GUARIPU: A OUTRA TRILHA DO OURO – Final

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As 13:40, a trilha nivela no rio da Grota Grande, e passa a acompanha-lo pela esquerda por um tempo. Logo temos q passar (por cima das pedras) por dois riachos consecutivos, p/ em seguida dar inicio a nova subida, ate chegar numa porteira, do lado da casa do seu Benedito. Descemos outra vez pelo calcamento de pedras e por vários brejos enqto o rugido do Rio Guapiru aumenta em meio a mata, ate q o alcançamos novamente as 14:50, agora um enorme, largo e gélido espelho d&ldquo,água refletindo os poucos raios de sol daquele vale fechado. Cruzamos cautelosamente o dito cujo através de uma rústica pinguela, q não passa de um tronco servindo de apoio pros pés e outro mais fino servindo de corrimão!


Do outro lado, a trilha sobe e passa a acompanhar&nbsp, – em trechos bem enlameados – o rio pela encosta, pra ir se afastando dele lentamente, sentido Vale do Mambucaba (nordeste). O caminho, por sua vez, se enfia em pura Mata Atlântica, com sua umidade característica, composta de bromélias exóticas, cipós, samambaias, etc. Enormes arvores tombadas e muitos charcos nos obrigam contornar a trilha em meio a mata em diversas ocasiões. As 16:45 saímos da mata num descampado (e uma casinha), já vislumbrando o brilho do Rio Mambucaba nos saudando logo abaixo, à direita. Entramos brevemente na mata pra 10min depois sairmos numa aprazível clareira gramada q antecede a cachoeira do Veado, a 5 min dali. Jogamos as mochilas aqui mesmo, bem do lado do Mambuca!
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Cansados e exaustos, montamos as barracas pq logo o vale iria esfriar pra valer! Deixamos a visitação da cachu pro dia sgte e jantamos a seguir. Assim q o manto negro e frio da noite cobriu o vale, a lua (quase cheia) fez questão de ilumina-lo maravilhosamente, permitindo breve contemplação antes do descanso definitivo, embora o céu coalhado de estrelas só fosse mesmo visível de madrugada. O sono veio fácil, afinal&nbsp, não é sempre q se tem o relaxante (e hipnótico) som de uma cachoeira de quase 200m quase ao lado.

CAMINHANDO QUASE 30KM
No domingo levantamos após as 6:30 em virtude do frio úmido q caracteriza vales ribeirinhos. Após o café e arrumar as mochilas, escondemos as mesmas na mata e tomamos a picada q nos levaria à fonte daquele som ensurdecedor de queda d´água. Nos enfiamos na mata, sempre acompanhando o Córrego do Veado, já com o som aumentando gradativamente. Este trecho impressiona pela imponência da mata de arvores de copas altas e troncos grossos, o chão forrado de folhas e um emaranhado de raízes salientes, ate q em menos de 5min a picada se bifurca: a da esquerda nos levaria à parte de cima da cachu, mas tomamos a da direita, e logo estamos à beira do rio, apenas pra presenciar a majestosa e impressionante Cachoeira do Veado, de quase 200ms divididos em duas quedas principais de potência estarrecedora. Pausa pra fotos, claro!

Voltamos pra pegar as mochilas e prosseguimos nossa jornada as 8:30. Do gramado de camping, cruzamos a pinguela sobre o Rio do Veado, pra continuar pela trilha em suave subida através da mata. A seguir saímos num descampado de solitárias araucárias onde se encontra a casa de seu Zé Candido, e de onde se avista a pinguela (a direita) q cruza o Mambucaba, se fossemos completar a Trilha do Ouro clássica, deveríamos cruza-la e seguir pela trilha q bordeja a outra encosta, e descer pra Mambucaba. Mas não é nosso caso, passamos batido pela pinguela, e entramos novamente na mata, acompanhando o Mambuca sentido nordeste.

A trilha prossegue bordejando a encosta em suave subida, ao mesmo tpo q vamos lentamente nos afastando do rio, q vai ficando lá atrás. A subida continua ora no aberto c/ amplos vales, ora no fechado com mata densa, ora por trechos lamacentos, ora pelo calçamento de pedras. Algumas casinhas de taipa – aparentemente vazias – aqui e acolá tornam a paisagem mais charmosa. Neste trecho a trilha parece ser mais larga, e é aqui onde topamos com um grupo de turistas vindo no sentido contrario.

Assim, finalmente saímos no aberto pra começar a bordejar a encosta de enormes morros forrados de pasto, desprovidos de qq vegetação q pudesse nos dar sombra fresca. Apesar de desnudos, os morros tem alguns focos de araucárias q destoam da paisagem quase q monocromática de verde-claro. Este trecho é&nbsp, bem vagaroso, tanto em virtude do sol na cabeça como do desnível a vencer, de quase 300m! Mas ainda assim, conseguimos vencer os quase 8km do inicio do dia, qdo chegamos finalmente na Casa de Dna Palmira, as 11:30. Lá descansamos por meia hora, alem de lancharmos o suficiente pra encarar o resto da pernada. Notei q a casa da proprietária estava “maior” q da ultima vez q estivera ali.

Pé-na-estrada outra vez, e começamos a encarar os quase 30km restantes ate Arapei, agora por estrada de terra. Ladeando sinuosamente morros de pasto, na primeira bifurcação tomamos à direita, pela esquerda subiríamos a Portaria do Parque, perto da Pousada Barreirinha. Descendo íngreme pela direita, eis q um belo vale se descortina à nossa frente. A descida parece não ter fim, mas logo passamos uma ponte, pra depois acompanhar o Rio Jardim (ou Rio do Gavião) em quase toda sua extensão (nordeste), agora subindo e descendo suavemente. O caminho segue pela estrada sempre em torno dos 1300ms de altitude, entre morros desnudos, florestas de pinheiros, araucárias. Esta precária estrada serve aos moradores tradicionais do alto do parque, antigos fazendeiros, criadores de mulas e gado, acostumados tradicionalmente a receber viajantes, antigamente tropeiros, hoje caminhantes.

A partir daqui, a caminhada é relativamente óbvia, porem extremamente desgastante devido ao sol, o q nos obriga a vários pit-stops. Varias bicas no trajeto enchem nossos cantis, mas ainda assim nosso passo é lento e trôpego. Parar é apenas motivo de festa pra irritantes mutucas nos forçar a continuar caminhando, mas o pior é descer um ultimo vale, pra depois subir o triplo em intermináveis ziguezagues q exigem muito de nossas tremulas pernas. No alto, porem, os dois picos da Pedra da Cavalhada (à nossa direita) indicam q alcançamos o alto da serra, as 16:15!! É hora de descê-la em definitivo, finalmente!

A esta altura do campeonato não vejo a hora de estacionar onde for, ainda mais com um principio de enxaqueca surgindo timidamente na minha têmpora. Embora tenhamos o mesmo ritmo, o pernalonga do Ronald acaba se afastando rapidamente de mim, ficando bem mais adiante. A estrada íngreme, pedregosa e esburacada detona qq joelho e, as 16:50, jogo minhas coisas no primeiro gramado plano q encontro, numa curva em cotovelo à beira da estrada. Grito pro Ronald e nada. Paciência, ele deve acampar logo adiante. Montei a barraca enqto o sol caia rapidamente, se escondendo atrás das montanhas, mas ainda deixando os picos mais altos com vestígios de luz. Jantei e deitei assim q escureceu, e a noite fora razoavelmente fria porem extremamente reconfortante pra qq corpo precisando de uma boa noite de sono.

CHEGANDO EM ARAPEI
Levantei antes das 6, tomei rapidamente café, comi os últimos mantimentos q carregava e comecei a pernar as 6:30, tendo os primeiros fachos do sol iluminando os paredões laterais da serra ainda tinha q descer. Destaque à minha esquerda pra enorme Cachoeira Fazenda da Glória, q em 300m de queda vertical suas águas destoavam graças aos incipientes raios matinais. Passamos logo em seguida pela fazenda homônima, onde não vejo sinal do Ronald acampado. Onde teria se metido?

A medida q vou perdendo altitude, descendo ora suavemente a encosta, ora abruptamente trechos + íngremes, a paisagem a minha frente vai se abrindo cada vez mais, e o horizonte desponta com vistas fantásticas dos mares de morros do Vale do Paraíba. Um tempo depois passo a acompanhar o Rio Capitão-Mor à minha esquerda, enqto q a minha direita outro rio é utilizado como rústica represa. Desde o inicio do dia td este trajeto é feito sem sombra alguma, ladeando montanhas tomadas de pasto, com exceção dos trechos onde varias cachus despontam principalmente à minha direita, cortando a&nbsp, monotonia da serra.

Após ziguezague íngreme, a descida termina e nivela de vez na Faz. Monte Alegre. Carros de boi, cheiro de roça e algumas fazendinhas já me avisam q estou próximo do meu destino. De fato, mais meia hora pelo plano e logo alcanço o asfalto, q me leva à espinha dorsal de Arapei, pequeno e pacato arraial q se resume ao próprio asfalto (q serve de “avenida” principal), de onde saem as transversais q o encorpam um pouco mais. São exatas 9:20!!

Numa lanchonete q serve de pto de bus me informo dos horários, e fico a espera do bus das 10:30 pra Guaratinguetá. Enqto bebo uma cerveja, eis q aparece o Ronald. Ele caminhara a noite anterior ate chegar no arraial, onde ficou numa pousada. Mal deu pra brindar a empreitada qdo, as 9:40, apareceu um busão de Bananal com destino a Sampa, q tomamos sem pestanejar. O resto da cansativa viagem foi no mundo dos sonhos, principalmente devido as inúmeras e constantes paradas do busão-cata-jeca. Chegamos em sampa, enfim, as 15hrs da tarde!
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E esse é mais um dos esquecidos (des)Caminhos do Ouro, na Bocaina. Picadas abertas inicialmente pelos índios, exploradas pelos bandeirantes e consolidadas por mão de obra escrava, a gde maioria delas caiu no esquecimento ou foi tomada pela mata. Mas ainda estão lá, conhecidas apenas por mateiros ou caboclos. E esperam hj por estes neo-bandeirantes de mochila q apenas buscam riquezas mais contemplativas como a natureza, ou apenas uma viagem ao passado. E pensando bem, é melhor mesmo q esta nova travessia não caia na boca da mídia.

Jorge Soto
http://www.brasilvertical.com.br/l_trek.html
Fotos Ronald Colombini
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Sobre o autor

Jorge Soto é mochileiro, trilheiro e montanhista desde 1993. Natural de Santiago, Chile, reside atualmente em São Paulo. Designer e ilustrador por profissão, ele adora trilhar por lugares inusitados bem próximos da urbe e disponibilizar as informações á comunidade outdoor.

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