Travessia Ciririca x Pico Paraná de ataque e sozinho

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Naquela noite fria do dia 11 de julho eu iniciava a trilha no bolinha exatamente às 02h08 sozinho e com o objetivo de andar o dia inteiro e conseguir fazer de ataque duas das montanhas mais difíceis da nossa Serra do Ibitiraquire:  o Ciririca e o Pico Paraná nessa sequência. Fui informado pelo Bolinha que tinha outros grupos na trilha e um deles meia hora a minha frente. Imaginei que  iria encontrá-los pois estava sozinho e andaria mais rápido. Ás 02h57 estava na bifurcação do Camapuã e assim segui meu caminho pelo grande vale que se sucede até o morro do Ciririca.

Primeiro cume desse desafio.

Não demorou e encontrei um grupo com quatro amigos de Campina Grande do Sul. Conversamos e caminhamos juntos por um tempo mas logo segui em frente devido ao meu objetivo. Mais a frente, avistei mais luzes no vale. Eram três amigos com o mesmo objetivo de todos ali, conquistar o difícil cume do Ciririca. Troquei algumas palavras e segui em frente sabendo que no retorno ou no cume os encontraria novamente.

Segui meu caminho e fui o mais breve possível, logo estava na bifurcação do vale da última chance. Eram 05h32 e logo começaria a subida do morro. Mas antes parei para beber água no vale e recarregar as energias.

Durante a subida já era possível ver o céu mudando de cor e aquela que foi uma das mais lindas manhãs que já presenciei, com um nascer do sol já na parte alta, avistando a sombra do majestoso Pico Paraná de um lado e do outro as placas do cume do Ciririca para onde eu me dirigi.

Não sem antes cair no barro no meio da trilha. Um tombo pra acordar! Ás 06h29 estava no cume do morro totalizando 04h19 de trilha. Um grupo acampava no cume e saíram pra ver o nascer do sol, no entanto alguns permaneceram nas suas barracas, acredito que devido ao frio naquela manhã. O céu estava em uma cor roxa em contraste com as Caratuvas verdes e marrons queimadas pelo frio. Uma das melhores manhãs que já vi com o sol nascendo à direita do Pico Paraná, um espetáculo da natureza.

Amanhecer no Ciririca.

Depois disso tomei meu café e resolvi seguir meu caminho. Ás 07h19 já estava descendo o morro sentido o vale da última chance, devido a não haver uma trilha que vá sentido luar sem ter que descer ao vale.  Na descida encontrei meus amigos da noite anterior, cumprimentei e segui em frente.

Pausa para um merecido café.

Desci o vale e comecei a subida sentido o Sirizinho e Siri, e consecutivamente o Luar. Já no vale entre o Siri e o Luar encontrei uma dupla fazendo o caminho inverso ao meu. Conversamos brevemente tiramos uma foto e nos despedimos. Nesse momento comecei a subida sentido ao Luar e senti fortes cãibras nas cochas. Ali naquelas subidas a minha mente estava afetada, pois me questionava se conseguiria. No entanto, às 09h16 alcançava o cume do Luar.

Mais um encontro na montanha.

Depois de uma breve observação continuei sentido Cerro Verde, no vale entre o Cerro Verde e o Tucum acabei pegando uma trilha errada e quando vi estava indo ao encontro do paredão do Tucum assim tendo que retornar por alguns minutos até a bifurcação sentido Cerro Verde. Mesmo passando a cinco minutos do cume do Cerro Verde eu resolvi por não ir até lá, pois meu objetivo maior agora era o Pico Paraná e teria que passar pelo Itapiroca antes disso. Na descida do Cerro Verde um grupo que acampava no Itapiroca estava subindo,  dei a preferência pois estavam subindo e de cargueira. Conversamos brevemente e segui descendo até a bifurcação do Itapiroca/Taquapiroca/Cerro Verde, onde a face acredito que Sul do Itapiroca mostrava o porque aquele era o quinto maior do Sul do Brasil. A dúvida estava sempre comigo olhando o Itapiroca e o Pico Paraná a direita mas continuei seguindo para o Itapiroca com o objetivo de até meio dia estar no cume.

E assim ocorreu depois de uma subida que foi talvez a mais difícil daquele dia. Conquistei o cume do Itapiroca, fiz uma breve pausa para tomar água e me alimentar. Agora estava na reta final, sem contar o retorno. Na descida do Itapiroca, assim como na trilha do Pico Paraná, encontrei muitas pessoas com seus objetivos já concluídos e retornando as fazendas. Eu sozinho seguindo na contra mão daquele povo, segui pelo mar de raízes que me levaram até o A2 onde o medo, as dores e a dúvida já não faziam mais parte dos meus pensamentos. Apenas pensava no retorno, mas não queria me fixar muito nisso e segui sentido A1. Subi pelas laterais da encosta desviando da grande multidão que formava fila pra descer o paredão. Já no A2 conheci três rapazes que também estavam subindo e depois de uma conversa ali parados respirando um pouco decidi que iria com eles. Assim me dariam carona até a fazenda do bolinha, pois o seu carro estava na fazenda do Pico Paraná como todos ali.

Antes de dar continuidade, encontrei um grande amigo Alex Pavanelo que no ano anterior tinha me incentivado a essa travessia, juntos fizemos mais de 120 morros no ano anterior, e foi uma grande alegria encontrá-lo ali. Seguimos rumo ao cume do Pico Paraná em um ritmo mais lento. Comecei a acompanhar os meninos e chegamos ao cume as 15h12 onde permanecemos por volta de duas horas.

Encontrar os amigos na trilha é sempre um incentivo a mais.

Começamos a descida às 17h00, todos  cansados e com pouca água. Logo o sol se pôs e as lanternas foram ligadas. Já durante a noite, naquele vale de raízes que parecem que nunca acabam, paramos pegar água e descansar um pouco. Caminhávamos em ritmos diferentes, mas não dávamos muita distância uns dos outros, às 20h51 chegamos na bifurcação do Itapiroca por onde vim naquela tarde e agora retornava sentido fazenda do Pico Paraná. Paramos bastante nesse caminho devido a dores e  e cansaço de alguns do grupo, dividi minha comida com eles e seguimos. As pernas pareciam que seguiam no automático até que às 22h52 chegamos na bifurcação do Caratuva. Agora era só o Getúlio e a fazenda para terminar a aventura. Nessa altura já tinha caminhado cerca de 28 km. Pouco depois da bifurcação do Itapiroca minha bateria acabou e encerrei o aplicativo de marcação e por volta das 01h00 eu terminava a travessia na fazenda do Pico Paraná. Só tenho a agradecer a todos que fizeram parte desta travessia, porque mesmo estando sozinho tive muitos companheiros durante essa aventura.

 

Por Robson Lopes Roque

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Sobre o autor

3 Comentários

  1. Parabéns pia vc e guerreiro e um grande conquistador de seus objetivos essa e apenas uma hi de seus grandes feitos pela natureza….

  2. Parabéns pia vc e guerreiro e um grande conquistador de seus objetivos essa e apenas uma história de seus grandes feitos pela natureza….

  3. Ana Paula Cordeiro de Paula em

    Que relato, incrível de um cara muito bacana, que com poucas palavras deixa sua simpatia na memória dos que cruzam seu caminho nas trilhas, parsby pelas conquistas, pela determinação e principalmente pelas dicas memórias que está registrado em sua mente e em seus posts, que Deus te acompanhe sempre nessas aventuras incríveis.

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