A identidade paranaense está na herança vinculada à sua população heterogênea composta de índios, africanos e europeus e suas miscigenações. Homens que plasmaram a nossa história.
O Paraná, especialmente os curitibanos, pecam cronicamente pelo seu silêncio, inibição persistente e inércia autofágica. Não valorizam, não conhecem nossos elementos locais, nossa cultura, nosso passado e nem nossa história. Ou seja, a nossa paranalidade, o ser, viver a identidade paranaense, até independente de suas origens, para aqueles que aqui vierem viver. Associamos esse desconhecimento de anti-história ao tempo, Era em que vivemos pouco dada ao reconhecimento da herança cultural de cada geração, em face dos que a precederam. Ingratidão para com o pretérito. Centram seus interesses só no presente. Daí a carência do senso de continuidade histórica e indesculpável no montanhismo paranaense e esse tema é modelar.
Terrível, injustificável, indevida apropriação de um uma histórica referência orográfica do Paraná chamada MARUMBI, encontrável e nominado em vários autores pretéritos, visível no Tupinismo com registro de centenas de anos de uma cultura e conforme a antropologia, arqueologia, presente na região há mais de dois mil anos, origem do topônimo exclusivo do Paraná, MARUMBI. Observemos seus sinônimos ou grafias originais e posteriormente por aférese, reduzido para Marumbi: guainumbig, guainubi, gainambi, gainãbi, ganambia, guanibu, goanhambi, hayñabig, ainambi, desde o padre José de Anchieta, como também guaynumbi, guaynumby, guynambi, guanumby, guarumbi e guararabi, em suas derivações na Língua Geral Brasílica e que o topônimo designava a forma ameríndia das culturas TUPI e GUARANI de chamar os beija-flores.
Recuando no tempo, encontramos esse vocábulo registrado em vários autores. A exemplo de José de Anchieta, a mais antiga em 1560, in CARTAS III. Em 1584, Cardim, na sua obra DO CLIMA E DA TERRA DO BRASIL. Em 1587, em G. S .Sousa: NOTÍCIAS DO BRASIL; em 1594 com F. Soares: COISAS NOTÁVEIS DO BRASIL. Em 1631, C. Lisboa em HISTÓRIA DOS ANIMAIS E ARVORES DO MARANHÃO, como em Machado de Assis, em 1875 e desde 1653, no precioso mapa de João Teixeira Albernaz, onde assinala o nosso Guararabi ou Guarumbi, que por efeito da aférese, ficou reduzido a forma final como MARUMBI, “topônimo endêmico” paranaense como Anhangaba/va, Apucarana, Tibagi, Ybiãji/gi, Guarapuaba/va, Curitiba…
Vamos ao nosso pai da historiografia paranaense, ANTONIO VIEIRA SANTOS em suas obras: MEMORIA HISTÓRICA CHRONOGRAPHICA E DESCRIPTIVA DA VILLA DE MORRETES E DO PORTO REAL. VULGARMENTRE PORTO DE CIMA (tomo de 1857) e o volume II in CIDADE DE PARANAGUÁ E SEUS MUNICIPIOS (1850) onde extraímos algumas notas interessantes e assegurando o nome. Vejamos:
O grande Cubatão (atual Nhundiaquara) tem suas nascentes próxima da Serra do Mãe Catira e nela deságuam o rio Itupava, Itapetantuba, MARUMBI e do Pinto (p.61).
Sobre as Montanhas: as grandes cordilheiras nos rumos do sul até o oeste em hua grande curvatura pelo espaço de 12 legoas até outra grande Serra que chamamos de GUARUMBY (p.71).
Roteiro Orográfico da Serra da Prata a do GUARUMBY tem doze legoas (p.85)”.”
Da Foz do rio Cubatão até a fralda da Serra do GUARUMBY tem quatro legoas e meia (p. 85).
[…] foram abundantes em minas de oiro…….como foram no rio GUARUMBY…(p.99).
No DICIONÁRIO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO PARANÁ, do Ermelino de Leão. Edição 1920:
O pico do MARUMBY, ponto culminante da Serra do Mar, a 1810 metros de altitude. (p.1263).
No verbete PORTO DE CIMA (p.1618)) topamos com:
O pico do MARUMBY que os antigos documentos denominavam Guarumby fica a 1844* metros acima do nível do mar.
*Altitude oficial de precisão: 1537.361 m (Kreling et.al, UFPR, 1991).
Nas Revistas ILUSTRAÇÃO PARANAENSE, editada de 1927 a 1935, fundada por J.H. Groff, organizou e publicou vários artigos sobre o Pico do MARUMBI, inclusive na primeira filmagem com ilustrações do Lange de Morretes.
ROMARIO MARTINS em sua HISTORIA DO PARANÁ traz:
MARUMBI é um símbolo significativo do alevantado de nossa aspiração do progresso com a eugenia representada pelas nossas origens multiétnicas.
Romário foi o inventor do neologismo MARUMBISMO, que não sensibilizou por tempo a sociedade e o meio montanhístico.
Recorremos ao notável Geólogo, Geógrafo e Historiador REINHARD MAACK, em sua obra exponencial GEOGRAFIA FÍSICA DO ESTADO DO PARANA, editada pelo IBPT, em 1968,onde deparamos:
Avançando muito além em direção Norte 60 graus Este, eleva-se o maciço da Serra do Mar, cujo cume mais alto é o Pico do MARUMBI, com 1547 metros e o Morro do Leão (p.301).
Invertendo os Rumos das Aproximações ao Marumbi.
Até 1938, com a conquista do Abrolhos, incrível saliente qual uma torre separada da grande massa serrana , conquistado em 04 setembro de 1938 pelos curitibanos casal Henkel, Alfonso Hatchbach e o notável artista gravador José Peon, partindo de Curitiba, inauguraram nova diretriz dos ataques alpestres, que anteriormente eram exclusivamente feitas partindo de Morretes.
Em 1935 surge um personagem importante na historia alpina paranaense, RODOLFO AUGUSTO STAMM (1910- 1959) joinvillense, cujo sobrenome figura entre os fundadores do Integralismo da cidade, e nesse ano de 1935, escalou o Marumbi e ao saber da novel vitória sobre o icônico Abrolhos, de imediato alcança seu cume, quando se extasiou com indescritível panorama sobre vários picos virgens, em fantástico cenário inédito serrano e com elevações inominadas, resolveu batizá-las inspirado dentro do tradicionalismo alemão, cultores das paixões da história clássica, da Grécia Antiga e das civilizações egípcias e assim fez nascer a ESFINGE, a PONTA DO TIGRE, a TORRE DOS SINOS, o DESFILADEIRO DA CATEDRAL, o GIGANTE e o OLIMPO.
O porquê dessa nominação?
Para entender esse processo da germanização serrana, exige recuarmos no tempo até meados do século XX e analisar a cultura alemã, balizada, arraigada e lastreada em grandes expressões, e a guiza de exemplo, pinçamos alguns nomes. Vejamos: Bethoven, Bach, Wagner, Mozart, Brahms, Jung, Freud, Nietsche, Schopenhauer, Karl Max, Engel, Heideger, Kant, Hegel, Heine, Stefan Zweig, Remarque, Thomas Man, Hermann Hess, Humbold, etc. Desnecessário tecermos quaisquer criticas sobre esses personagens. Apesar de excelente base cultural alemã, inexplicável a consecução do HOLOCAUSTO de seis milhões de judeus.
Dispensável tecermos uma análise minudente desses notáveis aportes culturais. Com a ascensão do nazismo, tendo Hitler à frente, devoto e apologista das culturas clássicas antigas, inimigo das modernidades (que denominava de artes degenerativas), que começaram a atingir a literatura, a pintura, com o advento inédito revolucionário do cinema. Ocorre que Stamm seguia essa devoção clássica e lhe inspiraram na nominação dos picos calcada exclusivamente na mitologia greco-romana. Obviamente desconhecia a historia do Marumbi, tupinismo de vários séculos, segunda (1653) orografia paranaense na cartografia antiga, depois do Ybiãgi (1632) bem como a totalidade dos montanhistas que iam para a Serra. O texto da subida publicado pelo Sebastião Paraná em 1899, em sua obra Chorografia do Paraná reproduz a segunda ascensão que foi escrita pelo Antonio Ribeiro de Macedo, sugerindo, sem sucesso, substituir Marumbi por Olimpo, homenageando seu conquistador (Joaquim Olympio (Carmeliano) de Miranda, 21 AGO 1879), que obviamente, não o inspirou. Stamm só veio conhecer o texto do Macedo bem mais tarde, quando lhe fornecemos uma cópia datilografada. É muito frequente alguns montanhistas associarem Olimpo com o seu conquistador, Olympio, mas sem relação com o geotopônimo.
O ensino da historia do Paraná só aconteceu recentemente, por obra e ação da professora universitária Cecília Westphalen (Lapa, 27/04/1927 e Curitiba, 10 /03/2004) tornando-a obrigatória em todas as escolas públicas e particulares. Determinação logo copiada por outros estados brasileiros. Neste nosso caso, fica evidente e prova clara do desconhecimento sobre a história do Paraná. A influência germânica era muito forte na geração de 1920/30, na Curitiba de então. Vejamos: dispunham de três grandes clubes (havia mais de 50 associações germânicas em Curitiba): o Handwerker Unterstut zungsverein (3000 sócios e hoje Clube Rio Branco); o Deutscher Saengebund (Concórdia) e Deutsch-Brasilianichen Turnverein (Duque de Caxias). Todos envolvidos na disseminação de atividades de ginástica e esportes em geral. Fácil foi para Stamm arregimentar entusiastas em atividade sobre a natureza, atraídos pela coluna que mantinha semanalmente, no maior jornal editado em São Paulo, na língua alemã: o Deutsche Nachriten. Lembrar que Thalia (ex Verain Thalia), o Graciosa (ex Verein Germania Graciosa) foram fundados por alemães.
Stamm na oportunidade que subiu ao pico Marumbí, observou atentamente o cenário do entorno da estação Marumbi, deduziu que poderia ser aberto uma rota mais direta e assim empreende várias tentativas e em 1938/9, executou vários ataques, inicialmente pelo rio Cary e nas cristas próximas, nada menos que sete vezes, sem sucesso. As mesmas tentativas protagonizadas pelo Henrique Zenkert que aspirava vencer a barreira de granito da Esfinge à Ponta do Tigre, e no dia 04 de maio de 1940, quando Stamm estava no Abrolhos, com a Inna e Gerdt Claassen, Thompsen e Mysing, testemunharam a vitória solitária do Zenker sobre a Esfinge, inaugurando o Vale das Lágrimas. Estimulados por esta notável vitória, Mysing, Thompsen e Schaffer, resolvem atacar a Torre dos Sinos e vencê-la no dia 12 maio 1940. Na semana seguinte, em 25 maio 1940, veio o ataque à Ponta do Tigre, com a participação inédita de duas primeiras marumbinistas, Inna KLaasen e Rosa Inenmann, acompanhadas do Zenkert, Thompsem e Stamm.
Finalmente, em 14/07/1940, é a vez do ultimo baluarte cair, o Gigante, protagonizado pelo Mysing e Ep (14 junho 1940), que dali alcançam o Marumbi e descem pelo Facãozinho, fechando o périplo que o gauleiter Stamm, denominou de “Via Noroeste”, pois foram os primeiros a inaugurar essa rota, que nada tem a ver com a indicação azimutal, mas homenagem ao Amundsen, que 1903 a 1906 conseguiu unir os oceanos Atlântico e Pacifico, via Pólo Norte. Com esta última façanha, Stamm substituiu o nome Marumbi (por décadas, Marumby, como uma industria de ferragens, bombas hidráulicas) para Olimpo. Ao interpelá-lo para que justificasse essa alteração histórica, respondeu-me que com a inauguração da Noroeste, “criei o Conjunto Marumbi constituído de 8 picos, e ao mais alto denominei de Olimpo!. De nada adiantou lhe argumentar que se tratava de uma Serra (um batólito granítico), que se estende das proximidades da ferrovia Curitiba-Paranaguá até o Arraial (não existia a BR 277) e não exibem blocos ou conjuntos separados, basta olhar essa serra da estação de Banhados e novamente reforçamos que por se tratar de uma Serra, que nasce aos pés da ferrovia, ou do Caminho do Itupava e se estende até o Caminho do Arraial, não existe possibilidade geográfica de CONJUNTO. Logo, não seriam somente aquelas cristas orográficas ali.
Dado à absoluta liderança germânica de Stamm nesse cenário, com a força do Clube que fundara, os artigos dos Boletins e a coluna semanal que produzia para o maior jornal em língua alemã, conseguiu manter vivo esse esdrúxulo Olimpo por duas gerações, ignorando um topônimo dos mais antigos e exclusivos de nossa paranalidade, Marumbi.
Em 03 abril 1943, Stamm funda o Circulo de Marumbinistas de Curitiba, com seguintes personagens: Umlant, Kirchner, Seifert, Hoffmann, Stamm, Gradowski, Andrzejeswki Peon, Natel, Bonato e Rodrigues D’Albuque, como presidente, pois com a declaração de guerra do Brasil contra Alemanha, a direção de clubes e empresas estava vedada por descendentes dessa etnia.
Stamm acertou em cheio com o neologismo que criara, Marumbinista, vocábulo que chegou a ser sinônimo de escalador no Brasil, ao contrário da sugestão do Romário Martins com o seu marumbistas de vida curta.
Stamm também foi que idealizou e executou o manejo sustentado nos esportes de montanha, ao inserir proteções aos escaladores e à natureza, a exemplo das correntes e degraus e cuidados com as trilhas, ao meio natural, sabendo da fragilidade da cobertura virente nas paredes, onde após várias passagens, ampliava-se a faixa de exposição do granito e as consequentes remoções de solo de pouca espessura, ilhas da preciosa e vulnerável flora orográfica e rupícola, ambientes muito vulneráveis, que vemos muito hoje ser negligenciados. Com esses artifícios instalados, forçava o escalador a manter a sua diretriz da subida, sem maiores lateralidades. Trouxe, ainda, o costume europeu de instalar em cada cume o Livro de Registro, que uma vez preenchido, os substituía e mandava encadernar. Recheou os cruzos com placas indicativas e ainda, em cada topo, informações sobre o nome, altitude, conquistadores e data, mostrando interesse pela história, mas desconhecendo o seu singular passado toponímico daquele que visto da Planície Litorânea, inicio da colonização do Paraná com Paranaguá, Morretes, Antonina, parecia ser o cume da Serra e até 1941 era considerado o do estado do Paraná.
A guiza de curiosidade, para mostrar a forte germanidade marumbinista, pinçamos alguns sobrenomes entre os 400 sócios: Stresser, Buecken, Becker, Back, Kleinke, Jonhsher, Biesemayer, Hassel, Bartz, Schmidlin, Humphreys, Prohmann, Umlant, Nickel, Koehler, Litzendorf, Zimermann, Reichert, Knepper, Schlem, Kirchner, Seifert, Hoffmann, Stamm,, Holzmann, Hey, Seiler, Schiebler, Kalkbrenner, Walbach, Janz, Stresser, Kipmann, Isfer, Kratzl, Dellitsch, Schaffer etc. etc.
Ambiente fortemente germânico, como atesta claramente Adyr Kroland Pinto em texto reproduzido na espetacular obra do Farofa, sobre o Marumbi (folha 153) Verbis: “Assim era o Marumbí. O marumbinismo passou a ser o esporte predileto desses jovens que fundaram em 1943 um clube dedicado ao Marumbí, o Circulo de Marumbinistas de Curitiba –CMC de Curitiba”.
Por serem em grande maioria alemães ou descendentes e como estávamos em plena época, e que o nazismo predominava de forma profundamente arraigada nas mentes hipnotizadas, o que se via e se sentia nas cercanias da estação e no conjunto Marumbi era ambiente tipicamente nazista, salvo algumas exceções. Na pensão do Valeriano, casa remanescente da antiga pedreira, local posteriormente denominado Martinelli, principal ponto de encontro da época, na sala de jantar à noite, à luz dos lampiões a querosene, enquanto se comia e se tomava algumas pingas, iniciava-se a cantoria de músicas marciais da Alemanha e hino dos Alpes. Adyr prossegue relatando extensamente os acontecimentos e ao final da empreitada ao retornarem para Curitiba, dentro dos vagões, ele adicionou:…”Então se iniciava novamente a cantoria alemã, tomando conta do ambiente”…..Ao final Adyr confessa: “Nunca fiz o parte dele, mas compreendo os motivos que levavam grande parte da juventude idealista e entusiasta de alemães e seus descendentes a agirem de tal maneira”.
Por isso ele fundou o clube Tribo dos Chavantes, concomitantemente ao dealbar do Circulo Paranaense de Pioneiros, encabeçado pelo Rosnel Bond e o Centro Excursionista Condor, todos no intuito de se opor a germanização flagrante.
O aspecto da germanização do ambiente montanhistico paranaense nos seus primórdios, notavelmente no Marumbi, foi muito bem analisado no primeiro trabalho acadêmico na cadeira de Antropologia da Universidade de Brasília, elaborada por Roberto Cunha Alves de Lima (atualmente professor universitário no Norte do Brasil), em 1993 em Visão Antropológica das Escaladas no Paraná, de onde extraímos algumas análises, que explicam as nominações toponímicas do Marumbi. Vejamos o que escreveu:
Descendentes germânicos que mantinham um contato forte com a Alemanha, principalmente por livros e revistas, onde havia inclusive, simpatia pelo nazismo, embora não houvesse militância. Tornando o grupo bastante fechado, numa certa etnicidade, respeitando as tradições de seus ancestrais, e iniciando-se na prática desportiva. Na década de quarenta, passeia-se numa recriação do mundo heróico Greco – romano, de seus heróis míticos e das grande explorações, sob influencia do romantismo alemão e do nacionalismo do Estado Novo. OLIMPO: homenagem ao Olimpo, emulação aos heróis gregos. ESFINGE: mito de Édipo. Um monstro que se esforça por meio de enigmas “decifra-me ou te devoro”! NOROESTE: a memorável empreitada de Amundsen em 1903 a 1906. GIGANTE: “se vencer o monstro Adamastor, terás assegurado alcançar o Céu, o Olimpo; TIGRE: seu aspecto icônico, pois não existe na América do Sul, tigres, mas onças, pumas, jaguares, gatos do mato, etc.; DESFILADEIRO DA CATEDRAL; inspirado nas Catedrais Góticas.
Para concluir em nossa peroração na defesa intransigente do nome histórico MARUMBI, recorremos a o recente manifestação da psicóloga e socióloga Maria Alice Setubal, uma das responsáveis pelo Itaú Cultural,que recém lançou através de texto de novembro deste ano de 2021, na Folha de São Paulo, na mesma direção da nossa peroração, o MOVIMENTO DA ANCESTRALIDADE, defendendo o passado, apelo que se encaixa perfeitamente neste trabalho, ou seja: “ Trata-se de um tempo espiralar, não linear ou compartimentado, pois é a atualização viva da memória no presente, que faz uma conexão com o que precedeu: pessoas, ideias, fenômenos, sentimentos, entidades, lutas, artes, natureza”.
Urge, portanto, eliminar essa excrescência de chamar Olimpo ao vetusto e histórico Marumbi, que a duras penas aconteceu com a edição e homologação oportuníssima do Decreto Estadual 7.300, de 24 de setembro de 1990, no governo do Álvaro Dias, reinventado o PICO DO MARUMBI, vítima que fora de um esvaziamento marumbinista e apropriação alienígena indevida, de um espaço histórico geográfico paranaense.
Incrivelmente, muito recente, percebe-se que muitos montanhistas de escassa leitura das histórias alpestres, ignoram que na região do Pico do Paraná, quando Maack fez suas medidas e conquistas em 1941, ele nominou os diversos picos, inicialmente com nomes de personalidades políticas e históricas, mas logo recebeu a advertência do Governo Brasileiro, de que as leis do país não permitem nomes de pessoas, vivas ou mortas, para montanhas e outros monumentos expressivos naturais. Mas eis que recentemente resolveram criar um tal e abominável Morro do GETÚLIO! Historicamente do Grito.
VEJA MAIS
4 Comentários
Vitamina, grato pelo artigo. Ao morro do Getúlio encontra também o nome de Morro (do) Piolho. Aqui você cita que seria o Morro do Grito, enquanto atualmente apenas se menciona um local como sendo a Pedra do Grito. Estamos, portanto, com três denominações, apesar de concordar que no mínimo deveria se eliminar o Getúlio, por não condizer com o regramento condizente. Morro do Grito ou do Piolho?
Henry, conversa com o Vita agora. Pedra do Grito é batismo também do Stamm, logo após a conquista do Pico DO Paraná, Julho de 1941. Durante a volta do cume e vizinhos, o grupo chegava nessa crista, na descida, obviamente muito cansado, colocava a filosofia, as ultimas, soube que …em dia, gritava para a esposa do raro sitiante local, Belizário, o “cardápio” desejado para o final da tarde, noite, normalmente café com mistura. Como colocou, excrecência Morro do Getúlio, regra há muito do IBGE, que deve ser formatado. Nome depois, como Morro do Piolho, se estamos falando da mesma saliência orográfica, Morro (se o é, difícil caracterização), é arte “moderna”, que desconhece a história, a identidade orográfica de nossas montanhas. Varias tiveram nomes que mudaram. Vamos a algumas: Guaricana, unica que tinha nome quando Maack conquistou o Pico DO PR e não é o vizinho dos Ferreiros (que não foi do Maack, que usaria um tupinismo). Pedra Lavrada, virou Morro do Sete. Alto da Graciosa, passou a Mãe Cathira. Morro do Chapéu, temos quase penca, passou á Tucum, Cristal..Pelado, Chapéu no Marumbi, como ali tivemos o nosso A-Jurapê…Iqueririm, mudamos para Quiriri e assim vamos, amigo. Temos outro Morro do Marumby no estado. Tenho mais de 60 anos e ainda procuro um de Má Vista….Importante, li ontem e aguardei conversar com o Vita para não deixar sem resposta, algo que ele não tem como “pecado”. Obrigado pela sua pergunta, comentário e compreensão e se tiver chance, pessoalmente, ele,irá responder com mais detalhes.
Belíssimo texto do Vita! Como sempre recheado de boas e sólidas referências históricas, que se nota ainda hoje, continuam sendo ignoradas por muitos “montanhistas” – mesmo com este tema já tendo sido alvo de inúmeras palestras do Vita pelos Clubes. O texto sem dúvida nos remete à ideia de que ao Montanhista (com “M” maiúsculo), dentre os quais o próprio articulista, não basta apenas ascender aos mais diferentes, longínquos ou desafiadores píncaros, mas conhecer, estudar e resgatar variados aspectos que envolvem as montanhas, como a geografia, a história, a antropologia, a linguística e muitos outros.
Recém-chegado de uma viagem de férias ao pico Paraná e Marumbi, ocasião em que eu e minha companheira Giselle tivemos o imenso prazer de desfrutar alguns momentos de boa prosa com montanhistas locais, dentre eles o Natan, Fiori e Adriano (Cruel), entre outros colegas, é com grande satisfação que encontro textos como este, escrito pelo ilustre Vitamina, que enriquecem ainda mais este prazeroso momento de aprofundamento na história do montanhismo paranaense, pelo qual estou passando. Aqui em Belo Horizonte, temos uma forte influência do montanhismo carioca. É muito bom poder ampliar os horizontes. Parabéns pelo texto elucidativo e muito bem redigido!