Um Domingo em casa grande

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Cerca de dois anos atrás, qdo dei minhas primeiras xeretadas na região de Casa Grande (extremo leste de Biritiba-Mirim), percebi o gde potencial da região no quesito pernadas e banhos refrescantes. Mas como nem td são rosas, havia necessidade de acerto duma logística mais apropriada pra visitações mais freqüentes. Longe de tudo e lugar nenhum conforme a carta de Salesópolis confirma, o região é servida de apenas duma única linha de transporte público. E mesmo assim, de horário irregulares e esdrúxulos durante os fds. Pois bem, este é o relato duma nova investida descompromissada a Casa Grande, desta vez no conforto e praticidade dum veiculo particular. Um breve bate-volta sussa dominical com trilha, perdidos e tchibum nas corredeiras do borbulhante Rio Claro. E q contou, inclusive, com cia mirim e canina.

 

A manhã comecara quente e abafada, porém permeada de céu azul, qdo pegamos o Ricardo em Mogi depois das 9hrs, na frente da Estação Estudantes. Imediatamente tomamos a SP-88 sentido Biritiba-Mirim, afim de otimizar ao máximo aquele domingo calorento, pois a meteorologia previa pancadas a partir de meados da tarde. A idéia era fazer alguma breve exploração (com o mínimo de esforço possivel, diga-se de passagem) e depois emendar um tchibum nalguma cachu, poço ou rio das redondezas. Em tempo, no veiculo estavam além deste q vos escreve e do Ricardo, a Renata e a Carol, q por sua vez trouxe a tiracolo sua cria, a rebenta espoleta Sophia (Sossô, para os mais chegados) e a Chiara, q integrou a trupe como único componente canino da vez, por sinal, mais espoleta e espivetada ainda.

Muita conversa furada embalou a viagem, onde as janelas do veiculo emolduravam plantações e baixos morros, paisagens recorrentes do “Cinturão Verde” mogiano. Mas foi qdo o asfalto deu lugar a uma estrada de chão q a aventura dava sinais de, enfim, ter começado. Cercada de verdejante mata de ambos os lados, a SP-92, a “Estrada de Casa Grande” (tb chamada de “Estrada do Carapicó” pelos locais) não prima muito pelas boas condições, de onde deduzimos a pouca freqüência de transporte publico. Larga, esburacada e irregular, a Carol pos em prática sua habilidade no volante o suficiente pra ser aprovada no “Paris-Dakar”, dadas as enormes poças cobrindo boa parte da via durante o trajeto, levantando ondas de barro altas o suficiente não somente a possibilitar aos sapos e pererecas do trajeto a pratica de surfe de qualidade, como tb refrescar o braço e rosto deste q vos agora fala. Mas entre uma chacoalhada e outra, havia raros momentos em q a via parecia amansar em trechos largos e planos, nos quais era possivel apreciar a paisagem q se descortinava a cada curva da viagem.

Passamos pelo pacato Bairro da Terceira, q se resume a um punhado de casas e chácaras ao largo da estrada, e continuamos estrada acima. Serpenteando a morraria sgte percebemos começar a adentrar nos domínios de fazendas de reflorestamento da Suzano, salpicado de alguns trechos forrados de mata secundaria. Aqui a estrada deu uma trégua no quesito precariedade e ficou ate boazinha, e desse jeito seguimos ate chegar na Estação Casa Grande da Sabesp, na verdade a Estação de Tratamento Rio Claro, um curso dagua q já nos acompanhava a algum tempo com o som borbulhante de corredeiras encachoeiradas pela esquerda.

Ignorando a entrada em propriedade particular da Sabesp, tocamos ainda pela estrada principal, q pelo emplacamento termina em Salesópolis, alguns bons kms ao norte. Aqui novamente a estrada piorou demandando novamente as habilidades inatas da motorista, e q animou a Chiara q – como qq cadelinha curiosa – apoiou suas curtas patinhas na janela afim de sentir melhor aquela miscelânea enorme de cheiros naturebas q somente o seu olfato mais apurado consegue perceber. As vezes o veiculo parecia mergulhar de cabeça nas poças escuras ou ser engolido por voçorocas de lírios-do-brejo no caminho, mas aqui essa emoção era recorrente e ate normal de quem resolve tomar estes atalhos pra Salesopolis. De preferência de moto ou bike, claro.

Mas após cruzar uma ponte de concreto sobre o Ribeirão do Campo (q depois a carta confirmou ser o Rio Grande) , passar por um improvável povoado no meio de nada e lugar nenhum, e de ignorar a Estrada do Repiado, nos enfiamos num emaranhado de estradas secundarias de reflorestamento (de eucaliptos) q se não tiver conhecimento prévio do lugar é pedir decerto pra se perder na certa. Por sorte o Ricardo já perambulara aqui na semana anterior e sabia aproximadamente onde parar o veiculo pra começar a andar por trilha propriamente dito.

E assim após muito remelexo, encostamos o carro numa clareira nos cafundós de Casa Grande as 10:45hrs. Finalmente pudemos esticar o corpo, q ate então estava relativamente moído e recém saido duma maquina de lavar de quatro rodas. A Chiara nem esperou abrir a porta q já se pirulitou pra fora afim de demarcar seu território com o q fosse, “numero um” ou “numero dois”. Arrumamos as coisas, estica aqui e ali, e pronto. Pé na trilha! Aqui o Ricardo coletara previamente c/ locais algumas infos (imprecisas, diga-se de passagem) dum belo poção perdido no meio da morraria, cujo acesso se dava por uma picada relativametne curta. E la nos estavamos pra verificar se essa info procedia ou não. Isso levando em conta q os arredores estavam repletos de picadas entrando aqui e ali.


Mergulhamos enton numa picada de reflorestamento em desuso na sequencia, subindo suavemente a encosta dum morro. O comecinho estava relativamente batido, com sinais óbvios de mato pisado, mas não demorou pra tal vereda mostrar mais mato alto cobrindo ela. Mas ainda assim, seguimos em frente, firmes e fortes, crentes q estavamos no rumo certo. A Chiara não demorou a tomar a dianteira, mas com o mato alto so percebíamos a presença dela qdo assomava seu alongado focinho capinzal acima, feito periscópio, ou qdo saltava feito cabrita os obstáculos do caminho. “Cuidado ai, Chiara! Não chega perto senão te corto ao meio e vc vira um chihuahua!”, falou o Ricardo, q abria caminho com um possante facão.

Mas enqto avançávamos mais e mais, subindo em largos ziguezagues a encosta do morro, foram surgindo duvidas com relação a se aquela la era ou não a picada correta. As infos começaram a não bater com aquilo q estava se apresentando a nossa frente. Pra complicar mais a situação, a Sossô, q inicialmente comecara animada na pernada, não escondia em seu pequeno semblante o fato de não estar gostando de estar ali, varando mato. Explico: mesmo com o Ricardo abrindo caminho no facão, o chão ainda permanecia forrado de mata até as canelas, o q alem de cobrir a desajeitada guria de espinhos e carrapichos, causou-lhe tombos em mais duma ocasião. Como não bastasse, a pequena infante já tivera uma experiência “traumática” de vara-mato com este q vos escreve , em Paranapiacaba, e prometera a si mesma nunca mais repetir a dose. “Você disse q tinha trilha!”, resmungou ela, com cara de choro. 

Como era mais q obvio q aquela la não era a picada certa, conversei com o Ricardo a respeito pra deixar a exploração pruma outra ocasião. Afinal, não estavamos em condições de vara-mato a esmo. Não com aquela miúda cia e nao sem q eu pulasse no pescoço dela diante nova queixa, claro! E tb não poderíamos dar uma de Capitão Nascimento, já q a proposta não era nada tão assim..dificil. E pensando melhor, a gente tb não tava muito afim de nada muito desgastante e incerto, pois o calor naquele horário já tava começando a pegar forte e um banho certo e garantido era a melhor pedida naquele momento. 

Dessa forma, em comum acordo, abandonamos a idéia da tal picada e retornamos pelo mesmo caminho ao veiculo, quase ao meio-dia, onde fizemos um lanchinho rápido. Logicamente q nossa boquinha foi acompanhada pelo olhar fulminante da pequena e esfomeada basset, q parecia ter um saco-sem-fundo no estômago, pois a cada naco de lanche oferecido a bichinha pedia mais e mais! Na sequencia, pegamos estrada e retornamos td trajeto feito ate ali, com algumas breves paradas pra clicar o espelho dágua da Represa Ponte Nova, as saracuras (frango-da-agua) assustadas na estrada, a Barragem do Rio Claro e os remansos fluviais do Rio Grande. 

Enfim, por volta das 13:30hrs paramos á beira da estrada, onde outros veículos tb estavam estacionados. O som dum rio encachoeirado era parcialmente visível pelas brechas da mata, mas perfeitametne audível de onde fosse, soava feito musica aos ouvidos naquele horário calorento. Descemos um barranco atraves duma trilha ingreme ate desembocar nas margens do cristalino Rio Claro, q derramava-se por sucessivos lajedos encachoeirados por td trajeto. Aqui é necessário passar por outro lado, processo q é feito atraves de duas pinguelas decrépitas consecutivas, dignas de filme do Indiana Jones, q tornam a travessia adrenante, tanto é q tivemos q colocar uma assustada Chiara dentro da mochila por precaução.
Do outro lado do rio, uma lacônica placa da prefeitura de Salesópolis alerta pra não jogar lixo nos arredores e preservar a natureza. Mas esperar q um lugar paradisíaco como este e de facílimo acesso, bem do lado da estrada, fique isento de “farofa” e muvuca seria pedir demais. Nos lajedos e pedras próximos ás pontes, qq semelhança com o balneário do Hopi Hari será mera coincidência: famílias inteiras banhava-se e emporcalhava as margens com garrafas pets, embalagems de salgadinhos, latas de cerveja e td sorte de lixo imaginável. Foi qdo minhas narinas sentiram o odor de churrasco q vi um casal de jovens, assando numa pequena grelha do lado do rio, um suculento par de bifes, q tive a real noção da falta de consciencia ambiental das pessoas. Mas q o cheiro do churras tava bom, isso tava.

Logicamente q não íamos ficar no meio daquela farofa, e nos pirulitamos rio acima, onde teríamos mais privacidade e um contato com a natureza mais reservado, isento de td e qq sujeira humana. Inicialmente fomos pelas pedras mesmo, saltando lajedos e chapinhando brejos, mas depois mergulhamos numa precária trilha q tocava pela margem esquerda do rio, subindo o dito cujo em meio a muita mata. Aqui novamente a Chiara se impôs e deu uma de “guia”, mostrando o caminho pra gente. Alguns obstáculos e matinha alta surgem como obstáculos, sem falar nas bifurcações q surgem a td hora embora o sentido seja meio intuitivo, daí é natural deduzir o motivo da muvuca não se estender pra cá: esforço e medo de se perder. Em tempo, este trecho pra mim era novidade, já q so conhecia anteriormente ate as pinguelas.
Dessa forma, em menos de meia hora após estacionar o veiculo, a picada desemboca as margens lajotadas do Rio Claro. Vestígios da base de sustentação do q foi outrora uma ponte de concreto dominam a paisagem, assim como as corredeiras furiosas do ribeirão q, afuniladas, cavam um pequeno e estreito cânion q por sua vez despeja suas águas em vários piscinões sucessivos, mais embaixo. Aqui em cima podemos observar o manso Rio Claro reunir dois braços após separar uma simpática ilhota de mato e pedra, pra dali descer pelas pedras de forma mais furiosa.

Mas a gente não iria permanecer ali não, e começa a descer pelas pedras cautelosamente afim de ficar do lado daquelas convidativas piscinas naturebas. E td cuidado é pouco pq algumas rochas tavam lisas feito sabão e qq descuido era tombo na certa. Exceto pra Chiara, claro, cujas patinhas tinham oportunas agarras naturebas sob a forma de enormes unhas q deixariam o José Mojica Marins ruborizado de vergonha. Teve apenas um trecho em q a danada caiu e ficou entalada, mas q teve por sorte a “assistência técnica” da Carol pra sair do buraco onde ela havia se metido.

Uma vez nelas, jogamos as mochilas nas enormes lajotas inclinadas e nos presenteamos com um merecido e refrescante tchibum, banho do qual nem a integrante canina escapou. Tanto q bem antes de entrar na água (á força, claro) a elétrica pulguenta já “acionava” suas patinhas instantaneamente, já prevendo q teria q “nadar de cachorrinho” pra sair dali! E não é q a bichinha era um torpedo espichado e amarronazado na água?? Te cuida, comissão olímpica de natação! E assim permanecemos um tantão naquele nosso paraíso particular, longe da farofa, curtindo o restante daquele domingo ensolarado. A Sossô, q na primeira etapa da trip resmungava, agora irradiava alegria a cada mergulho naquela piscina olímpica praticametne nossa.

Após nadar, fazer uma nova boquinha e ate tirar um cochilo nas pedras (q o diga a Renata, q mal dormira devido á gandaia!) percebemos o horario avançado q era, quase16:30hrs! Vendo q o tempo já comecava a se cobrir com nuvens mais carregadas, pegamos nossas tralhas e refizemos o caminho de volta na trilha. Olhando por sobre o ombro, damos nosso adeus àquelas refescantes e bem-vindas corredeiras, pra num piscar de olhos transpor a sequencia de pinguelas-balança-mas-não-cai e, enfim, chegar no veiculo. É, já quase não havia mais ninguém ali, somente o nosso carro estacionado. A muvuca deixara finalmente o Rio Claro.
Antes de tomar o asfalto definitivo de volta, tivemos uma breve parada no Bairro da Terceira, onde bebemoramos (e beliscamos) aquele domingo atipico de calor naqueles cafundós naturebas de Biritiba-Mirim. Desnecessario dizer q durante o resto da viagem td mundo, exceto a motorista, desabou invariavelmetne nos braços de Morpheus, principalmente no banco traseiro. E a chuva prevista? Bem, ela veio com força pela noite, mas ate la já estavamos em casa.

Se perguntar por ai, nove entre dez pessoas lhe dirão jamais ter ouvido falar de Casa Grande. Desconhecida do gde público – exceto, quiçá, em Biritiba-Mirim e Salesópolis – a região fica a pouco mais de duas horas da maior Metrópole do pais e é repleta de serras verdejantes, um emaranhado de estradas e trilhas a serem percorridas (a pé ou bike) e, o melhor, muitos rios encachoeirados pra mergulhar num dia de sol. Uma região promissora sem as restrições estúpidas dos parques e inteiramente desconhecida da mídia esperando pra ser explorada. Uma oportunidade perfeita pra levar crianças a um lugar ainda selvagem. E se preferir tb, uma chance rara pra levar o “melhor amigo do homem”.

Jorge Soto
http://www.brasilvertical.com.br/antigo/l_trek.html
http://jorgebeer.multiply.com/photos

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Sobre o autor

Jorge Soto é mochileiro, trilheiro e montanhista desde 1993. Natural de Santiago, Chile, reside atualmente em São Paulo. Designer e ilustrador por profissão, ele adora trilhar por lugares inusitados bem próximos da urbe e disponibilizar as informações á comunidade outdoor.

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