Caminhada até Guapi em meio a Mata Atlântica

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Trajeto pela antiga Estrada do Garrafão nos permite conhecer ainda mais a Serra dos Órgãos


Quando você passa de carro ou ônibus pela estrada Rio-Teresópolis, no trecho da serra, consegue observar toda a beleza da Serra dos Órgãos e da Mata Atlântica que a cerca? Provavelmente, não.

E que tal fazer esse trajeto a pé e ver de perto tudo que a natureza oferece a nossa região? É uma boa pedida, mas não pela BR-116. A dica é chegar até o centro de Guapimirim em meio a floresta, pela antiga e abandonada Estrada do Garrafão! São cerca de 12 quilômetros, passando por cachoeiras, plantas e árvores centenárias, sendo a maior parte do trajeto ainda na área do PARNA-SO.

Esse foi um dos últimos passeios do pessoal do Centro Excursionista Teresopolitano, o CET. Eu, Alexandre Formiga, Guilherme Carvalho, José Henrique Gomes, Daniel Magalhães, Roger W. Silva, Luciano Mobi e Natália Ribeiro fizemos o percurso a pé até Guapimirim em um dia que começou fechado, chegou a chover rapidamente, mas que terminou com uma tarde de sol! A aventura teve início por volta das 7h40 no restaurante Paraíso da Serra, quilômetro 90 da Rio-Teresópolis, onde deixamos os carros. Ali começa a antiga Estrada do Garrafão.

Na primeira parte, calçamento feito de cimento, provavelmente por moradores locais. Aliás, nesse primeiro trecho encontramos várias casas aparentemente abandonadas. São poucos minutos de caminhada até onde a rua se fecha pela primeira vez, dando lugar a uma trilha com muitas pedras grandes e soltas, onde se deve ter muito cuidado para não torcer o tornozelo ou mesmo cair. Depois a estrada reaparece, novamente com aspecto de abandono nas casas e no calçamento, até sairmos em um pequeno bairro próximo a curva do Garrafão. Até ali, já encontramos algumas quedas d´água, mas ainda não a de maior volume, formada pelo rio que vem do vale da Cabeça de Peixe e Dedo de Deus, e visto em local conhecido como “santinha”.

Continuamos nossa descida pela rua, entre grandes e bonitas propriedades, até um local onde pudemos acessar uma pequena cachoeira e um poço a sua frente, onde não poderíamos deixar de parar para tomar um banho, apesar do dia ainda encoberto. Mesmo assim, a água estava “tão boa” que acabamos ficando por ali por cerca de duas horas. Seguindo estrada abaixo, tendo como referência o sítio da “Vó Madalena”, o caminho vira uma trilha novamente.

Esse trecho é bastante escorregadio devido aos valões abertos pelas motocicletas e que acabam virando caminho de água… Depois de encontrar mais uma residência bastante isolada, em meio a florestas, e portões indicando que parte daquele trecho está dentro do Parque Nacional da Serra dos Órgãos, o calçamento volta a ser feito de forma artesanal, com cimento e pedras britadas. Mas já há energia elétrica até essa “última” casa. Em todo o caminho até chegar a Estrada da Concórdia e depois a Estrada do Limoeiro, já na localidade de Caneca Fina, passamos por várias árvores centenárias. Figueiras e Jequitibás impressionam pelo seu tamanho e formato, além de encontrarmos diferentes tipos de flores e plantas. Desde a comum “Maria-sem-vergonha” até gigantes Bromélias.

As montanhas, sempre elas

Cruzar a floresta até Guapi tem outro charme: A vista para as principais montanhas da Serra dos Órgãos, destacando-se o Escalavrado, Dedo de Nossa Senhora, Dedo de Deus e Cabeça de Peixe. A formação rochosa mais famosa e símbolo do montanhismo no Brasil, aliás, vai ficando bem diferente a cada curva, com formatos pouquíssimos conhecidos pelos moradores de Teresópolis e do município vizinho.

Para quem escala, olhar de baixo não é o ideal… Mas vale muito a experiência dessa caminhada. Principalmente porque podemos conhecer melhor a nossa região. Podemos ver o que ainda resta de belo e o que deve ser preservado. Podemos entender a importância de unidades de conservação e o nosso respeito a tudo isso. “Moramos em um local fantástico, cercado de tantas belezas. Infelizmente, a grande maioria das pessoas que moram aqui ou em Guapi, por exemplo, não valorizam isso”, atenta Formiga, vice-presidente do CET.

No total, são pouco mais de três horas de caminhada até o centro, contando o trecho percorrido na área urbana. Mas esse tempo pode ser menor ou maior, de acordo com a intenção do caminhante. Se a idéia é realmente ir contemplando a natureza… Demora-se muito mais! E pessoal do clube gostou tanto que já estamos pensando em marcar uma próxima descida, provavelmente em um domingo já de fevereiro. Para mais informações, visite uma das reuniões sociais – todas as terças-feiras, a partir das 20h, na loja da Sociedade Pró-Lactário, número 555 da Avenida Lúcio Meira, ao lado da ponte – ou escreva para [email protected]

Curso de escalada

O Centro Excursionista Teresopolitano se prepara para abrir inscrições para mais um Curso Básico de Escalada e Montanhismo e Escalada, o único da cidade de Teresópolis homologado pela Federação de Esportes de Montanha do Estado do Rio de Janeiro (vide www.femerj.org). Em 2009, o clube segue a tradição de que a última aula, o batizado, aconteça no marco do montanhismo nacional, o Dedo de Deus. O aluno tem várias aulas práticas usando praticamente todo o material do CET e ainda pode ir a montanha mais importante da Serra dos Órgãos. Só para se ter uma idéia, o preço cobrado pelo curso é quase o que um guia cobra para levar uma pessoa ao Dedo. Para mais informações sobre o CBME 2009, acesse o site www.ceteresopolitano.org

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Sobre o autor

Marcello Medeiros é Biólogo e Jornalista, escrevendo sobre montanhismo e escalada desde 2003. Praticante de montanhismo desde 1998, foi Presidente do Centro Excursionista Teresopolitano (CET) entre 2007 e 2013.

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