Ditadura na escalada

0

Ainda há pessoas no Brasil que com um mínimo de poder mostram o pior de sua personalidade. Esta falta de respeito à opinião alheia faz com que algumas listas de discussões se tornem cada vez mais coisa do passado.

Nos últimos 15 anos a internet saiu de mera novidade para estar por completo em nossas vidas. Hoje acompanhamos tudo pela internet, desde olimpíada a expedições ao monte Everest. Praticamente uma pessoa que não possui um e-mail para recebimento de mensagens e arquivos não existe. Dentro do mundo da escalada não poderia ser diferente. Há vários sites especializados no assunto, que vai desde equipamentos, fóruns de assuntos diversos, publicação de vídeos e fotos, notícias sobre o que acontece acerca da escalada, diários pessoais e assim por diante.

Um dos meios mais antigos (entro da história de vida da internet) de se divulgar notícias, venda de equipamentos e eventos são as listas de discussões. Meio este que está cada vez mais ficando restrito a um número de pessoas que já se conhecem pessoalmente, e não há abertura para quem não faz parte do grupo que já domina qualquer assunto comum a eles e já publicado anteriormente. A opção de se filtrar mensagens indesejadas há a opção da figura do moderador. E é aí neste ponto que moram os problemas das listas de moderação. Principalmente se haver alguma antipatia do moderador com algum assunto, ou modalidade de escalada ou algum tipo de evento. Se o moderador achar que o assunto já se desgastou, ou que não gosta de alguma filosofia este simplesmente cala com sua “mão de ferro” quem estiver querendo discutir. Coloca-se uma mordaça e abafa-se o assunto.

Afirmo sem medo que alguns moderadores se acham os donos do destino das listas. Os assuntos têm de ser do jeito que ele quer, ou então a pessoa é moderada ou até mesmo expulsa da lista. Comportamento igual no jogo de bola em que o dono da bola leva a bola embora quando seu time está perdendo. Esta primeira semana de setembro em uma das maiores listas de discussão do Brasil houve um exemplo típico. O moderador responsável, por algum motivo desconhecido, mostrou-se insatisfeito com uma mensagem de informação de um evento a ser realizado em São Paulo.  Evento este que é comercial e com importância grande para a comunidade escaladora.

Além de escrever que a lista não era para promover eventos comerciais que visam o lucro (está escrito isso lá para quem não acreditar, e tenho cópia do escrito se já foi apagado) estava sendo divulgado repetidamente. Isso porque o mesmo evento foi publicado somente UMA(isso mesmo UMA) única vez na lista. Mas pelo jeito esta única vez fez com que o moderador mostrasse toda a sua antipatia e caráter ditatorial. Logo após, um leitor insatisfeito levantou a bandeira do que está acontecendo pelas listas de discussão que existem por aí. A censura desmedida e unilateral dos moderadores está cada vez mais abusiva, fazendo com que o poder informativo de uma lista de discussão perdesse a importância.

Foi apenas levantar isso e ver que grande maioria concorda : Há uma grande falta de bom senso democrático em quem fica responsável por moderar esta e outras listas. Há listas que são exemplarmente administradas e moderadas por pessoas que não se acham a pamatória do mundo. Porém não são todas. Ignorar que vivemos em um mundo o qual temos de respeitar todo e qualquer evento que acontece dentro daquele nicho de pessoas de comportamentos iguais é dar um tiro no pé. Se parece muito complicado o que escrevi, deixe-me colocar de uma maneira mais clara: há moderadores que estão sofrendo de nanismo moral, com comportamento leviano do princípio ao fim. Escrevem uma coisa, e depois vem dizendo que é mentira aquilo que ele mesmo escreveu.

Isso mesmo, estão querendo além de tapar o sol com a peneira, escolher somente os temas do tipo de escalada que gosta na lista que modera. Vale lembrar que é uma lista de discussão acerca de escalada, e não a respeito da preferência de escalador x ou y. Eu, por exemplo, não sou das pessoas mais amantes de boulders, ou de escalada de alta montanha, mas mesmo assim leio e publico no blog que mantenho (http://pempem.blog.uol.com.br) sobre estes assuntos. Afinal eu me propus a praticar escalada, e não somente fazer parte de panelinhas ou grupinhos que preferem fazer uma modalidade específica. Posso ter todos os defeitos do mundo, como de fato os tenho, mas aprendi a ter a tolerância necessária para as preferências pessoais das pessoas, de saber que mesmo que eu odeie algum tipo de evento, ou filosofia de vida não é proibindo, ou censurando, que vou resolver os assuntos pessoais que tenho com aquilo. Deus deu a vida para cada um cuidar da sua, e como Vito Corleone disse em “Poderoso Chefão” e para mim vale como filosofia de vida : “Desde que seu negócio não entre em conflito com o meu que seja feliz com sua vida”.

Posso não ter vivido minha adolescência na época da ditadura que houve aqui no Brasil, mas meus pais sim. Eles souberam com detalhes passar como era terrível viver sem liberdade nenhuma. Sem poder dizer o que pensava, publicar peças de teatro, ler assuntos dos quais estavam acontecendo, ir a eventos culturais e assim por diante. Tudo isso porque algum responsável nomeado pelos militares não gostava de algo, ou achava que estava insuflando para rebelião. O melhor na época era ser alienado e ir gostando e curtindo o que diziam para nós fazermos.  Eu pude ter o privilégio de ver meus pais se emocionando com a abertura política das “diretas já”, de ver o Tancredo Neves sendo eleito e logo após morrer, de eleger o presidente do país, e voltar a poder ter a liberdade de escolha. Tudo isso estive presente, mas não sabia a importância que tinha na época por ser muito novo.

Exatamente é este meu ponto: Liberdade de escolha. Há pessoas hoje no país, especialmente com algum poderzinho na mão e com total ineficácia em explicar algo ao próximo optam por proibir qualquer coisa. Se há, por exemplo, dois jeitos de fazer algo (como dar segurança) proíbem-se algum dos dois. Pois a sensação de poder fazendo o proibir algo que nos desagrada é imensa. É muito mais fácil sair proibindo e  “colocando pontos finais “ em tudo do que tentar ser diplomático e saber viver em uma democracia. Desde que tive de começar a trabalhar após terminar as faculdades que fiz convivi com esta mudança radical de uma pessoa quando tem algum poder na mão. É assustador ver que pessoas assumem este papel patético de se achar que são donas do mundo, da verdade e da vida de quem os cerca. É este tipo de pessoa que talvez se comporte de maneira egoísta pelos lugares de escalada pelo país afora. Tenho certeza que este tipo de pessoa acredita que seu direito individual deva prevalecer sobre o coletivo, afinal ele se acha mais importante, e mais diferenciado por algum motivo fútil e superficial, do que as outras pessoas à sua volta.

Hoje com certeza os fóruns de escalada, onde se pode publicar sua notícia, sem lotar sua caixa de e-mails com questionamentos de quem está iniciando na escalada. Mas quanto mais os grandes ditadores estiverem querendo colocar o mundo da maneira que eles querem, ignorando que o mundo é de todos e não seu quintal de casa, mais as listas de discussões serão meros locais de perguntas sem resposta.

Compartilhar

Comments are closed.