Carretera Austral: De Puerto Montt à Hornopirén

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Um dia puxado que quase não acabou. Aline e Julien se juntarm, mas a bike dele havia sido extraviada pela cia aérea. No entanto, no meio do dia a bike foi entregue e eles saíram de sopetão, enfrentando o rípio pela primeira vez e quase não chegando no destino.

Acompanhe os relatos de Aline Souza em sua cicloviagem pela Carretera Austral desde o começo:

Carretera Austral de Bike

  • Trajeto: de Puerto Montt à Hornopirén
  • Distância: 108km
  • Acumulado de subidas: 1021m
  • Acumulado de descidas: 1108m
  • Terreno: asfalto e rípio

Acordei sem pressa. Havíamos combinado com Carolina que tomaríamos café da manhã as 8h. Fiquei na cama papeando com os amigos do Brasil e escrevendo.

O café da manhã foi super especial, pãozinho quentinho, café passado e aquela vista linda da cidade.

Eu e Julien seguimos conversando sobre a bike e nossas possibilidades. Papo vai papo vem Julien e comentou que a bike ficou em Madrid porque encontraram um botijãozinho de gás de camping na caixa (hein?). Serio, que você estava trazendo gás na bagagem?

A partir dali fiquei ainda mais preocupada. Será que mexeriam na caixa dele, tirariam o gás e mandariam a bike? Ou a bike ficaria por lá presa?

Não estava acreditando muito que a bike chegaria naquela manhã, mesmo Julien recebendo um e-mail dizendo que chegaria.

Lá pelas 11h estava preguiçosamente escrevendo os posts do blog quando a campanha tocou. Era alguém trazendo a bike … maravilhaaaa.

Julien começou a montá-la e disse que se eu quisesse poderíamos iniciar a cicloviagem. Inicialmente fiquei um pouco confusa. Conversei um pouco com a Aline e o Ari, o @bikeadois, para saber a opinião deles. Eles sempre atenciosos com minhas dúvidas.

Tinha planos bem claros para o primeiro dia e parte do segundo. Havia feito uma reserva em um hostel para a primeira noite em Hornopirén e reservas para a manhã seguinte para o ferry de Hornopirén à Caleta Gonzalo. O hostel, havia sido reservado pelo Booking, não podia mais ser cancelado, e o ferry tem apenas dois horários, as 9h e as 15h (confira os horários em www.taustral.cl), a priori tem que ser reservado com antecedência, sob risco de não ter lugar disponível.

Depois de avaliar a melhor possibilidade decidimos iniciar o pedal, sendo que a ideia era fazer pelo menos uns 50km.

Ajeitamos tudo, comemos o que sobrou das compras do dia anterior e partimos, isso por volta das 13h30.

Austral View Hostel

Ainda na cidade parei para fazer câmbio enquanto Julien me esperava na beira mar.

Enquanto estamos na cidade o trajeto foi todo pela ciclovia. Logo pegamos a Ruta 7, que nada mais é do que a Carretera Austral. Neste trecho inicial a Ruta 7 segue bastante tempo beirando o mar.

A parte boa de ter saído mais tarde é que não pegamos a chuva da manhã e, ainda melhor, tínhamos um céu azul sobre nossas cabeças.

Era o primeiro dia de pedalada de Julien e ele estava bastante animado. Eu já havia pedalado 4 dias seguidos, sabia exatamente como minha bike com peso funcionava e meu corpo respondia.

Conheço pouquíssimo do Julien, caminhamos juntos dois ou três dias no Caminho de Santiago (Eu, ele e seu amigo Hedric), lembro que o ritmo era forte, fora isso, não sei o quanto pedala ou está acostumado a pedalar. Ao planejarmos a viagem passei a ele todas as informações (trajeto, distâncias, altimetria) e ele não fez nenhuma objeção. Dada a situação, Inicialmente coloquei um ritmo lento e fui observando. Algumas vezes dava uma puxadinha ou outra para ver como respondia. Vi que estava acompanhando bem. Nisso, umas ideias malucas foram vindo na minha cabeça. Deixei elas ali e continue observando.

Pagamos o ferry para atravessar a Caleta La Arena (2.900 pesos). Nesse ferry conversamos muito com um casal de Santiago. O senhor era cicloturista também e estava super animado com nossa viagem.

Saímos do ferry perto das 17h, isso com cerca de 50km rodados. Nesse momento pensei: temos dia claro até as 22h, ou seja, temos mais 5h para fazer os outros 50km, da para fazer num ritmo de 10km/h. Assim fica tudo certo, ja temos hotel, pegamos o ferry amanhã de manhã … será perfeito. Bora lá.

Passei a dar uma puxada no ritmo. Em certa altura Julien comentou: acho que podemos fazer uns 60km hoje. Eu respondi: vamos até Hornopirén. Trocamos uma ideia e ele aceitou a proposta.

Seguimos num ritmo bom. O que eu não esperava era que logo começaria o famoso rípio (eu li muito a respeito do trajeto, mas não gravei todos os detalhes, esse detalhe do primeiro dia foi um esquecimento que teve seu preço).

No começo demos risada, mas o pedal virou outro, com todo o peso que carregávamos tínhamos que fazer muito mais força para sair do lugar. Não bastasse, junto ao ripio vieram as subidas intermináveis (a altimetria nem é tão elevada, mas sobe nesse terreno e com esse peso na bike para ver).

Seguimos fazendo força. Em vários momentos pensei: que ideia foi essa Aline? Só tu mesmo para ter essas ideias (e ainda coloca outra pessoa nessa presepada) … mas segui firme.

Sorte que Julien se manteve animado, se em qualquer momento ele reclamasse ou falasse que estava sendo demais sugeriria acamparmos ou algo assim, mas mesmo sendo duro para ele, e eu sei que estava sendo, ele manteve o bom humor.

Sempre que possível eu o distraia com uma foto ou fazendo ele comer. Ele não estava muito preparado, igual eu no primeiro dia, mas eu tinha comida para os dois.

O sol foi baixando e a paisagem foi ficando ainda mais linda.

Eu seguia conferindo o horário e a distância. Preocupada que ficasse muito tarde, que escurecesse demais e que não conseguíssemos chegar ao destino final. Depois de tanto esforço, seria desanimador.

Por sorte, faltando uns 18km, voltamos a ter asfalto. Sério, se não fosse isso nossa tentativa de chegar à Hornopirén certamente seria frustada.

Começou a escurecer e junto disso me veio uma tristeza por não poder apreciar adequadamente aquela paisagem da chegada de Hornopirén, via os vultos das montanhas enormes, nevadas no topo, e queria vê-las e apreciá-las com o sol. Paciência, não podemos ter tudo.

Os últimos 5km foram de descida e de um breu de verdade. Ao mesmo tempo que queria parar, pegar minha lanterna e me equipar adequadamente, de forma segura, queria chegar logo, tamanha era a exaustão.

Chegando na cidade, com medo de não encontrar nada mais aberto, paramos num pequeno mercado. Compramos uma espécie de panetone, queijo e iogurte.

Graças ao GoogleMaps encontramos nosso Hostel, conversamos com a menina que nos recebeu (disse que estava preocupada), tomamos banho, comemos nossas compras do mercado e capotamos.

Seguindo os planos iniciais, marcamos o café para as 7:30, assim poderíamos estar no ferry as 8:30, horário marcado com a responsável pela reserva.

Continue lendo clicando na imagem abaixo:

Carretera Austral: De Hornopirén à Chaitén

 

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Sobre o autor

Aline Souza, mais conhecida como Aline Elétrica por ser engenheira elétrica é uma multi atleta de Florianópolis - SC. Ela pratica corridas de aventura, trekking, ciclo turismo e escalada em rocha. Siga ela no Instagram @alineeletrica

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