Escaladores abrem via inédita no Morro do Sete, na Serra do Mar paranaense. Confira o Croqui!

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Um grupo de escaladores paranaenses conquistou uma via inédita no Morro do Sete, em uma parede de difícil acesso na Serra do Mar paranaense. Eles levaram cerca de três anos para concluir o projeto, devido à dificuldade da aproximação e, principalmente, ao clima instável e úmido da região. Participaram da conquista: Leandro Cechinel, Anderson Quinsler, Murilo Benvenutti, Antonio Grossl, Ruddy Proença, Ander Paz, Maurilio Vagetti Hadas e Otaviano Montes Zibetti.

Chapeleta instalada na via e visual da Serra do Mar ao fundo. Foto: Leandro Cechinel.

Leandro Cechinel, idealizador da via, que escala há cerca de sete anos e pratica montanhismo há dez conta que, ao passar pela Estrada da Graciosa, uma das paredes da montanha lhe chamou a atenção: “Não tem como não pensar em escalar ali. Porém, até então, só se sabia de uma via muito antiga, que havia sido conquistada no estilo de ascensão apenas, sem muitas intenções de repetições”, contou.

A parede rochosa que chamou atenção dos escaladores. Foto: Leandro Cechinel.

A partir disso, Leandro procurou o escalador José Luiz Hartmann, conhecido como Chiquinho, um dos conquistadores da primeira via naquela parede. Foi ele quem indicou um novo acesso até a face rochosa, o que motivou Leandro a explorar a região e avaliar a possibilidade de abrir uma nova linha.

Escalando em meio a neblina. Foto: Leandro Cechinel

Além do difícil acesso e do clima instável, em que até uma leve nebulosidade já é suficiente para molhar a trilha e a parede, os escaladores também se preocuparam em abrir uma via independente. “Já ocorreram outras escaladas por lá. Talvez a maior dificuldade tenha sido escolher uma linha que fosse independente, possível de escalar em livre, com o mínimo de vegetação e respeitando as conquistas anteriores, mesmo sem muitas informações ou croqui”, revelou.

Como as janelas de tempo bom nos fins de semana eram poucas, outra grande dificuldade foi conciliar os horários com os parceiros de escalada. “Pra piorar, quebrei o pé nesse período e fiquei meses parado”, contou Leandro.

Para Leandro, abrir a via Abismo dos Pingos foi, de fato, uma aventura. “Não é uma parede fácil de ler. Não dava pra saber se seria possível escalar em livre, se a rocha era boa ou se daria pra abrir sem encontrar ou atropelar outra via.”

A via passa por trechos negativos e por tetos. Foto: Leandro Cechinel

Leandro relata que, nas primeiras investidas, encontraram vestígios de escaladas antigas e até pensaram em desistir. Mas a parceria entre amigos e a constante busca por alternativas os motivaram a seguir em frente. Eles abriram a via já com a intenção de “livrar” os trechos em A0. Para isso, limparam e escovaram todas as enfiadas, deixando tudo pronto para uma escalada em livre.

Para quem deseja repetir a escalada, Leandro recomenda ter um bom preparo físico e conhecimento da região, das técnicas de escalada e dos procedimentos de segurança. “As dificuldades começam já na aproximação, que exige boa navegação em trilha, travessia de rio e acesso por cerca de 50 metros de cordas fixas, entre outros obstáculos”, explica. “Dá pra dizer que a via tem uma pitada de escalada de aventura, com alguns trechos de vegetação, alguns platôs, mas na maior parte é uma escalada esportiva em rocha boa, com poucas proteções móveis, bem protegida, com lances aéreos e negativos.”

Outro ponto importante é escolher o clima ideal: ir após alguns dias seguidos de tempo seco e com baixa nebulosidade. “É preciso ter experiência com escaladas em ambiente de montanha. Algumas enfiadas são negativas e têm tetos, então é essencial saber fazer um rapel guiado utilizando as chapas, além de o participante conseguir limpar o rapel”, acrescentou. A via foi graduada em 7a (8c A0) M1 e tem 265 metros no total.

A via é uma escalada desafiadora que exige uma boa logística. Foto: Leandro Cechinel.

Para quem deseja abrir novas vias, Leandro se considera ainda “novato em conquistas”, mas compartilha um conselho valioso: “Absorver o máximo de experiência possível e se aproximar de quem já faz isso, dos conquistadores próximos e de referências externas, ajuda muito.” Ele também destaca a importância de respeitar a ética e as boas práticas da escalada. “Antes de fazer qualquer coisa, é sempre bom consultar a comunidade e os mais experientes. É uma atividade que pode causar danos irreversíveis à rocha ou até mesmo colocar vidas em risco”, finalizou

Confira o Croqui completo:

Morro do Sete – Croqui – Abismos dos Pingos

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Sobre o autor

Maruza Silvério é jornalista formada na PUCPR de Curitiba. Apaixonada pela natureza, principalmente pela fauna e pelas montanhas. Montanhista e escaladora desde 2013, fez do morro do Anhangava seu principal local de constantes treinos e contato intenso com a natureza. Acumula experiências como o curso básico de escalada e curso de auto resgate e técnicas verticais, além de estar em constante aperfeiçoamento. Gosta principalmente de escaladas tradicionais e grandes paredes. Mantém o montanhismo e a escalada como processo terapêutico para a vida e sonha em continuar escalando pelo Brasil e mundo a fora até ficar velhinha.

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