Psicobloc em Arraial do Cabo

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Felipe Dallorto e Flávia dos Anjos encontram em alto mar, a modalidade que se tornou famosa na Espanha e Tailândia, mostrando o potencial brasileiro ainda pouco explorado


Por Emanuelle Oliveira

Foi preciso toda uma logística para chegar ao lugar certo e inaugurar cinco vias em rochas verticais e negativas onde a única saída é caindo no mar. Foi isso que os cariocas Felipe Dallorto e Flavia dos Anjos fizeram desde a última quarta-feira, (21/04), na Ilha do Farol, em Arraial do Cabo, um pedaço do paraíso em plena Costa do Sol, na região fluminense do Estado do Rio de Janeiro. Águas azuis e rochas brancas formaram um cenário paradisíaco que combinado ao psicobloc, tornou-se uma aventura inesquecível.
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A modalidade, que requer alto nível técnico em escalada, preparo físico eficiente, forças nos dedos e controle da adrenalina para encarar paredões com mais de 10 metros de altura, onde a única saída é uma queda livre em alto mar, está sendo explorada pelos escaladores, que voltaram eufóricos com o novo local. “Há inúmeras possibilidades de psicobloc, e, a sensação, o lugar, nos remetiam, o tempo todo, as imagens que temos de Mallorca, na Espanha. Mar azul, águas cristalinas, paredes negativas, pôr-do-sol exuberante e vários golfinhos”, descreve extasiado Felipe.
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“A Ilha do Farol, sem dúvida alguma, é um paraíso para se praticar psicoblocs e tem tudo para ser referência na modalidade no país”, afirma Flavia dos Anjos, que ao lado de Felipe conquistaram cinco vias, colocando a região como endereço certo para a pratica. “Foram apenas 5 linhas, mas vimos muitas paredes. Nos faltou tempo, pois o lugar é surpreendente”, continua a escaladora, que ficou hóspede na cidade durante quatro dias. Todavia, a expedição ficou longe de ser um mar de rosas. Nas três saídas, o barco quebrou, e por pouco, a aventura não foi por água abaixo.
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“O barco que alugamos quebrou duas vezes e tivemos que ser rebocados. Depois disso, achávamos que não ia rolar nada e passamos a ficar frustrados”, recorda Flavia. “Nós vimos as paredes, sabíamos que tinha alguma coisa na ilha”, disse angustiada com a situação. “Não foi moleza não, passamos alguns perrengues, ficamos à deriva no mar e não conseguimos escalar. Começamos a pensar que essa trip não seria uma boa”, acrescenta Felipe. Porém, no segundo dia, tudo se fez novo.
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“Acordamos com a promessa de que o barco seria consertado, e às 11 horas, já estávamos embarcados e zarpando. Mas a zica apareceu de novo e desta vez, nem conseguimos sair da enseada. Ficamos com o coração na mão achando que o mar estava contra nós, mas, de repente, surgiu um anjo e seu barco “Estrela de Davi” no meio do oceano que rebocou a gente e acabamos negociando com ele na mesma hora. Trocamos de barco e fomos atrás dos psicoblocs”, conta Dallorto com ar de alívio.
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Conquistas

Ao chegarem no destino, o esforço e a perseverança foram recompensados. “Quando avistamos, ficamos embasbacados, pois existem milhares de possibilidades de psicobloc. Ficamos até perdidos para escolher em qual parede entrar primeiro”, diz Felipe. A primeira investida aconteceu no setor da Fenda de Nossa Senhora. “É uma parede vertical, levemente negativa, e foi ali que surgiu a primeira via que batizamos “Eu acredito em milagres”, belo nome após tantos perrengues”, conta.
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Outras quatro vias de psicobloc apareceram na primeira expedição em alto mar. “Após a Fenda de Nossa Senhora fomos para o setor do Buraco do Meteorito. Uma parede bem negativa com agarras sólidas onde pudemos homenagear nosso salvador conquistando a via “Estrela de Davi””, diz Flavia dos Anjos. “A empolgação era grande, pois já estávamos praticando psicobloc, ou melhor, conquistando o desconhecido. Mar azul, águas cristalinas e belezas exuberantes alimentavam nossos olhos e almas. Seria aqui a Mallorca brasileira?”, delira Felipe.
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“Estávamos praticamente cercados por paredes, era difícil escolher qual seria o próximo setor. Mas a resposta chegou fácil quando encontramos uma das paredes mais bonitas do dia. No setor da Gruta do Coelho, abençoados por um pôr-do-sol lindo, conquistamos a via Perfume da Gaivota”. Com os braços cansados, outras opções foram aparecendo e a necessidade de encontrar forças para continuar foi decisiva.
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“Voltamos em direção ao Boqueirão, com desejo de ir para a pousada, mas no caminho não resistimos após ver uma miragem. Uma fenda alucinante bem vertical, em oposição, em laca, nos chamou atenção. Era o filé do dia, sem móveis, cordas, baudriers, estávamos lá, solando aquela bela fenda de 20m. Nome da via ficou Cavalo Marinho por causa de suas curvas. Chamamos de Setor da Fendas que fica logo após o Buraco do Meteorito”, descreve Flavia.
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Mas, a cada contorno na ilha, novas possibilidades foram aparecendo. “Os braços estavam bombados, lesionados e o corpo cansado, só que tivemos que ganhar energia novamente. No setor que fica na enseada após a Gruta Azul encontramos uma parede negativa, de agarras abauladas que nos chamava. Sem dúvida nenhuma, foi a via mais difícil do dia. Uma bela linha, em parede com muitas possibilidades, encerrou as conquistas com a via Canoa Quebrada”.
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Após tanto trabalho, Felipe Dallorto e Flavia dos Anjos foram contagiados com uma cena digna do paraíso. “Depois de algumas lutas, fomos abençoados não só pela possibilidade de conquistar várias vias. Na volta, fomos recebidos por uma orquestra da natureza, com mais de trinta golfinhos que cercavam nosso barco assoviando seus sons magníficos encerrando o dia”, comemoram.
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Oportunidades

Felipe Dallorto, escalador com mais de 11 anos de atividades em montanhas no Rio de Janeiro, em especial, em Jacarepaguá, onde inaugurou há dois meses um centro de escalada indoor, ao lado de Flavia dos Anjos, está se dedicando a modalidade psicobloc. “É como entrar em um mundo desconhecido. É uma escalada pura, sem cordas, sem equipamentos. Nela, você nunca sabe o que vai encontrar pela frente, está sempre entrando “on sight”, ou seja “à vista””, explica Felipe, pioneiro no país.
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A primeira vez que ele teve oportunidade de escalar sem cordas foi no quintal de casa, no Parque Estadual da Pedra Branca, mas precisamente no setor da Pedra Hime, em Jacarepaguá. Mas Felipe e Flavia queriam mais. Graças ao patrocínio da Nicoboco, empresa nacional conceituada no mercado de surfwear, street e sport wear, que fechou contrato de patrocínio com a dupla recentemente, o desejo de conquistar ilhas para a pratica do psicobloc só aumentou.
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“Ficamos muito felizes com a aceitação da Nicoboco em investir na escalada. E por isso, estamos nos dedicando para sempre associá-los a trabalhos positivos e inovadores no esporte. Expedições em ilhas em busca das paredes que possam proporcionar o pisicobloc, acreditamos que têm tudo a ver com a marca que vem do surf”, conta Flavia, competidora e atleta há nove anos.
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Arraial

Antes de colocarem o pé na estrada, Felipe e Flavia estudaram as possibilidades de encontrarem as condições ideais. A primeira saída do casal ocorreu no último dia 18. O destino foi o arquipélago de Cagarras, ilhas que ficam em frente às praias de Ipanema e Leblon, sendo avistadas também em outros lugares da orla carioca. “Fomos até o filhote da Ilha Redonda a procura de psicoblocs, mas, infelizmente, não rolou, pois as paredes eram muito positivas e acabamos explorando boulders na Ilha Comprida”, revela Felipe.
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A trip foi composta por Arthur Estevez, Michelle Bouhid, Julio “Juba” Blander, do programa ActionBrasil.tv e Daniel Virgínio. “Exploramos quase todas as ilhas existentes, mas não vimos nada onde pudéssemos praticar psicobloc, somente muitas paredes positivas com mar batido e pedras nas bases. Ficamos um pouco desanimados, mas não perdemos o dia, graças ao Arthur que já conhecia um pouco das ilhas e sugeriu que fossemos para a Ilha Comprida. Curtimos blocos alucinantes como o “Barbas de Sangue” e 7c/8a”, diz Flavia.
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Com o desejo de praticar o primeiro psicobloc em mar no país, a cidade de Arraial do Cabo virou alvo certo. “Tudo começou com Cláudio Brisighello, webmaster do Escalada Café, que nos mostrou uma foto do Filhote da Ilha Redonda onde parecia ter um arco para psicobloc. Sem sucesso nas Cagarras, ligamos imediatamente para Flávio Carneiro, do C. E. Limite Vertical, que já havia conquistado vias em móvel na região de Arraial do Cabo. Após vinte minutos de conversa estávamos convencidos que o lugar tinha um grande potencial”, conclui Felipe.
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Veja o vídeo dos Psicoblocs de Arraial

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Texto publicado pela própria redação do Portal.

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