Ricardo Cosme e a documentação da escalada no Rio

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A produção de vídeos e filmes no Rio de Janeiro é impressionante. Sabe-se que o cinema nacional renasceu (em dúvida veja a popularidade de “Tropa de Elite 2“), e de todas as produções realizadas no país, cerca de 80% se passa/produz na cidade do Rio de Janeiro.


Por Luciano Fernandes

Com um ambiente tão propício, era natural de que houvesse produções de alto nível, em termos de roteiro, focando a escalada e o estilo do escalador carioca e fluminense. O primeiro bom filme que lembro ver foi “Cariocando” , um filme muito bem editado que contava a história da escalada, e de escaladores que viraram verdadeiras lendas, na cidade do Rio de Janeiro, e em como ela influenciou a escalada brasileira.

Seguindo a mesma linha de roteiro, que foca a história da escalada na cidade que respira e vive a escalada intensamente, o filme “Platô” foca na história de um local de escalada considerado polêmico por muitos escaladores. O local escolhido como cenário foi a zona de escalada conhecida como “Platô da Lagoa”.

Aliado a este roteiro interessante, foi escalado um dos mais promissores produtores de vídeos do Brasil, Ricardo Cosme.

Ricardo Cosme, para quem deseja saber mais sobre seu trabalho possui perfil no site de vídeos Vimeo, onde exibe seus pequenos vídeos e trailers realizados por ele. A evolução de sua técnica de filmagem, e a qualidade apresentada em edição, tomadas, fotografia e ângulos filmados é impressionante. Não se vê o tipo de visão que ele tem em vídeos nacionais.

Para um aficcionado em filmes de todos os tipos (meu segundo grande vício depois da escalada), e completamente dedicado a filmes de escalada (tendo feito análise neste blog de praticamente todos dos mais populares fimes lançados desde 2006 até hoje), digo sem problema algum que o talento apresentado por Ricardo Cosme é impressionante.

Claro que há muito o que evoluir (como todos nesta vida), mas o futuro é promissor.

Procurei o produtor de “Platô” para que concedesse uma entrevista ao Blog/AltaMontanha, para falar sobre o filme, que figura entre os favoritos do Festival de Filmes de Montanha do Rio de Janeiro que se inicia dia 20 de outubro agora.

Acompanhe a entrevista abaixo :

1 – Ricardo, como e quando começou seu trabalho com vídeos de escalada?

Comecei a produzir em dezembro de 2009.

Eu estava escalando em um ritmo um tanto frenético naquele ano com o intuito de alcançar algumas metas, mas apareceram duas lesões chatas e demoradas.

Naquele momento eu sabia que estava excessivamente focado na escalada e portanto precisava me desligar, pois eu não tinha outra opção a não ser ficar de molho.

Justamente ai apareceu o espaço para produzir os vídeos.

2 – Muito provavelmente você deve ter um produtor favorito, no seu caso qual o seu?

É uma pergunta difícil.

A minha referência é uma mistura de estilos e gêneros, algo que vai além dos filmes de escalada. Resumindo em filmes de escalada esportiva, se eu tenho somente um nome para citar eu fico com Josh Lowell pelo conjunto.

3 – Qual é o seu equipamento hoje que utiliza para as filmagens?

Bom, eu vou resumir porque é impressionante como a parafernália se aglutina com muita facilidade a outra parafernália, hehe.

Isso leva a um crescimento contínuo de equipos. Basicamente as produções até agora foram filmadas com uma câmera de consumidor high-end, um microfone de longa distância, um tripé e um rebatedor.

Mas agora, apartir do final deste ano entra no conjunto uma câmera profissional.

4 – O Rio de Janeiro é hoje responsável pelas principais produção de filmes brasileiros na atualidade, há alguma influência em seu trabalho este fato?

Não, pelo menos eu não consigo perceber nenhuma influência.

O que é bacana é ter por perto um produtor como o Erick Grigorovski, que se demonstrou uma pessoa disponível a somar.

Tive a oportunidade de conhecê-lo pessoalmente e trocar algumas idéias. Temos aqui o Gustavo Sampaio que fez o “A Conquista”, que acabou me passando algumas dicas logo no comecinho.

Fora outros produtores cariocas com trabalhos tão interessantes e ricos que tive a oportunidade de assitir em festivais passados ou adquirir o filme em DVD.


5 – Você recentemente terminou um filme que é um dos favoritos do público no Festival de Filmes de Montanha mais disputado de todas as edições, como está a expectativa?

Olha, eu particularmente não gosto muito desse negócio de expectativa…

Eu acabei me surpreendendo positivamente com os retornos obtidos através do trailer, mas isso me preocupa um pouco.

Afinal de contas uma coisa é você fazer um trailer de 2min e outra é sustentar 27 min de filme.

Quero mais é curtir essa vaga que eu consegui conquistar para a exibição do PLATÔ e prestar atenção nos veteranos, pois acho que posso aprender muito com eles.

6 – Como são feitos os roteiros de suas filmagens? quanto rola de roteiro e quanto de improvisação?

Depende.

Quando é algo pequeno e principalmente nada muito complexo ou sofisticado, como SABARÁ ou GUILHOTINA, o roteiro é praticamente todo mental.

Claro que a sua elaboração é um processo em doses imersivas. Agora, caso contrário o roteiro é escrito em computador e revisitado durante o processo de elaboração e até mesmo de produção do filme.

A improvisação está sempre presente dividindo espaço com o roteiro pré-estabelecido.

7 – Terminado o Festival, há algum outro projeto de vídeos, ou curta na gaveta?

Sim. Tenho alguns rascunhos e idéias para o próximo ano mas por enquanto tudo fica escondido na gaveta, hehe.

8 – Na sua preparação para vídeos de escalada há algum outro evento/curso que deseja participar?

Pelo menos a princípio não. Estou querendo continuar o meu foco com os meus estudos audiovisuais e lapidar as idéias que estão na gaveta para que algumas se tornem realidade.

9 – Se fosse possível listar 5 filmes de escalada que você mais gosta, e os motivos, quais seriam?

Sem qualquer tipo de ordenação eu citaria os seguintes títulos:

“Get Naturized” – Certamente um dos meus favoritos. Cinematográfico desde o roteiro até a pós-produção. Trilha sonora impecável e cortes audaciosos. Nossa, vibrei demais com esse curta! hehe

“A Conquista” – Sou suspeito para falar porque o Sampaio é mestre pra mim, fiz curso básico com ele e tenho muita admiração por ele como escalador. Mas o seu filme é nota 10! O contexto é demais!

“Progession” – Impecável na qualidade. Pelo menos pra mim o filme conseguiu sustentar muito bem os seus longos minutos focados no universo da escalada esportiva, e, é motivador assistir ao resultado do amadurecimento de Josh Lowell neste filme.

“Core” – Gosto do esmero com o trabalho de câmera, com os links feitos entre a escalada e o que está de fora através de uma linguagem de cinema. A qualidade é “superb”. Filmaço!

“Chikane” – Bernardo Gimenez é a minha referência número um na fotografia de escalada. Sou fã do seu trabalho desde 2007.

E quando resolveu fazer filmes de escalada o resultado até agora é Chikane, um curta de primeira classe neste gênero.

10 – Ha quanto tempo você escala? Qual seu estilo favorito?

As minhas primeiras experiências aconteceram em 2001, mas a escalada somente me mordeu mesmo no finalzinho de 2007.

Eu tenho me dedicado a escalada esportiva e assim pretendo ficar por enquanto.

11 – Como você vê a produção de filmes de escalada hoje no Brasil?

Hum… Eu acabei de chegar né, um pouco difícil falar sobre isso.

Mas eu acho que para quem realmente gosta disto, digo, que se prontifica a fazer sem esperar receber isso ou aquilo em troca, eu acredito haver um grande pontecial a ser explorado.

Na minha opinião eu acho que temos excelentes escaladores em território nacional e picos alucinantes…”

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Sobre o autor

Texto publicado pela própria redação do Portal.

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