Santuário Nacional de Huayllay, Peru

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Assim que cheguei de Villa Alota (Uyuni/Bolívia), prometi à patroa que nossa próxima trip seria em um lugar mais quente, bem longe do frio e seco altiplano boliviano. Jurei também que assim que chegasse de Arenales (Mendoza/Argentina) iria pensar em algo como psicobloc na meca da modalidade em Mallorca, pegaria umas betas com Felipe Dallorto e curtiríamos um pouco de sol. Mas, por força do destino, Marcos Claver, amigo escalador de Belo Horizonte postou uma foto psicodélica em seu facebook e perguntou se eu já conhecia o lugar. Foi em uma breve pesquisa no google que encontrei as poucas informações do lugar e mostrei à comandante do lar. Em poucas horas tínhamos a gama de informações que precisávamos para chegar no “Bosque de Pedras”.

O que Catiane de Marco não percebeu foi que as rochas estavam a 4.310MT, mais alto que Villa Alota, logo, o tão sonhado calor das férias deveria ser totalmente esquecido. Para esta trip contei com a parceria dos amigos Eduardo Formighieri (parceiro de outras trips na Bolívia e Argentina) e sua namorada Alessa Melo, que compraram a briga assim que viram as fotos.
Wikipediando, o Santuário Nacional de Huayllay se estabeleceu em 7 agosto de 1974, por meio de Ordenação Suprema Nº 0750-74-AG. Fica situado no coração do Planalto de Bombón, com o fundo cênico da Cordilheira de Huayhuash, no departamento de Pasco, município de Pasco, Perú, com uma extensão de 6.815 hectares. 
 
A maior atração do santuário é a Floresta de Pedra Huayllay ou Bosque de Pedras, uma gigantesca área rochosa gerada pelos processos erosivos do vento, água e o deslocamento de geleiras. Nasceram numerosas formações esculturais que se assemelham a figuras humanas, animais e objetos, o que deixa o bosque mais psicodélico para quem caminha ou escala por lá. É como um imenso oásis petrificado no meio de uma desolada e fria planície. Arrisco a dizer que as possibilidades de escalada são infinitas, pelas fotos se percebe este potencial. Tudo é escalável, de blocos a fendas perfeitas, a cada passo uma possibilidade de abertura de via ou projeto de Boulder. 
 
Entre, escale e perca as possibilidades de vista. Onde o Crash Pad cair é lugar para escalar e tentar algo novo. Escaladas valentes com pilares altos fazem a adrenalina anular o ar rarefeito, fazendo lembrar só quando se chega ao topo. Como não se tem muitos croquis dos blocos, não faço a menor ideia se entrei em projetos novos ou abrimos outros, alguns tinha magnésio e outros não, mas quem se importa? Você esta lá para escalar e não se preocupe com nome aos bois, só escale.
 
Uma das poucas dicas de escalada sobre o lugar esta em Link/: http://toposperu.wordpress.com/pasco/huayllay/
 
Os moradores de Huayllay (pronucia-se “Aiai”, acredite) afirmam que o lugar é um dos melhores museus geológicos no mundo, informação também constando no Wikipedia. Por sua extensão e tipo de formação é tão exuberante quanto a Floresta de Pedras de Shilin, na República Popular da China. 
 
Outra curiosidade de Huayllay é sua fauna. É bem comum escalar sendo observado por Vizcachas (lagidium peruanun), Vicunhas (vicugna vicugna), Alpacas (Vicugna pacos) ou Lhamas (Lama glama). Ou ainda ver os Zorros Andinos (Pseudalopex culpaeus) caçando ovelhas. Animal Planet ao vivo!
 
Como chegar
 
A forma mais recomendada pelas agências de turismo de Lima para ir à Huayllay é de ônibus. Empresas como Transporte Junín e San Pedro fazem a viagem de Lima à Cerro Pasco em massacrantes 12 horas, por estradas nada confiáveis e pelo preço de 50 Soles, saindo do centro de Lima. Uma vez em Cerro Pasco, tome um táxi para o povoado de Canchacucho, onde está localizado o Bosque de Pedras. 
 
Você também pode ir direto para a cidade de Huayllay, esta é mais afastada dos setores de escalada já explorados, mas conta com estrutura de pequenos mercados, internet e serviço de telefone. Como costumo dizer, um “longe-perto”, já que de carro está a 10 minutos de Canchacucho. Mas uma dica: dê preferência para fazer as suas compras em Lima. Deixei para fazer as compras em Huayllay, acreditando que encontraríamos uma boa estrutura na cidade, mas não foi uma boa decisão. Eduardo Formigueri que o diga, rs.
 
Mas, se pretende chegar rápido (7 horas) e não ser surpreendido com paradas inesperadas nos povoados ao longo da estrada, alugue um carro em lima com GPS, enfrente o trânsito mais caótico do mundo (eleito pelos próprios limenhos) para sair da cidade e curta as estradas nevadas que chegam aos 4.823MT indo direto a Canchacucho.
 
Alugamos o carro na locadora National Rent a Car, pelo preço de 45 Soles a diária, com o combustível por nossa conta. O inconveniente é o bendito seguro que todas as locadoras cobram. Bloqueiam o valor correspondente no cartão de crédito, estornando na devolução caso esteja tudo ok. No nosso caso, tivemos que ter US$2.000 de limite disponível no cartão.
Também devem ser considerados os pedágios no caminho. Não são muitos, mas custam em média 8 Soles cada. Considere uns 6 no total (ida e volta) e tudo certo.
 
Chegando a Canchacucho, escolha entre as hospedagens que mais te agradem. São simples, mas dão ao escalador tudo que ele precisa: comida quente e um lugar para dormir. Se preferir, o camping dentro do bosque está liberado. Seja consciente e não deixe dejetos. Os abrigos estão a 300 metros dos blocos, vale repensar a necessidade e deixar o camping para os dias de escalada mais distantes, já que o bosque tem 6.815 hectares de pura rocha. Para camping, mantenha a estrutura de alta montanha, já que os ventos são fortes nesta época do ano, as temperaturas são bem abaixo de zero à noite e as geadas são constantes.
Ficamos no abrigo/hostel da Dona Diana, senhora sempre alegre que nos deixou bem à vontade, nos oferecendo a cozinha do seu restaurante para cozinhar, já que é melhor do que se arriscar com a culinária local em altitude. O povoado é bem pequeno, então um pergunta rápida sobre Diana e logo terá as dicas de como chegar.
 
Uma dica legal para não ficar sem banho nos dias em Huayllay são as fontes termais que existem há alguns minutos pela estrada saindo de Canchacucho em direção à cidade de Huayllay. Por 3 soles você pode se jogar em uma piscina térmica com propriedades curativas que chegam a mais de 60ºC de temperatura e é situado a 4.000MT. Um presente para quem está fedorento após dias na estrada e escalando. As piscinas funcionam 24h e estão protegidas por telhados para cortar o vendo da noite. Boa parte dos moradores vão se banhar lá, visto que a maioria das casas não possuem ducha.
 
Aclimatando bem, se programando adequadamente e com muita paciência, Huayllay é um dos lugares mais fantásticos que já vi e com potencial infinito para conquistas. Deixei muitas dívidas por lá e quero voltar para concluir projetos que ficaram na mente.
 
Meu muito obrigado a todos que compraram a trabalheira que deu chegar a este lugar fabuloso e ainda tão desconhecido. Espero que o texto e as fotos ajudem a divulgar esta maravilha da natureza como rota de escalada mundial, já que ainda não foi atingida pela exploração turística desenfreada.
 
Grande abraço a todos, força sempre e boas escaladas.
Atila Barros.
 
 
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Sobre o autor

Atila Barros nasceu no Rio de Janeiro, e vive em Minas Gerais, cidade que adotou como sua casa. Escalador (Montanhista) há 12 anos, é apaixonado pelo esporte outdoor. Ele mantem o portal Rocha e Gelo (www.montanha.bio.br)

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