Cerro Champaqui (2.770m)

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Desde que cheguei a Córdoba na Argentina, meu objetivo principal sempre foi subir a montanha mais alta da região: o Cerro Champaqui com 2.770m (pensava-se anteriormente que tinha 2.900m).


Conversando com locais eu fui desaconselhado a ir sem guia ou sem alguém que conhecesse a montanha. Trata-se de uma caminhada de 20 km para subir e mais 20 km para descer.

Devido à ausência de vegetação, a única indicação de caminho é uma coloração mais esbranquiçada nas pedras (devido ao desgaste da passagem de mulas) e os montículos de pedra que nem sempre estão presentes.

Uma semana antes, eu estive no Champaqui por um caminho muitíssimo mais fácil que o tradicional. Pode-se subir de carro por uma estrada de terra de quase 50 km até o Cerro Los Linderos, e depois fazer uma caminhada de apenas 30 minutos.

Neste dia fazia frio, caíam pequenas pedras de gelo, e tinha uma forte neblina. Sob tais condições, a caminhada de 30 minutos havia se transformado em 1,5 horas, e isto porque eu já conhecia este pequeno trecho.

Depois de alguns meses tentando sem sucesso encontrar um companheiro para esta aventura, decidi subir sozinho. Sem GPS e tendo apenas com um mapa “meia-boca” e uma bússola, eu dependia de condições climáticas favoráveis. Olhei a previsão do tempo mas esta não me dava muitas pistas se haveria neblina ou não. Decidi arriscar.

A trilha tradicional do Champaqui normalmente se faz em 2 dias (alguns em 3 dias) sendo 1 dia para ir de Villa Alpina até a zona de refúgios, e 1 dia para atacar o cume e voltar para o ponto de partida. Adotei a estratégia de sair de Villa Alpina e chegar ao cume no mesmo dia, e depois fazer uma pequena caminhada até Cerro Los Linderos e descer de carro. Normalmente eu deveria fazer este caminho entre 8 e 10 horas de caminhada.

Acordei às 5h30 da manhã e saímos de Córdoba às 6h00, eu e mais 3 amigos que me levariam até Villa Alpina (1.340m) aonde iniciaria minha ascensão. Acertei com meus amigos de me pegarem de carro no topo do Cerro Los Linderos às 17h00.

Depois de algumas fotos, iniciei a caminhada às 8h30. A primeira hora de caminhada não me foi estranha já que eu passei por ali para ir ao Cerro Mesilla. A partir do albergue Piedras Blancas deve se tomar a trilha que desce em direção ao sul para logo em seguida iniciar uma subida no meio de uma floresta de pinheiros.

Meia hora depois, e ainda subindo, se chega a um descampado aonde se encontra uma pequena casa. Continuando a subida rumo a sudoeste, atravessa-se um portão e continua-se a subida agora rumo ao oeste. Somente depois de 1h30 de caminhada é que se consegue avistar ao longe o Cerro Champaqui e, mais à direita, o Cerro Negro.

Às 10h00 cruzei com cerca de 40 adolescentes que haviam subido de van até o Cerro Los Linderos e que estavam fazendo a descida do Champaqui até Villa Alpina. Peguei algumas informações com o guia e prossegui. Quinze minutos depois cheguei ao Refúgio San Jose.

Meu conselho aqui é dar uma boa olhada no caminho a seguir antes de baixar até o refúgio. Isto por que quando se está lá embaixo existem várias trilhas mas deve-se lembrar que você tem que ir para o oeste. Acabei perdendo algum tempo neste local tentando encontrar uma maneira de seguir a trilha sem invadir a propriedade privada. Acabei pulando a cerca.

Ao meio dia e meia cheguei à zona de refúgios. Desci até o Refúgio Nélio Escalante, peguei algumas informações e desci ao refúgio do irmão do Nélio que fica um pouco mais abaixo, depois de atravessar o rio que pra minha sorte estava com volume baixo.

Ali encontrei algumas pessoas que, ao amanhecer, decidiram não acompanhar os outros membros de seu grupo no ataque ao cume devido ao cansaço. Aproveitei para almoçar (um sanduíche, um pedaço de chocolate e amêndoas).

Depois de falar com o dono do refúgio, que a princípio não queria me deixar subir por pensar que eu tentaria retornar no mesmo dia, retomei a caminhada  pela trilha que se inicia atrás do Refúgio Gonzáles. Apesar de estar verticalmente alinhado com o cume do Champaqui, deve-se pegar uma trilha que sobe transversalmente à esquerda para escapar de uma quebrada íngrime por onde descem as águas desta montanha.

A partir da zona dos refúgios, a subida se torna mais forte com um desnível de quase 800 metros. Eu já estava cansado depois de estar caminhando por 6 horas sem muita pausa.

Num determinado ponto a trilha simplesmente desapareceu e pra piorar algumas nuvens se formavam. Fiquei com receio de cair uma neblina ou de me atrasar e cair à noite.

Em condições normais é difícil se perder pois você sempre tem a opção de subir num lugar alto e visualizar para aonde quer ir. Mas com neblina forte ou a noite é difícil progredir se a trilha não estiver bem marcada com montículos de pedra, o que não é o caso.

Decidi apertar o passo e subir numa linha reta e fora de qualquer trilha. Como o Champaqui estava a minha direita, eu sabia que o Cerro Los Lindeiros estava a minha frente. Apesar do cansaço, ganhei energia extra ao chegar na trilha que une as duas montanhas.

A partir daí só alegria, caminhei mais alguns minutos e às 15h37 cheguei ao cume do Champaqui. Fiquei cerca de uma hora descansando e curtindo a vista. Finalmente, retornei pela pequena trilha para encontrar meus amigos que haviam recém chegado de carro no Cerro Los Lindeiros.

Direto da Argentina,
Márcio Carvalho.

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