Rudolfo Stamm, a vida e um marumbinista

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O montanhismo brasileiro começou em uma época em que havia pouquíssimas informações, nenhum equipamento de montanha, mas muita vontade de vencer o intransponível. Essa foi à motivação dos primeiros escaladores e também daqueles personagens que dedicaram suas vidas a desbravar montanhas e desenvolver o montanhismo. Entre tantos personagens, estava um jovem joinvilense que fixou residência em Curitiba, Rudolfo Stamm.

Registro de Rudolfo Stamm no conjunto Marumbi – Foto do retirada do livro As Montanhas do Marumbi.

Nascido em 13 de outubro de 1910, se apaixonou pela Serra do Mar aos 25 anos de idade quando percorreu um trecho da linha do trem entre o Véu da Noiva e o Conjunto Marumbi. Três anos mais tarde chegou pela primeira vez ao cume do Olimpo e realizou a grande façanha de escalar o Facãozinho durante a noite. Foi sob o domínio desse amado conjunto de montanhas que Stamm se desenvolveu no montanhismo.

Um marumbinista visionário e conservacionista

Stamm foi um dos fundadores do CMC (Círculo dos Marumbinistas de Curitiba) e sediava em seu quarto de pensão as reuniões do clube antes que fosse criada uma sede. Ele foi responsável não só pela conquista de muitos cumes como também pela implantação de diversas trilhas. Sua vida na montanha foi tão intensa que recebeu um capitulo do livro As Montanhas do Marumbi de Nelson Luiz Penteado (Farofa) inteiro sobre suas conquistas.

Stamm criou regras para o uso das trilhas e acampamentos na montanha a fim de evitar a degradação do meio ambiente. Todavia, ele também sinalizou muitas delas para ajudar a orientar os escaladores e fixou degraus e correntes para dar mais segurança. O marumbinista apaixonado dedicava-se também ao estudo das rotas, buscando corrigi-las para torná-las mais curtas e rápidas.

Foi ele também quem teve a ideia de colocar um quadro-negro na casa Martinelli, de onde saiam todos os montanhistas que iriam subir o conjunto Marumbi. Lá os escaladores colocavam algumas informações como destino e horário de retorno antes de partirem. Assim, muitos montanhistas perdidos na montanha puderam ser encontrados.

A colocação de caixas em alguns cumes também foi ideia desse marumbinista. Assim, ele foi responsável por propagar a cultura dos registros de escalada nos livros de cume em nossa região. Stamm possuía enorme apreço por esses registros e mesmo com a vista ruim, copiava cada um deles em cadernos que guardava em uma coleção particular.

Em reconhecimento a suas aventuras e trabalhos nessas montanhas, o “Mosquito”, como Stamm era chamado pelos seus companheiros de montanha, passou a ser chamado de o “Marumbi”.

O companheiro “Marumbi”

De acordo com o livro do Farofa, Rudolfo Stamm era fumante e gostava de uma boa birita na montanha e sempre tinha os dois em suas expedições. Assim, inventou uma utilidade para seus cigarros, ele os usava para medir a profundidade dos furos na rocha utilizados para fixar correntes e degraus. Stamm também só subia a montanha se tivesse uma garrafa de “tropisco”, como ele chamava qualquer bebida alcoólica. Ele foi o inventor da bebida 127, uma mistura de Undeberg, capilá e cachaça que os marumbinistas da época carregavam em frascos de Emulsão Scott.

Todavia, o montanhista também foi responsável por criar inúmeros apelidos para seus companheiros de montanha. Essa era uma tradição levada muito a sério na época do desenvolvimento do marumbinismo. Ele ainda escreveu e contribuiu com jornais da época escrevendo colunas sobre suas aventuras como os Excertos Marumbinistas, Noites no Bom Jardim e Pensamentos Marumbinistas. Assim, assegurando um registro histórico dos feitos nas montanhas do Paraná.

Nelson Luiz Penteado traz em seu livro As Montanhas do Marumbi algumas célebres frases de Stamm que descrevem bem o seu bom humor e amor pelas montanhas. Entre elas: “Saí com sapatos bons e cheguei descalço!”. “Seis horas de escalada com o máximo de folga. Saímos de Curitiba com 10 homens e chegamos com 10, bom sinal!”

A conquista dos gigantes paranaenses e outros

O marumbinista Rudolfo Stamm não restringiu suas conquistas apenas ao Conjunto de montanhas que lhe rendeu o apelido mais famoso. Ele também foi responsável por chegar pela primeira vez ao cume do Pico Paraná, ao Caratuva, Formiga, Planalto, Crista do Galo, União, Itibirati, Tucum, Camacuan, Camapuan,Camelos, Ferraria, Taipabuçu entre outros.

Em 1941, Rudolf Stamm e seu companheiro Alfred Mysing foram os primeiros homens a chegar ao cume do ponto mais alto do Sul do Brasil, o Pico Paraná. Eles faziam parte da equipe do geólogo alemão Reinhald Maack, responsável por identificar os maiores picos da região. Para chegar lá, eles abriram uma picada desde a antiga estrada que ligava Curitiba a São Paulo, uma vez que não havia a BR116. Assim eles levaram 21 dias de muita caminhada e esforço para conquistar o topo da montanha.

Stamm morreu aos 49 anos de idade em seu quarto de pensão devido a complicações após sofrer um acidente doméstico. Em sua homenagem um dos principais setores de escalada do Morro Anhangava, campo escola da escalada na região foi batizado com as iniciais de seu nome, R.S..

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Sobre o autor

Maruza Silvério é jornalista formada na PUCPR de Curitiba. Apaixonada pela natureza, principalmente pela fauna e pelas montanhas. Montanhista e escaladora desde 2013, fez do morro do Anhangava seu principal local de constantes treinos e contato intenso com a natureza. Acumula experiências como o curso básico de escalada e curso de auto resgate e técnicas verticais, além de estar em constante aperfeiçoamento. Gosta principalmente de escaladas tradicionais e grandes paredes. Mantém o montanhismo e a escalada como processo terapêutico para a vida e sonha em continuar escalando pelo Brasil e mundo a fora até ficar velhinha.

1 comentário

  1. Obrigado, Maruza.
    Acho bem importante saber a história das vias e de seus homenageados.

    Hoje entrei na “RS” e foi bem bom saber sobre esse companheiro.

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