Sherpas decidem terminar a temporada no Everest

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Tulsi Gurung, Sherpa presente na reunião, e irmão de um dos falecidos, confirmou à agência France Presse (AFP) a notícia: “Depois de uma longa reunião, decidimos homenagear nossos irmãos e acabar com a temporada no Everest este ano. A decisão foi unânime.”

Aparentemente alguns Sherpas, e algumas expedições já deixaram a montanha, enquanto outros permanecem no acampamento base. "É hora de arrumar as malas e partir", foi o comentário de Tulsi Gurung Sherpa a AFP.

O governo anunciou que aceita as condições estabelecidas pelos Sherpas, cada um dos guias nepaleses receberá um seguro de vida 15 milhões de Rúpias Nepalesas, e um seguro de saúde de 4 milhões de Rúpias.

Além disso, ficou acordado que cada Comitê de Desenvolvimento Distrital que arrecada 30% das taxas de escalada, vai destinar 5% destas taxas para criar um fundo permanente a ser utilizado para reabilitar os feridos, ajudar as famílias dos Sherpas falecidos e as operações de resgate, cobrindo os custos de helicóptero, não cobertos pelo seguro.

Porém ao que parece estas conquistas não são importantes para os Sherpas neste momento após a perda de 16 colegas, uma vez que esta decisão foi tomada antes de o governo do Nepal se pronunciar, em uma reunião marcada de última hora para definir uma posição. "16 companheiros morreram na montanha. Como podemos prosseguir?", são as palavras de Pasang Sherpa, um dos participantes da reunião.

Embora os Sherpas estarem alegando seus direitos nos últimos dias, ao que parece é que a decisão de suspender a temporada é forte desde o primeiro dia; de fato a tensão aumentou com o passar do tempo: "Os sherpas votaram para cancelar todas as tentativas de cume este ano em memória do pior desastre no Everest. Eu, como muitos outros alpinistas acreditamos que esta é uma boa maneira de honrar sua memória, mas estamos nos preparando para estar aqui há 2 anos. Claro, eu respeito a sua decisão, eu estou aqui apenas com um convidado. 

No entanto, apesar de grandes organizadores norte-americanos concordarem em respeitar o voto dos Sherpas, estão trabalhando desde o primeiro dia para mudar o seu voto esperando que os Sherpas mudem de idéia… isso soa tão familiar… Eu me sinto envergonhado por nossa ganância e nossa falta de compaixão", diz Ed Marzec em um comunicado postado em seu blog, um advogado e ambientalista de 65 anos que queria tornar-se o mais velho americano a pisar o cume do Everest, fonte direta da confirmação da votação e o resultado.

"Estou abalado com o que tenho visto e vivido sabendo que 3 membros de nossa equipe morreram, e o corpo de Ash Gurung, amigo pessoal e um dos três guias que me acompanharia ao topo permanece sob toneladas de gelo. Isso é muito emocionante para mim, especialmente quando eu penso em seus filhos de 1 e 3 anos, eles terão que viver sua vida sem ele. No ano passado ele quase caiu para salvar a minha vida no Yala Peak.
Eu me emociono especialmente quando penso em como insisti que ele estivesse em minha equipe no Everest, porque eu pensava que isso seria um passo muito importante em sua carreira e seu currículo… então o que eu fiz? Eu o matei. Estaria com sua família em casa, se não fosse por mim.”
 são as palavras de Ed Marzec.

Ultima reunião e impacto econômico

Aparentemente, haverá uma reunião final em Kathmandu entre os Sherpas, a Nepal Mountaineering Association e representantes do governo para tentar mudar a situação. As chances são remotas enquanto o desejo de honrar seus companheiros é superior a qualquer outra coisa, mas também é possível que a decisão na assembléia tenha sido tomada antes de saber a resposta do governo nepalês, o que mudaria a sua postura.

Conforme noticiado ontem, Ang Tshering Sherpa, presidente da Associação de Montanhismo do Nepal, confirmou a situação tensa, solicitando ao governo agir rapidamente para evitar o boicote: "o governo tem 7 dias para atender aos pedidos dos Sherpas. Há um conflito sério no acampamento base da montanha que pode afetar negativamente a economia local Sherpa. Que pode ter consequências de longo alcance no país”

Dorje Sherpa confirmou à ABC News que "para a maioria de nós é simplesmente impossível continuar a escalada. Enquanto três dos nossos amigos estão enterrados na neve, não podemos nos imaginar passando por cima deles. Honramos os membros que perdemos e por respeito a eles, não podemos continuar”.

Infelizmente é comum que todos os anos tenha que se lamentar a perda da vida de um Sherpa, especialmente entre os "Doutores da Cascata de gelo" que trabalham na cascata de gelo do Khumbu. Porém esta tragédia serviu como a gota d’água para um grupo que demonstra a alguns anos sinais de cansaço em determinadas situações.

O grande problema que a região enfrenta agora, e que é o que está forçando a última reunião em Katmandu, é econômico. A temporada no Everest é o motor econômico do Khumbu, milhares de pessoas dependem dele e aparentemente, como uma fonte direta que pediu para não ser identificado, existem divergências entre os Sherpas, outros funcionários do acampamento base e os carregadores do vale. 

Os primeiros, porque seu salário anual é 7 vezes superior aos salários habituais locais, que possibilita que fiquem um ano sem trabalhar. Porém os outros habitantes e trabalhadores, sabem que se o problema não for resolvido, isso pode afetar seriamente sua precária economia. Como disse ontem Simone Moro na página de Internet Planetmountain, "se você fechar o Everest, a região volta a idade da pedra."

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Texto publicado pela própria redação do Portal.

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