O Pico da Neblina (ou Yaripó, nome original indígena) é a montanha mais alta do Brasil e não há dúvidas sobre isso. Ela está localizada na Serra do Imeri, no extremo Norte do país, junto com a fronteira com a Venezuela. Mas e o cume do 31 de Março? Tem destaque topográfico para ser considerado uma montanha também? Quantas montanhas há próximas ao Pico da Neblina? Quais delas são montanhas independentes e quais são sub cumes ou morros? Este é o objetivo deste artigo: Classificar as elevações do relevo da região com topografia mais elevada do Brasil.
Os números do Pico da Neblina são impressionantes. Ele emerge de uma grande planície fluvial a 80 metros de altitude e seu cume pontiagudo, que faz jus ao topônimo “Pico”, atinge a altitude exata, medida por GPS de precisão de 2995,3 metros sobre o nível médio dos mares, lhe conferindo uma proeminência de 2915 metros, em relação ao Ritacuba Blanco (montanha dos Andes da Colômbia, sua montanha pai). Esta proeminência é quase a mesma do Shishapangma, que é a décima quarta montanha mais alta dos mundo.
Seu maciço, que tem um formato de ferradura, é um grande planalto dissecado por diversos rios que não raro formam grandes cachoeiras. A parte Sul desta ferradura é o divisor de águas entre o Rio Negro e o Orenoco e por um detalhe da natureza, o Neblina é isolado por drenagens que colocam a montanha inteiramente em território nacional, enquanto que a crista que desce de seu ponto mais alto, sentido Nordeste é o divisor de bacias. Desta crista há um promontório com um leve ressalto topográfico batizado pelos militares em 1965, durante a conquista da montanha, de Pico 31 de Março. Podemos chamar este cume, o segundo mais alto do Brasil, de montanha também?
Histórico dos dados topográficos
O Pico da Neblina já era conhecido na década de 1950, principalmente por conta de expedições científicas venezuelanas, mas apenas na década de 1960 durante o projeto RADAM BRASIL é que cogitou-se que ele fosse o ponto culminante do Brasil. Até então achava-se que a montanha mais alto do país era o Pico da Bandeira, na Serra do Caparaó. Após a confirmação que o Neblina era mais alto, em 1965 os militares brasileiros realizaram uma expedição a fim de conquistar a montanha e durante esta ascensão, o topógrafo José Ambrósio de Miranda Pombo mediu a altitude do cume com barômetro e teodolito, concluindo que ela tinha 3014 metros de altitude.
Em 2004, o cartógrafo Marco Aurélio de Almeida Lima, membro do projeto Pontos Culminantes do Brasil, mediu o cume através de um GPS de alta precisão após 36 horas de medições e concluiu que o Neblina era um pouco mais baixo e que não chegava aos 3 mil metros. Em 2015, mudando o referencial do método, que passou a considerar o modelo de curvatura da terra como sendo o geóide, enfim chegou-se a conclusão da altitude do Pico da Neblina como sendo 2995,30 metros, uma diferença a mais de 1,52 metros para cima.
Em contraste com as medições realizadas com GPS de alta precisão, a cartografia de região apresentam informações conflitantes. É preciso salientar que o modelo digital de elevação ao qual tive acesso é o SRTM (Shutter Radar Topographic Mission), uma uma missão espacial conduzida em 2000 pela NASA para fazer um modelo de elevação digital do planeta.
Nesta missão, 2 radares modificados foram instalados no ônibus espacial Endeavour. Um radar foi adaptado na nave e outro foi instalado no final de um mastro de 60m. A missão durou 11 dias e coletou dados topográficos entre as latitudes 60 graus norte e 56 graus sul.
Hoje estes dados são gratuitos, mas eles tem problemas. O primeiro é a resolução da banda usada na maior parte do mundo é de 3×3 segundos de arco (mais ou menos 90x90m no equador). Ao medir um cume é necessário que este tenha tido a sorte de cair dentro desta área, caso contrário uma falsa altitude será mostrada. Um cume afiado ou pequeno em área terá como destino eminente uma altitude menor do que um cume grande e redondo. Isto de fato ocorre no Pico da Neblina que nas imagens do Google Earth e nas cartas topográficas geradas pela modelo digital de elevação do SRTM achataram o pico para baixo (vide imagem da carta topográfica acima).
Outro fato que é importante em mencionar é que regiões com muitas nuvens tiveram dados com menos confiabilidade por conta da refração do sinal com a presença de água. Para corrigir estes erros em modelos topográficos digitais, engenheiros cartógrafos preenchem as lacunas por interpolação de dados ou correção com dados adquiridos com outras metodologias. Estes geralmente são obtidos através de sensoriamento remoto feito por aviões ou mesmo por métodos tradicionais, como levantamentos topográficos feitos com teodolitos.
Como a montanha se chama “Neblina” já dá para imaginar que q região tem muitos pontos sem dados, os chamados “voids”. que são corrigidos por interpolações.
Problemática da classificação de montanhas
Montanha é muito mais do que apenas um cume. No próprio senso comum o termo “montanha”, se refere a algo grandioso. Portanto para uma montanha ser uma montanha no próprio senso comum já há uma relação com seu desnível topográfico. Ou seja até mesmo para leigos montanha precisa ser uma forma de relevo positiva que seja proeminente. Mas quanto? Aí é que entra o conceito técnico.
De acordo com a Geomorfologia, que é a ciência do relevo, uma montanha é uma forma topográfica que apresenta uma proeminência, ou seja a diferença entre o cume o colo que a liga diretamente à sua montanha mais alta adjacente superior a 300 metros. Este conceito é bastante antigo, genérico, porém é tido como um consenso, estando presente em dicionários geológico geomorfológicos, com o de José Teixeira Guerra de 1993.
No inicio dos anos 2000, na Alemanha, surgiu o conceito de Índice de Dominância em oposição ao conceito clássico de Proeminência. De acordo com o autor, Eberhard Jurgalski, a Proeminência é injusta com montanhas de baixa altitude, onde 300 metros é muito e também para alta montanha, onde 300 metros é pouco. Desta forma ele elaborou um conceito que fosse relativo e que pudesse ser usado em montanhas do mundo todo. Dividindo a proeminência pela altitude da montanha e multiplicando por 100, chega-se a um índice que mostra a porcentagem de destaque do cume em questão em relação a sua região.
Estudando em detalhe o Índice de Dominância nas montanhas dos Alpes, Jurgalski concluiu que o publico leigo passou a considerar montanhas independentes, aquelas que numa média matemática apresentavam dominância de 7% e levando em consideração essa amostragem, foi acordado que este seria o limite entre uma montanha, morro ou sub cume.
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O que faz uma montanha ser uma montanha? O índice de Dominância
Utilizando o conceito de Índice de Dominância, revisei as principais cadeias montanhosas do Brasil, onde há cumes que sobrepassam os 2 mil metros de altitude e nestes locais pude concluir o que são montanhas independentes e diferencia-las de seus sub cumes, assim como de morros.
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O relevo brasileiro tem uma gênese muito complexa, onde episódios de erosão, com aplainamento de relevo, se intercalaram com episódios de reafeiçoamento epirogenético. Por conta disso, em todo território nacional há muitos cumes que se elevam desde planaltos, que nada são do que paleosuperfícies de erosão antigas. Estas formas formas de relevo estão presentes em todas as principais cadeias montanhosas, como Serra do Mar, Serra da Mantiqueira, Serra do Espinhaço e até mesmo no Planalto das Guianas, onde é possível que exista a mais antiga superfície de erosão do planeta, a Superfície Gondwana.
Por conta destas anomalias, muitos dos cumes mais altos do país apresentam Proeminência Topográfica muito baixa, fazendo que com não possam ser consideradas montanhas. Fazer esta revisão me custou anos de estudo e muita dedicação.
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Quantas montanhas há no maciço do Pico da Neblina
Após muito tempo dedicado à elucidação de quantas montanhas há nas demais serras brasileiras, chegou a hora de apresentarmos os fatos sobre a mais alta serra do Brasil. A Serra do Imeri.
A realização desta pesquisa encontrou a dificuldade de encontrar dados precisos sobre a altitude dos colos das montanhas, por isso o resultado aqui é preliminar, sendo necessário uma fonte de dado mais precisa sobre a altitude do colo, vital para que possamos conhecer a proeminência das montanhas.
Pico da Neblina 2995,3 metros
Como já antecipei não há dúvidas de que o Neblina é uma montanha. A montanha mais alta do Brasil. Veja os dados:
Proeminência: 2915 metros
Dominância: 97,33%
Uma curiosidade. Eberhard Jurgalski coloca o Pico da Neblina como a 112 montanha do mundo com maior Proeminência Topográfica.
31 de Março 2974,2 metros
Já que seu montanha pai, localizada a meros 687 metros de distância, não deixa dúvidas de que é uma montanha, o 31 de Março é quase o contrário.
Digo “quase”, pois os dados da altitude do colo que o separa do Neblina não são precisos e é necessário interpretação indutiva para afirmar dados. Pois necessitamos compreender as margens de erro dos métodos que nos deram informação e saber se eles se encaixam dentro de parâmetros aceitáveis para afirmações.
Aliás, o 31 de Março é um cume muito polêmico a começar por seu nome. Ele foi avistado pela primeira vez em 1954 em uma expedição liderada pelo curador do Jardim Botânico de Nova Iorque, o Dr. Basset Maguire, onde mais tarde se juntou o eminente ornitologista venezuelano (filho de americanos) William H. Phelps, Jr. Por motivo desta expedição, aquele cume foi batizado de Pico Phelps e inclusive tal nome está presente na toponímia do maciço.
No entanto, em 1965, na conquista do Pico da Neblina, o Pico Phelps passou a ser chamado de 31 de março pelos militares brasileiros. Este “rebatismo” é uma homenagem ao episódio da história política brasileira que removeu o presidente João Goulart e deu poder à junta Militar que governou o país sem eleições populares por mais de 20 anos. Um episódio chamado de golpe militar por uns e revolução militar por outros. Independente de sua interpretação da história, este cume já tinha nome.
Outro fato é saber se este cume é uma montanha, ou é um sub cume do neblina, vejamos:
Há dois ressaltos topográficos na crista nordeste do Pico da Neblina medidos pelo SRTM. O primeiro tem uma proeminência de 88 metros e o segundo de 116 metros. Se levarmos em consideração a maior proeminência, são meros 3,9% de dominância e em nenhum conceito técnico, o cume do 31 de Março não pode ser considerado uma montanha independente.
Obviamente, como demonstramos anteriormente, o SRTM possui falhas, mas estas falhas são graves em cumes pontiagudos e estreitos. De dato ela ocorre no Pico da Neblina, porém o 31 de Março (fotos abaixo) é mais amplo e por ser mais baixo, o modelo SRTM funciona melhor. Vamos então comparar com dados de GPS de navegação.
Os aparelhos de GPS de navegação melhorar muito sua precisão nos últimos anos e hoje possuem uma acurácia de cerca de 10 metros de erro. Usando um GPS de navegação, o montanhista Rodrigo de Jesus Araújo Silva nos forneceu seu tracklog com o caminho entre o Pico da Neblina e o 31 de Março, onde se percorre o colo chave que vai dar a resposta se o 31 de Março é ou não uma montanha.
A trilha, era inicialmente uma descida mais íngreme, depois passamos por uma selva de pedras, com formações lindíssimas. Esse trecho era confuso, havia muita neblina, mas vencidas as pedras, iniciamos a subida para o cume. Ao chegar ao 31, a emoção foi grande, porque ao chegar, veio o sentimento de missão cumprida, e agora era voltar pra casa, pra minha esposa, meus filhos (um rapaz de 10 anos e uma menininha de 18 meses). Como a saudade bateu forte naquele momento…
Rodrigo de Jesus Araújo Silva.
Colocando os dados em perfil e distorcendo a escala vertical para ficar mais fácil a visualização, o perfil mostra o caminho de ida e volta que devido a presença de um relevo de caos de blocos não é o mesmo em ambos os sentidos. Este percurso, tem aproximadamente mil metros de ida e mil de volta. A menor altitude registrada pelo GPS foi de 2858 metros. Levando em consideração estes dados, o 31 de Março teria apenas 116 metros (mesmo número apresentado pelo SRTM) e uma dominância de somente 3,9%. Insuficiente para ser considerado montanha em qualquer critério.
Para que o 31 de Março seja considerado uma montanha independente do Pico da Neblina, o colo que une ambos os cumes precisa estar abaixo da altitude de 2766 metros, dando uma proeminência de pelo menos 208 metros. Falta cerca de 100 metros verticais para que o 31 de Março seja considerada uma montanha.
Pico do Codorna 2596 metros
Trata-se de um cume que se eleva da vertente Sul do Pico da Neblina. É um cume pouco conhecido e seu nome figurou por alguns anos no Anuário Estatístico Brasileiro do IBGE, até que foi removido, junto com o Pico do Calçado da Serra do Caparaó, por uma revisão que concluiu que este ressalto topográfico nitidamente não podia figurar na lista. Nas imagens SRTM não é possível distinguir um colo entre ele o Neblina, razão pela qual a resolução não deixa dúvidas de se tratar uma proeminência insuficiente para que o Codorna possa em alguma hipótese ser uma montanha independente.
MF BVB B/4 2371 metros
Trata-se de um cume separado do maciço do Pico da Neblina por cerca de 2,6km a Oeste. Seu nome evidentemente é temporário, pois ele não tem. De acordo com o Anuário Estatístico do Brasil de 2018, a Primeira Comissão Brasileira Demarcadora de Limites marca ele como tendo 2371 metros. No entanto, o SRMT diz que ele tem 2520. Se isso se confirmar, este cume terá independência topográfica.
Serra de Opota 2149 metros
É um grande paredão rochoso a Sudoeste do Neblina que também é chamada de “Serra dos Padres”. Trata-se de uma escarpa de planalto dissecada. Por conta da baixa confiabilidade dos dados, é possível que a altitude esteja errada, porém é certo que seu ponto mais alto tem mais de 2 mil metros. De acordo com os dados SRTM tem proeminência suficiente para ser considerada montanha no conceito de dominância, onde tem 12,14%. Já pelo conceito clássico seria insuficiente com 260 metros de proeminência.
Conclusões
A grande polêmica deste artigo é a conclusão de que o Pico 31 de Março não é uma montanha independente, mas sim um sub cume do Pico da Neblina, um dado já esperado, pois até mesmo no Wikipedia há citações deste fato como copiarei abaixo.
Situa-se a apenas 687 metros de distância do Pico da Neblina, o ponto mais alto do território brasileiro, que é apenas 21 metros mais alto, de cujo maciço o pico 31 de Março faz parte e do qual pode ser considerado um cume secundário. Os dois picos são ligados por uma curta crista de serra. Ao contrário da forma piramidal e pontiaguda de seu vizinho mais alto, o pico 31 de Março tem uma forma mais suave e arredondada, e pode ser difícil de distinguir do pico da Neblina em fotografias, dependendo do ângulo e da distância.
Pico 31 de Março no Wikipedia em português
Pico 31 de Março, also known as Pico Phelps, is a mountain on the Brazil–Venezuela border. At 2,974 metres (9,757 ft) above sea level, it is Brazil’s second highest mountain. It is part of the Neblina massif, and the latter’s summit Pico da Neblina, Brazil’s highest summit, is only 687 m (2,254 ft) away. Pico 31 de Março can be considered a secondary summit of Pico da Neblina. Therefore, it is usually climbed by expeditions primarily aiming to reach the other peak. The two are linked by a col that can be easily traversed in a short trek of about an hour.
Pico 31 de Março no Wikipedia Versão em inglês
El Pico Phelps, también conocido en la cartografía brasileña como Pico 31 de Marzo , se encuentra situado en la frontera del estado venezolano de Amazonas con el estado brasileño homónimo de Amazonas. Es el pico más alto del estado venezolano de Amazonas y la segunda cumbre más alta de Brasil. Posee 2992 metros sobre el nivel del mar y es el segundo pico más alto de El Cerro de La Neblina. Es parte de un sistema gemelo en el macizo del Pico de la Neblina -este último la cumbre más alta de Brasil y situado completamente en territorio brasileño- estando ambas cumbres a tan sólo 687 m de distancia. El Pico Phelps puede por lo tanto ser considerado como una cumbre secundaria del Pico da Neblina, marcando la frontera entre Brasil y Venezuela.
É evidente que Wikipedia não é fonte de pesquisa. No entanto, qualitativamente acaba nos dando uma informação de que para qualquer visitante a percepção, que é um critério subjetivo, de que 31 de Março é um cume secundário.
Com critérios objetivos, o fato de que o 31 de Março é um cume secundário se confirma. Dado que tanto por SRTM, quanto por GPS de navegação, tal cume apresenta a mesma proeminência de 116 metros, sendo que é necessário 208 para o 31 de Março ganhe independência através do critério do Índice de Dominância e 300 metros para o critério geomorfológico. Ainda que os dados de altitude do colo chave dele não sejam precisos como o do cume, ainda assim há uma margem de erro enorme que nos permite afirmar: O Pico 31 de Março é um cume secundário do Pico da Neblina.
Este artigo vem a endossar o apelo que faço ao IBGE por revisar sua lista de pontos culminantes do Brasil, por uma lista das montanhas mais altas do Brasil com o mais justo critério de conceituação de montanha: O Índice de Dominância, enterrando de uma vez por todas as polêmicas das listas oficiais e paralelas e dando destaque às montanhas que realmente se destacam na paisagem.
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Se eu não me engano, existe um critério internacional que define por “montanha” o grande corpo do maciço montanhoso em si – o qual abrange varios picos e colos, e até vales de altitude. Tal denominação leva em conta principalmente a gênese morfológica do grande maciço.
Neste critério, montanha seria o maciço do Imeri (aonde o pico mais alto é A referência de altitude da montanha). O mesmo vale para o maciço/montanha do Caparaó, e também para os maciços/montanhas Serra Fina e Itatiaia (ambos localizados na Serra da Mantiqueira) – apenas citando as quatro mais altas montanhas do Brasil.
Ressaltando que maciço/montanha Não é serra – serra é um amplo e extenso conjunto de relevos, na qual os maciços são partes integrantes dela.
Esse negócio de mais de um nome para um mesmo pico, como no caso 31 de Março e Phelps, é super comum e, na minha opinião, sem necessidade de “julgamentos” sobre o nome “certo”. Para o Everest, por exemplo, o “certo” seria o nepalês Sagarmāthā ou o tibetano Chomolungma? Ou mesmo Everest?
Dados de elevação (MDEs) gratuitos com maior acurácia vertical podem ser empregados para aprofundar a análise pretendida, como o SRTM 30 metros e o ALOS de 12,5 metros. A resolução desses MDEs pode diminuir uma possível discrepância na definição do col. Todavia, o entendimento de maciços com mais de um cume e separados por diferentes colos é interessante, pois considera a evolução da feição. Independentemente de qual abordagem adotada, a matéria promove uma importante reflexão sobre a existência de montanhas e terrenos montanhosos no Brasil, algo que, vez ou outra, é questionado.
Não há montanhas no Brasil, pois não existe dobramentos modernos, tudo o que temos são morros, não montanhas
É recomendável uma certa cautela nas comparações das nossas modestas altitudes (dobramentos antigos) com as majestosas altitudes das grandes cordilheiras (dobramentos modernos). Mesmo nelas, o conceito de “montanha” é definido pelo grande maciço que se distingue à distância em relação ao relevo do seu entorno.
Embora o nosso relevo seja muitissimo mais modesto, há sim alguns maciços que se enquadram no conceito de “montanha” – os quais até destacam-se na paisagem, devido às suas altitudes bem acima da média.
Santiago, nos links desta matéria há um onde explico o conceito de montanha. Apenas resumindo, montanha como forma de relevo é um desnível topográfico e não processo. O próprio Pico da Neblina não é um dobramento, nem outras montanhas que tem mega desníveis topográficos no Brasil são, como o Pico da Bandeira, Pico das Agulhas Negras etc. Nestes artigos eu cito dois critérios, o de Proeminência Topográfica e o Índice de Dominância, sendo que o segundo é muito mais justo por considerar uma porcentagem de destaque topográfico em relação às montanhas adjacentes.