Apresentação de Antônio Paulo Faria

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Quando escrevo, não sou tímido, talvez por isso eu gosto de escrever. Mas me sinto desconfortável na presença de muitas pessoas, inclusive escalando.

Daí eu não gostar muito do ambiente da escalada chamada de “esportiva”, o que é um termo estranho para mim. Gosto mesmo é de montanha.

Fico envergonhado quando as pessoas, principalmente as que têm idades próximas dos 20 anos, me perguntam quanto tempo eu escalo. Às vezes eu enrolo antes de dizer que escalo há 27 anos sem interrupção, desde os 17 anos de idade. Estranho é que não me sinto “velho”, mas a sociedade insiste nisso. Treinado, eu escalo como qualquer outro moleque, e até melhor!!! O problema hoje é achar tempo e motivação para treinar.

Realmente detesto falar sobre mim, prefiro contar histórias, de preferência, as mais engraçadas ou absurdas. Nunca fui um escalador de ponta, sempre preferi ficar no “topo da média”. Sempre entendi que é melhor trabalhar com amor, que é duradouro, do que com paixão, que é passageira. Eu presenciei a ascensão e queda de muitos, mas muitos escaladores que treinavam o máximo para fazer as vias mais difíceis. Mas aproximadamente de 5 anos depois… Onde estão eles? Nem lembro mais dos nomes. Nove em dez param de escalar logo. Eu continuo… Tento parar, mais não consigo. Está no sangue.

Sem muita pretensão, abri mais de 80 vias de escalada, de esportiva atlética a vias enormes em grande parede. Minha primeira conquista foi em 1983/84, no Parque Nacional da Serra do Caparaó. No final da década de 1980 e anos 90, abri muitas na Serra do Cipó, esportivas e vias em móvel.

No Rio de Janeiro, várias se tornaram clássicas, incluindo: esportivas, em móvel e vias em grandes paredes. Muitos hoje escalam vias abertas por mim em lugares populares, mas sem saber da autoria, como a Crux Com Certeza (9b), Sonho de Consumo (8c) etc. Abri vias também na Argentina, Chile, Canadá, EUA e Marrocos, mas nenhuma delas é grande coisa. É diferente quando a via é planejada, por exemplo, como foram Céu é o Limite (7 VIIb) de 950 m, em Teresópolis (RJ), ou a Sensação de Êxtase (6 VIIb), 200 m, na Pedra da Gávea (Rio), aberta em agosto deste ano. Existem vias que abri que nem lembro mais.  

Realmente meu foco principal é a escalada, mas gosto de longas travessias em montanhas e também esqui, tanto downhill, como cross-country. Esquio anualmente desde 1996! Mas poucos sabem disso, evito comentar por causa das piadas.

Vou muito aos EUA e ao Canadá por causa da minha esposa (americana) e os meus dois filhos de 6 e 7 anos (Denali e Kenai). Todos esquiam e escalam. É impressionante ver aqueles dois protótipos de gente se jogando nas pistas pretas de esqui (equivalem a uma escalada de 5° ou 6° graus). Acima disso são chamadas de “Diamantes Pretos Duplos” e esqui extremo.

Escalei em 12 países: Argentina, Alemanha, Áustria, Brasil, Marrocos, Canadá, Chile, EUA, França, Itália, Peru e Suíça. Posso incluir separadamente Patagônia e Alasca. Fui à Patagônia em 1991 com tentativas no Fitz Roy e na Agulha Poincenot, mas eu praticamente não tinha experiência neste tipo de ambiente, exceto quando fui à Cordilheira Branca (Peru), em 1990. Hoje, já posso dizer que tenho alguma experiência, porque já escalei um número razoável de montanhas em ambientes alpinos em vários países, do Mont Blanc ao Mount Rainier, passando pelo Aconcágua, Chopicalqui etc. Na verdade, foram muitas.

Escrevi muitos artigos para revistas de escalada, o primeiro foi em 1994, para a Climbing, dos EUA. Havia escrito antes para revistas brasileiras, mas que faliram antes dos artigos serem publicados. Dizem que fui o maior contribuidor com artigos para a revista Headwall, escrevi muito para este periódico, mas não sei precisar esta informação.

Também contribui para várias outras revistas: Mountain Voices, Fator2, Horizonte Vertical e, ultimamente, para a Amarican Alpine Journal. Quanto a livros, contribui em vários, mas publiquei o meu próprio em 2006, “Montanhismo Brasileiro: Paixão e Aventura”, onde narro a evolução da escalada brasileira em todos os tempos e todas as modalidades, da escalada esportiva à escalada alpina.

Hoje, além de continuar escalando e conquistando, também leciono cursos de interesse de montanhistas na Universidade Federal do Rio de Janeiro. De forma inédita, criei a disciplina Ambientes de Montanha, para a graduação e para a pós-graduação (mestrado e doutorado) da UFRJ. Tem tudo a ver com escalada! Leciono em universidades desde 1992 (PUC e UERJ). A partir de 1997, passei a trabalhar apenas no Instituto de Geociências da UFRJ.

Quando faço meu histórico, às vezes me espanto, mais por causa do tempo, que passa. Mas sempre encarei isso tudo como uma diversão. Escalar para mim é isto, uma “diversão séria”, que me toma um tempo danado, mas continua sendo uma diversão. Aliás, para mim o importante é escalar uma via bonita, o grau pouco importa. Quando vejo a arrogância de alguns colegas…

É isto…

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Sobre o autor

Antonio Paulo escala há tanto tempo que parece que já nasceu escalando... 30 anos. Até o presente, abriu mais de 200 vias no Brasil e em alguns outros países. Ele gosta de escalar de tudo: blocos, vias esportivas, vias longas em montanhas, vias alpinas... Mas não gosta de artificiais, segundo ele "me parecem mais engenharia que escalar propriamente". Além disso, ele também gosta de esquiar, principalmente esqui alpino no qual pratica desde 1996. A escalada influenciou tanto sua minha vida que resolveu estudar geografia e geologia. Antonio Paulo se tornou doutor em 1996 e ensina em universidades desde 1992. Ele escreveu sobre escalada para muitas revistas nacionais e internacionais, capítulos de livros e inclusive um livro. Ou seja, ele vive a escalada.

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