Vulcão Lanin

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Parece que os desejos de boa sorte estão me ajudando.
Mesmo contra alguns fatores negativos, consegui realizar meu sonho de escalar o vulcão Lanin, que fica a 67km de Junin de Los Andes, patagônia Argentina.


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Explico melhor…

Resolvi escalar o vulcão sozinho mesmo antes de viajar. Mas quando estava alugando crampons acabei conhecendo um espanhol muito figura, o Krhistian “Pau” (e o apelido dele!), e combinamos a parceria pra escalada.

Ontem pegamos um ônibus e descemos na portaria do parque para pedir o permisso. Tudo certo, começamos a subir as 13h.

Tem gente que diz que e fácil, não e! No primeiro dia, o desnível e de 1160 metros, em uma moraina vulcânica maldita, dois passos pra frente, um pra trás. Isso com uma temperatura “agradável” de 34 graus Celsius e 20kg na mochila entre roupas e equipos. Pxxx xxxxx!

Não pára por ai, o parque é infestado de mutucas gigantes! Levei umas 50 picadas, mas matei quase vinte. Elas seguem você até no glaciar, incrível!

Quando estávamos a 2000 metros, tive um ataque repetitivo de câimbras malditas, gritava de dor, mas não desisti. Sabia que era porque não tinha comido nada, esforço físico puxado demais depois de 2 meses sem nenhuma atividade em montanha…Não me dei por vencido, me arrastei literalmente ate o final da empreitada do dia, o Refugio 1 a 2315 metros.

O Pau chegou primeiro, ele e mais apressado e eu queria desfrutar da montanha ao máximo, ou seja, mesmo estando juntos, eu estava preparado pra fazer a escalada em solo mesmo.

Comi feito um desesperado, muitos energéticos, mel, chocolate, macarrão, 3 sopas e umas 6 salsichas, parei quando não dava mais. Era uma tentativa desesperada de me recuperar pra escalada que se iniciaria depois de poucas horas e seria pior, 1450 metros de desnível até o cume!

Os militares do abrigo ficaram me zoando o tempo todo, duvidaram que eu sequer tentaria o cume depois de um dia tão desgraçado…OK, fui dormir as 20:30h e isso só me deu mais forca.

Levantei a uma e meia da madruga, Pau também, saímos juntos as 02:20h, escuridão total, céu mais estrelado não havia. Frio ridículo de 2 graus. Em cinco minutos ele se distanciou ate que eu só podia ver sua lanterna muitos metros a frente, não me abati e continuei sozinho. Todos os outros que tentariam o cume neste dia sairiam mais tarde, lá pelas 3 da manhã.

Saí da rota normal fazendo uma travessia para a direita, depois de ganhar bastante altitude já, olhei o GPS e marcava 2920 metros. Era 4 da manhã e já havia subido 600 metros,muito bom! A perna estava perfeita.

Depois que vi a altitude, avancei mais um pouco e reencontrei o Pau parado me esperando com duvida do caminho. Fui pegar o GPS de novo e cadê? Caiu e nem vi…Dane-se, não abortaria meu sonho por causa de um GPS, fui embora.

Continuamos juntos por mais uns 100 metros ate que, voltando para a esquerda, chegamos na canaleta. E um glaciar que vence cerca de 500 metros de desnível, com inclinação que varia de 30 a 50 graus! Foi literalmente um tesão escalar a canaleta.

Como no inicio, o Pau sempre ia muito a frente, enquanto eu parava diversas vezes pra fotografar ou filmar. Deste momento em diante, só nos reencontramos no cume, fui totalmente solo.

6h e 40 minutos depois cheguei no cume. Fomos os primeiros do dia. Que cume lindo! Grande, gelado, e a visão: Sem palavras…É possível ver o Villarica bem próximo, o Quetrupillan á frente, o Osorno, o Pontiagudo, o Cerro Santa Julia, o Tronador, o Llaima tbm. E mais uns 5 que nem conheço!!!

Ficamos no cume uns 40 minutos e depois das fotos e de avisarmos por radio ao refúgio que estávamos no cume bem, começamos a descer.

Na descida cruzamos com um grupo de 5 amigos se arrastando pra subir. Descemos a pendente inclinada repleta de formações lindas esculpidas pelo gelo. Fomos embora, descemos com muito cuidado a canaleta e dai pra frente, esqui bunda.

Acho que descemos no total uns 1500 metros de desnível só de esqui bunda!!!

Só paramos no refúgio pra levantar acampamento e arrumar as mochilas, continuamos descendo e juntando esqui bunda e surf nas morainas, chegamos super rápido na portaria apos descer 2600 metros de desnível em apenas 3,5 horas.

E isso ai, estou muito feliz, realizado, com dezenas de picadas de moscas andinas gigantes, com uma bolha no pé direito de uns 4 cms, mas nem ligo. Realizei um sonho!

OBS: O Pau me propôs que se ele encontrasse meu gps no caminho de volta, eu lhe pagasse a janta hoje. Ele tem muita sorte pra encontrar coisas perdidas e me contou casos incríveis. Acreditem, ele encontrou o GPS!!! Daqui ha pouco vou pagar uma hamburguesa gigante pra ele! kkkk

Pra mim foi uma ótima comemoração de 3 anos na montanha, o Lanin finalmente!

Continua…

Veja mais:

&nbsp,Paulo Roberto – Parofes – e a liberdade das montanhas

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Sobre o autor

Parofes, Paulo Roberto Felipe Schmidt (In Memorian) era nascido no Rio, mas morava em São Paulo desde 2007, Historiador por formação. Praticava montanhismo há 8 anos e sua predileção é por montanhas nacionais e montanhas de altitude pouco visitadas, remotas e de difícil acesso. A maior experiência é em montanhas de 5000 metros a 6000 metros nos andes atacameños, norte do Chile, cuja ascensão é realizada por trekking de altitude. Dentre as conquistas pessoais se destaca a primeira escalada brasileira ao vulcão Aucanquilcha de 6.176 metros e a primeira escalada brasileira em solitário do vulcão ativo San Pedro de 6.145 metros, próximo a vila de Ollague. Também se destaca a escalada do vulcão Licancabur de 5.920 metros e vulcão Sairecabur de 6000 metros. Parofes nos deixou no dia 10 de maio de 2014.

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