Que emocionante é assistir um campeonato de escalada

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Não sei quem foi que disse que assistir um campeonato de escalada é chato. Acho que esta pessoa nunca assistiu e se baseou em preconceitos para proferir uma opinião tão diferente, para não dizer oposta, à minha.

Não tem nada mais empolgando do que ver os melhores escaladores do Brasil darem o máximo de si para escalar uma via super difícil. Assim como não dá para não deixar de se emocionar com os atletas que ganham e que perdem os campeonatos.

Eu demorei muito para perceber o quanto é legal ver um campeonato. Isso porque eu sempre morei no interior e era difícil pegar a estrada para ver uma competição de escalada. A primeira oportunidade que eu tive foi no começo de 2008, quando eu já morava em Curitiba, foi a primeira etapa do brasileirão daquele ano.

Foi um campeonato muito legal. Pra começar, estavam presentes quase todos os atletas de ponta do Brasil: Cesar Grosso, André Berezoski, Felipe Camargo, Eric Telles, Emerson “Biro Biro” Aires e Anderson Gouveia. Também esteve presente grandes mestres da escalada que fazem outro estilo, Marcio Bruno e Arjuna Sundara, que brincaram, como convidados, nas dificílimas vias montadas pelo Flávio “Juca” Canteli. Uau, só tinha cara foda!

Eu estava ajudando a galera do Altamontanha a acompanhar o campeonato e a fazer um vídeo, que foi editado bem mais tarde… Eis que no meio destes escaladores feras surgiram uns piás vestidos com uma camiseta vermelha escrito: “Pé na Agarra”. Quem eram aqueles moleques e o que queriam fazer em um campeonato onde só tinha gente foda?

Bom, com este plantel de atletas, só se pôde esperar um show. A via, cotada como 10b, derrubou todo mundo. A diferença entre Cesinha, Belezinha e Felipinho foi mínima, mas assim ficou definido o pódio masculino.

Campeonato de escalada

Campeonato de escalada

Campeonato de escalada

Campeonato de escalada

No feminino, vi pela primeira vez a Janine Cardoso escalar, nossa, que bonito (pra não dizer, que bonita! hehehe). A Jan encadenou as duas vias. A da final, ela mandou muito bem o teto gigante que tem lá na Campo Base, fechando a via com relativa facilidade. Eu ainda demorei alguns meses para encadenar o teto paralelo que tinha à esta via do campeonato, que era cotado em somente 7c. O da Janine, que foi desmontado antes que eu pudesse ter a técnica de mandá-lo, estava cotado em 8c ou 9a?!

Mas e a gurizada da camiseta vermelha? Bom, aí é outra história…

Todos os escaladores fodas escalaram e logo vieram estes piás. Achei que eles não iam aguentar, eis que estava errado! Nunca torci tanto para alguém escalar quanto eles, foi muito legal…

Estes meninos deram o melhor de si, se esticando para alcançar as agarras, errando na leitura da via, depois voltando pra corrigir e ir pra cima, ficando com o braço tijolado e só caindo depois de sofrer e lutar muuuito.

Mais tarde vi estes mesmos meninos competindo como convidados no paranaense. Eu conhecia os melhores atletas de Curitiba, como o Cassiano “Chuck” Tsuruda, instrutor do ginásio Campo Base, Edgar Guedes, rapaz fortíssimo que tinha o Bruno Klein como personal trainer, Guilherme Leik, guri super talentoso que treina com a equipe do Anderson Gouveia na super equipada Academia Via Aventura, assim como meu companheiro de treino André Sass Braga, que escalava só boulder na Campo Base porque não tinha grana pra comprar cadeirinha e que eu o fiz se tornar sócio do CPM para poder usar a corda e o grigri do clube e treinar, me deixando mais tarde no chinelo…

Pois bem, no meio desta gurizada bem treinada e bem assistida, tinha um piazinho franzino, que tinha uns 12 ou 13 anos e que estava apavorado, pois onde ele escalava, na pequena Campo Alegre, cidade de 10 mil habitantes no interior de Santa Catarina, só tinha boulder e ele nunca tinha guiado na vida e estava com medo da altura das paredes da Academia Via Aventura.

Oi tio. Viu, se eu cair, eu vou me machucar?” Me perguntou este piazinho.

Claro que não, os route setters fazem vias difíceis para vc cair com toda a segurança!”.

Acho que ele não se convenceu da minha redundante resposta e lá foi, o pequenino escalador de Campo alegre fazer a via. “Duvido que ele consegue!”

Pois bem, o piá foi ganhando altura, subindo e subindo. Escorregou o pé umas duas ou três vezes, se segurando como podia nas agarras minúsculas e especialmente escolhidas pelo Anderson Gouveia para derrubá-lo. O público ia ao delírio com as quase quedas. Assim, o pequeno foi driblando as dificuldades e chegando à última agarra. Ainda brigou mais um minuto com a corda, pois ela insistia em não entrar no mosquetão, até que um “click” ecoou pelo ginásio e o silêncio foi rompido pela palmas para o único atleta que encadenou a via da final.

O pequeno se chama Andreas, mas é conhecido como “francês”. De lá pra cá já não é tão pequeno mais… Ele ganhou, mas não levou o campeonato paranaense, pois era convidado, já que ele é de Campo Alegre, SC, a mesma cidade dos guris das camisetas vermelhas. São eles: Jonas, Jürgen, Victor, Rodrigo.

Apesar de puxar saco indiscaradamente para esse pessoal da Associação Pé na Agarra de Campo Alegre desde então, não posso deixar de dizer que existem outros Andreas país afora sob o nome de Caio, João, Mariana, Ana Paula, Luana, Taís, Pedro, Maria, Camila, Jenifer, André, Luan, por não dizer Felipe… Enfim, são tantos nomes que me deixa feliz em ser displicente e esquecer um ou outro, pois isso é sinônimo de que a escalada está renovada e logo os Cesares, Janines, Andrés, Erics… vão mudar de nome.

Para ser mais direto, isso aqui é um elogio aos atletas de competição, principalmente para os juvenis e especialmente para os atletas de Campo Alegre. Parabéns para todos vocês, pois sei que assim teremos um ótimo futuro para a escalada.

Veja mais:

Veja as fotos do Brasileirão de escalada
Vendo água de Campo Alegre
Finais da Seletiva II parte
Finais da Seletiva I parte
Fotos do brasileiro de escalada 2008

Ps. Falei do vídeo que editamos no brasileiro de 2008, pois bem, demorou para ficar pronto e não foi para o ar, agora está aí, legal para relembrar!

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Sobre o autor

Pedro Hauck natural de Itatiba-SP, desde 2007 vive em Curitiba-PR onde se tornou um ilustre conhecido. É formado em Geografia pela Unesp Rio Claro, possui mestrado em Geografia Física pela UFPR. Atualmente é sócio da Loja AltaMontanha, uma das mais conhecidas lojas especializadas em montanhismo no Brasil. É sócio da Soul Outdoor, agência especializada em ascensão em montanhas, trekking e cursos na área de montanhismo. Ele também é guia de montanha profissional e instrutor de escalada pela AGUIPERJ, única associação de guias de escalada profissional do Brasil. Ao longo de mais de 25 anos dedicados ao montanhismo, já escalou mais 140 montanhas com mais de 4 mil metros, destas, mais da metade com 6 mil metros e um 8 mil do Himalaia. Siga ele no Instagram @pehauck

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