Escola tradicional “antiga” & escola esportiva “nova”

0

Em alguns sites da WEB e mesmo entre as comunidades de escaladores ouvi falar sobre “Escola tradicional “antiga” & escola esportiva “nova” e confesso que não consegui assimilar bem esta idéia, parece estar havendo um equívoco de interpretação e mistura de conceito sobre a diferença entre o MONTANHISMO e a ESCALADA ESPORTIVA.

Pergunto se existe isso mesmo ou foi criado com o crescimento rápido e desordenado da prática em escalada no Brasil. Algumas pessoas confundem montanhismo com escalada esportiva, mas em um ponto de vista simplista, podemos abreviar o conceito de montanhismo como sendo RUDE e o da Esportiva ATLÉTICO.
 
Montanhismo tem filosofia, escalada esportiva tem regras escritas, enquanto um é praticado na natureza, o outro até pode desfrutar de alguns sítios naturais, mas a sua pratica mais intensa acontece dentro das academias, muros, pedreiras e praças públicas.
 
O montanhista tem como objetivo principal escalar ou caminhar e geralmente chegar ao cume da montanha ao passo que os escaladores esportivos não querem chegam a lugar algum, buscam lances extremos  e ao encadená-lo descem para a base. Outro aspecto que podemos perceber é que no montanhismo não existe competição e na escalada esportiva isto está intrínseco.
 
Você poderá notar o que realmente está praticando ao constatar:  
 
-Se o seu equipamento está todo sujo e lenhado, suas mãos calejadas e corpo marcado de cicatrizes, a mochila super pesada e cheia de cordas e ferros, tem ficado muitos dias longe da civilização urbana, pode crer meu amigo você esta praticando montanhismo.
 
-Mas se você não gosta de caminhar, se sujar, viver se embrenhando no mato partilhando seu sangue com os mosquitos e convivendo com cobras e tem um comportamento atlético e uma visão competitiva, acredite que está praticando a escalada esportiva.
 
Quando começamos a Escalar na década de 80, só existia o MONTANHISMO no Brasil e nós ouvimos falar de que haviam criado a escalada esportiva na Rússia da década de 70, acompanhávamos o movimento mundial e tínhamos informações sobre escaladores esportivos na Europa, onde esta modalidade se desenvolveu rapidamente, então começamos a praticar a escalada esportiva nas praças, muros e pedreiras de Curitiba.
 
Alguns amigos cariocas eram nossos companheiros distantes, no Estado do Rio de Janeiro, lá pelo inicio de 1980 teve um momento parecido com o nosso,  porque tínhamos escolas” e histórias comuns nas escaladas tropicais da Serra do Mar dos dois estados.
 
Em nossa visão a “escola antiga”, na escalada esportiva não havia,  porque nunca existiu no Brasil até então, mas o MONTANHISMO “clássico” foi introduzido no Paraná a partir da década de 40 e as Escaladas por eles Conquistadas foi a BASE para o inicio das nossas aventuras. Elas foram nosso trampolim para as novas conquistas no estilo livre. Saímos um pouco das vias em fendas, chaminés e fissuras e passamos a escalar as placas.
 
Os melhores escaladores esportivos do mundo na década de 80 chegavam a literalmente “se internar” em muros artificiais por longos períodos, meses até, porque almejavam conquistar títulos mundiais e se dedicavam exclusivamente ao treinamento específico para se tornarem competitivos.
 
A banalização da ética e a falta de conhecimento sobre os conceitos e princípios que norteiam os dois esportes geram a polêmica sobre "Escola tradicional "antiga" & escola esportiva "nova", devemos primeiro ter consciência de que montanhismo e escalada esportiva são esportes que apesar de utilizarem as mesmas técnicas e equipamentos, se diferem justamente em seus objetivos.
 
Minha opinião sobre isso é de que o escalador montanhista ou esportivo primeiro escale pelo menos 90% de todas as vias já Conquistadas (dentro do grau de dificuldade que domine), no sitio de escalada que conviva e só ai pense em abrir novas vias, sem tentar interferir no que já está conquistado, somente para tentar tornar “popular” uma escalada, baixando o seu grau de dificuldade.
 
Nada impede que a pessoa possa querer praticar as duas modalidades, desde que esteja ciente do que está fazendo e buscando uma evolução própria, sem atropelar toda a história do seu esporte, somente para destacar-se no meio, principalmente em casos de conquistas. 
   
Curitiba, 05 de Junho de 2013
Julio Nogueira
 
Compartilhar

Sobre o autor

Julio Nogueira, Geógrafo, Montanhista, prática suas aventuras na Serra do Mar Paranaense desde 1975. Proprietário do Estacionamento Baitacão do Anhangava, tem se dedicado ao apoio dos Esportes de Aventura em Montanhas e Conservação da Natureza. Atualmente exerce a função de coordenador técnico de Escaladas no Clube Paranaense de Montanhismo na Levitar Escola de Montanha e Guia da Agencia Levitar Turismo que atua em parceria com outras agencias de aventuras locais, nacionais e sul-americanas.

Comments are closed.