Amigos se unem para enterrar corpo de montanhista falecido há 10 anos no Broad Peak

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Uma expedição polonesa para o Broad Peak em julho desse ano teve um objetivo bastante incomum: enterrar o corpo do montanhista Tomasz Kowalski que faleceu a mais de 10 anos. Os escaladores subiram até cerca de 7800 metros para recuperar os restos mortais do conterrâneo e enterrá-lo fora da rota de escalada.

Broad Peak visto desde o acampamento de Concordia – Foto: Sallahuddin shah

Kowalski fazia parte da primeira equipe a chegar ao cume do Broad Peak em uma expedição invernal. Adam Bielecki, Artur Malek, Maciej Berbeka e ele atingiram o cume no final da tarde do dia 5 de março de 2013. No entanto, Kowlaski e Berbeka não conseguiram retornar a tempo para o acampamento 4 e precisaram pernoitar em um bivak a 7.900m.

No dia seguinte, Kowalski ainda conseguiu se comunicar com o Acampamento Base pela manhã, no entanto foi surpreendido por uma nevasca e acabou falecendo, acredita-se que por exaustão. Os companheiros tentaram localizar os dois desaparecidos nos dias 6 e 7, mas não tiveram sucesso.

Placa em homenagem aos dois mortos na primeira escalada invernal do Broad Peak.

Na temporada de verão do mesmo ano, o irmão de Berbeka realizou uma expedição de busca, mas só encontrou Kowlaski. Na época, a equipe transferiu o corpo do montanhista para uma pedra 100 metros mais baixo. Eles amarraram os restos mortais, cobriram com algumas pedras e marcaram a localização para saber onde ele estava. No entanto, com o passar dos anos, o corpo voltou a ficar exposto. Já Berbeka nunca foi encontrado, estima-se que ele tenha caído em uma greta.

No ano passado, o conterrâneo de Kowalski, Rafał Fronia, passou pelo corpo do amigo enquanto tentava chegar ao cume do Broad Peak. Segundo ele, isso lhe causou enorme tristeza e por isso teve a ideia de remover Kowalski de lá. “Quando finalmente cheguei ao topo e depois quando baixei para a base, passando novamente por ele, não havia alegria em mim; havia tristeza e o pensamento de que alguém tinha que acabar com isso”, contou.

Amigos se unem para ajudar

Ao retornar para a Polônia, Fronia contatou os montanhistas: Marek Chmielarski, Jarosław Gawrysiak, Marcin Kaczkan, Krzysztof Stasiak e Grzegorz Borkowski que foram companheiros de escalada do montanhista morto. Todos toparam a expedição e pediram a autorização da família de Kowalski. Eles também projetaram uma urna funerária desenvolvida especialmente para esse caso e no último mês foram em busca dos restos mortais.

A equipe conseguiu o apoio do Comitê Olímpico Polonês para viabilizar a expedição.

Assim, eles conseguiram transportar o corpo até uma caverna, no lado chinês da montanha, onde realizaram o sepultamento do amigo. “Ele esta em um bela gruta de gelo que as forças da natureza criaram ao longo de muitos séculos, como se fosse especialmente para esse fim. Foi uma expedição difícil, uma subida exigente e uma missão ainda mais complicada, sem precedentes”, contou Fronia.

Essa foi uma expedição rara, devido ao grande custo e o risco que uma equipe corre para retirar o corpo de um falecido da montanha, é comum que os corpos permaneçam no local da morte. Muitos deles próximos as rotas de escalada. Assim, o famoso montanhista polonês Wojciech Kurtyka elogiou a equipe da expedição e disse: estou convicto que esta ação é uma das mais belas provas da história do montanhismo polonês. Talvez a maior”.

 

 

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Sobre o autor

Maruza Silvério é jornalista formada na PUCPR de Curitiba. Apaixonada pela natureza, principalmente pela fauna e pelas montanhas. Montanhista e escaladora desde 2013, fez do morro do Anhangava seu principal local de constantes treinos e contato intenso com a natureza. Acumula experiências como o curso básico de escalada e curso de auto resgate e técnicas verticais, além de estar em constante aperfeiçoamento. Gosta principalmente de escaladas tradicionais e grandes paredes. Mantém o montanhismo e a escalada como processo terapêutico para a vida e sonha em continuar escalando pelo Brasil e mundo a fora até ficar velhinha.

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