Travessia Alpha Ômega

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Relato da realização da Travessia Alfa Ômega realizada por Israel Silva, Kelvin Lago, Miguel Trilheiro e Paulo Taqueda.

DIA 1
 Saímos do estacionamento em Prainhas ao lado do IAP às 06:10h do dia 08 de fevereiro de 2016. Éramos seis dos Loucos do Ibitiraquire. Fábio Sieg, Israel Silva, Kelvin Lago, Luiz Rogeski, Miguel Trilheiro e Paulo Taqueda.
 O ritmo estava forte na estradinha até a Estação Marumbi. Fizemos o cadastro no IAP da Estação e partimos pela via Frontal e logo a frente pegamos o desvio para a Picada Pau do Maneco.
 Eu, Kelvin, começava a sentir o resultado de uma alimentação ruim do último mês e meu desempenho estava muito ruim nesse início de trilha. Cheguei até cogitar não continuar a travessia e seguir juntamente com o Fábio e o Luiz para o Cume do Boa Vista e posterior Olimpo e retornar para casa no fim do dia. Teria me arrependido, pois a travessia foi um feito único e inesquecível.
 Após passar pelo vale dos Ovos logo à frente chega-se à bifurcação que da início a chamada Freeway (trilha que liga o Conjunto Marumbi ao Morro Pelado). A Freeway até que estava aberta no início, mas depois deu uma fechada boa na trilha e aí começou o vara mato terminando apenas no Morro do Vigia.
 Num determinado momento ao tentar encontrar a continuação da trilha e não achando, qual foi a surpresa ao dar um passo atrás e ser alertado que tinha uma pequena Cobra Coral aonde eu tinha pisado. Se era a verdadeira ou a falsa Coral? Não ousamos arriscar saber!
 Dentre perdidas e achadas chegamos a um rio por volta de meio dia, aonde a continuação da trilha é subir o mesmo. Foi aí que pela primeira vez amaldiçoei o autor desta travessia.
 Algum tempo depois saí da mata fechada e anda um pouco em campos de altitude aonde se tem um mato na altura do peito e cabeça que arranha e enrosca bastante, metros à frente descemos por duas cordas e chegamos 13h30min na Cascata Dourada. Um lugar lindo, tranquilo e fresco onde paramos para almoçar.
 Às 14h50min saímos da Cascata Dourada sentido Morro Pelado e em 40 minutos às 15h30min chegamos na Asa do Avião que tem bem próximo ao Cume do Morro Pelado. Pausa para fotos, tomar uma água e continua a caminhada. Em 2 minutos passamos pelo Cume do morro Pelado aonde só tem a trilha e logo em seguida já inicia a descida pelos campos de altitude da face Oeste da Montanha.
 É grande o vale que divide o Morro Pelado do Chapéu e Espinhento, mas mesmo assim a descida foi rápida e sem maiores dificuldades, ainda se encontra uma fitinha aqui e outra acolá. Saímos do vale e às 18h15min passamos por mais um campo de altitude, aonde do lado direito se avista o Morro denominado Chapéu e do lado esquerdo o Espinhento e ainda mais a frente do lado esquerdo o Chapeuzinho.
Na saída desse campo de altitude para descer em direção ao Vale que separa as montanhas citadas aos Alvoradas 1, 2, 3 e 4 tivemos um contratempo. A trilha que seguia sentido vale num determinado momento acabava do nada numa quiçaça miserável que quase não dava para passar. Essa parte nos tirou um pouquinho a paciência, pois o GPS marcava que a trilha ia para um lado, a trilha ia para outro e ambas acabavam numa quiçaça maldita. Após alguns minutos perdidos ali decidimos dobrar a quiçaça no peito e nos enfiamos nela forçando a passagem. Depois de alguns longos metros estávamos novamente dentro da mata fechada.
 Aí a descida se deu um tanto quanto cautelosa, pois as famosas gretas cresciam ao nosso redor.
Era uma greta maior que a outra, um buraco mais profundo e escuro que o outro. Ali se você cair, ou chegará ao Japão ou no colo do capeta.
Brincadeiras a parte, ali em meio a tantas gretas o negócio se torna um pouco assustador.
 Após descer o vale e chegar quase ao fundo do mesmo já era quase 20h. No GPS apontava aproximadamente apenas 160 metros da nossa localidade até a área de acampamento três, local onde passaríamos a noite.
 Nesse momento começamos a procurar a AC3 e não encontrávamos, o GPS começou a ficar desorientado por estarmos no fundo do vale. Andávamos sentido a área de acampamento, mas nunca chegávamos. Quando nos aproximávamos aparecia uma greta que não nos deixava passar e éramos obrigados a voltar e procurar outra passagem. A procura se estendeu até às 22h. O GPS marcava cerca de 30 metros até a AC3 e não conseguíamos chegar até ela.
 Encontramos ao lado de uma greta duas grandes pedras que no meio delas se formava um bivac. Foi ali mesmo que estendemos uma lona em cima da pedra e esticamos nossos esqueletos cansados para desmaiar até às 6 horas da manhã do dia seguinte. Com exceção do Taqueda que não levou saco de dormir e quase foi levado pelos mosquitos greta adentro.
 DIA 2
 Na terça-feira dia 09 começamos a caminhar às 7h da manhã. Saímos do nosso “bivac”, passamos por cima de uma grande pedra, ao lado de uma greta e… tcharãm! Chegamos na Área de Acampamento 3.
 Após alguns minutos tentando farejar alguma trilha, mas sem sucesso, resolvemos continuar descendo acompanhando um rio subterrâneo que existe ali. Com o GPS ainda meio desorientado fomos subindo o vale do outro lado do rio subterrâneo.
 Sem encontrar rastros de trilha esse foi um momento muito decisivo na travessia. Já era 07h50min da manhã e ainda não tínhamos conseguido progredir na caminhada. Foi nesse momento que o Miguel disse que estava pensando seriamente em voltar, pois já tinha nos avisado que iria junto, mas se chegássemos próximo dos Alvoradas e a trilha estivesse muito fechada iria desistir da travessia e voltar. Foi aí que decidimos que iriamos tentar até as 10h00min da manhã e se não progredisse voltaríamos pelo Ângelo, Leão, Boa Vista e Olimpo.
Desse momento em diante a caminhada começou a render. Quase sem água, encontramos um pequeno buraco com uma água geladinha que surgia de dentro do mesmo. Paramos aí para tomar um café da manhã regado a pão amassado, barrinha de cereais e muita água fresca.
Subimos o vale que costeia o Alvorada 1 a sua direita e às 10h55min pisamos no Cume do Alvorada 2. Aqui a alegria foi geral, já podíamos entender que voltar estava descartado e o único destino seria o Morro do Canal. Conseguimos contato no 3G e avisamos os amigos e parentes que torciam pelo nosso sucesso nessa empreitada.
 Pausa para descanso e partimos sentido o Alvorada 3, montanha que atingimos o cume em pouco menos de 1 hora às 11h55min.
 Partimos com rapidez para costear o Alvorada 4 e descer o vale que divide o mesmo da Montanha denominada Mesa. Descemos o vale e às 13h40min paramos para fazer um belo macarrão para repor as energias.
 Como todo grupo tem aquele cara azarado, o nosso não podia ser diferente. Após terminar de cozinhar o macarrão o Israel conseguiu derrubar a panela que se equilibrava no fogareiro e deu um banho de água fria em todos. Mais que depressa o Miguel meteu a mão no macarrão que caiu e conseguiu juntar o que havia ficado por cima e não tinha sujado. Afinal, já havíamos comido tanto mato até ali que um macarrãozinho com algum matinho junto não seria mais que um tempero rsrs…
 Após o almoço às 15h00min partimos vale acima, com mais mato na cara, trilha fechada. Perde trilha, acha trilha, uma fita aqui e outras acolá passamos ao lado de uma grande arvore com sua base podre onde formava uma pequena gruta dentro dela. 30 minutos mais tarde já pisávamos o Cume do Morro Mesa às 16h30min.
Pausa para tirar umas chapas, apreciar a belíssima paisagem que se vê a Leste os Alvoradas, Pelado, Angelo, Leão, Bandeirante. A Oeste o Sem Nome, Carvalho e Torre Amarela e também a cidade de Curitiba e região. A Norte a Serra da Baitaca e a Sul a Serra da Igreja, Torre da Prata, BR 277, Litoral do Paraná e também a Baía de Antonina.
 Daí em diante nas contas seria apenas mais 5 ou 6 horas para finalizar a travessia, mas não foi isso que aconteceu. Saímos às 17h00min do Mesa e iniciamos a descida do vale que o divide do Sem Nome. As 18h00min começou uma garoa leve, mas pelo barulho dos trovões podíamos ver que só estava leve porque estávamos dentro do vale. Pausa numa gruta para colocar a Anorak e comer uma bolachinha e segue a caminhada. Atingimos o cume do Sem Nome e sem parar iniciamos a descida.
Quando estávamos no fundo do vale entre o Sem Nome e o Carvalho começou a escurecer. Agora já com a chuva atrapalhando veio para somar a noite também.
 Tivemos uma grande perdida nesse momento, já estávamos muito cansados pois já eram 13 horas de caminhada desde que iniciamos o dia.
 Já estávamos ficando um pouco sem paciência para essas perdidas e já se via um grupo que queria sumir dali o quanto antes.
 Depois de varar uns bons metros de mato bem fechado chegamos ao Acampamento Fantasma. Local interessante que chama a atenção, pois ali tem um Bivac com uma lona azul esticada, um fogareiro antigo embaixo do bivac e ao lado um varal com luvas, botas, mochila e uma aparente camiseta rasgada.
 Já passava das 21h00min e em nossos planos já deveríamos estar chegando no Morro Canal. Alcançamos o Cume do Carvalho e já iniciamos a sua descida pela face Oeste por uma trilha que desce até que um tanto quanto vertical por cordas dentro de um pequeno riozinho.
 Daí em diante a caminhada foi muito cansativa. O Israel começou a sentir o cansaço e começou a andar num ritmo mais fraco. Colocamos ele na frente para ver se a trip rendia um pouco mais. Quase chegando ao cume do Ferradura o Israel ficou para trás e chegamos no cume do mesmo às 01h10min da manhã do dia 10 de fevereiro.
 O Israel começou a demorar para chegar e meia hora mais tarde ouvimos os seus gritos. Fui ao seu encontro e quando cheguei ele estava estagnado com frio e suas cochas bem assadas. Disse que iria colocar uma calça seca para continuar andando e assim o fez.
 Saímos do Cume do Ferradura por volta de 02h30min da madrugada e fomos em direção a penúltima montanha da travessia, a Torre do Vigia. Quando estávamos quase chegando no cume da Torre do Vigia por volta das 04h30min o Israel parou de vez e disse que não conseguiria terminar a travessia conosco devido as fortes dores com as assaduras e que iria bivacar por ali mesmo até o amanhecer e então iria descer com mais tranquilidade.
 E foi isso que aconteceu. Deixamos o parceiro Israel ali quase no cume da torre do Vigia, mas é bom lembrar que ele estava preparado com lona, comida e deixamos também alguns cobertores de emergência.
 Enviamos uma mensagem para o parceiro Marcelo dizendo que estávamos no Vigia e que já poderia ir nos resgatar. Lembrando que o Taqueda pediu 4 toalhas brancas e roupas secas. Pra que isso Taqueda? Rsrsrs…
 Seguimos em direção ao Morro no Canal e às 06h00min da manhã pisamos em seu cume. Sem perder tempo descemos o Morro do Canal com suas inúmeras escadinhas e cordas. Pontualmente às 7 horas da manhã do dia 10 de fevereiro de 2016, 24 horas depois de começar a andar no dia anterior vibramos ao chegar na Chácara do Zézinho em Piraquara. Gritamos, apertamos as mãos e nos alegramos pelo feito.
 Ali o Marcelo nos esperava com Gatorade, chocolates e apenas uma toalha, e que nem branca era rsrsrs…
 Agradecemos a todos que nos apoiaram e de alguma forma nos ajudaram a concluir a famosa Travessia Alpha Ômega.
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Sobre o autor

Kelvin Lago

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