Cabeza Del Condor – 5.648 metros

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Em julho deste ano fui ao condoriri em busca de mais técnica de escalada em gelo. Estava eu, meu amigo Alex Feijó e meu Guia e amigo Àlex que nos guiaria durante os próximos dias. Naturalmente descemos do transporte em Tuni, e enquanto as mulas levavam nossos equipamentos e mochilas, almoçamos numa das casinhas simples do povoado feitas de argila, de um cômodo só…e na sequência caminhamos em direção ao acampamento do Condoriri por duas horas.

Ao chegar percebemos que o acampamento base estava lotado, então decidimos acampar do outro lado do Chiarkota próximos a uma casinha. Ao cair da noite fomos jantar dentro desta casa e conhecemos 5 francesas que estavam fazendo trekking de Tuni até o Huayna Potossi. Elas eram muito simpáticas e depois do jantar nos divertimos muito com um jogo de dados à luz de vela. Isso nos rendeu muita risada! Isso sem contar quando elas tentavam repetir palavras em português e nós brasileiros em Francês! Era horrível de se ouvir.

No dia seguinte, na parte da manhã, fomos para o glaciar treinar técnicas de escalada como diferentes formas de rapelar, ascensão em gretas, quedas, escalar num ângulo ligeiramente negativo etc. Passamos o dia todo por La, estávamos numa faixa dos 4.950m e no fim da tarde quando o sol foi embora, o tempo mudou bastante, começou a ventar e tanto a minha cabeça quanto a do Alex começou a doer bastante. Chegamos no acampamento com muita dor e aquilo me fez sentir um medo sem tamanho, pois ano passado não havia passado mal nesta faixa de altitude.
Naquela noite tive muito medo de não conseguir fazer a montanha onde aplicaria este curso, a Cabeza del Condor. Fui dormir apreensiva e me imaginando voltando pra casa dizendo que passei mal de altitude. No terceiro dia, o Guia Àlex achou melhor que descansássemos bem para atacarmos o cume.
Durante este terceiro dia, encontrei- me com algumas pessoas, e uns falavam que a cabeza é muito difícil, outros diziam que era uma “roubada”, que estava com neve até o peito.. e quase que entrelinhas pareciam não acreditar na minha ascensão. Pra falar a verdade nem eu estava acreditando muito.. apesar de querer muito isso, daquilo ser importante para o meu crescimento em Alta Montanha, tinha medo de não conseguir, eu sabia que era uma montanha mais técnica e além de tudo, infelizmente a ascensão não dependia apenas da minha imensa boa vontade, eu dependia do meu corpo e ele precisava estar bem.
Neste dia jantamos trutas frescas retiradas do próprio Chiarkota e ao combinarmos o ataque, meu amigo Alex Feijó disse que não estava confortável em  ir, por que estava sentindo muita dor de cabeça, então agora iria apenas eu e o guia Àlex. Acordamos meia noite e meia para nos preparar. Eu estava bem, apenas com uma leve pressão na nuca, mas preferi blefar comigo fingindo não perceber. Não disse nada à ninguém. Forrei o estomago, peguei meus equipamentos e dei um forte abraço no Alex que me desejou boa sorte.
Como estávamos do outro lado do Chiarkota, caminhamos por meia hora até o acampamento base, e saímos pela esquerda sentido à base da Cabeza. Foram 3 horas e meia de caminhada
constante numa morena de pedras e terra. Estávamos num ritmo bom e fomos chegar no glaciar da Cabeza apenas as 5 horas da manhã quando o sol dava indícios de seu nascimento.
Eu tentava à todo instante não colocar muitas expectativas sobre o famoso “Será que ta chegando!?” e tentava educar meus pensamentos imaginando que ainda faltava bastante, para que a ansiedade e aquele leve desespero de nunca chegarmos no destino final não me alcançasse.
Andamos por 3 horas no glaciar, e apesar de caminhar como uma idosinha eu estava confortável, apenas acompanhada por uma leve dor de cabeça eu pedi à mim mesma somente uma coisa: “não passe mal, por favor”.
Depois destas 7 horas de caminhada, chegamos aos pés da canaleta! Era uma canaleta enorme, meu guia estima entre 150 à 130 metros de altura. Tinha cerca de 3 metros de largura e 85 graus de inclinação. Subimos ao modo Francês, eu encordada no meu guia escalando duas longas horas. Havia um último trecho desta canaleta onde o gelo era rígido, e exigia muito dessa magrela de braços finos.. então me “ancorei” com meus pioletts e o Àlex armou um top para que eu subisse em segurança. Após esta etapa vencida descobri que ainda não havíamos chegado ao topo, se não me falha a memória, ainda havia umas cinco cristas para enfrentarmos.
Eu estava exausta, minhas pernas e cabeça doíam e num desses momentos extremos jurei à mim mesma que nunca mais mexeria com esse lance de Alta Montanha. Olhava para o Huayna Potossi e entre alguns palavrões mal criados, dizia que não o escalaria!
Desejava muito atravessar aquelas cristas correndo, mas meu corpo ia lentamente alcançando o cume. Faltando 5 minutos para o cume o guia me fala que estávamos atrasados e me pergunta se gostaria de fazê-lo ou se preferiria descer. É Claro que eu faria o cume e sem pestanejar repliquei dizendo que o faria até o final.
Chegamos no cume,  e sentei na crista para apreciar a vista. Era maravilhoso, vi o condoriri inteiro, matei a saudade do Pequeño Alpamayo, e ver o mundo daquele ângulo era bom. Sinceramente eu não acreditava que havia alcançado chegar lá. Acho que a palavra era “exaustão e gratidão”. Apesar de estar no limite, sem muita energia, desgastada e com dor de cabeça eu estava feliz. Foi uma montanha diferente por que não foi uma montanha fácil para mim, eu paguei muito caro para estar ali, então todo o cansaço físico era recompensado pela alegria que sentia na alma.
Ainda tivemos forças de sacar da mochila uma cerveja Paceña lata, para brindarmos aquele feito: Eu, aquela magrelinha de meio quilo, despenteada com tererê nos cabelos havia conseguido chegar aos 5.648 metros do Condoriri.
Na descida, eu tentava manter os mesmos passos pisando sempre nas marcas de nossos grampons de quando havíamos subido, mas eu parecia um boneco de Olinda de tanto cansaço, acabei me distraíndo  e desviando uma passada levemente para esquerda pisando em neve fofa: minha perna afundou por inteira. Pensei “Maravilha”. Tentei sair mas me afundei mais ainda e ouvi um grito Forte do Àlex pedindo para que eu parasse de me mover: sim aquilo era uma greta. Como estávamos encordados, ele saiu por trás de mim,  passou para frente,  me
puxou com impulso me tirando de lá. Ele me pediu para olhar “que buraco havia me enfiado” era realmente uma greta..  e ainda bem que saí!
Foi uma montanha técnica, dura, que  me exigiu físico e psicológico, me mostrou mais um limite para quebrar, me permitiu voltar com uma ruga a mais de experiência, e ensinou que a opinião dos outros é claro que é importante, mas ninguém ainda possui o dom de prever a sua capacidade, por tanto precisamos nos testar. Se conseguirmos ótimo, se não conseguirmos, a montanha nunca vai sair do lugar dela.
Foi difícil, mas sobre o que disse de nunca mais escalar Alta Montanha, me surge um sorriso involuntário quando lembro deste momento, como quem ri das próprias  besteiras que fala.É claro que continuei escalando alta montanha! Eu mal sabia que dois dias depois estaria tentando sim o Huayna Potossi, o desgaste físico passou, mas a paixão por montanhas está entranhada.. eu estava apenas cansada.
Eu agradeço todo o carinho de amigos que perto ou longe, me conhecendo ou não me empurraram até o cume e acreditaram na minha capacidade. Dedico principalmente essa grande montanha à minha amiga Adriana que além de me incentivado muito, está enfrentando a grande montanha dela, um câncer que logo logo será vencido com a mesma garra que ela me ensina todos os dias.
Bons ventos à todos, muita escalada e fé em si próprio.
Com carinho,
Belle Duarte
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Belle Duarte

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