhas “ficou pra trás”. No final deixo algumas dicas para quem deseja se iniciar em alta montanha.

Dia 1 (27/10) – O grupo foi composto por mim, Lucas, Ana, Juan e Jonas. Os três primeiros brasileiros, Juan é chileno e Jonas, argentino. Partimos tarde de Santiago, por volta do meio dia, depois de pegar a Ana no aeroporto. As compras (comida, água, alguns equipamentos) e aluguel de equipamentos para o Lucas (crampón, miton, botas duplas) foram feitos no dia anterior. Nosso destino nesse dia era a Laguna Santa Rosa (3800m) e distante mais de 1000km de Santiago. Viajamos cerca de 11 horas até a última cidade Copiapó. Ali abastecemos o 4×4, enchemos dois galões de 20L de diesel, e rumamos para o deserto. Em algum momento cruzamos pela bifurcação que dava acesso à Laguna Santa Rosa e nos deparamos, por volta das 2h da madrugada, com a Aduana chilena do Paso San Francisco, que estava fechada. Montamos acampamentos (sob fortes ventos) nas redondezas, próximo ao Salar de Maricunga (3700m). Comemos algo rápido e fomos dormir. Já neste primeiro dia senti alguns dos sintomas do Mal Agudo de Montanha (MAM)*: dor de cabeça (leve) e insônia.

*Basicamente um conjunto de sintomas (dor de cabeça, náuseas, falta de apetite, insônia e cansaço excessivo) que aparecem à grandes altitudes (acima dos 3000m) devido à hipoxia e que desaparecem ao descer. Em sua forma mais grave, o MAM pode levar a morte por Edema Cerebral e/ou Edema Pulmonar.

Acampamento Salar de Marincunga 3800m. Foto: Lucas Gobatti @gobattifotografia

Dia 2 (28/10) – Nesse dia nos dedicamos a subir do Salar de Maricunga até a Laguna Verde (4300m). Depois de comer algo e desmontar acampamento, apresentamos nosso “permisso” (existe um documento que deve ser autorizado pelo governo do Chile para realizar as escaladas) junto ao “carabineiro” da aduana e partimos. Chegamos por volta das 14h e mais uma vez montamos acampamento sob fortes ventos, às margens da Laguna Verde. Este lugar tem um visual inacreditável, e merece ser visitado. Rodeada de montanhas de cinco e seis mil metros de altitude, completamente isolada no meio do deserto, o que mais impressiona é a cor da água, entre o azul turquesa e o verde esmeralda, tamanha a quantidade de mineiras existentes. Junto a área de acampamento está o Refúgio Laguna Verde. O pequeno casebre possui quatro cômodos: uma cozinha, um quarto com um beliche + uma cama de solteiro, outro quarto que está sem uso, e uma terma. Isso mesmo, existe uma terma dentro do abrigo, assim como várias outras nas proximidades, e que se formam pela atividade vulcânica da região. A temperatura dá água está em torno dos 35°C ou 40°C. O refúgio estava “dominado” por um grupo de chilenos, mas a cozinha é de uso coletivo. Cozinhamos e jantamos abrigados ali, e por volta das 22h estávamos na barraca. O dia seguinte era dia de escalar montanha: Nevado San Francisco (6016m). O principal efeito de MAM que senti até aqui foi insônia. Tive mais uma noite mal dormida, além de uma leve dor de cabeça.

Acampamento Laguna Verde há 4300m. Foto: Lucas Gobatti

Dia 3 (29/10) – A previsão do tempo no “Dia 0” (26/10) era preocupante para esse dia: ventos de até 90km/h e sensação térmica de -35°C (!) no cume do Nevado San Francisco. Minha aclimatação até aqui tinha sido (relativamente) boa: estava me hidratando bem, e com apetite. Respirando com facilidade (ainda não tinha passado dos 4300m), e me sentindo disposto. Tinha feito pouco esforço físico até aqui. Apenas duas noites bem mal dormidas e uma leve dor de cabeça que não incomodava. Acordamos cedo, tomamos café, organizamos tudo e por volta das 8:30h começamos a caminhar. Tivemos que deixar o carro cerca de 1,5km antes do ponto onde ele (teoricamente) chegaria pois as condições do terreno (acho que não dá pra chamar aquilo de estrada rsrs) estavam bem ruins. Infelizmente a previsão do tempo acertou em cheio, os ventos estavam fortíssimos e o maior frio da minha vida. Indescritível! Essa que era pra ser uma das montanhas mais fáceis, e por isso foi escolhida para ser feita primeiro, se tornou uma das mais difíceis pra mim. Por estar em processo de aclimatação, outro sintoma de MAM apareceu, enjoo. Vomitei duas vezes nesse dia. Acima dos 5500m cada passo foi penoso . O esgotamento físico além do normal também é um sintoma de MAM. Sem falar na dificuldade em respirar. O sono me “bateu” com muita, mas com muita força. Acabei me atirando no meio da trilha por várias vezes pra cochilar. Os companheiros que estavam atrás de mim me acordavam. As montanhas dos Andes são ingratas: quanto tu pensa que está chegando ao cume ou perto dele, surge outro paredão* (as vezes de pedras soltas, conhecido como acarreo) te esperando. Uau, incrível! Haja disposição e psicológico. Bom, depois de 7h de muito desconforto, esforço físico e superação, eu e Juan chegamos no cume por volta de 15:30h. Apenas nós dois fizemos cume neste dia.

Carlos e Juan dormindo na escalada do Nevado San Francisco há 6016m. Foto: Lucas

Carlos no cume do Nevado San Francisco. Foto: Juan Luis @juan_luma

Chegamos no Acampamento Laguna Verde por volta das 20:30h, todos exaustos. No retorno decidimos descansar no dia seguinte, e aqui o cronograma do Projeto 6×6 começou a mudar.
*esse ponto é chamado de portezuelo, como se fosse um colo entre duas montanhas.

Refúgio Laguna Verde. Foto: Carlos Moura

Dia 4 (30/10) – A programação do Projeto 6×6 para este dia era escalar o Volcán Peña Blanca (6030m). A princípio eu queria tentar, mas o Nevado San Francisco tinha sido extremamente exaustivo, tive que admitir que precisava descansar. Ficou claro que eu tinha superestimado minha capacidade de aclimatação, além de subestimar o grau de intensidade física de um projeto nesses moldes. A explicação é simples: inexperiência! Esses dois fatos foram alguns dos grandes aprendizados dessa expedição: me conhecer melhor, e conhecer melhor o ambiente.

Nesse dia os chilenos que estavam no abrigo foram embora. Eu, Lucas e Ana dominamos o quarto até o final da nossa expedição. Que benção 😀 Dormir em camas (relativamente) confortáveis sob um teto de verdade é outra história.

Tirei o dia para descansar : acordei tarde, me movimentei pouco e comi bastante. No período da tarde tentei tirar um chochilo. A noite anterior tinha sido, mais uma vez, de sono “picotado”.

Em conversa com os montanhistas chilenos que estavam no abrigo, e outros que passavam, optamos por escalar o Volcán Vicuñas (6067m) no dia seguinte, que seria “mais fácil” que o Peña Blanca.

Caixa de Livro de Cume Volcão Vicuñas há 6067m. Foto: Carlos Moura

Ana no interior do Refúgio Laguna Verde. Foto: Lucas Gobatti

Dia 5 (31/10) – Infelizmente foi mais uma noite mal dormida, mais uma escalada com muito sono e mais uma vez me atirei no meio da trilha pra cochilar, desperdiçando um tempo precioso. A insônia foi um dos efeitos de MAM que mais senti nesta expedição. A dificuldade física que experimentei ao escalar o Nevado San Francisco se repetiu no Vicuñas, embora tenha ventado menos e feito menos frio. Nesse dia tive a certeza de que não existe montanha “mais fácil” na Puna, e sim “menos difícil”. Já era tarde quando eu, Jonas e Lucas chegamos ao último portezuelo. Restava pouco mais de duros 100m verticais para o cume. Jonas e Lucas abortaram. Depois de uma breve conversa sobre a rota de descenso, larguei minha mochila e fui pro cume. Eles iniciaram a descida. Subi o mais rápido que eu pude e meia hora depois estava assinando o livro de cume. Já eram 16h, super tarde.

Não fiquei nem 10 minutos no cume. A estimativa era de 3h de descida. Houve uma falha na comunicação e acabamos descendo por rotas diferentes: Jonas e Lucas baixaram pela mesma rota de subida, eu fiz um caminho mais curto e íngreme. Esse desencontro gerou uma grande preocupação da minha parte, pois um dos rádios HT tinha ficado com a Ana e o Juan, que tinham abortado muito antes, e o outro comigo (estávamos com um par de rádios HT). Ou seja, eu estava sem comunicação com os outros dois companheiros e não sabia exatamente onde eles estavam. Eu tinha certeza que o combinado era descer por essa rota onde eu estava, e esperava encontrar com eles em seguida, mas foi aqui a falha na comunicação. Só relaxei duas horas depois, quando avistei os dois bem ao longe na rota de subida. Ufa, que alivio! Sinceramente? Foram as duas piores horas de toda expedição! Imaginei logo o pior, que eles pudessem estar perdidos ou machucados, já era tarde e passar a noite ao relento seria fatal! Abracei forte quando os encontrei! Mais outro grande aprendizado: minimizar ao máximo as falhas de comunicação entre os integrantes do grupo, ou ter um rádio HT com cada integrante.

Foi mais uma montanha exaustiva. Aos encontrarmos todos no carro, na base da montanha, a decisão foi quase unânime: descanso no dia seguinte. Eu queria muito realizar todas as escaladas, e Juan me ofereceu o 4×4 para eu tentar escalar sozinho o Barrancas Blancas (6119m) no dia seguinte. Essa montanha fica do lado do Vicuñas e eu estava seguro da aproximação. Por outro lado, tinha sentido muito sono nessas primeiras duas escaladas, e sozinho poderia ser fatal. Tive que reconhecer que não estava preparado para ir sozinho. Desisti!

Dia 6 (01/11) – Descanso: me alimentei bem e me movimentei pouco. Até que enfim uma noite (relativamente) bem dormida! No dia anterior ficou decretado que fazer cume das 6 montanhas propostas não seria possível. Restavam 4 dias para escalar 4 montanhas. Humanamente impossível para mim. Estava chateado mas confiante em fazer 5 montanhas. Meu plano a partir de agora era escalar duas montanhas seguidas no dia 7 e 8, descanso no dia 9 e mais uma no dia 10. Decidimos por excluir o Volcán Fraile (6061m), pois ficamos sabendo que a aproximação até a base estava muito ruim.

Dia 7 (02/11) – Dia de Barrancas Blancas (6119m). Segunda noite bem dormida. Ufa, parece que estava bem aclimatado. Acordamos mais cedo, por volta de 4h, afim de ganhar tempo. Conversei com o pessoal e decidi imprimir um ritmo mais forte de caminhada. Também estava decidido a não dormir ao longo da escalada. Conseguimos nos aproximar bem do início da trilha marcada no tracklog do GPS e iniciamos a caminhada. A trilha parecia clara, por uma crista que dava acesso ao cume. Cerca de meia hora caminhando e sem olhar no GPS, me dei conta que estava fora da trilha, e que na verdade a crista onde eu estava levava para um cume secundário. Avaliei e decidi continuar. Um trecho de aproximadamente 2km ligava o cume secundário do principal, passando por um colo (portezuelo). Avisei o grupo pelo rádio HT e segui. Contornei o falso cume por uns trechos íngremes de acarreo e algumas escalaminhadas, nada muito perigoso, e acessei o trecho que dava acesso ao cume principal.

Foi um momento especial pra mim quando cheguei no portezuelo, ainda antes do cume. Estava sozinho, completamente isolado. Silêncio, só o barulho do vento. O lugar tinha uma energia incrível com visual para vários gigantes da Puna, como o Ojos del Salado (6893m), El Muerto (6488m), e o próprio Vicuñas de dois dias anteriores, só para citar alguns. Agradeci pela oportunidade de estar ali e pela família. Aliás, gratidão é um sentimento que sempre me aflora nesses ambientes. Fiz cume às 14h, e às 16:30h estava no carro. Fiquei feliz com meu desempenho nesse dia, não senti sono, não senti cansaço excessivo, escalei rápido. O restante do grupo fez o cume falso e já estavam me esperando quando cheguei. Estávamos todos dispostos e decidimos escalar o Volcán Peña Blanca (6052m) do dia seguinte.

Autoretrato cume Volcão Barrancas Blancas 6119m. Foto: Carlos Moura

Dia 8 (03/11) – O Volcán Peña Blanca tem dois cumes. O absoluto é o norte, com 6052m, e o cume sul é cerca de 15m mais baixo. Ainda nem tínhamos saído do refúgio quando me dei conta que estávamos sem o tracklog dessa montanha. Estranho pois eu tinha a aproximação em 4×4 e pelo menos uma rota de escalada de todas as montanhas, mas aconteceu. Tínhamos um croqui e sabíamos que subiríamos pela “cara oeste” da montanha. Fizemos uma boa aproximação com o 4×4 e chegamos até a cota dos 5100m. Juan tinha o mapa dos Andes em seu GPS, com o ponto do acampamento base (e também do cume absoluto), o que facilitou nossa aproximação. Avaliamos a rota e “metemos o pé”. O vento castigou bastante neste dia, e o sol demorou a despontar atrás da montanha, acentuando o frio! Eu e Lucas caminhamos juntos o dia inteiro. Jonas cerca de 30min atrás da gente, e Juan 1h. A Ana decidiu voltar para o carro cerca de 3h depois que começamos a caminhar. Quando eu e o Lucas chegamos no portezuelo que dava acesso ao cume norte e sul, optamos logo por escalar o cume visualmente mais alto, sem analisar a posição geográfica. Jonas que estava logo atrás da gente nos seguiu. Por volta das 13:45h estávamos todos, eu, Lucas e Jonas no cume. O vento estava tão forte que quase nos jogava no chão. Foi divertido! Assinamos o livro de cume e começamos a descer. Jonas ainda esperou Juan por cerca de 20 minutos, mas ele não chegou. Concluímos que ele havia desistido do cume. Subi com o GPS desligado porque estava com poucas pilhas e na volta escolhemos mal a rota de descida. Acredito que perdemos quase duas horas nesse “perdido”. Quando chegamos ao carro, uma surpresa: Juan fez o cume principal (ele tinha o ponto de localização no GPS) e disse que nos viu indo para o cume sul (6037m), mas que não conseguiu no avisar. Paciência!

Carlos no portezuelo de acesso ao cume do Volcão Peña Blanca. A montanha da foto é o cume sul 6037m. Foto: Lucas Gobatti

Carlos, Lucas e Jonas no cume sul do Volcão Peña Blanca. Foto: Carlos Moura

Dia 9 (04/11) – Descanso. No dia anterior havia chegado dois guias, um peruano e outro chileno, super experientes, com dezenas de ascensões em algumas das maiores montanhas dos Andes. Foi muito bom trocar experiências e ouvir histórias não só deles, mas dezenas de pessoas (montanhistas ou não) que passaram pelo Refúgio Laguna Verde. A tarde fomos para para o “fundo” (direção oeste) da Laguna Verde, onde encontrei um bloco de rocha perfeito para boulder. Desejei estar com os amigos escaladores ali!

Carlos em cima da pedra do boulder, às margens da Laguna Verde. Foto: Lucas Gobatti

Dia 10 (05/11) – Dia de escalar o Volcán El Ermitaño (6146m), a última montanha do Projeto 6×6. Ana e Jonas decidiram ficar no refúgio. O dia começou com fortes emoções (rsrs). Nossa aproximação teria sido tranquila se, quase no ponto de iniciar a escalada, não tivéssemos encavalado o eixo dianteiro do 4×4 em uma pedra gigante. Estávamos presos a 30km do acampamento base! Depois de uma tentativa falha de contornar a situação utilizando uma pá, resolvemos o problema “macaqueando” o veículo e dando ré. Pronto, nenhuma avaria!! Meia hora depois estávamos caminhando.

Escalada dura. Claro que seria! Por duas vezes pensamos que estávamos chegando no cume e tinha outro paredão pela frente. Isso dá um desânimo (rsrs). Agora eu acho engraçado, mas é sério. É preciso muito foco, determinação, força de vontade e tudo isso pra não ficar pelo caminho. Chegamos juntos ao cume por volta das 14:00h, Juan, eu e Lucas! Foram quase 12h de caminhada (ida e volta) nesse dia. O Projeto 6×6 tinha chegado ao fim. Estava feliz com os 5 cumes e agora era hora de voltar pra casa!

Carlos e Juan desencavalando o 4×4 na base do Volcão Ermitaño 6146m. Foto: Lucas Gobatti

Carlos, Juan e Lucas no cume do Volcão Ermitaño. Foto: Carlos Moura

Dia 11 – Desmontamos acampamento, organizamos tudo, nos despedimos dos amigos que fizemos por ali e partimos da Laguna Verde por volta de 11h. A viagem até Santiago foi muito extenuante. Foram 15 horas dentro carro e meus joelhos doeram mais nesse dia do que em qualquer outro do Projeto 6×6 (rsrs).

Para finalizar, abaixo deixo algumas dicas para quem quer se iniciar em alta montanha baseado nas experiências vividas ao longo da realização do Projeto 6×6:

– Básico: aclimate-se bem! Questão de segurança, além de aumentar suas chances de cume. Afinal, investir tempo e dinheiro e não alcançar o objetivo por uma má aclimatação é, no mínimo, decepcionante. Devido ao curto tempo que tive para realizar o Projeto 6×6, meu “plano de aclimatação” (se é que posso dizer que existiu um plano) foi super agressivo. Julgo esse o principal motivo de eu ter escalado cinco, e não as seis montanhas.

– Saiba tudo sobre Mal Agudo de Montanha (MAM). Saiba reconhecer os sintomas e como tratá-los, e principalmente, saiba a hora de desistir da escalada e descer, se necessário. O MAM mata! Enquanto escalávamos as montanhas do Projeto 6×6 havia um polonês morto na cota dos 6400, no Ojos del Salado. Como atenuar os efeitos? Ganhe altitude lentamente e beba muita água!

– “Conhece-te a ti mesmo”. O aforismo grego cai como uma luva aqui. Primeiro: saiba da sua capacidade física e seus limites, e treine muito (cardiorrespiratório e muscular) antes de se aventurar nesse ambiente. Ir para alta montanha é um projeto, e o treinamento, que começa meses antes, deve ser levado a sério. Segundo: esteja forte mentalmente. Estar à grandes altitudes é desconfortável. Sentimos os efeitos do MAM (dores de cabeça, náuseas, etc.). Dormimos mal. É frio e venta muito. São lugares inóspitos e estamos longe das pessoas que mais amamos, as vezes por longos períodos. É necessário ter paciência e compreender que, mesmo cansado, precisamos dar o próximo passo. Forçadamente saímos da zona de conforto e precisamos nos superar! Crie motivação! Quer uma boa dica para se preparar mentalmente aqui no Brasil?! Coloque uma bela mochila cargueira nas costas e vá pra montanha! A Serra da Mantiqueira tem ótimas alternativas e está (relativamente) próxima das capitais de SP e Rio.

– Saiba exatamente quais são os equipamentos necessários em alta montanha, e não deixe nada faltar! Um “simples” par de miton, por exemplo, pode te fazer perder o cume (ou os dedos!).

– O gasto energético em alta montanha é enorme. Uma dieta balanceada antes (ao longo do processo de preparação) e durante a expedição em si é muito importante. Procure um nutricionista especializado. Aliás, faça um check-up geral em seu estado de saúde.

– Aprenda a respirar utilizando toda sua capacidade pulmonar.

– Informe-se a respeito da meteorologia para os dias que estará na montanha e saiba reconhecer as mudanças do tempo.

– Certifique-se de estar com as rotas de aproximação e tracklogs da trilha em seu GPS, e tenha pilhas sobressalentes. Não vá sem um GPS para alta montanha!

– Conheça bem seus parceiros de escalada. Se possível, escolha aqueles com o mesmo nível de experiência, condicionamento físico e objetivos. Conversem e estejam “alinhados” antes da escalada, e cuidado com as falhas de comunicação.

– Tenha algum dispositivo de comunicação/rastreamento via satélite e saiba quem contactar caso seja necessário.

– Muna-se com o máximo de informação possível sobre a montanha onde está indo (geografia, meteorologia, rotas de acesso e ascensão, etc.).

– Caso não esteja seguro de algum dos pontos acima, contrate um guia experiente.

Ótimas escaladas!!

O Projeto 6×6 teve apoio de:
Nautika Lazer
Deuter
Sea to Summit
Botas Snake
Azteq
Liofoods

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Sobre o autor

Carlos Moura é gaúcho, radicado no Sudeste do Brasil desde 2005. Meteorogista de formação, atualmente se dedica exclusivamente como guia de montanha pela empresa Mantiqueira Expedições,na qual é proprietário. Desde a temporada 2015/2016 vem empreendendo expedições autônomas aos Andes, e hoje conta com pelo menos 6 montanhas de 6000m de altitude em seu currículo.

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