Por Diego Zanchetta – O Estado de S.Paulo
Os penhascos de 20 metros de altura e a mata totalmente fechada têm confundido até os mais experimentados montanhistas. No dia 9, o Corpo de Bombeiros localizou seis pessoas que ficaram 52 horas perdidas. Todas estavam com cordas, mapas, barracas e GPS. O tempo que eles passaram sem contato, porém, foi pouco perto dos sete dias e meio que um grupo de Indaiatuba teve de enfrentar no fim de julho.
Os cinco moradores do interior faziam trilhas há duas décadas. Eles sabiam que o percurso era proibido, mas resolveram confiar nos mapas e no guia por satélite. “Eu moro aqui há 24 anos e fiz a trilha várias vezes”, afirma o ambientalista Erley Coradi, de 54 anos, morador de Marsilac. “Mas, na Páscoa do ano passado, fui com um grupo de 28 pessoas e iríamos esticar até Mongaguá. Um índio nos guiaria a partir do meio do caminho. Só que depois de duas horas o índio confessou que estava perdido. Ficamos três dias na mata até o helicóptero da PM nos encontrar.”
Coradi reforça que a trilha não é turística. Como existe lei federal que proíbe as pessoas de andarem ao lado da malha ferroviária e 8 km da trilha são ao longo de uma linha de trem com movimento de cargas, nenhuma operadora de turismo faz o passeio. O ambientalista ressalta as dificuldades das dez horas da trilha, como “as formigas que sobem nas pernas durante a caminhada”.
GPS
Ele também garante que o GPS não funciona no meio da mata. “E tem hora que a trilha tem bifurcações com até seis saídas. Não adianta ter mapa”, diz Coradi. “Quando estávamos perdidos no ano passado, ficamos parados em uma clareira da mata. Tinha uma garota com as costelas quebradas, não podíamos sair do lugar. A sorte foi que encontramos as lonas deixadas por alguns palmiteiros e ficamos cobertos.”
Os relatos de pessoas que se perderam na trilha e conseguiram voltar sem resgate também são inúmeros nas redes sociais da internet. “Andamos duas horas pelo meio dos túneis da linha do trem, até que vimos uns três homens cortando uma carcaça de Kombi com machados. Ficamos assustados e voltamos”, recorda o goiano Hélio Luzzi, de 34 anos.
“Como o curso do Rio Capivari é muito sinuoso e não segue um caminho reto até o litoral, mesmo que você fique perdido e tente seguir o rio não adianta. Ele corre pelo meio da mata fechada até a cidade de Cubatão”, fala o comerciante de Parelheiros José Francisco Cardoso, de 46 anos, que fez três vezes a trilha.
Para quem conseguiu atravessar São Paulo até o litoral pelo meio da Mata Atlântica, ficaram as boas recordações. São oito cachoeiras no caminho e a possibilidade de dar mergulhos nas águas cristalinas do Rio Capivari. “Os mirantes a 400 metros de altura com a vista do mar são incríveis”, garante o jipeiro Jorge Sampaio, de 29 anos, que fez a trilha em fevereiro. “Mas é para fazer uma vez na vida e só.”
Precaução
Para quem vai fazer uma trilha longa, é bom deixar o mapa da rota planejada com alguém de confiança. Se até certo horário o grupo não ligar, o mapa deve ser entregue ao Corpo de Bombeiros.
O Estado de S.Paulo