Nos dias 9 e 10 de maio de 2022 deu-se início à reforma das vias da Face Oeste da Pedra do Santuário em Pedra Bela – SP. Tal projeto vem sendo amplamente divulgado desde 12 de outubro de 2021 e de forma transparente estamos aqui relatando os avanços da execução deste projeto. (Proposta Revitalização da Face Oeste da Pedra do Santuário – Pedra Bela, SP – AltaMontanha)
Apenas contextualizando, a Pedra do Santuário é um excelente campo escola de escalada por apresentar vias de baixa dificuldade técnica, baixa exposição em linhas de até duas enfiadas, o que permite que escaladores novatos tenham um primeiro contato com a rocha, aprendam procedimentos de segurança e guiada em um ambiente seguro e próximo à cidade de São Paulo.
No dia 7 de maio, nos reunimos com o Centro Excursionista Universitário da USP, onde combinamos as próximas etapas e pudemos constatar alguns fatos sobre as vias existentes naquele importante setor escola.
Escalamos a via Novalgina (via 10 do croquis abaixo), onde pudemos ter certeza de alguns fatos. No croquis de Alexandre Anderson (Face Oeste – Alma de Pedra) essa via consta como “inacabada”. Ela foi protegida com chapeletas Camp, hoje bastante oxidadas e mimetizadas com as cores da rocha, o que dificulta muito a orientação na parede.
Escalando cuidadosamente, pudemos confirmar que a Novalgina tem 5 proteções até o cume. A terceira proteção e a quinta foram duplicadas com um grampo branco por um desconhecido. Pelo croquis, nota-se que a Novalgina sai de uma fenda e sua linha vai bastante para a direita onde está a via “Intrigas”, uma conquista de André Prata e Rafael Wojcik de 2003.
A “Intrigas”, que na verdade não tem este nome (via 9 do croquis), tem apenas 4 grampos P. Os conquistadores nunca bateram uma parada, razão pela qual a terceira proteção da Novalgina, junto com o grampo adicionado posteriormente, era usado como parada desta via.
Na sequência, pudemos confirmar junto com Alexandre Anderson a linha da via Carreira de Calango, a 8 do croquis. Essa era caracterizada por ter uma chapa camp cerca de 6 metros de chão e depois ter 2 grampos intermediários, seguido de um esticão para a direita, que finalizava em uma parada dupla com grampos P.
Pudemos também escalar a via 1 do croquis, a Anfetamina, uma conquista de Alexandre Anderson de 1998. Essa via compartilhava a saída da via 2, a A2B e sua primeira enfiada tinha apenas 2 chapas em spit na mesma situação da Novalgina, mimetizadas com a rocha.
Encontramos as chapas do projeto do Luís da Academia Atmosfera, a via numero 3. Esta via, no croquis de Alexandre Anderson consta como “inacabada” e de fato não há como afirmar o contrário, pois a via não tem parada. Notamos que havia duas chapas paralelas a cerca de 3 metros do chão e apenas uma, localizada no meio entre elas mais 3 metros acima. Até hoje não localizamos o Luís, nem sabemos seu sobrenome. Desta forma não podemos afirmar sua intenção em proteger aquele trecho da parede desta maneira.
O croquis abaixo demonstra o que era a face Oeste no dia 7 de maio de 2022.
Primeiras vias regrampeadas e nova conquista.
Desde outubro de 2021 mantivemos contato com os conquistadores de vias da Face Oeste: Alexandre Anderson, Airton Ortiz, André Prata e Rafael Wojcik. E destas conversas fomos convergindo o projeto para a primeira etapa de sua execução, que ocorreu em dois dias com esforços de Pedro Hauck (de Curitiba/Itatiba) e Diogo Baker (de Bragança Pta).
Os primeiros esforços foram para regrampear a via Anfetamina de Alexandre Anderson. Neste sentido, modificamos um pouco seu traçado, levando-o mais à direita, para uma saída lado da cerca por uma “barriguinha” vertical que deu um “up” na via, deixando-a um pouco diferente das demais vias daquela parede, mas mantendo uma característica de via escola. Ficou um 3sup bem interessante e bem protegido e característico, mantendo uma boa distancia da via A2B. Desta forma, sugerimos à Alexandre Anderson rebatizar a via de Anfetamina para “Meta Anfetamina”, a fim de sinalizar a mudança na via.
Na sequência, com anuência de Alexandre Anderson, regrampeamos e alteramos o traçado da Carreira de Calango. Removemos a chapeleta em spit e melhoramos a segurança da saída, que é um quinto grau de equilíbrio. A via ficou com cinco proteções intermediárias com chapas em parabolt com uma primeira enfiada com chapa de argola e um grampo reaproveitado da via original.
Esta primeira parada finaliza cerca de 27 metros do chão, na base de uma fenda por onde transcorre a segunda enfiada. Essa fenda é uma mini chaminé, escalável em tesoura, em um lance único naquela parede. Há ainda outra chapa antes de terminar a via numa segunda parada de grampos no cume. Desta maneira, a Carreira de Calango virou uma linha reta até o topo com dois lances interessantes, a saída da primeira e da segunda enfiada, deixando espaço para uma nova via em sua parada original, que era mais à direita.
Com o novo traçado da Carreira de Calango, pudemos aproveitar a parede e abrir uma nova via na parede com características únicas no setor. Em uma linha reta abaixo da antiga parada da Carreira de Calango, abrimos de baixo para cima a via “Alma de Pedra”, um quarto grau com uma saída de equilíbrio, lances de pé na mão e boas agarras, que sobe por um rampão que leva a mais lances de balcão que levam a uma primeira parada a 25 metros do chão com 6 proteções intermediárias. Essa nova via, que aproveita a parada de uma via pré existente, segue uma linha onde em nenhum croquis dizia haver vias. Essa linha se desenvolve em um local bastante afastado das vias laterais e terá uma segunda enfiada.
Para finalizar os trabalhos, batemos uma parada para a via “Intrigas” de André Prata e Rafael Wojcik, que nos havia dado a anuência para alterar a via. Essa via, de sexto grau, é a mais difícil da parede. Seu lance mais interessante é a saída, nas três primeiras proteções. Por este motivo decidimos manter ela curta (tem cerca de 20 metros), pois é a via esportiva do local. O escalador que desejar continuar esta escalada, pode fazer uma primeira parada onde acrescentamos a chapeleta com argola, iniciar uma segunda enfiada acessando a quinta chapa da Carreira de Calango e fazer cume pela chaminé.
Reiteramos que todas as modificações foram realizadas com anuência dos conquistadores. Também que todas as novas linhas se desenvolvem com distância das vias adjacentes, mantendo um traçado único, independente e que não gera confusão entre os escaladores. As vias seguem o padrão de proteção local de baixa exposição, mas pequenos (e seguros) esticões em locais mais fáceis da parede.
Face à primeira etapa do projeto, o setor ficou da maneira como está descrito no croquis abaixo:
Próximas etapas:
De imediato a próxima etapa será regrampear a segunda enfiada da Meta Anfetamina e a proteger a segunda da Alma de Pedra.
Até agora não conseguimos localizar os conquistadores Francisco Parreira e Luís da Academia Atmosfera. Fazemos um apelo para quem os conheça que entre em contato conosco.
Pretendemos, junto com o Centro Excursionista Universitário finalizar suas vias. A via Novalgina precisa ser regrampeada para poder ter repetições (via 10 do croquis). Ela se desenvolve em uma saída em fenda bastante interessante. Seu traçado, precisa também ser levemente alterado, uma vez que sua terceira proteção é uma diagonal muito a direita (tanto que era usada como parada da via Intrigas). Pretendemos reduzir este pêndulo e fazer uma via de duas enfiadas até o topo substituindo todas as chapas com spit por chapeletas com parabolt.
Também pretendemos fazer uma via de duas enfiadas onde estavam as chapas do Luís da Academia Atmosfera (via 3).
Acreditamos que, com esta reforma e regrampeação, o setor Oeste da Pedra do Santuário ganhará mais segurança e também com isso resolveremos um antigo problema de saturação de escaladores nas mesmas vias, o que provocava filas e conflitos.
Este setor tem como características apresentar vias fáceis e bem protegidas em abundância, sendo o lugar perfeito para o primeiro contato da escalada, inclusive para crianças, sendo um ótimo lugar para uma escalada familiar para quem tem filhos pequenos. Não há perto de São Paulo outro local com a mesma característica, isso por si só justifica a ação.
A motivação deste relatório é manter a transparência que o projeto desde o inicio mantem, ouvindo críticas e sugestões, além de levantar a história do local de forma que a memória seja preservada, mas que também uma geração atual possa disfrutar do local e se desenvolver como escaladores de maneira segura.
ATUALIZAÇÃO
VEJA MAIS:
:: Proposta Revitalização da Face Oeste da Pedra do Santuário – Pedra Bela, SP – AltaMontanha
3 Comentários
Excelente. Parabéns e obrigado.
Parabens pelo trabalhO!
Regrampearam com grampos?
Ou restauraram com Chapas?
Gostaria de ver imagens das novas proteções!!!
Olá Nativo. Regrampeamos com parabolts e chapeletas. Há vias com parabolt de aço galvanizado e chapeleta fixe galvanizada. E há vias de chapas Pingo com parabolt inox. Vamos publicar mais fotos.