MEIA-TRAVESSIA C/ PERRENGUE TOTAL NO QUIRIRI

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Há tempos q desejava conhecer os famosos Campos do Quiriri, imponente cadeia montanhosa numa Serra do Mar menos conhecida na divisa do PR e SC. Desconhecida p/ pessoal da região sudeste, pois o local q abraça este enorme planalto c/ respeitáveis picos interligados são playground habitual da galera montanhista do sul. E sendo nossa 1ª incursão à região, a idéia era realizar a travessia + conhecida, a Araçatuba-Monte Crista, em apenas 3,5 dias, tempo hábil q dispúnhamos. Qta pretensão a nossa. Vários fatores – principalmente adversidade do terreno e péssimo tempo – limitaram à mesma somente ate a metade. Entretanto, a aventura de descortinar estes novos horizontes de campos de altitude de vistas longínquas, pipocados de cachus, florestas de pinus e blocos de pedra em meio a gdes montanhas, apenas instigaram + a vontade de lás voltar e perscrutar as varias outras possibilidades q a majestosa Serra do Quiriri oferece.

PELOS CUMES DO ARAÇATUBA, BALEIA E MOREIA
Mal chegamos a Curitiba e o Julio Fiori (amigo e&nbsp,colunista do site www.altamontanha.com) nos pegou na rodoviária as 6:30 conforme previamente combinado. Dureza foi enfiar este q vos escreve, Danilo, Vivian, Lu e o Ângelo (c/ respectivas e generosas cargueiras) num Palio Adventure 0km! Mas feito sardinhas nos esprememos e imediatamente tomamos rumo à BR-376 (ou BR 101), sentido Joinville, entre mtas gargalhadas e papo furado.

Poderíamos ter pego um bus local p/ Garuva e descer na estrada, mas a bem-vinda carona do Julio nos ajudaria mto na logística da trip, nos economizando um tempão precioso de pernada desnecessária. O tempo, por sua vez, estava pouco promissor e q previsão não era nada animadora, mas mesmo assim encaramos este novo desafio por estas bandas, totalmente desconhecidos p/ tds nós.

Após a Represa da Vossoroca, 60km após deixar a capital paranaense e já no município de Tijucas do Sul, deixamos o asfalto em favor de uma placa indicando a “Comunidade do Matulão”, por onde rodamos ainda bons e tortuosos 8km por precária estrada de terra. Serpenteando pequenos morrotes em área rural, a neblina não permitia enxergar a imponência da proximidade da Serra do Papanduva, espigão norte do Quiriri. E após varias bifurcações, chegamos finalmente no Sitio do Seu Amadeu, as 8hrs, q em meio aquela serração td parecia estar deserta naquele momento, o q geralmente é raro.

Haviam outros 2 veículos recém-chegados tb de gente disposta a encarar parte do nosso destino matinal, distante ainda num desnível quase de 800m acima! Em tempo, o Sitio do Seu Amadeu é pto de partida pra alcançar o alto dos 1.673m do Morro do Araçatuba, pto culminante da 2ª cadeia + elevada do estado do Paraná.

Ajeita mochila aqui e alonga ali, 40min depois e capitaneados pelo Julio, tomamos a trilha logo atrás dos banheiros e mergulhamos na mata fechada p/ ganhar altitude em seguida, em largos, íngremes e fortes ziguezagues. O bosque logo deu lugar a matacões de samambaias e, p/ nossa surpresa, o tempo foi dispersando o tapete de nuvens à nossa volta conforme ganhávamos altitude e largos horizontes começaram a surgir. Isso era bom d+ pra ser verdade!

Não demorou e a vegetação reduziu seu tamanho, limitando-se a descampados de capim rasteiro em meio a blocos de pedra! A picada é obvia, não tem erro. Há alguns totens no caminho, porem desnecessários, já q o cume é sempre visível. Atravessamos um pequeno foco de mata (c/ água escorrendo) e volta a singrar o campo em suave aclive, ora pelo capim, ora por enormes lajotas, blocos de pedra e aderências rochosas. Noutras: campos, afloramentos rochosos e um tapete de pasto forram o caminho ate o cume.

Numa parada estratégica no 2º corrego (Rio São Joãozinho) deste longo e belo trecho, as 9:50, beliscamos algo e abastecemos tds os cantis (ultima água!) p/ dar continuidade à pernada. A picada parece sumir, mas o sentido é obvio: p/ cima, na diagonal, sempre buscando a forma + fácil de seguir em frente, evitando pirambas e paredões verticais rochosos. Assim, vamos avançando praticamente seguindo uma crista à esquerda da montanha, onde a declividade aumenta e nos obriga a subir através das canaletinhas de pasto na encosta, aos ziguezagues.

O calor reduz nosso ritmo e nos obriga a vários pit-stops p/ retomada de fôlego, c/ exceção do Julio q sobe&nbsp, -&nbsp, apenas c/ mochila de ataque p/ bate-volta – ininterruptamente. De qq forma, não podíamos reclamar qto o tempo, perfeito! O azul intenso do firmamento despido de nuvens só era cortado por eventuais aviões rasgando o ar, deixando uma longa faixa branca, tal qual estrelas cadentes diurnas.

Ao ganhar um ombro de serra, os horizontes se ampliam de vez e podemos apreciar as antenas do Morro dos Perdidos e a Baia de Guaratuba. Pausa p/ fotos, lógico! Mas o melhor ainda estava por vir e, após + um lance de íngreme ziguezague, ganhamos a ampla e larga crista principal, onde a pernada arrefece em meio ao capinzal ondulante perante a suave brisa. Num 1º cume (ou falso cume), temos uma vista privilegiada do maciço q compõe o cume principal, alem da imponente Pedra Branca de Araraquara, solitária montanha em destaque q se ergue da planície litorânea.

Após descer e subir um curto trecho de capim atingimos de fato o largo cume principal do Araçatuba, ao exato meio-dia! Marcada por algumas clareiras, o local tem tb uma enorme rocha e uma caixa abrigando o livro de registros, q por sinal tds fizeram questão de assinar. A vista lá de cima, de 360 graus, é deslumbrante: ao sul, a Serra de Papanduva se interliga c/ a Serra do Imbira e c/ a do Quiriri, onde divisávamos nitidamente uma antena no morro homônimo, à qual deveríamos chegar dentro de 2 dias, a oeste, imensos reflorestamentos de pinus, o norte/nordeste é silhuetado pelos conjuntos, ao longe, do Ibitiraquire (PP) e Marumby, a leste, o oceano atlântico resplandece desde a região de Paranaguá ate a Baia da Babitonga.

La embaixo, campos e fazendas reduzidos são cortados pela BR-101, onde caminhões e carros parecem brinquedos, minúsculos. E assim, naquele magnífico local descansamos um bom tempo, ao mesmo tempo em q batíamos fotos, conversávamos animadamente, alem de lanchar afim de repor as calorias gastas na subida.

A preguiça tava boa d+, mas precisávamos continuar a pernada p/ aproveitar o bom tempo. Assim, nos despedimos do Julio e prosseguimos nossa travessia, as 13hrs. Dessa forma, começamos a descer suavemente a crista de serra q seguia sentido sul, em meio ao capinzal, s/ erro algum. Na verdade íamos seguindo uma trilha de vaca (ou melhor, pasto amassado), pois nosso destino era o Morro da Baleia ou o Moréia, imponentes montanhas à meio caminho da tal crista, nitidamente visíveis de onde estávamos.

Porem, a impressão de q a tal crista era continua desapareceu assim q chegamos num pequeno cume onde a trilha sumiu por completo, alem de dar de cara c/ nosso 1º gde obstáculo: o fundo e enorme Vale do Rio Pinhal separando a crista do Araçatuba do Baleia! E agora? Aí eu e o Ângelo nos separamos a fim de buscar a continuidade da dita cuja, tarefa q nos tomou quase uma hora! “Kd a porra da trilha?”, foi o pensamento q verbalizei a td voz e tornou-se refrão pelo resto da trip. Por sorte, o Ângelo encontrou a “porra” da picada no local + improvável possível, por acaso, escondida no meio do mato do supracitado pequeno cume.

Descemos então a trilha por uma piramba íngreme no meio de espessa mata, dominado principalmente por voçorocas de taquarinhas (aquele bambuzinho fino), aquelas q tem o péssimo habito de se enroscar em qq saliência da mochila! Mesmo andando por trilha havia mto desse bambu no caminho p/ nosso sufoco, mas felizmente nosso ritmo de pernada era bem + ágil q no caso de ter de varar aquele famigerado taquaral. No alto, urubus voavam sobre a gente quiçá aguardando refeição fácil. Uma vez no fundo do vale, começamos a subida no mesmo ritmo, desta vez s/ as malditas taquarinhas no caminho, por sorte. Um tempo depois emergimos da mata pra cair novamente nas encostas de pasto do Baleia, e dali, na diagonal, ganhar o seu largo cume as 16:40.

Dali descemos pela outra encosta de pasto sentido o Moréia, a montanha sgte. Este trecho obvio não teve maiores dificuldades, embora no caminho houvesse pequenos sulcos rochosos q bastou apenas contornar. E assim, as 17:45 caímos num simpático platozinho de capim fofo ao sopé do Moréia, adornado por pinheiros solitários, onde encerramos o expediente daquele dia. O Danilo desabou no pasto, exaurido, a Vivi fumou seu cigarrinho p/ comemorar ter chego ate ali, a Lu rapidamente montou sua barraca e de lá não saiu +, enqto eu e o Ângelo avaliávamos a melhor tática p/ dia sgte.

Acampamento montado nos resignamos a apreciar o belo espetáculo do sol despencando atrás dos morros, no horizonte, p/ em seguida preparar a janta c/ a pouca água q dispúnhamos. Este, alias, foi um dos problemas q tivemos, pois a pernada (cansativa e demorada) ate ali nos havia custado boa parte dos cantis, q agora racionávamos pois o precioso liquido só seria visto no dia sgte. Eu nem cozinhei afim de economizar água, e apenas me limitei a lanchar p/ desfalecer no meu saco-de-dormir logo a seguir. O resto conseguiu preparar algo rápido e quente, e ainda tagarelar noite adentro por um bom tempo, numa conversa via “DDD-barraca”. A noite fora relativamente fresca, e não tão fria conforme prevíamos. O céu estava repleto de estrelas cintilando, q por sua vez rivalizavam c/ a luminescência das cidades próximas.

PINUS, ESTRADAS, CACHUS E + PINUS
A manha sgte levantamos preguiçosamente as 6hrs, mas o conforto dos sacos-de-dormir nos segurou por + 1 hr. O dia raiava novamente repleto de promessas e, melhor ainda, despido de qq vestígio de nuvens! A noite, por sinal, fora agradável à tds: o Ângelo foi o único q levantara cedo p/ clicar a linda alvorada q iluminou aquela manha, c/ o astro-rei nascendo em meio as montanhas, à leste, já o Danilo confessou q quase nem dormiu c/ receio q levantássemos cedo d+ e o largássemos ai (?!). Como estávamos s/ água p/ café, apenas beliscamos alguma coisa e deixamos p/ tomar um “breakfast” + reforçado somente qdo alcançássemos o próximo pto de água.

Enfim, pusemos pé-na-trilha, (ou melhor, pé-no-capim) as 7:30, contornando o Moréia pela esquerda, buscando o melhor lugar p/ subir suas íngremes encostas de pedra e pasto. Da mesma forma q o Araçatuba, ganhamos altura através de canaletas, lajes e aderências, em ziguezague, ate alcançar finalmente seu largo cume. Do alto, vislumbramos a continuação da travessia alem de estudar as melhores formas de alcançar as sucessivas cristas q se seguiriam. Enfim, traçamos um objetivo corajoso q dependia puramente de navegação visual.

Desimpedida e suavemente, nos lançamos crista abaixo, através de bucólicos campos salpicados de matacões de caratuvas durante um bom tempo, indo em direção de uma estradinha já avistada do cume do Moréia. Os passos largos, movidos pela empolgação do céu azul, do ar puro e do belo visual tb tinhamos outro motivo: água! Eu morria de sede e não via a hora de encontrar nem q fosse uma poça ou filete do precioso liquido. Bem, dos campos de pasto acabamos chegando na beirada de uma larga faixa de mato fechado q precedia a tal estradinha. Felizmente, encontramos um rastro de trilha (pela direita) q nos poupou de encarar esta mata no peito – repleta de um denso taquaral e espinhentos caraguatás – e assim perdemos altura ate cair num bosque de pinus, onde o caminhar novamente ficou mais ágil e rápido.

Pois bem, do pinheiral logo desembocamos numa precária estradinha q, num piscar de olhos, nos levou à tal estrada avistada, as 9:30. E foi aqui onde fizemos uma parada p/ buscar água, pois aqui era baixada e certamente deveria ter o precioso liquido nalgum canto, enfiado na mata. Foi ai q a Lu avistou um pedaço de madeira c/ uma fita, ao longe, decerto sinalizando alguma coisa. Eu fui lá investigar e o dito cujo marcava o inicio de uma pequena trilha q, em poucos metros, nos levou ate uma pequena vertente! Alegria total! Jogamos as mochilas no chão e nos fartamos de água, alem de reforçar nosso mirrado desjejum. O sol estava a pino, e logicamente enchemos tds nossos cantis de modo a não passar apuros novamente.

A partir daqui a pernada é feita numa região de plantio e reflorestamento de pinus numa área particular gigantesca de uma tal “Confloresta”, empresa q derruba a mata e ainda por cima coloca placas de “respeite a natureza”. Na verdade, esta é a parte mais “feia” da pernada, em meio a um complicado emaranhado de estradas de terra, abertas por tratores e caminhões de extração de madeira, dificultando o traçado homogêneo do percurso. Bem, ai simplesmente atravessamos a estrada e subimos ate o alto da colina sgte, apenas&nbsp, p/ constatar q outro enorme (e fundo) vale se interpunha na continuidade da serra.

Derivando p/ direita, descemos pelo mato a outra encosta da colina ate dar noutra estrada de terra, pela qual optamos seguir desde q fosse no sentido desejado, de preferência rumo algum selado ao sopé da montanha sgte. Mas esta rede de estradas não foi aberta seguindo um plano lógico e sim ao acaso, conforme é derrubada a floresta. Daí q não raramente as estradas terminam no meio do nada, obrigando a retornar e tentar outra opção. Ou varar mato.

Pois bem, a 1ª q tomamos não tardou em simplesmente terminar num enorme barranco, a 2ª ao menos nos permitiu contornar esta mesma piramba de forma + tranqüila ate tb terminar numa floresta de pinus. Mas como já estávamos perto do sopé da crista sgte, desta vez optamos por varar o mato numa floresta de pinus,. Mas qual foi nossa surpresa ao esbarrar, as 13hrs no fundo do vale, num convidativo riozinho e ainda por cima uma belíssima cachu!!! Alegria geral q nos consumiu um bom tempo de relax, pausa pra fotos e um banho tcheco-tcheco geral, embora o Danilo tenha sido o único guerreiro q encarou um tchibum no poção gelado ao sopé da queda d´água.

Continua….
Com textos de Jorge Soto e fotos de Luciana Barreiro

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Sobre o autor

Jorge Soto é mochileiro, trilheiro e montanhista desde 1993. Natural de Santiago, Chile, reside atualmente em São Paulo. Designer e ilustrador por profissão, ele adora trilhar por lugares inusitados bem próximos da urbe e disponibilizar as informações á comunidade outdoor.

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