A história de Juliana Marins comoveu o Brasil nos último dias, mas também revelou personagens marcantes pela compaixão e coragem. Um deles foi o montanhista indonésio Agam, que deixou tudo de lado para se voluntariar no resgate da jovem brasileira, que sofreu uma queda no Monte Rinjani, na Indonésia.
Após dias sem resposta, Agam e sua equipe foram os primeiros a alcançar Juliana, enfrentando um resgate extremamente perigoso em terreno instável, sob frio intenso e com visibilidade prejudicada pela neblina. Infelizmente ao encontrar Juliana, ela já estava sem vida. Então o montanhista contou que ele e seus parceiros passaram uma madrugada inteira ao lado do corpo, para evitar que ela escorregasse ainda mais pela encosta. Em entrevistas, ele relatou ter corrido riscos graves: “Não sei como não morri de frio”, disse.
Apesar de não terem conseguido salvar Juliana com vida — por causa das dificuldades de acesso e da falta de equipamentos —, a ação dos voluntários foi reconhecida por internautas brasileiros, que se comoveram com o esforço para permitir à família uma despedida digna.
Em forma de agradecimento, mais de 27 mil internautas se mobilizaram em uma vaquinha online organizada pelo site Razões para Acreditar. Em poucas horas, mais de R$ 350 mil foram arrecadados para o montanhista e sua equipe. A meta inicial era de R$ 100 mil, mas foi dobrada para R$ 200 mil em cerca de uma hora, depois que Agam prometeu dividir o valor com os colegas socorristas. A arrecadação superou os R$ 350 mil em cerca de seis horas.
Segundo o texto da campanha, a vaquinha foi um “abraço do Brasil inteiro para um homem que fez o impossível — só para que uma família pudesse se despedir da filha”.
Agam, conhecido por atuar em outros resgates de alta dificuldade, inicialmente resistiu a receber doações, dizendo que fez tudo “de coração”. No entanto, acabou aceitando após prometer que parte do dinheiro seria compartilhada com os outros resgatistas e investida em projetos de reflorestamento nos montes da Indonésia.
Além da vaquinha oficial, ele também começou a receber doações por transferências diretas depois que seus dados bancários foram divulgados nas redes sociais — algo que ele havia relutado em fazer no início.
A comoção foi tão grande que o perfil de Agam nas redes sociais ultrapassou 1 milhão de seguidores. Em uma transmissão ao vivo no dia 25/06, ele agradeceu o apoio e pediu desculpas por não ter conseguido resgatar Juliana com vida. “Ele disse que fez o melhor que podia. Infelizmente, os resgates do Rinjani são os mais difíceis”, traduziu uma tradutora durante a live. Segundo Agam, ele e outros sete resgatistas sabiam que, se chovesse um pouco mais, todos poderiam morrer juntos.
Apesar das críticas à demora oficial no resgate — atribuída à falta de equipamentos e condições meteorológicas adversas —, a atuação de Agam e dos outros voluntários foi amplamente reconhecida e elogiada, destacando um raro exemplo de solidariedade e coragem.
Traslado
Por outro lado, a família de Juliana vem denunciando perfils falsos na Internet e campanhas de arrecadação de dinheiro para financiar o resgate e translado do corpo. As vaquinhas fakes começaram assim que o caso ganhou repercussão.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) conversou por telefone nesta quinta-feira (26) com Manoel Marins, pai de Juliana Marins, jovem de 26 anos que morreu depois de quatro dias aguardando resgate no Monte Rinjani, na Indonésia. Durante a ligação, Lula prestou solidariedade e anunciou ter determinado ao Ministério das Relações Exteriores (Itamaraty) que preste “todo o apoio” à família, incluindo o translado do corpo da jovem ao Brasil .
O anúncio marca uma reversão da postura oficial anterior do Itamaraty, que alegava não ter competência legal nem recursos para custear o transporte de restos mortais de brasileiros falecidos no exterior, conforme estabelece o decreto 9.199/2017 .
O prefeito de Niterói (RJ), cidade natal da jovem, Rodrigo Neves (PDT) também se prontificou para arcar com os custos do translado, estimados entre US$ 6 000 e US$ 8 000 (ou cerca de R$ 60 000) . Neves prepara uma reunião com a família, enquanto aguarda o retorno oficial da iniciativa do Itamaraty.