Ação entre amigos leva cadeirantes para a montanha

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O último feriado de 15 de novembro ficará marcado para sempre na memória de Katiane Thaiz. Essa foi a primeira vez que ela subiu uma montanha. Algo simples para algumas pessoas, mas com um valor inestimável para a jovem que é cadeirante a cerca de oito anos. A aventura só foi possível com a ajuda de um grupo de montanhistas de Curitiba liderado por Robson Lopes Roque, e o apoio do também montanhista de Campo Alegre, Thomas Ostermayer.

Grupo que acompanhou Katiane nessa aventura.

Katiane está com 22 anos de idade e é cadeirante desde os 14 anos quando um cisto de Aracnoide próximo à medula se agravou após a demora do convênio liberar a cirurgia, prejudicando seus movimentos. “Fiquei dois anos em depressão, não aceitava a cadeira de rodas e eu era bem nova quando perdi os movimentos”, contou a jovem. No entanto, Katiane conseguiu superar a depressão e as dificuldades de locomoção. “Fui aprendendo a lidar e a me adaptar. Hoje sou 99% independente, faço medicina, dirijo, tento uns trabalhos como modelo/atriz e estou sempre em busca de coisas novas”, contou.

Do outro lado dessa história está Lopes. Ele conta que alguns vídeos do projeto Montanha para Todos e do Inclusão Radical o inspirou para levar cadeirantes para a montanha. “Há cerca de um ano conheci o Thomas que estava com a cadeira do Projeto Montanha para Todos e ele me fez um convite para ir até lá junto com alguém PCD e meus amigos. Achei a oportunidade ótima, pois a cadeira sempre foi a parte mais difícil de conseguir, já que o custo é alto”, contou. Ele anunciou a ideia em seu Instagram procurando por alguém que topasse essa aventura e chegou até Gabriel Paes, que é montanhista e sempre sonhou em levar sua namorada Katiane para as montanhas.

A visita a montanha

Assim Katiane, Gabriel e alguns amigos seguiram para o município de Campo Alegre em Santa Catarina. Lá eles visitaram a Cascata Paraíso e encontraram o restante do grupo que a levou para conhecer alguns dos mirantes dos Campos do Quiriri. Foram cerca de 4 horas de caminhada pelos campos de altitude, trilhas e estradas de chão.

“Foi uma emoção que não tenho palavras pra descrever, eu me senti livre com o ar batendo no rosto e aquela visão maravilhosa que até então eu tinha visto só por fotos que o meu namorado me mandava quando estava lá em cima. Ter a sensação de estar lá em cima é algo inexplicável”, contou Katiane.

Katiane e Gabriel

Ela revelou que sentiu um pouco de medo por nunca ter feito isso antes, mas o visual das montanhas recompensou tudo. “A cadeira é maravilhosa porque me deu uma oportunidade que nunca na minha vida achei que seria possível e é confortável. Senti um pouquinho de medo, mas é algo que passa, e quando você chega e vê a vista lá em cima e durante o caminho, é maravilhoso”, revelou.

O montanhista recebeu “a guarda” da cadeira depois da ação e diz que pretende continuar com um projeto chamado Inclusão e Aventura. “Queremos fazer um passeio de fechamento de ano com mais pessoas cadeirantes. Não sei se a Kati irá, mas também irão outros PCDs que conhecemos. Será uma subida até as antenas do Capivari Grande para ver o por do sol e tomar um café com eles. Para isso, estamos mobilizando cerca de 30 voluntários”, contou Lopes.

“Já virei trilheira, onde for e tiver outras oportunidades eu vou querer ir. Esse projeto que foi criado, Inclusão e Aventura é muito especial para mim e sou super feliz porque vai dar a oportunidade de outras pessoas terem a mesma experiência que eu tive, revelou Katiane.

 

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Sobre o autor

Maruza Silvério é jornalista formada na PUCPR de Curitiba. Apaixonada pela natureza, principalmente pela fauna e pelas montanhas. Montanhista e escaladora desde 2013, fez do morro do Anhangava seu principal local de constantes treinos e contato intenso com a natureza. Acumula experiências como o curso básico de escalada e curso de auto resgate e técnicas verticais, além de estar em constante aperfeiçoamento. Gosta principalmente de escaladas tradicionais e grandes paredes. Mantém o montanhismo e a escalada como processo terapêutico para a vida e sonha em continuar escalando pelo Brasil e mundo a fora até ficar velhinha.

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