Kilimanjaro Parte 6: Aqui completamos a parte mais importante da nossa Expedição!

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Chegando da nossa semana na montanha, de volta a Moshi, ao Hotel , um descanso e banho merecidos por todos depois de um dia puxado até o cume e descida. Um jantar para comemorar, com cerveja para os fãs desta, e carne , que foi motivo de risos pois durante a expedição conseguimos converter por alguns dias um dos integrantes vegetarianos, que por estar com muita fome, acabou comendo frango e carne na montanha em algumas das refeições.

 
Na manhã seguinte todos descansados, recebemos a notícia do Max de quanto havíamos arrecado em dinheiro, descontados os gastos com a expedição. Radiante ele nos contou que a quantia poderia alimentar as crianças do orfanato e escola durante os próximos 3 meses. 
 
Foram dois dias de visita à escola e ao orfanato que ficaram marcados na memória de cada um dos participantes. Dias muito especiais. Fomos até a cidade ajudar com as compras. Comida, bolachas, sucos, sabonetes… Sem contar os brinquedos, material escolar e as roupas e calçados que já havíamos organizado nos primeiros dias. Tudo separado, e o momento mais aguardado chegou: conhecer a escola, o orfanato e as crianças. 
 
A primeira visita foi à escola organizada pelo grande Teacher. A escola atende crianças do vilarejo o dia todo, porém, com a nossa busca e compra de parte das doações pela manhã, e um almoço que demorou um pouco para sair, acabamos chegando na escola tarde, e as crianças já não estavam mais presentes. Mesmo assim nossa chegada foi motivo de festa, crianças que vivem nas proximidades acabaram “invadindo” o pátio da escola. Pátio esse contando com uma grande área ao redor do prédio das salas de aula, de terra batida onde nos divertimos por alguns momentos com as crianças locais, tirando fotos e mostrando a olhares curiosos e atentos , seus rostos “presos” na telinha das máquinas e celulares. 
 
Helena chamou atenção com seus traços orientais e foi “adotada” por um grupo de crianças que corriam de mãos dadas com ela pelo terreno todo. Conhecemos também a estrutura das classes, os bancos e mesas pequenos, as paredes com quadros, recortes coloridos do alfabeto, ou tabuada, quadro negro… Mas as salas estavam vazias! Saindo da escola, seguimos para o orfanato. 
 
Lá vive o Teacher com sua família, cuidando de 65 crianças. As crianças da escola e dor orfanato tem de 4 a 7 anos. Assim que chegamos, porta da van abrindo, e veio correndo de dentro do orfanato uma garotinha, que mal abrimos a porta da van, ela saltou nos meus braços e ali ficou um bom tempo, sem querer descer. Um nome diferente, que perguntei, mas não gravei, mas gravei sim e para sempre seu sorriso! 
 
Descemos todos, entramos no orfanato, e as crianças começaram a sair de seus quartos e a rodear-nos. Bolas de futebol improvisadas apareceram, crianças com pneus sendo conduzidos com varetas longas, algumas meninas maiores, com seus 14 ou 15 anos, ainda permanecem no orfanato, e acabam por ajudar com os menores. A garotinha do belo sorriso saiu do meu colo para o colo da Lilian, atraída pelos seus óculos escuros. Pegou os óculos e os colocou. Acenei para ela com as mãos e ela voltou para meus braços, e ali ficou até o momento em que começamos a distribuir suco e bolachas para todos! Ela miudinha, uns 4 ou 5 anos, pouco falava, vestia um vestido todo cheio de desenhos e um colete jeans, parecia uma miniatura de gente, começou a correr pelo terreno, a subir num brinquedo com escorregador e descer, sem parar, repetidas vezes. Com sua bolacha e suco na mão, nem precisava delas ( das mãos ) tamanha esperteza e habilidade para subir e descer, chegar no final do escorregador e num pulo já de pé começar novamente. 
 
Maximo, eu e mais alguns do grupo observávamos a garotinha, lembro que o comentário do “Tio” (quem o conhece sabe que é assim que nosso guia Maximo se autodenomina para seus clientes), “essa aí vai ser médica, vai tomar conta dos outros, muito esperta”… Algo parecido com isso ele falou. Muito interessante ver que a simplicidade, e mesmo com o pouco que tem, as crianças cuidam umas das outras. Um maior vinha e nos puxava pela roupa, pedia um suco e bolacha, e mostrava que era para alguma outra criança menor que ainda não tinha ganhado. Foi uma festa! 
 
Conhecemos os quartos, as meninas mais organizadas, as adolescentes, poucas, com os quartos enfeitados, bonecas nas camas, no meio do caos, tudo organizado! Num quarto uma estava recolhida, tinha ido ao médico, acho que uma gripe, não queria falar muito. Uma sala de aula, a cozinha com a comida em grandes panelas sendo preparada, uma biblioteca. Um quarto ao fundo reunia um grupo de meninos que estavam em recuperação de cirurgias diversas. Entrei e levei suco e bolacha para todos, não queriam conversar muito, mas como todas as crianças, agradeciam e nos diziam “God Bless You”. 
 
A visita foi um marco para todos na expedição. Via-se nos olhares de cada um que conhecer as crianças, fez cada um sair de lá pensativo. Foi interessante observar também a felicidade nos olhos do nosso guia “Tio”, ali, rodeado pelas crianças. Posso estar enganada, mas seu olhar transmitia uma alegria, e uma satisfação em poder, com um grupo de 6 clientes, ter ajudado cada uma daquelas crianças! O que poderia fazer então com uma expedição com umas 20 pessoas! Foi a leitura que fiz naqueles momentos, ao observar seus gestos e olhares enquanto admirava todas aquelas crianças se divertindo.
 
No dia seguinte fomos visitar a escola no horário de aula. Teacher disse que as crianças estariam no meio de suas atividades. Chegamos, e agora, pelas janelas, víamos as classes cheias de crianças, seguindo os ensinamentos de suas professoras. Entramos e como era de se esperar, tiramos a concentração de todas elas. Acabou que adiantaram a hora do lanche. Numa das salas Teacher coordenou um coro de crianças cantando para os curiosos visitantes uma canção. 
 
Hora do lanche, fomos ajudar a servir o mingau que diariamente elas recebem no intervalo das aulas. Sentados no pátio, numa área cimentada rodeada pelo chão de terra batida, fomos distribuindo uma a uma, canecas cheias do lanche habitual. Mais uma vez fiquei encantada com a educação, e o cuidado que aquelas crianças aprenderam a ter umas com as outras. Mesmo com o pouco que tem, aprenderam a repartir, e a cuidar dos menores. Um garotinho levantou a mão antes da vez, e baixou a cabeça dando um sorriso, percebendo que ainda tinha um ao seu lado que não tinha recebido a caneca. Outra criança, ao receber uma caneca grande, olhou para o lado, e viu que o seu colega era maior. Rapidamente deu sua caneca para ele, e pegou outra menor comigo. Depois do mingau, trouxemos o suco e bolachas, distribuímos para todos, em roda, e fomos saudados com uma nova canção e pelo Teacher com um discurso. Mais uma vez recebemos em coro um “God Bless You”, e comovidos com o que vimos e experimentamos, nos despedimos da escola, das crianças já em suas salas de aula rumo ao hotel, onde jantamos e no dia seguinte começava a triste mas necessária volta para casa. Restou a vontade de repetir a dose, ou fazer algo semelhante em outros lugares por aí! 
 
Helena foi a primeira a deixar o grupo, sozinha continuou a viagem pela Tanzânia. No dia seguinte foi a vez Felipe, Marcos e Max que adiantou seu voo para poder retornar e trabalhar com novas expedições por aqui. No mesmo dia a noite foi a vez irem Lilian e Vitor. Mais uma noite, agora sozinha no grande hotel, pensativa sobre a vida, a viagem, sobre os ótimos momentos vividos com todas aquelas pessoas que de alguma forma me fizeram a aprender mais sobre mim, e a despertar mais idéias de novos rumos a seguir na jornada da vida. Espero que muitas outras pessoas possam participar de atividades como essa, não só na Tanzânia, mas por aqui mesmo, nas nossas casas, nossos bairros, nossos locais de trabalho, nas ruas… Que por onde passemos, estejamos atentos, e possamos semear algo bom pelo mundo e entra as pessoas, nessa grande viagem que é a vida!
 
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Sobre o autor

Tatiana Batalha, natural de Mogi das Cruzes SP é médica ortopedista e montanhista, tenho escalado diversas montanhas como Aconcagua, Huayna Potosi, Acontango, Kilimanjaro e outras.

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