Salineira! Escalando grandes pedras!

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Escalamos 4 vias em quatro dias, primeira visita ao pico, sonho realizado! Final de semana sem chuva (viva São Pedro) com espetáculo de lua cheia. Tem como querer mais alguma coisa?


Desde que comecei a escalar, ouço famosas histórias de um lugar mágico, conhecido como Salinas, Meca da escalada de aventura no Brasil. Senti que Salinas estaria mais perto de mim, desde que me mudei para São Bento do Sapucaí. A previsão para o feriado de páscoa era 80% de chuva, com lua cheia, impossível não chover. Apenas na quinta a previsão mudou de 80% para 5%. São Pedro ouviu minhas preces! Céu estrelado quando deslumbrei a silhueta dos três picos na minha frente, não tinha palavras para explicar, a única frase que me vinha na mente “eu me calo na minha insignificância” Quanta grandeza!

Acordando cedo, no maior pique de montanha, encontramos um amigo, Pedrock, o plano foi a via Sol Celeste, no pontão do sol. Na trilha fui refletindo se não era demais pra mim, começou a bater aquele medinho aquela insegurança de estar em um lugar diferente. Pedrock guiou as duas primeiras enfiadas, aderência.. agarrência.. como poderia chamar aquilo… Teve dois lances na segunda cordada onde as agarras tinham formas de bacias, sem pé, sem mão, um balcão meio esquisito. O Beto começou a me passar os friends na quinta cordada, disse que a cordada era linda, fendada, inteira em móvel, ok, vamos lá!

Costurei um grampo e segui pela aresta, protegendo em móvel, até faltar uns 10 metros para a parada de repente cai a chuva, putz! Continuei subir! A aderênciazinha babadinha, nunca havia ficado tão contente de ter chego à parada! A chuva foi acalmando e o Pedrock pediu para tocarmos a última enfiada, a chuva havia dado uma trégua. O Beto guiou a ultima para dar uma agilizada, finalmente cume, o menor dos Três Picos. Voltando ao camping comecei a ver uma mobilização no camping uma lua imensa surgindo, grande presente dos céus!

O que achei mais louco em Salinas, é que não consegui fazer planos, as situações simplesmente aconteciam! E na manhã de sábado, estávamos nós a caminho da Caixa de Fósforo. Eu e o Beto agora na companhia de duas amigas escaladoras, Glau e Alda que foram fazer o cume. Entramos na via “fêmeas e efêmeras”. Já tinha ouvido falar muito da via, parecia um sonho. Depois de fazermos as luvinhas Beto saiu na primeira enfiada linda, com um lance vai que fica, não consegui impedir de dar aquela raladinha na mão. Segunda enfiada, crux da via, como é bom escalar fenda! Vi o Beto subindo, fazendo os lances como se fosse brincadeira, quando entrei na cordada vi que o buraco é mais embaixo.

Escalei a cordada bombadissima a terceira cordada foi curta, de um lance e a quarta cordada era minha. Costurei a chapinha e entrei no lance acho que um 6. Me perdi e lá vai eu voaaandoo,&nbsp, parei tremendo. Quero descer!&nbsp, Que nada. Concentra olha a agarra e vai. Acho a agarra, fácil (como é q eu não achei da primeira vez!) e chego na fenda tento me encaixar, ainda bem que tinha off sets, Continuo reclamando com o Beto, (coitado) detalhe que a perna ainda não tinha parado de tremer. Fui subindo, protegendo, usando as agarras da borda. Estava preocupada de não achar a parada. Segui meus instintos e vi o pezão branco coisa mais linda me esperando!

Dia seguinte seria o “dia D” íamos fazer o maior, decidimos pela via “Decadence Avec Elegance”. Croqui copiado, cedinho estávamos na base da via, começando a escalar perto das 8 horas. Meu parceiro saiu na frente e faríamos as primeiras cordadas em simultâneo. Estava super atenta e concentrada, nunca havia entrado em uma via com tanto prazer e comprometimento, desta vez estava preparada para o que desse e viesse. Fomos em simultâneo até a P4 guiei as próximas emendando duas cordadas. fizemos também a P7 e P8 em simultâneo , guiei até a P9 e sabia que dali em diante a via ia começar a ficar cascuda. O Beto guiou o sexto grau de aderência, Cheguei na parada olhei a próxima cordada, crux da via, 7ª. Essa é minha! O Beto me assumiu que foi a primeira vez que alguém pedia a ele para guiar aquele crux, achei super divertido e entrei na cordada.

De chapas, chegando à aresta consegui avistar o crux. Cheguei perto e vi que o lance era muito parecido com lances de um lugar em que escalava freqüentemente no sul, com cristalencias, comecei a mentalizar para mim mesma! Vai lá Lú, não se impressiona com o tamanho da parede, olha a chapa tá ali ó e assim consegui mandar o crux. O Beto guiou até a “P treze”, e me disse q agora sim o bicho ia pegar, ia conhecer os famosos 5+ de salinas. Não era como o 7 que eu tinha que me assustar. Entrei na cordada mais louca da minha primeira estadia em Salinas, fiz uma transversal e peguei uma fenda (que pouco é visualizada no croqui) via a via Matheus Arnoud, cheia de grampos, e eu adrenada, pois aquela fenda danada&nbsp, cospia todas as peças que eu colocava!

Cantando sozinha e fui subindo como podia, protegendo como dava… Até que acabou a fenda e eu não via as chapas (comecei a me arrepender de não ter dado uma escapadinha) Quando vi, beemm pra direita e beeemm no alto estava a safada, brilhando naquela pedra rosada. E2… É ruim hein! Costurei e me dirigi para a próxima. Passei um veneno, pois me faltava tamanho para alcançar, virei ninja colocando o pé na merda para conseguir chegar em uma agarra&nbsp, mais ou menos e costurar. Agora bem mais tranqüila cheguei na parada. Acho q foi a cordada que mais precisei ter calma e confiança. A queda ia ser longa. Continuamos revezando cordada e qual não foi a minha surpresa encontrar uma fenda lindíssima para alcançar o cume!

Tempo nublado, show de bola estar no cume do maior,ao olhar o relógio não era nem uma e meia, escalamos a via em 5 horas e meia! Saímos em busca do rapel, já tinha ouvido muitas histórias também a respeito do rapel, íamos pela cidade dos ventos ok para mim tudo era novidade!

Beto prevenido no meio de uma cordada enfiou um cordelete por trás de um “P”, pois ele costumava enroscar corda. Finalmente chão! Chegamos ao camping vazio nem acreditei. Assumo que foi uma delícia ficar no camping solitário. Sem nenhum barulho humano. Conseguimos curtir um pouco mais a quietude da montanha. Estava podre de cansaço, e com mais uma via engatilhada pro dia seguinte: “mundo da lua” o Beto dizia que era o mundo da LÚ. A via de despedida no dia da partida. Curtimos a via no pontão e pegamos o caminho de volta, até chegarmos em São Bento do Sapucaí nada mal também, salve o Baú, que saudades, E como ele ficou pequeno derrepente!&nbsp,

Luciana Maes, ex. campeã catarinense de escalada, mora atualmente em São Bento do Sapucaí – SP e redige o blog de escalada “Bauzera“.

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