*03 de Julho de 2012, terça-feira 4:30h* – Acordamos com a cachorrada latindo longe e correndo feito loucos em nossa direção. Em seguida, ouvimos passos rápidos de animal pesado cruzando o bosque logo ao nosso lado. Só vimos o vulto cruzando velozmente a meros cinco metros do acampamento. Os cães mantinham distancia segura enquanto ladravam alvoroçados. Cheguei pensar que era Samara Morgan saindo daquelas churrasqueiras de pedra que mais parecem um poço, a procura do Jurandir. Mas na verdade não havia duvidas que era um gatão dos grandes. Por quase uma hora ficou enfunado na mata, e nós atentos, escutando seu rugido.
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*02 de Julho de 2012 Segunda-feira 6:30h* Durante a noite varias vezes acordei com luz da lua furando a mata, cada vez mais baixa, caindo a oeste. Agora finalmente os primeiros sinais dum novo dia. Me sentia muito bem em estar ali. O agudo do cotia sempre foi uma montanha que me atraiu. Talvez por ser como ela é, tão distante e inacessível. Não menos a travessia até a graciosa. Este dia prometia tudo isso, e acima de tudo, o fim da primeira e mais longa etapa. Isso era inspirador, e sem conseguir me conter, novamente fiz baderna no acampamento, e logo todos estavam afim de me matar.
01 de Julho de 2012, domingo 7:00h Até então, está foi a noite mais agradável. Nada de sede, nem pessoas com dores, ou gotas sacudidas na cara. A mata estava seca, e o céu limpo, com seu azul transpassando entre as folhas e galhos. Os amigos ainda dormem profundamente, mas por pouco tempo. Devem me odiar por isso. Mas nossa missão é gigantesca, e ainda mal começou, perto que tem pra fazer. O sol batendo no topo das arvores informa que acabou a moleza e é hora de pular. Se existe outra grande vantagem do bivaque além do mínimo peso, é a agilidade com que se desmonta.
30 de Junho de 2012, sábado 5h O ventou soprou forte a noite toda. Talvez o barulho que fazia, tivesse acobertado os gemidos de dor do Jurandir. Ou talvez a dor tivesse passado. Em meio a estas hipóteses, ainda havia um medo maior que era melhor nem cogitar. Na tenda de bivaque, condensou água de ambos os lados, e cada vez que dava uma rajada de vento, sacudia toda ela em cima de mim. Estava com a boca seca, e muita sede. Decidi tirar proveito de situação, lambendo a lona. O resultado do procedimento acabou superando as expectativas. Ao ver que até a vegetação estava completamente seca, conclui que pelo menos pra alguma coisa serviu aquela tenda, alem de me molhar a noite toda.
29 de Junho de 2012, sexta-feira 6h Como de costume desperto logo nos primeiros sinais de luz, mas ainda era sacanagem acordar os camaradas. Meia hora depois já não mais, e dou o toque de alvorada. Assistimos o nascimento do sol às 7h, e logo depois desmontamos o bivaque.
28 de Junho de 2012, quinta-feira 16h Definitivamente o tempo melhorou, e todas as previsões marcam uma janela de bom tempo por pelo menos cinco dias. Converso pelo celular com o Sexta para partirmos neste mesmo dia, e ele concorda. Precisamos aproveitar ao máximo o tempo estável.
Idealizada na década de 60 pelo lendário montanhista paranaense Vitamina (Henrique Schmidlin), mas conquistada somente nos idos de 90 pelo Máfia (Paulo César Souza) e o Dalinho (Dálio Zippin Neto) a Alpha-Ômega recebe este nome por percorrer a Serra do Marumbi do começo ao fim.
Por que a Alfa Crucis é a maior e a mais difícil travessia do Brasil?
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