Travessia Praia da Pinheira a Laguna

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Depois de muito tempo resolvi organizar meu diário e enviar meu relato. Durante os dias 05/12/09 á 09/12/09, realizei uma travessia pelo litoral sul catarinense, no qual percorri o trecho entre a praia da Pinheira localizada no Município de Palhoça e a praia do Mar Grosso em Laguna. Foram dias de caminhada por um dos trechos mais belos do litoral brasileiro.


A idéia de realizar esta travessia nasceu quando em junho daquele ano eu fui subir o Pico Paraná com meus amigos Ruã e Edio. Os quais já tinham realizado trechos da travessia da qual estava disposto a percorrer. Diferente do que meus amigos fizeram, andando alguns trechos e em outros pegando ônibus, estava propenso a realizar todo o trajeto a pé. Quando acabou o semestre da UFSC, arrumei minhas tralhas e fui para Laguna visitar minha mãe e me organizar para a travessia. Arranjei uma barraca com um amigo que estava com uma vareta quebrada, como foi a única que arranjei, seria essa mesma que eu iria utilizar. No dia 05/12 peguei um ônibus na rodoviária de Laguna as 13:30 e as 15:00 horas já estava descendo na beira da BR-101, no trevo de acesso a Praia da Pinheira. Aquela hora e meia foram intermináveis, a ansiedade tomava conta de mim e não via à hora de começar a jornada solitária.

Quando desci do ônibus olhei para um lado, para o outro, dei uma puxada de ar forte e comecei caminhar. Percorri em torno de 6 km até a Praia de Baixo da Pinheira. Não encontrei o camping que tinha visto pela internet, então me direcionei para Praia de Cima e encontrei o Camping Tio Neca. O local estava vazio, era inicio de temporada. Peguei um bom canto e montei a barraca com a vareta quebrada. Aquela barraca iria incomodar ao longo de todo trajeto. Fui dar uma volta para conhecer a Praia de Cima e a de Baixo da Pinheira, a minha frente dava para ver o sul da ilha de Floripa, especialmente a Praia de Naufragados e atrás dava para ver o Pico do Cambirela. Fiquei na praia curtindo o local e olhando para sul, esperando que nos próximos dias não chovesse. Voltei para o camping, curti um som, li, comi, escrevi e fui dormir cedo.

Iniciei o segundo dia bem cedo e as 7 horas já estava com tudo arrumado para partir do camping. Cheguei até o canto da praia e um casal passou perguntando se ia para a Guarda, respondi que sim e me desejaram uma boa caminhada. E olha que foi mesmo! Achei a trilha no canto direito da praia e iniciei a subida do morro. A subida foi rápida e puxada com virada para direita na 1° encruzilhada, depois do bambuzal segui reto, cai numa estradinha, e virei para a esquerda. No caminho muitos passadouros de gado.

Cheguei ao Vale Encantado, local onde no verão muitos hippies ficam acampados, ali tem-se a Praia do Masso. Primeira grande recompensa! Depois parti pelo costão errei o caminho, voltei e toquei pela direita da vegetação arbustiva, encontrei a trilha e segui. Mais uma dezena de passadouros de gado. Tira a mochila e coloca a mochila, seguidamente. Cheguei na Prainha da Guarda. Um casal possivelmente estava em um envolvimento violento. Acabei com a festa deles! Prainha deserta e visual animal!

Depois uma subida íngreme e quando acaba…Visão da Guarda do Embaú. Babei!&nbsp, Sentei numa pedra e comi uma barra de cereais. Fico escutando um Eddie Vedder, passo umas pessoas e pego rumo abaixo. Fui margeando o costão pela trilha que estava cheia de turistas. Cheguei no centrinho da Guarda do Embáu e dei uma andada, comprei uma pulseira de um hippie e troquei uma idéia com ele, peguei o barco e fiz a travessia da barra. Chegando na praia, iniciei a caminhada até a Gamboa. Foram 1:30 de caminhada por praia de areia mole, a evolução foi lenta. Naquela altura do dia o sol já estava bem forte. Cheguei ao costão norte da Gamboa as 11:30 e fiz ali um tempinho, achei uma sombra e fiquei viajando! Depois de mais 15 minutos de caminhada cheguei no canto sul da Gamboa, fui em um bar, tomei uma coca gelada e peguei informações de como fazer atravessar para o Siriú. Chegou um cara e pergunta: Quantos kg? Fiquei um tempo conversando com ele. Gente fina me contou que já tinha ido a Machu Picchu. Passou-me umas dicas e comentou da trilha de Gamboa para o Siriú e do Camping que lá tinha.

Encontrei a trilha e fui morro acima subindo por um pasto quando e cheguei no topo parei para tirar umas fotos e recuperar o fôlego. Olhando para o norte visualizava a Guarda do Embáu que naquela altura do dia, com um sol de rachar, estava lotada. Depois virei a direita e encontrei a trilha pela mata. Comecei a decida, surgiu o Siriú. Sensacional! A trilha terminou em uma estrada e virei para a esquerda, fui atrás do camping. Pedindo uma informação aqui e acolá consegui chegar ao camping Siriú, que fica ao lado da tenda do Marcelo. Camping show de bola! Boa estrutura, Boa localização, próximo a cachoeira do Siriú. Conheci o dono do camping, Marcelo, com o qual troquei umas idéias e depois fui para a cachoeira. Que lugar doido! Fiquei deitadão, me concentrei e meditei! Fiquei anestesiado! Depois fui dar um mergulho, chegou umas meninas e troquei umas idéias. Voltei para o camping que estava vazio, tomei um banho! Comi e dei uma boa lida. Fui para a barraca com uma puta dor no ombro esquerdo.

No outro dia acordei cedo, porem demorei para arrumar o equipamento. Enquanto estava comendo pão, Marcelo apareceu e me trouxe café com leite e 2 bananas. Parti as 7:20 h saindo por trás do rio, andei cerca de 4 km e cheguei na ponte sobre o&nbsp, Rio do Siriú. Depois do rio achei a entrada da antiga área onde as pessoas acampavam no Siriú e por ali encontrei a trilha que me levou as dunas que atravessei para chegar na praia. Mais uma praia de areia mole, porém fui andando rápido. Cheguei em Garopaba as 9:30, fui me direcionando para a parte antiga da cidade no canto sul da praia, quando avisto um rosto familiar acenando para mim.

O Peterson! Só para rir mesmo, encontrar alguém conhecido no mochilão era algo que não esperava mesmo! Conversei um pouco com ele e fui-me embora. Encontrei a trilha ao lado da igreja no costão sul da praia e subi pelo pasto curtindo um visual sensacional! Momento crítico, bifurcação na trilha, peguei a esquerda e era para ter ido pela direita! Curti um costão muito lindo, talvez o mais belo que eu já tenha visto, porém caminhei o dobro do necessário e naquele momento ainda não sabia que meu dia seria mais longo do que eu supunha.

Cheguei na Praia do Silveira, famosa pelas suas belas ondas e tinha uma galera surfando no mar. Peguei o costão sul e fui subindo a estrada que vai ficando estreita até que se torna uma trilha! No topo do morro da para visualizar a Lagoa da Garopaba e depois a estrada se abre novamente e começam aparecer algumas casas. Desci ate a estrada geral da Praia da Ferrugem. Cheguei ao camping por volta das 2:00 da tarde e descobri que estava fechado, tentei outro camping e também estava fechado. Fiquei preocupado porque estava sozinho e não estava querendo acampar numa praia, havia algumas pensões, mas elas estavam fora das minhas possibilidades financeiras, então tomei a decisão de ir ate a Praia do Rosa. Estava fazendo em um dia o que havia projetado para fazer em 2. No dia seguinte fui bem devagar da Ferrugem ao Rosa, curtindo bastante o trecho e parando muito, mas o final foi uma correria para evitar andar a noite.

Num mercado comprei chocolate e toquei para dentro aquela energia extra. A bateria do celular acabou e não tirei fotos da Praia do Ouvidor e nem da Praia Vermelha. Toquei pela Ferrugem e passei pela barra com água pela panturrilha. Canto sul da praia da Barra, muito show! Achei a trilha pelas dunas e toquei ficha! Fui atravessando as dunas ate que alcancei uma parte de pasto com algumas arvores. O cansaço bateu. Fui para o costão e parei para descansar, comi e logo parti. A primeira visão da Praia do Ouvidor me renovou às energias, fiquei empolgado, pilhei e acelerei o passo. Desci para mais uma praia linda! Ficou faltando às fotos, mas guardo muito bem as imagens na memória. Já eram 16:30&nbsp, e fiquei cabreiro com a condição climática que ao sul começava a mudar. Parti pelo costão sul. Trilha do Ouvidor para Vermelha, muito massa, bem marcada e bonita.

Cheguei na Praia Vermelha, que já foi uma praia particular com o acesso controlado, mas hoje em dia o acesso a praia é permitido porem os morros ao redor são do grupo Gerdau. Fiz a trilha para o Rosa. Curta e pequena, mas muito bela. Chegando no Rosa avistei um grupo grande de pessoas. Fui avançando pela praia até achar um posto de salva-vidas e me informei aonde era o camping. Andei um monte, Rosa é tudo espalhado, tudo grande. Achei o Camping Morrison. O dono do camping se apresentou e falou: “Aqui é o camping Morrison, ta ligado? Jim Morrison! The Doors! Rock in roll!” Genial! Montei acampamento embaixo de umas arvores. Fiquei apreensivo com uma tempestade que se aproximava. Será que a barraca agüenta? Deitei e capotei! Estava destruído e com bolhas no pé esquerdo. Fiquei com medo. Como é que vou estar no dia seguinte?

No quarto dia acordei com o tempo bem fechado, a chuva se aproximando. Arrumei-me rapidamente, coloquei a capa de chuva e voltei para praia, peguei a trilha que leva do Rosa a Praia da Luz. Trilha tranqüila, bem marcada e sem erro. Chegando na Praia da Luz a visibilidade era mínima, continuei a caminhada em direção a barra da lagoa da Ibiraquera e chegando lá, para minha surpresa, a água estava bem baixa na barra. Porém a chuva continuava a me castigar. Passei pela Praia da Ibiraquera e me direcionei para a Praia da Ribanceira. Chegando na Ribanceira peguei o costão sul e logo encontrei a trilha através do morro que leva para a Praia D´água.

Aproximando-me da Praia D´água a chuva parou e o tempo começou a dar sinais de melhora. Olhei para o mar e visualizei alguns navios que estavam aguardando o momento de ancorar no Porto de Imbituba. Cheguei na Praia D´água as 11:00 e parei para almoçar e dar uma boa descansada. Fiquei lá um bom tempo, ali seria a despedida das praias por onde nunca tinha passado. Dali para frente andaria por areias bem conhecidas. Fiquei pensando nos perrengues que tinha passado até aquele momento e de como tudo aquilo estava valendo muito a pena. Aquela solidão me levava a ficar mais perto de mim mesmo e curtir muito mais os lugares pelos os quais estava passando.

Subi o morro e caminhei ate um pequeno farol da marinha. Visualizei o Porto de Imbituba e de lá liguei para meu amigo Lucas que morava em Imbituba. Minha idéia era ficar no camping na Praia da Vila, porém o Lucas me convidou para ficar na casa dele e acabei aceitando o convite. Ele me levou nas antigas caixas d´água de Imbituba, tomamos uns banhos lá. Muito legal o lugar. Aquela noite eu dormi muito bem.

No quinto e ultimo dia de jornada sai da cama mais tarde do que o habitualmente nos últimos dias. Despedi-me do Lucas e segui para a Praia da Vila. De lá toquei reto no sentido sul, em direção a Itapiruba, caminhada bem longa, porém a areia estava dura e facilitou a progressão. Cheguei a Itapiruba as 11:30 e fui numa lanchonete fazer um lanche e depois toquei em direção a Praia do Sol. Daquele momento em diante caminhava só pensando em chegar em Laguna. Estava fisicamente cansado e fui caminhando até que passei pela Praia do Sol para logo após subir o costão, fui ate a bela e intrigante Pedra do Frade, um bloco de pedra de algumas toneladas que se encontra no costão somente apoiado em três pequenos pontos tendo outro pequeno bloco sobre ele, como se fosse um chapéu.

Existem muitas historias sobre esta pedra, é um local muito interessante para se visitar. Segui em frente e o fim da tarde já se aproximava. Dando a volta no morro visualizei o objetivo final, a Praia do Mar Grosso. Desci para a Praia da Baleia e depois comecei atravessar a Praia do Gi. Cheguei na Praia do Mar Grosso já próximo das 19:00 horas. Na rua em frente ao Posto Três do salva-vidas me despedi da minha caminhada e me direcionei para o apartamento da minha mãe.

E assim terminei meu mochilão por um dos trechos mais lindos do litoral brasileiro. Aqueles dias foram únicos, sensacionais e inesquecíveis…

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