Parque Nacional de Itatiaia

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Volto a falar de uma região que para mim é única: o Parque Nacional de Itatiaia, o primeiro criado em nosso país. Escrevo agora brevemente sobre sua geologia, sua fundação e sua natureza. Desde muito tempo visito este espaço esplêndido e emocionante, hoje menos do que antes, mas sempre com o mesmo assombro inicial. Não importa se para você são os Órgãos, o Espinhaço ou o Marumbi, o Caparaó ou as Chapadas, nunca perca a capacidade de se maravilhar com esses milagres da natureza.

A origem do maciço de Itatiaia remonta à ruptura do Continente Gondwana, no qual América e África estavam unidas. As colisões assim geradas soergueram a Mantiqueira primitiva, que era então muito mais alta do que a atual. Com o fim do processo, esta formação foi erodida até quase o nível do mar, desenterrando o antigo alicerce cristalino, formado por granitos e gnaisses, que eram bem mais antigos.

As Altitudes de Itatiaia

Muito tempo depois, iniciou-se uma atividade vulcânica numa extensa linha que ia de Poços de Caldas a oeste até Cabo Frio a leste. O maior destes vulcões formou uma enorme montanha pontiaguda, abrangendo o espaço entre Itatiaia (RJ) e Passa Quatro (MG). Diferentemente das rochas anteriores, os sienitos eram pontudos e empilhados, criando a distinta fisionomia das montanhas desta região.

Esta história violenta teve como consequência a criação de diferentes rochas, desde plutônicas a ígneas, com formas surpreendentes, como atestam o impressionante corpo estriado do Agulhas Negras, os penhascos rochosos das Prateleiras e os perfis arredondados da Pedra Furada.

Agulhas Negras visto do Pico do Maromba, RJ

São rochas com boas condições para escaladas. No Agulhas, há poucas fendas e saliências, o que limita a quantidade de vias que eu saiba a apenas três principais – Pontão, Normal e Bira. Já nas Prateleiras, existem cerca de dez rotas importantes. No Couto e no Altar, os escaladores dispõem de mais de vinte vias com grampos. O Morro do Camelo e o Paredão das Andorinhas costumam também contribuir com a visão de gente colorida tentando sua sorte naquelas paredes.

Ao correr paralela ao Vale do Paraíba, do qual forma o bordo interior, a Mantiqueira apresenta três magníficos maciços em sucessão: o Marins, a Serra Fina e o Itatiaia. Este último é o mais conhecido de todos, e o único que abrange um Parque Nacional. (Tempos atrás, foi proposto abranger num único PN todo o espigão da Mantiqueira, mas este projeto não avançou.) Junto com a Serra dos Órgãos, ele é o berço do montanhismo brasileiro, em especial para cariocas e paulistas.

Cabeça de Leão com Gigante ao Fundo, PN Itatiaia, RJ

No Governo Vargas o Parque foi criado inicialmente na sua atual parte central, com 12 mil ha – a parte baixa mais os campos de altitude. Foi ampliado para os atuais 28 mil ha, que incluíram a parte norte, que até hoje permanece não visitada. Sua estrutura física é antiga, não tendo sido renovada. Existem três longas travessias que cortam o Parque, terminando todas em Visconde de Mauá (ver coluna anterior).

O acesso à parte alta do Parque é feito pela rodovia que liga o Vale do Paraíba a Caxambu, uma antiga rota de penetração para o interior mineiro, desde os tempos do ouro. No seu ponto mais elevado, a Garganta do Registro, inicia-se a chamada Rodovia das Flores. Este nome otimista indica o que na realidade é uma precária estradinha de terra rumo à parte alta do Parque.

Morro do Cavado, Travessia Serra Negra, MG

Ela passa pela Casa de Pedra, que Getúlio Vargas mandou construir, pelo Brejo da Lapa, onde no passado havia um belo lago, e pela abandonada Pousada Alsene, de tantas recordações dos alpinistas mais antigos. Chega finalmente ao principal abrigo do Parque, o Rebouças. Com uma característica: à medida que avança, a estrada vai ficando cada vez pior, com trechos irregulares de pedras.

O Parque apresenta dois cenários naturais distintos: a úmida, densa e fértil floresta montana na parte baixa e os frios campos de altitude e maciços rochosos na alta.  É drenado por rios que integram as bacias do Paraíba e do Rio Grande. O Aiuruoca e o Preto são cursos esplêndidos, que nascem no Parque, cada qual correndo para um lado.

No Cume do Agulhas Negras, PN Itatiaia, RJ

O bordo sul do Parque é fechado pela muralha da Serra das Prateleiras e, até certo ponto, do Alambari. No seu centro, encontram-se as escarpas do Agulhas Negras, quinto pico mais elevado do país. A leste, a elegante Pedra Furada, olhando o parque inteiro, e a oeste, a corcova do Maromba, debruçada sobre Visconde de Mauá. A caminho do norte pouco visitado fica a verdejante Serra Negra, voltada para o interior mineiro.

Pedra da Tartaruga, PN Itatiaia, RJ

O PNI ocupa um grande platô que desce a sul para o Vale do Paraíba e a norte para o sul de Minas. Lá de cima, você verá na primeira direção o vago contorno da Bocaina e, ao lado, o magnífico perfil da Serra Fina, a mais radical das travessias serranas do Brasil. Na segunda, as distantes vistas das montanhas mineiras, em especial o Garrafão e o Papagaio.

Vale do Maromba,Travessia Rancho Caído, PN Itatiaia, RJ

No interior dos seus vales vivem muitas vilas pitorescas, pequenos lugares pobres e esquecidos, como Campo Redondo, Colina e Mirantão. Vale a pena você percorrer os caminhos sinuosos para conhecê-las – todas elas olham em silêncio o esplêndido cenário das grandes muralhas rochosas que de longe as envolvem.

Prateleiras,Travessia Rancho Caído, RJ

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Sobre o autor

Nasci no Rio, vivo em São Paulo, mas meu lugar é em Minas. Fui casado algumas vezes e quase nunca fiquei solteiro. Meus três filhos vieram do primeiro casamento. Estudei engenharia e depois administração, e percebi que nenhuma delas seria o meu destino. Mas esta segunda carreira trouxe boa recompensa, então não a abandonei. Até que um dia, resultado do acaso e da curiosidade, encontrei na natureza a minha vocação. E, nela, de início principalmente as montanhas. Hoje, elas são acompanhadas por um grande interesse pelos ambientes naturais. Então, acho que me transformei naquela figura antiga e genérica do naturalista.

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